fevereiro 28, 2007

Sônia Fleury: Por uma Política de Saúde



















SAÚDE: UM POLÍTICO OU UMA POLÍTICA?

Nas últimas semanas a indicação de um novo ministro para a pasta da saúde passou a ocupar as páginas dos noticiários a partir de uma suposta contradição entre a escolha de um político ou de um perfil técnico para ser o dirigente da área. Esta questão veio à tona nas negociações com o PMDB, importante partido da base de apoio da coalizão governamental. Alguns críticos mordazes maldizem estas negociações como sendo a partilha do botim, desconhecendo, por ingenuidade ou maledicência, as características do nosso sistema político, que exigem a composição de uma coalizão partidária que assegure a governabilidade. No nosso entender, as negociações do governo com os partidos políticos são, ao contrário, parte intrínseca do amadurecimento da nossa jovem democracia.

No entanto, a presença marcante da discussão sobre o próximo titular da pasta da saúde encontra-se limitada pela ausência de um debate mais profundo sobre a política de saúde que deverá ser implementada no segundo governo Lula. Desde a campanha presidencial, a saúde foi tratada de forma marginal, beirando a ausência, nos programas dos candidatos. Esta omissão é inteiramente incompatível com a importância dada pela população à questão da saúde, como mostram todas as pesquisas e os dramas cotidianos que assistimos. Com isto, perdeu-se uma excelente oportunidade de gerar um debate nacional e formar um consenso suprapartidário sobre as linhas mestras da condução da política de saúde. A fatura está sendo paga agora, quando o governo se vê constrangido a negociar em torno de nomes e não de idéias, a partir de uma falsa oposição entre perfis técnicos e políticos.

É hora de mudar este jogo e recolocar no debate a verdadeira questão: qual é a política de saúde do governo, que este ministro deverá implementar?O Sistema Único de Saúde é uma das grandes conquistas da sociedade brasileira, permitindo o acesso universal a uma atenção integral de saúde. Não nasceu no seio da burocracia e nem foi formulado pelas agências internacionais: foi fruto de muitas lutas da sociedade civil organizada, tendo forte enraizamento na cultura e política nacionais. Permitiu a construção de um modelo de federalismo negociado e pactuado e uma forma de gestão pública com descentralização do poder para os níveis subnacionais além de gerar novos formatos de participação social. Ambos representam formas institucionais inovadoras, que revitalizaram a democracia brasileira, tendo gerado um modelo não liberal de reforma do Estado.

Mas, o SUS é um projeto em construção, e, em cada fase, novos problemas se colocam para o financiamento, acesso, regulação, melhoria da qualidade, humanização do atendimento, valorização dos profissionais, produção de insumos e incorporação de tecnologias, melhoria da gestão dos serviços, aumento das práticas preventivas, eliminação das discriminações, etc. São problemas complexos, em uma das áreas que apresenta alguns dos maiores desafios para a gestão em todo o mundo contemporâneo, dado a complexidade dos fatores envolvidos.

No entanto, o processo gerado pelo SUS, de uma permanente construção conjunta de diretrizes e consensos políticos, fundados no mais rigoroso conhecimento técnico, permitiram gerar as linhas gerais que, como representantes das entidades comprometidas com o avanço da Reforma Sanitária, postulamos para a política de saúde e propomos para o debate:

- a reorientação do predomínio modelo de atenção desde práticas curativas para a atenção preventiva;
- o aumento do gasto público em saúde - extremamente reduzido, como demonstram as comparações internacionais e mesmo entre os países da América Latina. Para tanto seria necessário o empenho governamental e da sua base de apoio no Congresso para a regulamentação da EC 29, que garantiria uma base e definição adequadas dos recursos para a saúde. Também é imprescindível que se defina uma estratégia de redução programada, até a sua extinção, da DRU, medida que permite a desvinculação dos recursos que a constituição destinou para a saúde para outros fins;
- o combate à corrupção, o aumento da transparência nas contas públicas,e a melhoria do gasto em saúde, com mudanças no modelo de gestão que permitam aperfeiçoar a organização dos serviços, a qualidade do atendimento, a eficiência e a efetividade dos tratamentos;
- uma política de investimentos em recursos humanos e melhoria da rede de serviços, além do investimento estratégico na produção de insumos e medicamentos;
- a verdadeira universalização do acesso a um serviço de qualidade e com atendimento humanizado.

Enfim, está na hora de termos um SUS prá valer. Estes são os termos do acordo que urge ser negociado. São compromissos que definem o perfil do Ministro da Saúde.

Sonia Fleury - Presidente do CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Sonia Fleury, 56, doutora em Ciência Política, professora titular da FGV, autora de Democracia, Descentralização e Desenvolvimento: Brasil & Espanha, Editora FGV, 2006 - ENSP - Fiocruz Posted by Picasa

MST apoia luta contra a Aracruz Celulose













MSTinforma
Ano V - nº 128
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007.

CAMPANHA PELA DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS

Caros amigos e amigas do MST,

Nós dos movimentos que integram a Via Campesina, estamos nos somando às entidades ligadas às lutas indígenas para recolher assinaturas em um abaixo-assinado pela Demarcação das Terras Indígenas Tupinikim e Guarani que estão sob posse da empresa Aracruz Celulose no Espírito Santo. A meta do MST é recolher 100 mil assinaturas de trabalhadores toda parte do Brasil para pressionar o Ministério da Justiça a fazer a medição e a devolução imediata das terras aos povos indígenas.

Ao todo, 11 mil hectares ainda estão nas mãos da transnacional da celulose, que não tem medido esforços para criminalizar os indígenas e os movimentos sociais que os apóiam. Entre as ações de criminalização realizadas pela empresa está a coerção dos seus trabalhadores, que em 2006 foram obrigados a fazer uma manifestação nas ruas da cidade de Aracruz, em defesa da empresa, sob pena de perderem seus empregos.

Na mesma época a empresa determinou que cada um dos seus 2.500 funcionários recolhesse assinaturas contra a presença dos indígenas na região. Ao todo foram recolhidas 78 mil assinaturas. A empresa também chegou ao ponto de espalhar pela cidade outdoors com conteúdo ofensivo aos indígenas e distribuiu nas escolas cartilhas que atentam, inclusive, contra a legitimidade histórica dos povos indígenas da região.

Em 2006 a Funai concluiu um novo estudo que identifica as terras como sendo dos povos indígenas e a empresa não tem mais como recorrer dessa decisão. No entanto, a Aracruz Celulose tem exercido uma enorme pressão sobre o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para evitar que o mesmo assine a homologação das terras.

Histórico de devastação

Ao todo 18 mil hectares de terras foram apropriados pela transnacional Aracruz Celulose durante a década de 70. Essas terras foram identificadas por estudo realizado pelo Grupo de Trabalho da Funai em 1997. Desse total, 4,5 mil hectares foram reincorporados pelos indígenas em 1979 – depois de longa luta travada contra a empresa –, e outros 3 mil hectares foram reincorporados em 1998. Mesmo com os estudos comprobatórios realizados pela Funai, a empresa insiste na apropriação ilegal dos 11 mil hectares restantes, identificados como terras indígenas Tupinikim e Guarani.

Além das terras indígenas, a empresa Aracruz Celulose também é responsável pela expulsão de mais de 8 mil famílias quilombolas do norte do Espírito Santo. A maioria perdeu suas terras por falta de documentos ou em virtude de acordos manipulados pela empresa e seus aliados regionais. A empresa também é acusada de ocupar terras públicas (devolutas) e de causar danos irreversíveis ao meio ambiente, com a monocultura do eucalipto.

Abaixo-assinado

Por isso, contamos com a sua colaboração em mais essa luta. Imprima o Formulário em Anexo e peça aos seus amigos e amigas, colegas de trabalho e lutadores do povo em geral para assinarem junto com você esse abaixo-assinado. Depois de preenchidos os campos das assinaturas, ele deve ser enviado pelos Correios para o endereço descrito no próprio formulário. E não perca tempo, o prazo para envio do formulário é até o dia 15 de março.

Vamos à luta!

Forte abraço,

Secretaria Nacional do MST.

NOTA: Por ignorância deste blogueiro, não consegui anexar o Formulário. Tentarei mais tarde. Caso você queira, poderei disponibilizar o anexo pelo e-mail rogeliocasado@uol.com.br Posted by Picasa

Pela libertação de Marcelo Buzetto

















Pela libertação de Marcelo Buzzeto, doutorando da PUC e preso político brasileiro

Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida*

Seria ridículo se não fosse trágico. Neste país onde, sob quaisquer critérios jurídicos respeitáveis, campeia a impunidade, existem presos políticos. Um deles é nosso colega de magistério. Excelente professor na Fundação Santo André, fez mestrado na PUC-SP e procura, às duras penas (sem trocadilho), desenvolver, também nesta universidade, sua pesquisa de doutorado sobre a questão nacional na América Latina, centrando o foco no caso venezuelano.

Marcelo Buzzeto não aplica na banca, não participa de obras super ou subfaturadas, jamais se intrometeu em crimes do colarinho branco. Pessoa extremamente amável e versada em diversas práticas urbanóides, a começar pelo skate, adora o filho, João Marcelo, e a companheira Claudinha, que também fez mestrado aqui. Devorador de livros, possui respeitável biblioteca sobre os temas que pesquisa. Pelos padrões usualmente alardeados, eis uma das últimas pessoas que se poderia imaginar repartindo a masmorra com outros dezoito seres humanos, estes condenados da terra, dormindo no chão (um colchonete para aliviar) e com a família passando dificuldades materiais.

Sabemos que, em geral, o que os dominantes alardeiam mais oculta do que revela a tessitura do real. Acresce que, para complicar ainda mais as coisas, o moço meteu na cabeça que um outro mundo é possível aqui mesmo, desde que os interessados lutem para construí-lo. Esta certeza é, aliás, uma das principais motivações que levam Marcelo a estudar o mundo.

Maiores detalhes sobre esta prisão aparentemente esdrúxula podem ser encontrados em outro espaço do PUCviva e no tocante depoimento de Frei Betto, que visitou Marcelo no cárcere. O desafio é claro e afeta a todos nós: esta prisão atinge os que lutam contra a barbárie e, especialmente, aqueles que se arriscam a procurar caminhos para, civilizadamente, colocar em prática o que pensam. Fere a democracia e, mais especificamente, o que a vida universitária tem de melhor.

Ato pela libertação de Marcelo Buzzeto e dos demais presos políticos brasileiros será realizado nesta quinta-feira, 1 de março, às 19:30, no auditório 333 do Prédio Novo da PUC-SP.

Sua presença é fundamental.

*Professor do Departamento de Política e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais e coordenador do Neils (Núcleo de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais)
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Redução de Danos

Óleo de Mirta Kupferminc
















Juiz de Fora - 25 e 26 de fevereiro de 2007, domingo e segunda-feira
http://www.tribunademinas.com.br

Centro de Convivência Entre Nós dá exemplo de cidadania

Leticia Lamas
Repórter


Atender usuários de drogas e toda a rede de interação social dessas pessoas. Com esse objetivo, o Centro de Convivência Entre Nós surgiu em Juiz de Fora, em 1998. "O usuário é sempre discriminado, percebido às margens da sociedade. Geralmente, os projetos só aceitam quem quer tratamento. Nós fazemos abordagem com quem não quer ou não consegue parar de usar drogas, trabalhando noções de cidadania e ética, lado a lado. Com essa proximidade, percebemos que a penetração é muito maior", explica o presidente da entidade, Wulmar dos Santos Bastos Júnior.

Cerca de dez voluntários trabalham no Centro de Convivência, que funciona na Vila Alpina. Para o psicólogo Cristian Barroso Chaves, o trabalho é a resposta a uma exigência da própria sociedade. "Trabalhamos com coisas que já conhecemos. Essas pessoas são carentes e, se eu nego ajuda agora, posso esbarrar com elas no futuro, numa situação pior. Aqui, nós podemos criar possibilidades." O artista plástico Álvaro Lobo, que dirige uma oficina de mosaico na instituição, reforça o discurso: "Cada um deve fazer alguma coisa, oferecendo um pouco. Essas pessoas são discriminadas, sem acesso à cultura. Nós não estamos aqui só para criar profissionais, mas para expandir horizontes e dar a eles acesso a outros mundos."

Expansão do trabalho
Desde 2005, o centro funciona em uma sede fixa. Antes disso, as abordagens eram feitas nas ruas. De acordo com Wulmar, a transferência possibilitou uma atuação maior, atingindo toda a comunidade. "Também seríamos excludentes se nos focássemos somente nos usuários. Aqui, temos a ajuda de todos, há as pessoas que cuidam da horta, ajudam quando temos um problema com a casa, por exemplo."

Para ele, a maior recompensa é a satisfação. "Há 15 anos, quando comecei com esse tipo de trabalho, esperava um ambiente hostil, porque a lida é diretamente com o tráfico de drogas. Porém, o que vi foi outra coisa: pessoas se mobilizando por uma causa comum, saindo do isolamento. Esse retorno não tem salário que pague."

Seja voluntário

Centro de Convivência Entre Nós

Quem somos: organização não-governamental (ONG), filantrópica, sem fins lucrativos, criada a partir do trabalho realizado pela Associação Casa Viva. Atendemos a usuários de drogas, seguindo os princípios da redução de riscos e danos relacionados ao vício. Desenvolvemos atividades preventivas frente à epidemia de HIV/Aids e outras patologias, como hepatites virais. Buscamos a redução dessas doenças nessa parcela da população, assim como a sua inclusão social. O nosso público-alvo são, principalmente, usuários de drogas injetáveis, crack, parceiros sexuais de viciados e pessoas de seu convívio. Realizamos atendimento psicológico e oficinas. Também oferecemos reforço escolar. Distribuímos, ainda, kits com seringas descartáveis e camisinhas.O que precisamos: de voluntários na área de psicologia, pedagogia e serviço social. Buscamos parcerias com faculdades interessadas em participar desse trabalho.

Onde estamos: na Rua Eurico Viana 743, Bairro Vila Alpina. Telefone: (32) 3215-0188, das 13h às 17h30.

Assistência Social Nossa Senhora da Glória

Quem somos: somos uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, fundada há 53 anos, ligada a Ordem Redentorista. Nosso trabalho é voltado para as famílias carentes. Oferecemos atendimento psiquiátrico, médico e odontológico, além de terapias alternativas, como acupuntura. Em média, realizamos mil atendimentos por mês. Possuímos oficinas diversas, como corte e costura, bordado e artesanato.

O que precisamos: de voluntários que possam ensinar trabalhos manuais, como tricô, crochê e corte e costura, além de médicos pediatra, cardiologista e clínico geral. Todo tipo de doação é bem-vinda. Precisamos, com urgência, de alimentos não perecíveis e fraldas, principalmente, geriátricas. Buscamos ainda parceria com a iniciativa privada para o encaminhamento de desempregados ao mercado de trabalho.

Onde estamos: Rua Feliciano Pena 187, Mariano Procópio. Telefone (32) 3215-9698

Creche Arco-Íris

Quem somos: instituição civil, sem fins lucrativos, de iniciativa comunitária. Surgimos em 1983, com o objetivo de oferecer às famílias carentes um local onde as mães pudessem deixar os filhos enquanto estiverem trabalhando. Atualmente, atendemos 45, na faixa etária de 1 a 4 anos. Elas permanecem na creche no período das 7h às 17h. Oferecemos assistência psicossocial e pedagógica, além das quatro refeições diárias. Também realizamos palestras destinadas aos pais sobre temas diversos.

O que precisamos: voluntários na área educacional, de recreação, artes ou contadores de histórias. Precisamos, ainda, de pessoas dispostas realizar serviços gerais e de profissionais de saúde, principalmente, odontólogos e pediatras. Necessitamos, também, de fraldas, material de limpeza e de higiene pessoal. Nossa cozinha precisa ser reformulada para atender a necessidades das crianças. Aceitamos doações de utensílios domésticos e de equipamentos, como forno elétrico e espremedor de frutas. Contribuições em dinheiro podem ser feitas na conta 7.182-X, agência 0024-8 do Banco de Brasil. Os interessados também podem se tornar sócios, com contribuições mensais. Todos os donativos devem ser entregues na nossa sede.

Onde estamos: Rua Francisco Henrique 101, Bairro Santa Luzia. Telefone: (32) 3234-3072. Posted by Picasa

fevereiro 27, 2007

PáginaDois















Na última semana, Clarice Casado relembrou momentos carnavalescos com "Emília, Emília" na segunda-feira; Marcella Marx dando uma volta de trem com sua "Maturidade" na quarta-feira; Cassiano Rodka correndo contra o tempo em "-><-" na sexta-feira. Na terça-feira, Fabiano Liporoni caiu no carnaval com "Skindô, skindô" na seção de música; e na quinta, ele fez uma análise do "Oscar 2007" na seção de cinema.

Nessa semana, teremos o "Medo" de Clarice Casado na segunda, Cassiano Rodka na seção de música na terça, um texto literário de Giuliana Giavarina na quarta, Moisés Westphalen na seção de cinema na quinta, e um texto de Cassiano Rodka na sexta.

Todos os dias tem novidade no PáginaDois!

http://www.paginadois.com.br Posted by Picasa

Saúde Mental no Rádio














Papo-Cabeça

Há 8 anos o "Papo-Cabeça" vai ao ar na Rádio Comunitária Santa Cruz do Sul (foto ), a partir de uma Oficina de Rádio oferecida e desenvolvida por alunos do Curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul-RS e coordenado pela professora Veridiana Mello.

No Amazonas, a Associação Chico Inácio - ong em defesa dos direitos humanos de portadores de transtorno mental -, junto com o Fórum Amazonense de Saúde Mental, vem preparando iniciativa semelhante junto à Universidade Federal do Amazonas.

Drops Mental

Desde ontem, dia 26 de fevereiro, em Sampa, o programa de rádio "Drops Mental" está no ar, na Rádio Universitária Gazeta AM 890 KHZ. A programação é compostga por uma série de vinhetas que irão ao ar de segunda à sexta entre 18h e 19h e 0 e 1h; sábados e domingos das 12h às 13h e 0 e 1h.

Este programa faz parte do Projeto de Iniciação Científica Educação em saúde mental no rádio, financiado pela Fapesp, realizado pelos alunos de graduação Leonardo Braz dos Santos Barros, Talita Silveira Toledo e Rafael Bianconi e orientado pela Profa. Ana Lúcia Machado, docente do Departamento ENP.

O site da rádio é http://www.facasper.com.br/radiouniversitaria/

Fonte: Profa. Ana Lúcia Machado (Depto ENP)

NOTA: Companheiros(as) mentaleiros(as), é hora de fazer o censo da rádios comunitárias que atuam no campo da Saúde Mental e divulgar para o Brasil conhecer. 'Tamos às ordens! Posted by Picasa

fevereiro 26, 2007

Zefofinho põe a boca no trombone















Zefofinho de Ogum, consultor e líder espiritual do sítio PICICA - Observatório dos Sobreviventes, temporariamente desatualizado - o sítio evidentemente, Zefofinho jamais! -, ficou estarrecido com a decisão do governo federal em contingenciar parte do orçamento de 2007, votado e aprovado pelo Congresso Nacional. Eleitor do companheiro presidente, por isso mesmo não deixa de se manifestar quando a cena exige. Para lembrar do sagrado dever de por a boca no trombone, este sociólogo carioca (Zefofinho formou-se pela UERJ), que morou em Manaus e voltou para sua terra natal, mantém em cima da sua escrivaninha uma peça adquirida na Feira de Ipanema - os Três Macacos Sábios - para sempre lembrar de seus compromissos éticos. "Quem não se manifesta tá pebado!", afirma a sábia criatura, que soube aliar a sagacidade carioca com a erudição do caboclo amazonense.

Alías, foi justamente o que gritou Zefofinho quando soube da última do núcleo duro monetarista do governo federal: "Tamo pebado!". Sabedor da aversão à crítica em algumas províncias desse Brasil varonil, ainda mais no estado que deu a maior votação proprocional ao companheiro presidente, Zefofinho manda como aperitivo as "especulações" abaixo publicadas no sítio do Correio do Brasil, nas tintas de Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo.

Especulações em torno do orçamento federal

"Com o contingenciamento, todo poder burocrático fica nas mãos do núcleo duro do monetarismo que não quer o crescimento. São eles que liberam ou não as verbas, a conta-gotas. Muitas vezes, como aconteceu no primeiro mandato, ignorando até mesmo ordens expressas do presidente.

Esse núcleo duro monetarista argumenta que o bloqueio de verbas é apenas preventivo: tem o objetivo de garantir as metas de superávit primário, na eventualidade de haver queda das receitas em relação ao previsto na Lei Orçamentária. Nesse caso, a própria Lei de Responsabilidade Fiscal manda que se faça o contingenciamento. Mas, em todos os anos do primeiro mandato, as receitas superaram as previsões orçamentárias. E, este ano, na mesma semana em que saiu o decreto, já havia números mostrando receitas maiores do que as previstas no orçamento. O argumento, portanto, é falso. Além de burro e contrário ao crescimento econômico, o contingenciamento, nessas circunstâncias, é uma violência constitucional. É também um desrespeito ao Congresso, que votou a Lei Orçamentária à toa, já que nada do que está ali vai ser obedecido".

É Zefofinho quem conclama: "Às armas, companheiros!", e arremata: "Quem não chora, não mama!". Posted by Picasa

fevereiro 25, 2007

A haijin sedutora



















Alice Ruiz - Manaus, 24/fev/2007

Saiba porque Alice Ruiz é a umas das mais sedutoras haijins. Leia o texto de Alonso Alvarez: A haijin sedutora.

Antes, porém, conheça os dez mandamentos dos haicais:

OS DEZ MANDAMENTOS DO HAICAI

H. Masuda Goga

I - O Haicai é poema conciso, formado de 17 sílabas, ou melhor, sons, distribuídas em três versos (5-7-5), sem rima nem título e com o termo-de-estação do ano (kigô).

II - O kigô é a palavra que representa uma das quatro estações, primavera, verão, outono e inverno; p. ex., IPÊ (flor de primavera), CALOR (fenômeno ambiental de verão), LIBÉLULA (inseto de outono) e FESTA JUNINA (evento de inverno).

III - Cada estação do ano tem o próprio caráter, do ponto de vista da sensibilidade do poeta; p. ex., Primavera (alegria), Verão (vivacidade), Outono (melancolia) e inverno (tranqüilidade).

IV - O haicai é poema que expressa fielmente a sensibilidade do autor. Por isso,

* respeitar a simplicidade;
* evitar o "enfeite" de "termos poéticos";
* captar um instante em seu núcleo de eternidade, ou melhor, um momento de transitoriedade;
* evitar o raciocínio.

V - A métrica ideal do haicai é a seguinte: 5 sílabas no primeiro verso, 7 no segundo e 5 no terceiro; mas não há exigência rigorosa, obedecida a regra de não ultrapassar 17 sílabas ao todo, e também não muito menos que isso. E a contagem das sílabas termina sempre na sílaba tônica da última palavra de cada verso.

VI - O haicai é poemeto popular; por isso usa-se palavras quotidianas e de fácil compreensão.

VII - O dono do haicai é o próprio autor; por isso, deve-se evitar imitação de qualquer forma, procurando sempre a verdade do espírito haicaísta, que exige consciência e realidade.

VIII - O haicaísta atento capta a instantaneidade, qual apertar o botão da câmera.

IX - O haicai é considerado como uma espécie de diálogo entre autor e apreciador; por isso, não se deve explicar tudo por tudo. A emoção ou a sensação sentida pelo autor deve apenas sugerida, a fim de permitir ao leitor o re-acontecer dessa emoção, para que ele possa concluir, à sua maneira, o poema assim apresentado. Em outras palavras, o haicai não deve ser um poema discursivo e acabado.

X - O haicai é um produto de imaginação emanada da sensibilidade do haicaísta; por isso, deve-se evitar expressões de causalidade, sentimentalismo vazio ou pieguice.

(Texto publicado em CAQUI ON LINE - Revista Brasileira de Haicai)

Clique no CAQUI e conheça mais sobre haicai. Posted by Picasa

A prática do haicai













Durante sua estadia em Manaus, Alice Ruiz ministrou uma Oficina de Haicai. Aqui um flagrante da prática do haicai no Parque do Mindu, localizado no bairro Parque 10 de Novembro, este último um logradouro público com aprazíveis igarapés nos anos 1960, todos inteiramente poluídos no presente, inclusive o igarapé do Mindu, que, no entanto, preserva a beleza das suas matas.

Para os não iniciados, dois haicais de Anibal Beça:

folhas secas
o jardineiro resolve
encostar o ancinho

***

engaiolado em seu canto
trina menos o curió
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Laços culturais: Brasil - Japão













Roberto Sá Gomes, de camisa branca: ao seu lado direito Anibal Beça e o poeta Luiz Bacellar.
Susumu Segawa: em frente ao poeta Anibal Beça, tendo Alice Ruiz ao seu lado esquerdo.

Jantar oferecido pelo cônsul geral Susumu Segawa para Alice Ruiz, a mais sedutora das haijins. Entre os presentes, o músico Roberto Sá Gomes e poeta Luiz Franco de Sá Bacellar, também homenageados pelo presidente do Conselho de Cultura de Manaus, Anibal Beça.

No lugar do Anibal, só poderíamos, como diriam os japoneses, hana ga katai, que em livre tradução significa: estar todo pimpão. Posted by Picasa

Mérito Cultural













Alice Ruiz, Susumu Segawa, Anibal Beça e Rosemara

Com a presença de Alice Ruiz em Manaus, o cônsul geral do Japão, Susumu Segawa, foi homenageado com o Mérito Cultural pelo presidente do Conselho Municipal de Cultura, Anibal Beça. Posted by Picasa

Alice Ruiz e o imortal Anibal Beça













Alice Ruiz finalmente veio a Manaus. Na sexta-feira, dia 23 de fevereiro de 2004, além de realizar uma Oficina de Haicai, esteve entre os homenageados pelo poeta Anibal Beça, presidente do Conselho Municipal de Cultura. Valeu, Anibal! Posted by Picasa

fevereiro 24, 2007

"É pra esquentar a moringa"



















Em 2006, ultrapassamos mais de mil CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no Brasil. O estado do Amazonas contribuiu com modestíssimos números: três. O primeiro surgiu em Parintins (baixo Amazonas), em dez/2005; o segundo em Tefé (médio Solimões), em mar/2006 e o terceiro em Manaus (Rio Negro), em mai/2006. Não houve festa, mas nossos corações e mentes ficaram menos pesados por ter se livrado de uma frase renitente em que o Amazonas aparecia como o único estado da federação sem CAPS, ainda que soubéssemos que divídiamos com estado irmão de Roraima essa vexatória condição. Explicando melhor: o CAPS de Roraima existia no papel, mas na prática não funcionava.

Os dois primeiros surgiram como iniciativa dos respectivos poderes municipais; o da capital amazonense, segundo palavras do governador do estado, surgiu de uma teimosia da Coordenação Estadual de Saúde, posto que desde 2003 - quando finalmente a municipalização da saúde no município de Manaus foi pactuada e assinada pelo Prefeito Alfredo Nascimento, Governador Eduardo Braga e o Ministro da Saúde Humberto Costa -, pelo novo arcabouço jurídico, cabe ao poder municipal a oferta de cuidados em saúde mental, através da implantação de uma rede de CAPS.

Não precisa dizer que, considerando o tamanho da população amazonense, a cobertura de atenção à saúde mental é pra lá de baixa: é crítica.

Política de Saúde Mental

As diretrizes clínico-políticas estabelecidas pelo estado e pelo município, baseadas no dispositivo assistencial conhecido como CAPS, enfrentam várias dificuldades, entre elas: o abandono dos principais princípios da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, nos anos 1990, reduzindo as ações de desinstitucionalização do portador de transtorno mental a uma vertente alienada que serviu para alimentar o discurso dos reformistas de araque, qual seja: a desospitalização dos usuários do único hospital psiquiátrico amazonense, sem suspeitarem de que essa instituição estava com o seu modelo vencido, e que outras demandas dos usuários continuariam sendo historicamente negadas. A bem da verdade, o próprio conceito seria desconhecido até o início do século XXI, razão porque não podia ser praticado.

A ausência da academia no debate e na formação de um novo perfil profissional, adequado às exigência do desafio civilizatório de por fim ao modelo baseado em hospitais psiquiátricos e seus ambulatórios de consulta - medicalizadores da dor humana - está por merecer uma análise crítica mais apurada, afinal cabe a ela a produção de novos saberes e fazeres. Passados os seis primeiros anos do século XXI, só recentemente as universidades amazonenses passaram a discutir o conceito de desinstitucionalização em alguns cursos universitários.

A passividade de inúmeras categorias que compõem o universo da saúde mental é outra acabrunhante evidência, na medida em que se abriu mão da construção de projetos coletivos, que tornasse cada ator envolvido em sujeitos de sua própria história. Não são desprezíveis os argumentos sussurrados nos corredores dos poucos serviços existentes na capital amazonense quanto ao temor de ser reprimido pelos prepostos do poder. O exemplo mais emblemático deu-se comigo mesmo: após a greve de fome que fiz em novembro de 1987, para chamar atenção da sociedade política e da sociedade civil sobre os rumos que tomariam a Reforma Psiquiátrica no Amazonas com a substitução de seus poucos militantes por agentes da psiquiatria conservadora, fui submetido ao ostracismo por exatos 16 anos, até minha reabilitação pelo governo Eduardo Braga, no bojo de um tardio Movimento Antimanicomial ("Antes tarde..."). A esta altura estava calejado por um outro fenômeno: o canibalismo provinciano praticado inter nolentes contra inter volentes. Sobrevivi a todos eles. Vale registrar que o quadro de passividade cedeu e a participação dos trabalhadores de saúde mental cresceu em importância.

Esperança

Se o Estado deu os primeiros passos para sair do atraso, recuperar sua própria história e a dos trabalhadores empenhados no avanço da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, ainda estamos longe de uma posição mais confortável. É alentador a perspectiva do Amazonas ter sua Lei de Saúde Mental por decisão governamental, mas a substituição do Hospital Psiquiátrico por um Hospital de Clínicas, mantendo 20 leitos para atendimento de crises agudas, pode sofrer atraso no seu cronograma caso não tenhamos pelo menos mais três CAPS que desafoguem o sistema, amplie os serviços, de modo que tenhamos, de fato, uma rede de atenção diária à saúde mental. Evidentemente que se constitui num desafio a expansão das ações de saúde mental no interior do estado, seja através da implantação de CAPS, seja através de atenção básica no PSF.

Delicada é a posição do Município. Mesmo que o Prefeito queira implantar CAPS do tipo II, não há psiquiatras disponíveis na cidade. O Estado respondeu com a implantação da primeira Residência Médica em Psiquiatria. Em 10 anos, se a canoa não virar, teremos formado mais de 20 novos psiquiatras para a rede de serviços públicos. Porém, o que fazer a curto prazo?

A curto prazo o Município poderá fortalecer as equipes do PSF com profissionais de Saúde Mental, o que já estava sendo feito, reduzindo a concentração do atendimento nos dois serviços públicos do Estado. Entretanto, com o recente enxugamento do quadro de pessoal no Município essa ação sofreu um retrocesso. A solução mais criativa seria a criação de CAPS tipo I, com médicos com especialização em Saúde Mental, conforme estabelecido por portaria ministerial. Tais profissionais existem na cidade de Manaus, graças ao curso de especialização oferecido pela Fiocruz da Amazônia, que já formou duas turmas, entre eles alguns médicos.

Advertência

Aos apressadinhos que desejam me incompatibilizar com os chefes dos poderes públicos, trabalho em vão. Graças à retaliação que sofri ao enfrentar um movimento corporativista que me afastou do meu campo de trabalho, constitui algumas expressivas experiências em outros serviços públicos, tanto no estado como no município, o que me deu uma visão sistêmica da saúde pública, me livrando de uma outra praga provinciana: a divisão que opõe servidores estuduais a servidores municipais, velada ou abertamente. Gozo de um direito conquistado ao longo desses anos: o respeito destes homens públicos, seja pelo cuidado com que elaboro minhas crítica, seja pela disposição de apresentar soluções aos impasses que vivemos na invenção de um outro modelo de atenção em saúde mental.

História

Desde que os CAPS começaram a substituir o modelo de atenção em saúde mental no Brasil, que até a segunda metade dos anos 1980 era fortemente concentrado no modelo hospitalar - modelo que um dia chegou a dispor de um parque de 120 mil leitos -, atualmente restam ainda expressivos 40 mil leitos, cuja manutenção é ardorosamente defendida pela psiquiatria conservadora, por razões que têm menos a ver com princípios científicos, humanitários, ou coisa que o valha, do que a ameaça à contabilidade bancária que envolve os negócios da psiquiatria privada. Não se iluda com o aparente reducionismo da tese. A deles não têm sustentação científica. A nossa está em contínuo processo de construção.

A mídia abriu pauta para a manifestação da psiquiatria conservadora, como é desejável para o bem do debate público. Desse modo, a sociedade tomou conhecimento das críticas, pouco delas a merecer atenção, pelo que há de passionalidade; algumas a exigir reflexão. Inaceitável foi a surpreendente posição tomada pelo presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, que chegou a defender uma inusitada bandeira: zerar a Reforma Psiquiátrica. Não deu pé. Sua voz não expressa o pensamento e o desejo da maioria dos psiquiatras brasileiros. Ademais, cometeram um erro estratégico: centraram na figura de Pedro Gabriel Delgado, Coordenador Nacional de Saúde Mental, as críticas ao modelo de atenção à Saúde Mental baseado no território, nas ações comunitárias e na construção da cidadania, no tratamento que não se dissocia de reabilitação e inclusão social. Atingiram todos nós; atingiram um movimento social, do qual Pedro Gabriel é uma das suas lideranças.

Sinuca

Eis que na sexta-feira que antecedeu a quadra carnavalesca - para muitos uma autêntica sexta-feira gorda - o Presidente da República determinou o contingenciamento de 16 bilhões de reais do orçamento aprovado para 2007.

O ministério que sofreu o maior corte foi o da saúde, perdendo R$ 5,7 bilhões. Dos R$ 40,6 bilhões previstos para 2007, a nova receita será de somente 34,9 bilhões, R$ 585 milhões a menos do que 2006, ano em que a pasta recebeu R$ 35,4 bilhões.

A medida viola a Emenda Constitucional 29, que determina que o orçamento da Saúde não poderá ser menor que o do ano anterior, acrescido da variação do PIB (Produto Interno Bruto).

Que que é isso companheiro presidente? Assim queimamo-nos todos. Se os congressistas da base não reclamarem, "tamo pebado", como se diz aqui no Amazonas. Dê um sinal de que serão restabelecidos o valor orçamentado, pois caso contrário, se este quadro não mudar, como desenvolver as ações de saúde mental, para ficar apenas neste campo da saúde pública, com recursos reduzidos?

Aderildo Guimarães, presidente da Associação Chico Inácio - ong que atua na defesa dos direitos humanos dos portadores de transtorno mental em Manaus -, não compreende porque historicamente o setor saúde sempre leva a pior nos ajustes de orçamento: "É pra esquentar a moringa", declarou, decepcionado, com a decisão do governo federal. Posted by Picasa

fevereiro 22, 2007

Brother







O mano Arnaldo Garcez deixou o Amazonas para morar no Rio de Janeiro. Em pouco tempo tornou-se o "darling" da Rede Globo. Suas telas já apareceram em várias novelas. Agora o "enfant terrible" das artes plásticas da taba está indo rumo ao ARTEXPO 2007, em Nova York, para expor sua obra. No retorno, pinte em Manaus, brother.
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UNI-BICA

Foto publicada no livro AMOR DE BICA























Jomar Fernandes, Armando Soares e Francisco Cruz

Fosse uma universidade seria chamada de UNI-BICA, tal é o patrimônico cultural criado pela mais irreverente das bandas do carnaval amazonense, destilado em 20 anos de história. Para a BICA - Banda Independente da Confraria do Armando - político que pisa na jaca é forte candidato a se tornar tema-enredo do carnaval. Assim foi com o ex-senador Bernardo Cabral (que reinventou o bolero Besame Mucho ao lado da ministra Zélia Cardoso), o ex-deputado federal Lupércio Ramos (que deixou de celebrar aniversários de debutantes por imcompatibilidade com o gênero), o atual deputado federal Sabino Castelo Branco (que armou um bafafá com uma sirigaita só pra infernizar a vida do canditado "Sarafa"), o ex-governador Gilberto Mestrinho (o resistível Boto Tucuxi e sua eterna implicância com os jacarés), o ex-governador Amazonino Mendes (e o séquito de baba-ovos que freqüentavam a mansão do Tarumã), o ex-prefeito Alfredo Nascimento (que inundou a cidade com palmeirinhas, criou o Stresso 171 e botou o Boto [ai!] de pijamas) e tantos outros.

Para seus detratores, as letras das marchinhas da BICA são atentatórias aos bons costumes, "e aos maus costumes, também", arremata o poeta anarquista e fotógrafo profissional Marco Gomes. Por isso, enquanto os cães latiam o cordão da BICA passou o cerol em muita instituição que ignorava o estado de direito, ora fazendo um festival com o dinheiro do contribuinte, ora praticando descaradamente o nepotismo, ou ainda fraudando impunemente eleições, e tantos outros escândalos impiedosamente criticados.

A BICA é fruto do encontro da fina flor da intelligentsia manauara com a fina flor da rapiocage luso-brasileira. Ao fazer do Bar do Armando um observatório da cena político-social da taba, a BICA disseca a antropologia baré e levanta a bandeira pelo fim da era dos políticos que lavam a burra e mamam na égua. Os ingredientes: marchinhas, samba, suor, cerveja e muito humor.

Esta proeza, ainda hoje, só e possível graças à imensa paciência de Armando Soares (na foto, o gajo está a meter a boca num sax, à falta de um trombone) em acolher no seu botequim letrados, iletrados, artistas, poetas, escritores e vagabundos de um modo geral, não necessariamente nesta mesma ordem, e como se pode verificar a presença de vagabundos não tem caráter de exclusividade como acusou o nosso Ouvidor Geral do Estado ao ameaçar a BICA com um processo.

A bronca do Ouvidor - um dos mais estimados radialistas do Amazonas - resume-se ao fato de que seu filho foi um dos homenageados no tema-enredo do carnaval de 2007: Os filhinhos de papai. A letra da marchinha deste ano faz um referência explícita aos que se elegeram à sombra dos seus genitores. Quatro deles se elegeram ou se re-elegeram através desse expediente na campanha de 2006, alguns deles ilustres desconhecidos ou com mandatos pífios, abaixo do que se esperava de um parlamentar vocacionado. A BICA não iria deixar passar em branco essa (in)contestável vocação para o poder. O jovem político, que não é besta, mandou um agradecimento para a BICA, já o pai ficou uma arara.

Por essa e por outras que o carnaval da BICA é aguardado ansiosamente pelos amazonenses. Desde já, todos querem saber quem estará na berlinda no próximo carnaval.

Armando Soares, patrono da BICA

O cavalheiro que sopra o sax na fotografia acima deu o título de campeã do carnaval de 1999 para a Escola de Samba do Morro da Liberdade, com o tema ARMANDO BRASILEIRO. Depois disto, Armando Soares tornou-se Cidadão Manauara por indicação do então vereador Francisco Praciano, hoje deputado federal pelo PT, também um biqueiro da gema. Desse jeito Armando se tornará o primeiro reitor da UNI-BICA, por nomeação do ex-professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Amazonas, presidente de honra da BICA, jornalista Deocleciano Bentes de Souza.

Evidentemente, a BICA jamais será uma UNI-qualquer coisa; seus estatutos não permitem. Os outros dois cavalheiros que posam ao lado de Armando - o Juiz de Direito Jomar Fernandes à esquerda, e o Promotor Público Francisco Cruz à direita - não me deixam mentir. Ambos são guardiães eméritos dos sagrados estatutos da BICA. Posted by Picasa

fevereiro 21, 2007

Beto Blue Birds

Foto: Rogelio Casado - Beto Blue Birds, BICA 2007










Betão se esbalda no pré-carnavalesco da BICA 2007

NOTA: Beto Blue Birds é o mais novo sexygenário da cidade de Manaus. Neste ano, o Conselho Municipal de Cultura, tendo à frente o imortal Anibal Beça, homenageará Beto, com justa razão, pelos serviços prestados à cultura amazonense. Saiba porque o Betão tá rindo à toa neste ano de 2007, leia a crônica do não menos imortal José Ribamar Bessa Freire, publicada na coluna TAQUIPRATI (www.taquiprati.com.br), de degustação obrigatória nas domingueiras do Diário do Amazonas: Betão e os pássaros azuis, 18 de fevereiro de 2007. Este blogueiro acrescenta aos extensos dados biográficos do homenageado um título que escapou ao meu compadre e amigo Ribamar Bessa: Betão é biqueiro de carterinha.

Em tempo: Faço saber aos foliões de todas as latitudes que BICA - Banda Independente da Confraria do Armando - é uma banda escrachada, irreverente e adoravelmente independente, que mora no coração dos manauaras. A BICA, como reza a tradição de 20 anos de folia, sai, faça chuva, faça sol, no sábado magro. É a única banda que colhe no cenário político seus temas-enredos de carnaval. Este ano os homenageados foram os filhinhos-de-papai que se elegeram às custas dos pais que fizeram história na política baré: Josuezinho, Rebequinha, Bisnetinho, Marcelinho Tracajá, este último filho do atual Prefeito Serafim Corrêa, biqueiro de primeira linha, que nem por isso deixou de comparecer à banda bandalha, diferentemente do Ouvidor Geral do Estado Josué Filho, que perdeu a esportiva e usou a Rádio Difusora, da qual é proprietário, para "enaltecer" a BICA: "Essa banda é frequentada por um bando de vagabundos metidos a intelectuais". De quebra, ameaçou processar biqueiros escolhidos a dedo. Para Marco Gomes, poeta anarquista, agitador cultural e fotógrafo profissional, "Josué tá com marmota". Tome tento, Josué! A BICA é coisa séria, já dizia o Promotor do Ministério Público Francisco Cruz, biqueiro-fundador oficial da BICA e futuro Procurador Geral de Justiça, se o governador Eduardo Braga honrar o clamor das urnas.

TAQUIPRATI

BETÃO E OS PÁSSAROS AZUIS

José Ribamar Bessa Freire
18/02/2007 - Diário do Amazonas

O menino nasceu num sofisticado hospital americano, onde todo mundo mascava chiclete e falava inglês. Quem fez o parto não foi a tia Mimita, mas uma obstetra americana, gorda e peitudona, chamada Judy. Quando ele abriu os olhos pela primeira vez, viu uma placa: “Maternity. Silence, please”. Aí, em vez de chorar escandalosamente “buá, buá”, emitiu discreto pranto: “sniff, sniff”. Estava, indubitavelmente, dentro de território americano. Podia, portanto, ser gringo, se chamar Big Bob e ter passaporte dos Estados Unidos.

No entanto, ele se chama Roberto, de apelido Betão, é brasileiríssimo e, mais precisamente, mocorongo. Acontece que esse hospital americano ficava em Fordlândia, Belterra, no Pará. Havia sido construído pelo empresário Henry Ford para os seus funcionários, entre os quais se destacava Antônio Gomes, chefe do Almoxarifado, que é de Santarém e vem a ser o pai do Betão.

Na época, os trabalhadores da Fordlândia haviam plantado um milhão de seringueiras, mas todas elas foram devoradas por uma praga agrícola. O gringo ficou naquela de “nem ford nem sai de cima”, e sua empresa faliu. Desgostoso, Ford morreu em abril de 1947, dois meses depois do nascimento do Betão, cuja família migrou, então, de mala e cuia para Manaus.

Os Gomes de Sá vieram morar na rua Boa Sorte, ali perto da Estação de Água da Castelhana, e depois no bairro da Glória, vizinho ao Matadouro. Foi aí que Betão adquiriu sua identidade de ‘bucheiro’. Vivia pescando bodó no igarapé de São Raimundo, na jangada da serraria Hore, com seus primos Arnaldo, Arnoldo, Agnaldo e Aldo Gomes da Costa. Dia sim e outro também saía na porrada com o pessoal do bairro de Aparecida, que naquela época tinha um rixa interminável com os bucheiros.

- “Sai do sereno, menino!”. Era a voz da dona Chiquinha, sua mãe, que lhe deu surras memoráveis, porque ele era muito danado, só queria empinar papagaio e correr atrás do boi: - “Pisei, pisei, pisei / pisei torno a pisar / pisei ´Mina de Ouro´ / na esquina do boulevard”. Aos seis anos, pegava escondido o violão do pai, e tocava de ouvido “no rancho fundo”. Seu Antônio decidiu, então, matriculá-lo na escola de violão de Domingos Lima, lá no Beco do Macedo. Estava definida ali sua vocação.

Big Bob: o músico

“Com meu grande mestre Domingos Lima, aprendi a ser um harmonizador, o que serviu para o resto de minha vida de músico” – reconhece Betão, que aos treze anos começou a tocar violão no Conjunto Regional da Rádio Rio Mar, convidado por seu diretor na época, o saudoso Erasmo Linhares.

O sucesso estourou. Foi aí que Betão recebeu proposta irrecusável para tocar no ‘La Hoje’, um cabaré famoso e popular de Manaus. O salário era o dobro do que ganhava o seu pai na Padaria Mimi, distribuindo pão e bolacha em toda Manaus. Mas o menino era ainda de menor idade e seus pais tiveram que tirar uma permissão especial no Juizado de Menores. Afinal, música é música, mas zona é zona.

Durante um ano e meio, todas as noites, de domingo a domingo, das 22:00 às 04:00 horas da madrugada, Betão animava as meninas do ‘Lá Hoje’, tocando no conjunto ‘Os Tropicais´, formado pelo baterista Agenor Rio Branco, sargento do Exército; pelo saxofonista Ribamar Lima, sargento da briosa Polícia Militar; pelo contrabaixista Nonato Saraiva e pelo guitarrista André do Amazonas que não eram nem soldados.

É o próprio Betão que avalia essa fase de sua carreira: “Para mim, o ‘Lá Hoje’ foi uma escola de vida e de aprendizagem musical. Os componentes do conjunto eram músicos profissionais, com grande conhecimento técnico e muita paciência para me ensinar, no momento em que começava minha carreira de músico”.

Mas essa escola de vida começou a prejudicar a outra escola – o Instituto de Educação do Amazonas, onde Betão cursava o ginasial. Sem dormir, ele começou a desmaiar em sala de aula. O doutor Hosana, médico da família, aconselhou dona Chiquinha a não deixar que seu filho continuasse trabalhando de madrugada, sob o risco de ficar ´tísico´, contraindo a tuberculose, uma doença temida na época. Assim foi feito.

Os Tropicais deixaram o ´Lá Hoje´ e ficaram tocando na noite de Manaus, apenas nos fins de semana, alegrando as festas nos clubes da cidade. Dali Betão saiu para tocar com ‘Os Diplomatas´, do bairro do Céu, depois para o ‘Blue Star’, que substituiu a banda ‘The Good Boys´, do bairro de Educandos e, finalmente, para o “Blue Birds”.

Blue Birds: a banda

Nos anos 70, a Blue Birds era a mais famosa banda de yê yê yê em Manaus, idolatrada pela juventude, em grande medida por causa de um baixinho, o Wandler Cunha, aquele da música ´Jogo da Calçada´, composta com Wilton Oliveira e gravada pelos ´Mutantes´. Wandler é, fisicamente, um pindobinha, mas, espiritualmente, é uma sumaumeira. Ele saiu da banda, deixando seu lugar na guitarra base pro Betão.

Era uma responsabilidade muito grande dirigir o vôo daqueles pássaros azuis, mas Betão deu conta do serviço. Ocupou seu lugar na banda, fez os arranjos de base do grupo, dando mais peso e consistência ao som, com profissionalismo, ética e companheirismo. De lá pra cá, a banda descobriu novos talentos, contribuiu para a formação de mais de duzentos músicos, alguns dos quais estão tocando no eixo Rio-São Paulo, como o contrabaixista da Gal Costa, Adriano Giffoni.

No dia 17 de junho do corrente ano, a Blue Birds completa quarenta anos. Nessa data, a banda vai apresentar no Largo de São Sebastião um show – Blue Birds in Concert - com a gravação de um CD e de um DVD, com os grande sucessos musicais: Thunderball, Love is All, San Francisco, Roberta, New York New York, Besame mucho, Emoções, Menina Linda e quase todo o repertório de Renato e seus blue caps.

Enquanto tocava, Betão não esperava a banda passar. Cursou o científico no Colégio Estadual do Amazonas, graduou-se em Educação Artística pela UFAM e fez pós-graduação em Gestão Cultural na ISAE/FGV. Hoje, concilia suas atividades na banda com o trabalho de consultor cultural, em projetos no Conselho Municipal de Cultura da Prefeitura de Manaus e da Assembléia Legislativa, o que lhe permitiu organizar o maior banco de dados sobre o movimento cultural no Amazonas.

Betão morou sempre em Manaus, onde foi acolhido pela tribo dos Spener, casando-se com Regina, com quem teve três filhas: Roberta, que é designer, a psicóloga Renata e a jornalista Ramona. Olha só, leitor (a), quantos aniversários juntos! Betão se torna sexagenário, a banda faz quarenta anos, Regina aniversaria, e ambos completam trinta anos de casamento. Hoje, eu tinha de lhe render uma homenagem, não é mesmo?

Meu amigo Betão, cujo primeiro travesseiro foi os peitões da Judy, é amazonense de coração. Pelos poderes que me foram concedidos por Tuta, Rubem Rola, Aguimar, Armindo, Leonor, Teca Freire de Alencar e dona Vera Margarida, em nome do bairro de Aparecida, concedo ao Betão, que hoje completa 60 anos, o título de Cidadão Honorário dos Tocos. O referido é verdade e dou fé.

P.S. – Clarice Beça (1919-2007) nos deixou na manhã do dia 12 de fevereiro, levando com ela, no seu coração, um belo poema do filho, o poeta Aníbal Beça, cujo texto integral está no blog do Rogelio Casado (http://www.rogeliocasado.blogspot.com/). Posted by Picasa

fevereiro 20, 2007

PáginaDois















Emilia, Emilia (Clarice Casado)

Na última semana, tivemos Clarice Casado e sua redação de volta às aulas, "Minhas não-férias", na segunda-feira; Melissa de Menezes revivendo bons momentos em "Edit sad parts" na quarta; Cassiano Rodka contando as amarguras de "Heitor" na sexta. Na terça-feira, Fabiano Liporoni caiu no carnaval com "Skindô, skindô" na seção de música; na quinta, Moisés Westphalen avistou "Alguma coisa em Silent Hill" na seção de cinema.

Nessa semana, teremos mais um texto de Clarice Casado na segunda (19.02), Elaine Santos na seção de música na terça (20.02), um texto literário de Marcella Marx na quarta (21.02), Fabiano Liporoni na seção de cinema na quinta (22.02), e um texto de Cassiano Rodka na sexta (23.02).

Todos os dias tem novidade no PáginaDois!
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fevereiro 19, 2007

Sol de feira











Sol de feira
Luiz Bacellar
Ed. Valer, Manaus, 2005 – 6ª edição

Por Ernesto Renan Freitas Pinto

Este é, seguramente, um dos livros mais insólitos da atual literatura poética brasileira. Trata-se de um trabalho poético didático de um dos raros poetas do Norte, que retoma uma temática característica de certa poesia que se praticou largamente no Brasil Colônia entre 1650 e 1750. O nosso Luiz Bacellar vem cultivando este livro como um pomar real e nesse paciente labor nos ensina a admirar e saborear a rica coleção dos frutos da terra.

(...) Após quase três séculos, um poeta do Amazonas se empenha no cultivo de um pomar em parte já desvendado, mas que em algum lugar guarda surpresa de frutos nunca antes cantados.

Pessoalmente, vejo neste livro um grande benefício a um gosto quase perdido, ao nostálgico saborear dos frutos que vão desaparecendo um a um.Tecnicamente, e também de certa forma em seu tema, o livro poderia ser equiparado aos pomulários góticos da França. E o rondel se elege como forma poética capaz de satisfazer o espírito requintado, o verso ágil e preciso do autor. O rondel é uma forma lúdica por excelência. Mozart inclui rondós em muitas de suas sinfonias e concertos, sobretudo nos últimos movimentos, exatamente quando queria brincar (pelo menos é essa a primeira idéia que temos) com algum tema predileto. Desses rondéis do Sol de feira resulta harmoniosa e terna sinfonia dos frutos da Amazônia.

Ernesto Renan Freitas Pinto (Doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal do Amazonas)

Rondel da graviola

graviola, posto
que viola grave,
de aroma e gosto
de arpejo suave;
em vindo agosto
que a chuva lave
teu verde rosto
pra bicos de ave;

pevides breves
na polpa, neves
de arminhos reais,
são semibreves
desses teus leves
sons palatais

Rondel do cupuaçu

cupuaçu
és soberano
do pomulário americano
num cofre pardo
guardas com ciúmes
raros sabores
vivos perfumes

urna selvagem,
ubre silvestre,
moreno seio,
tanta delícia
tua curva crosta
retém no meio

Rondel do figo

a que mistérios
tu, figo, aludes?
teus hemisférios
dois alaúdes –
música e formas
plástica e cor
em que transformas
o teu sabor:

teu mel que abelhas
vão coletar
(ruivas centelhas bailando no ar)
é grato acordea quem te morde

Rondel da jaca

jaca: entre as frutas
eis a matrona,
esparramada
gorda sultana;
com frouxos bagos
flácido aroma
dá visgo aos lábios
de quem a coma

seu jeito lembra
as contorções
moles, lascivas
dos ventres nus
das odaliscas
no harém cativas

Rondel do maracujá

ao te chamarmos
flor da paixão
teus frágeis ramos
deitas ao chão
por te vergar em
pesos sagrados:
Cruz, Lança, Espinhos,

Cravos e Dados
e porque a Hora
da Remissão
não passará
és passiflora
flor da paixão
maracujá

Rondel do abacaxi

com teu cocar
de verdes plumas
feroz te aprumas
para lutar:
feres a mão
que corta as cruas
douradas puas
do teu gibão;

abacaxi,
topázio agreste,
cristal-farol:
cada rodela
da tua polpa
revela o sol

Rondel da manga

manga olorosa
e aurirrosada
chamam-te rosa
chamam-te espada,
espada e rosa
tens com razão
forma amorosa
de coração;

com a fronde esparzes
sombra e raízes
pelas estradas
no tronco trazes
mil cicatrizes
desesperadas

Rondel da pitanga

gracioso arbusto
de folhas breves
todo adornado
de frutos leves
como as caboclas
do meu torrão
e as notas loucas
do meu violão

rubras miçangas
rubis talhados
de viva cor
sois vós pitangas
cristalizados
beijos de amor Posted by Picasa

Satori











Satori
Luiz Bacellar
Ed.Travessia, Manaus, 2002

Por Tenório Telles

Três séculos se passaram desde a partida de Bashô, e o desafio do reencontro e conciliação do ser humano com sua essência e o eterno persistem. Luiz Bacellar faz parte dessa linhagem de poetas comprometidos com a revelação dos mistérios do mundo, com a essencialidade das coisas e dos seres. Tendo na musicalidade uma de suas marcas definidoras, sua poesia é prenhe de imagens, de ressonâncias filosóficas e espirituais. A acuidade no tratamento dos temas e apuro da linguagem são expressivos da excelência do seu fazer poético.

Iniciado na sabedoria zen-budista e profundo conhecedor da poesia japonesa, Bacellar é um mestre na arte do haiku. É um dos principais divulgadores dessa forma poética entre nós. Satori é um livro surpreendente pela riqueza temática e beleza plástica dos haicais. Fiel à tradição japonesa, seus poemas evidenciam sua “fé no verbo limpo”, como observou o saudoso crítico Antônio Paulo Graça. Sensível aos acontecimentos mais simples, o poeta evoca em seus versos os sentidos e sinais contidos nas pequenas coisas _ metafóricos da vida: No centro da grama /seca da campinha / o girassol resiste.

Tenório Telles
Professor de literatura brasileira e ensaísta

Um tronco queimado
cercado de grama:
negro iceberg!

Num canto sombrio
- a humilde violeta
esconde o perfume.

A aranha rendeira
de um ponto a outro ponto
retecendo o orvalho.

Floresce o jambeiro:
há um tapete róseo
no chão de janeiro.

Um ponto de luz
no escuro.
Um fumante
ou um vaga-lume?

Formigas na porta
Carregam o corpo
Da cigarra morta

(La Fontaine)

Não me importa a lua
não me importa o vento,
fecho a minha porta

Chaleira na trempe,
Mugido de gado,
Campo sossegado.

(Pastoral)

Chuva de janeiro:
o barco de papel
naufraga no bueiro.

Entre a minha e a tua
janela florescem
tuas samambaias

Um cheiro de peixe
podre e fruta estragada
Vento do mercado.

Um barulho mole
depois esse cheiro...
Caiu uma jaca!

Um novelo
desmancha outro novelo.
Um gatinho.
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Frauta de barro











Frauta de barro
Luiz Bacellar
Ed.Valer, Manaus, 2004

Soneto do cigarro

Pequena múmia de fumo
na sua branca mortalha,
simbolizando o resumo
dessa obscura batalha

que sofre a folha macia
do tabaco que se faz
fumaça e assim concilia
os pensamentos de paz...

E quanta coisa nos conta,
ao cabalístico jogo
dos gestos de nossa mão,

sua ruiva estrela tonta,
em hieroglifos de fogo
no meio da escuridão...


Ciranda à roda de um tronco

Mangueira de minha rua
Do velho tronco enrugado
Que serve de alcoviteira
Ao casal de namorados.

O vento mexericando
Com tuas folhas assanhadas
Te arrepia as verdes franjas
Em murmúrios assustados.

As formas dos papagaios
Te pendem das galharias
Como brancos esqueletos
De duendes enforcados.

Te escorre o luar das folhas
Com seu brilho niquelado
Como um colar de rainha
Sobre um dossel desfiado.

Mangueira de minha rua
Vivo cheio de cuidados
Pela ingrata que tortura
Meu coração macerado.

E hei de quebranto e saudade
Morrer contigo abraçado.
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fevereiro 17, 2007

Luiz Bacelar, um mestre entre os haijins

Luiz Bacellar


















NOTA: Me surpreende a indiferença dos poderes públicos com nossos poetas. Estou certo de que ainda existem lugares em que os poetas são referência inestimável da cultura dos nossos tempos. Lugares em que prevalece o afeto, a fraternidade e a solidariedade. Valores que não cedem à lógica do mercado. Aqui mesmo, na taba, muitos poetas têm reconhecimento popular. Entretanto, quando Anibal Beça fez sessenta anos, quarenta deles dedicados à poesia, poucas homenagens lhe foram prestadas. Contei nos dedos. Para mim aniversário de poeta é dia de festa para a cidade, com uma semana de comemorações, com leitura pública de suas poesias, nas feiras, nos mercados, nas escolas, e sobretudo, nas casas do povo. Em todos os tempos existiram, e existem, grandes poetas. Eis que precisou Anibal Beça assumir o Conselho Municipal de Cultura para homenagear um mestre entre os haijins: Luiz Bacellar. Há muito a cidade de Manaus, o estado do Amazonas, lhe deve essa homenagem. Deixemos a poeta Astrid Cabral apresentar a poesia do grande Luiz Bacellar.

*************

A POESIA DE LUIZ BACELLAR

Astrid Cabral

“Se o Brasil não fosse um arquipélago cultural, todos certamente conheceriam a poesia do amazonense Luis Bacellar.”

Na época do apogeu da borracha, Manaus ligara-se diretamente à Europa, de onde a elite econômica tudo importava e para onde enviava os filhos a estudar em Coimbra ou no Porto, em Oxford ou Cambridge. Os numerosos imigrantes judeus sefarditas e sírio-libaneses, por sua vez, mantinham contatos com os continentes de origem. Por outro lado, finda a prosperidade implantada pelo ciclo extrativista, os frágeis vínculos do Amazonas com o restante do país, especialmente com o eixo Rio-São Paulo, coração político, econômico e cultural, estavam totalmente atrofiados pela vastidão geográfica e a insuficiência dos meios de transporte. E não só isso, antigas razões de ordem histórica agravavam a situação, pois, durante o período colonial, a região, ao ser administrada diretamente de Lisboa, estava seccionada do consenso colonial do Brasil. Por ocasião da 2ª Guerra mundial, razoável aquecimento do comércio na demanda da borracha, acendeu esperanças de recuperação, mas logo se mostrou incapaz de reinstaurar a riqueza perdida. O Teatro Amazonas, símbolo do extinto esplendor, virara uma espécie de relíquia histórica. Quando abria as portas era para espetáculos de baixa categoria. Nada de relevante parecia acontecer na cidade condenada à mesmice, distante do progresso industrial paulista e do movimento artístico que por aí se instalara, propagando-se pelo Rio e outros pontos do país, a partir de 22.

Em 1952, organizou-se no Colégio Estadual do Amazonas, o tradicional Pedro II, um debate comemorativo dos trinta anos da Semana de Arte Moderna e foi imensa a dificuldade em encontrar três estudantes que se encarregassem de apresentar e defender o Modernismo. A fidelidade ao gosto parnasiano e simbolista era um denominador comum esmagador na sociedade local, até mesmo entre os jovens.

Nessas circunstâncias, o conhecimento do que ocorria na área da literatura brasileira foi se processando não pelos habituais veículos de comunicação. Manaus não dispunha de livrarias, só de pequenas papelarias onde os poucos livros, quase todos didáticos, figuravam como intrusos entre resmas de papel, cadernos, lápis, colas e tinteiros. Jornais e revistas de fora eram raridades que circulavam entre amigos cuidadosos. Encomendas e novidades demoravam a chegar.

Nascido em 1928, Luiz Bacellar cresceu na Manaus da decadência, da vida provinciana acanhada e retrógrada, da falta de perspectivas para a juventude. A inexistência de uma universidade (contava-se apenas com faculdade de agronomia e de direito) levava ao êxodo grande número de jovens cujas vocações não se coadunavam com a oferta restrita e que muitas vezes acabavam se radicando em outras paragens ao concluir a formação profissional. Por sorte, Luis Bacellar, ainda adolescente (dos 11 aos 17 anos) cursou o Colégio São Bento em São Paulo, além de mais tarde permanecer quatro anos no Rio de Janeiro como bolsista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Tais temporadas certamente contribuíram para suprir a falta de contato com a literatura que se produzia nos grandes centros. Outro fator relevante na promoção do necessário intercâmbio com a vida cultural do resto da nação, foram as duas caravanas de jovens escritores amazonenses, viajando ao Sul do país em 1951 e ao Norte e Nordeste em 53.

Valendo-se de todos os tipos de transporte e abertos à aventura e aos conhecimentos, o grupo travou contatos fecundos e decisivos com a juventude de outros estados. As conseqüências não tardaram.

O surgimento do Clube da Madrugada, em 1954, veio coroar as aspirações de integração nacional e consolidar as propostas de modernidade, sacudindo de modo decisivo o marasmo crônico de Manaus. Luiz Bacellar e o grupo de jovens que se lançara na empresa de descobrir o Brasil (Jorge Tufic, Alencar e Silva, Antísthenes Pinto, Farias de Carvalho, Guimarães de Paula, e outros que depois aderiram), fundaram, com determinação e entusiasmo, o movimento renovador, promovendo uma revolução cultural na cidade até então letárgica, e onde os raros esforços individuais se perdiam sem repercussão. Nas palavras de Jorge Tufic: a tarefa abraçaria algo mais que combater o pieguismo da literatura decadente, o rompimento com o versejar tradicional. Importava sobretudo a desmistificação do homem da região, um contato maior com a realidade da terra. Cabia sim, compensar o atraso de meio século com urgente atualização, estudar com afinco a Semana de 22 e sua proposta de brasilidade.

A designação Clube da Madrugada, sugerida por Luiz Bacellar, foi extremamente provocativa e adequada. A idéia de clube funcionava como alfinetada no formalismo passadista das academias, sugeria descontração, prazer da convivência informal, companheirismo sem hierarquias. Eram jovens tirando, simbolicamente, as gravatas que os sufocavam. Quanto à palavra Madrugada, ao mesmo tempo que remetia às noites boêmias, em que a rapaziada se arrastava dia afora no bate-papo dos bares, sugeria também o raiar de algo novo, o alvorecer de uma postura mais crítica, menos alienada diante da realidade.

Examinando-se a literatura amazonense que antecedeu à geração Madrugada, encontramos nos “Poemas Amazônicos”, de Pereira da Silva, publicado em 1927, e nos “Ritmos de Inquieta Alegria”, de Violeta Branca, de 1935, o rompimento com as formas fixas parnaso/simbolistas. São obras em verso livre e , portanto, modernistas enquanto estrutura formal . Mas o mundo que revelam está carregado da atmosfera pré-modernista. O idealismo exacerbado, a dicção retórica , e a rejeição ao cotidiano são aí características marcantes. Para ilustrar a total distância, entre a linguagem e a atitude poéticas desses antecessores com o que se instaurou a partir do movimento Madrugada, comparemos dois textos onde o tema do amanhecer é tratado por Pereira da Silva e por Luiz Bacellar:

De Pereira da Silva, leio as estrofes finais de “Na hora do milagre do amanhecer:

“Vede, mortais! O sol se desvencilha
Dos ebúrneos coxins do seu leito sidério
E enfim desponta.

Vem percorrer e governar seu grande império.

O suave milagre do amanhecer,
Faz a espécie vibrar. E o homem é o semideus ousado
Que defronta o sol, Vida-das-vidas, que rebrilha.

Nem um leve tremer
De pálpebras! O gênio está de pé,
E o outro gênio fita!O homem e o sol… A floresta e o céu… Eis tudo!

Evoé! Evoé!

Esse entreolhar, grandiosamente mudo,
É uma saudação ciclópica de titãs!

O homem e o sol. O gênio e a luz infinita.
- Duas almas irmãs!

Na imponência imortal de um bronze antigo,
O homem vê no sol desperto o fogo amigo,
Em lumaréus, chameando, na grinalda
Dos vastos, lindos e encantados céus.
E sente que é também um nobre Grão-Senhor!

Ah! O milagre da madrugada
Trouxe-lhe a explicação da Beleza e do Amor!” pag. 67

Vejamos a seguir a “Cantiga do Amanhecer”, de Luiz Bacellar:

O ovo do sol
canta nas landes
uma cantiga de gemas
com as claras nuvens
batidas de ventos.

Ovo da nhambu
a casca azul do céu
se abre em passarinhos
que já chilreiam
no choco desse ovo louro.

Pelo pasto verde claro
vai aquele touro novo
em seu cortejo
de borboletas
retouçando o dia
que começou quando o vôo
do ovo se derramou.
Amanhecia. Pag.189

A contigüidade dos poemas serve para ilustrar a imensa distância entre as duas dicções. A de Pereira da Silva é altissonante, grandiloqüente, laudatória . Dirige-se a uma platéia de público afeito à retórica e amante do espetáculo grandioso. Já a dicção de Luiz Bacellar, extremamente concisa, de grande condensação imagética e comedimento emocional, foge à ênfase, visando uma comunicação efetiva, mas despojada de qualquer pompa oratória. Eis a fundamental mudança a raiar com o movimento Madrugada. Os “Poemas Amazônicos”, contemporâneos da fase primitivista do Modernismo, guardam pontos de contato com o Cobra Norato, de Raul Bopp, no agenciamento das lendas exóticas da região, mas se afastam pelo tom solene e rebuscado, de um beletrismo que não passou pela lição oswaldiana. É a visão crítica e o contato profundo com a realidade social imediata que vai marcar o novo grupo Madrugada.

Não entraremos aqui na discussão do que representa a geração de 45 dentro do movimento literário modernista brasileiro. O que nos interessa, no momento, é reconhecer na geração amazonense do Clube da Madrugada, e especialmente em Luiz Bacellar, vínculos diretos com a geração de 45. Percorrendo a obra dos seus poetas mais representativos, torna-se evidente o extremo apuro formal que os notabilizou, a assiduidade às formas fixas tradicionais, como o soneto, (elaborado tanto em decassílabos como em redondilhas), e o romance, a forma narrativa ibérica, levada à perfeição no Brasil por Cecília Meirelles no Romanceiro da Inconfidência.

A obra de Luiz Bacellar desenvolve-se, pois, a partir desse momento literário. Não se trata de simples acaso os tributos que presta, em seu livro de estréia, a Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, Federico Garcia Lorca, todos denominador comum das preferências dos poetas brasileiros daquela geração. No entanto, ressalte-se também a presença indireta dos autores fundamentais de 22 e 30. Se Mário de Andrade eternizou em “Paulicéia desvairada”, a exuberante metrópole, tumultuada pelo progresso e pelo cosmopolitismo, o amazonense deixou um pungente testemunho da pacata Manaus dos meados do século XX. A série de poemas do Romanceiro Suburbano flagra a decadência da cidade condenada à demolição. Leia-se o painel de abertura da longa Balada da Rua da Conceição, onde se aliam a intensidade dramática e a precisão visual nos detalhes arquitetônicos:

“Vão derrubar vinte casas
na rua da Conceição.
Vão derrubar as mangueiras
e as fachadas de azulejo
da rua da Conceição.
(Onde irão morar os ratos
de ventre gordo e pelado?
E a saparia canora
da rua da Conceição?
Onde irão os jornais velhos?
Onde? E as garrafas quebradas?
Pra onde os cacos de vidro?
Pra onde os cacos de telha?
Pra onde as latas de conserva
vazias e enferrujadas?)
Oh! Vede as fisionomias
desgostosas e alquebradas
das velhas casas desertas…
Oh! Vede as rugas tristonhas
das janelas dolorosas,
dos batentes desbeiçados,
das velhas portas cambadas
de gonzos desengonçados!
Vede os beirais rebentados!
Vede as calhas entulhadas
pelas folhas fermentadas
e os buracos dos soalhos
e os alpendres corroídos
e as cumeeiras caídas
e as goteiras dos telhados!"

Num dos variados trechos dessa balada, Bacellar nos apresenta uma conversa entre árvores da rua e a fala da “mangueira casimiriana”:

“Ai que saudades que tenho
do tempo em que não sofria
reumatismo nas raízes
e não tinha cicatrizes
pelo meu tronco enrugado…
Nunca mais nos voltarão
caroços de nossos frutos
contra as nossas copas fartas.”

O tom de humor brincalhão, além de lances de ironia, vai despontar em muitas passagens, mostrando-nos que as liberdades, conquistadas pelo modernismo da fase iconoclasta, foram incorporados por nosso autor. Exemplos de sua veia satírica podem ser detectados nos poemas narrativos em que relata casos preservados na memória popular, tais como Chiquinho das Alvarengas (rico e gordo/gordo e rico/Creso de muitas arrobas/achatador de penicos), Beco do “Pau-não-cessa” e no “Romance do esquartejado”, onde Bacellar, irreverente, nos apresenta um “alferes” pelo avesso, tipo malandro que nada tem de mártir / herói da pátria, e não passa de um aventureiro garanhão castigado por marido ciumento.

Também na “Balada do Bairro do Céu”, percebe-se a presença da lição Oswald de Andrade, no uso estilístico de dicção eminentemente popular. (“Tá havendo porrada grossa/no crube “Todos os Santo”:/Capuêra e anavaiada/rabo de arraia, facada,/ bufete no pé d’uvido./Tá um fuzuê danado,/o Pedo tá de oio inchado/ e o Cristo já foi firido.)

À propósito do domínio expressivo de Bacellar, a capacidade protéica de valer-se de múltiplos registros lingüísticos, vale a pena comentar aqui como o poeta ora elabora a linguagem coloquial, direta, ora dá preferência à outra, culta, cifrada e até hermética. É o que ocorre na composição de cunho erótico “Anacreôntica”, onde, paralelamente ao vocabulário erudito, ele vai soldando termos de diferentes categorias gramaticais, criando insólitos neologismos de grande força expressiva. Se tomarmos o poema “Torneio de papagaios” verificaremos a extrema ousadia com que reúne não apenas termos do mesmo registro, mas torna, democraticamente, simultâneos os registros popular e culto. Ao descrever com invulgar maestria a competição de pipas e pandorgas, o poeta cria , graças a ritmo ágil e tensões vocabulares, um equivalente torneio verbal:

Na liça das nuvens
a justa do azul:
estrelas e arraias
sóis e paparolas
pipas e pandorgas
briais de papel
de seda, paquifes
de tiras de trapo
veros contraveros
palas xaquetados
cruzados em plena
cortados em barra
goles sobre ouro
prata sobre blau
fusetas lisonjas
bandas de asas no ar
dos paveses leves
de seda, de cola
e talo (evoluem
títeres volantes
roncadeiras vibram
trompas e atabales?)
as linhas comandam
ginetes de vento
bridões rabiolas
gualdrapas estolas
barrigueiras tensas
brigantinas brancas
celadas de vidro
lambrequins rabeiam
peitorais rebentam
nas tranças de lanças
e lâminas pandas
das adargas vítreas
de cerol burnido
flechadas colhidas
bruscas descaídas
brandas empinadas
quedas embiocadas
escudos rompidos
dos famões vencidos
desta imponderável
ágil, livre, frágil
heráldica aérea.

A obra de Luiz Bacellar compõe-se dos seguintes títulos:

Frauta de Barro (1963)
Quatro Movimentos (1963)
Sol de Feira (1973) Editora Umberto Calderaro, Manaus
O Crisântemo de Cem Pétalas (1985) em co-autoria com Roberto Evangelista; editado pela Prefeitura Municipal de Manaus; republicado só com os poemas de sua autoria, como “As Pétalas do Crisântemo”, integrando a reunião intitulada Quarteto (1998), edição da Editora Valer de Manaus, com apoio da Fundação Biblioteca Nacional.
Satori (1999) Editora Travessia, Manaus.

Os dois primeiros livros, premiados pela Academia de Letras em 1959, e publicados quatro anos depois, pela Livraria São José, no Rio de Janeiro, já nos apresentam uma obra madura, rica e diversificada.

Em Frauta de Barro e Quatro Movimentos, o autor assume nominalmente a importância da música na gestação de sua poesia. Já no prólogo do primeiro livro, opta pela simplicidade, quando alude ao fato de ter achado em menino “um frio tubo de argila” e ao se por a soprá-lo “rude e doce melodia” “ jorrou límpida e tranqüila/ como água por um gargalo.” Refere-se também ao tom “faceto e gaiato” e à saudade “dos longes da infância”. A maior parte do livro abarca a Manaus de seus primeiros anos. Comparecem aí também os “Dez Sonetos de bolso”, onde o poeta, cheio de argúcia, simplifica o soneto, reduzindo-o à métrica da redondilha, redimensionando-o, portanto, ao tema: miúdos objetos como lenço, canivete, caixa de fósforo, lápis, chaveiro, etc. Fora alguns poemas ( a exemplo, “Torneio de Papagaios”, “Anacreôntica”, “Estudo de Marinha”, “Os 7 campos do Mito” e “A escada”) Frauta de Barro se mantém dentro da proposta inaugural de simplicidade, contato com a realidade concreta ( o barro da terra), e linguagem quotidiana.

Em “Quatro Movimentos”, no entanto, o clima instaurado é outro. A proposta musical é mais complexa. Nesses 33 sonetos, Bacellar se propõe a realizar uma sinfonia cósmica, destinando 4 sonetos em compasso de allegro, a compor uma carta sazonal , 13 sonetos em andante, a compor uma carta pastoral, 4 sonetos em compasso de adágio para uma carta lunar e finalmente 12 sonetos em largo, por conta de uma carta náutica. Trata-se de elaboração literária em que o autor expõe seu conhecimento e intimidade com a tradição poética de língua portuguesa. Experiências estéticas, decorrentes de leituras literárias e entretecidas com experiências vitais, conduzem o autor pelas veredas do clássico e pelos campos do simbólico. A cosmovisão, que sustenta o conjunto, revela intensa participação no acervo dos mitos e da memória universal. O poeta como que se desprende da paisagem local circundante e se entrega a um mundo interior idealmente imaginado. O que surpreende nesse livro é a originalidade com que Bacellar se move no labirinto das convenções consagradas. Há sempre uma nota pessoal na reelaboração de temas tão comuns como terra, mar, lua e o giro das estações. Se em certos momentos ele se avizinha do território poético descortinado em alguns sonetos de Jorge de Lima, deste se afasta por um grau de menor onirismo e maior transparência. Além de grande apuro formal, decassílabos heróicos estruturando riquíssimas rimas e vocabulário erudito, os sonetos se impõem pela grande força imagética, como se vê, por exemplo, no início da carta lunar: “A lua é um touro oculto atrás das nuvens / deixando ver os áureos cornos fora”

Nos poemas relativos à carta náutica, são magníficas as descrições dos animais marinhos. Aliás, um dos grandes dons de Luiz Bacellar é a capacidade de desenhar, por meio de palavras, seres e objetos. Desde os Sonetos de Bolso, fez-se notar pela intensa visualidade, característica que se evidenciará de maneira extraordinária no terceiro livro: Sol de feira. Segundo depoimento do autor “foi escrito com a intenção de servir de textos para uma Suíte de danças brasileiras, com motivos tirados do folclore alimentar da região amazônica”, o que foi realizado pelo maestro Coelho Maciel.

Nesta obra, de caráter lírico-didático, o autor retoma a tradição de poetas brasileiros da fase colonial, que se compraziam em louvar os frutos da terra, gabando-lhes a superioridade sobre os do reino. Mas se o tema nos remete a Manuel Botelho de Oliveira em À Ilha de Maré, vemos que o tratamento dado por Bacellar difere bastante. Os frutos passam a comparecer com destaque, desmembrados em concisas unidades poéticas cheias de autonomia. Em lugar da forma poética silva, ele utiliza o rondel, personalizando-o, numa estrofe de oito versos em vez de duas quadras, seguida por sextilha em vez de quintilha. Valendo-se desta estrutura, faz o inventário poético de 50 frutos da flora amazônica. Em Sol de feira, Bacellar, emancipado da preocupação ufanista dos antecessores, realmente os ilumina com a observação minuciosa de um botânico e a percepção sensorial de poeta . Em alguns rondéis o sabor regional é sublinhado pelo uso de palavras indígenas. Veja-se o da mandioca, onde ele flagra o processo de transformação da raiz nos subprodutos do molho e da farinha:

“manimani
teu corpo branco
esfarelado
no caititu
chora espremido
no tipiti
lágrimas vivas
de tucupi

depois no tacho
dança lundus
cateretês
todo doirado
dança emboladas
de amido e luz.

À leitura desses poemas somos sempre agradavelmente surpreendidos com a adequação das metáforas que o poeta agencia para nos mostrar os frutos. O rondel do abacaxi nos diz:

“com teu cocar de verdes plumas
feroz te aprumas
para lutar:
feres a mão
que corta as cruas
douradas puas do teu gibão;

No rondel da banana, lemos:

“onde a banana
doce crisálida
dorme? na verde
rede da casca:
no cacho oclusa
tão mansa e inerme
tão paquiderme
musa reclusa;

Note-se que aqui e ali, surge oblíqua a presença do humano. Ao comparar vegetais com homens, Bacellar desieherarquiza a ordem culturalmente instituída e nobilita a vida natural. O rondel do jambo critica de modo irônico o comportamento humano:

“Jambo tu és
tão rubicundo
qual se corasses
por todo mundo
tanta vergonha
tu tens na cara:
talvez por isso
és fruta rara”

Ao longo da obra, a visão transfiguradora do poeta vai enaltecendo a realidade comezinha com associações inusitadas. Em princípio, Bacellar se deixa levar pelo lado visual, explorando as potencialidades estéticas do material em foco. Já Manuel Bandeira, ao transformar em objetos poéticos a maçã e o cacto, os emprenha de significações que transcendem as aparências, contaminando-os de subjetividade. Convém deixar claro que a atitude do criador de Sol de feira é predominantemente objetiva e direta. Ele não se aproveita das frutas como pretexto para falar de si, nem de outra pessoa. João Cabral, no seupoema “Jogos Frutais”, serve-se das frutas pernambucanas como metáforas e metonímias para, de maneira oblíqua e sui-generis, louvar certa mulher da terra. Bacellar quer apenas, e consegue plenamente, captá-las na específica integridade delas.

Por controlar a subjetividade, fugindo ao confessional e mantendo em regra um distanciamento estratégico, e sobretudo pela onipresente concretude de expressão, Luiz Bacellar tem sido associado a João Cabral de Mello Neto. O crítico amazonense Marcus Frederico Krugger já desenvolveu análise aproximando os dois, apontando o rigor construtivista que estrutura a obra de ambos, e mostrando como a par do alto grau de universalidade que os distingue, permanecem emblemáticos de suas regiões. Cabral, caracterizado pelo elemento pedra, símbolo da secura nordestina e Bacellar, pelo elemento água, símbolo dos rios e da floresta equatorial. De fato, ponderando sobre as considerações de Krugger, verificamos que no poeta amazonense certas características de fluidez sintática, variedades métricas e intensa musicalidade dão à sua expressão perfeita sintonia com a maleável natureza fluvial, isso, é claro, sem comprometer o rigor de sua criação gerada sob signo de lucidez e claridade.

Os dois últimos livros de Luiz Bacellar, O Crisântemo de Cem Pétalas( de 85) e Satori (de 99), se inscrevem dentro da forma oriental dos Haicais. Embora não se possa negar um certo modismo na numerosa produção dessa forma poética no Brasil, seja por conta da globalização, que orientalizou o Ocidente e ocidentalizou o Oriente, ou da contribuição cultural interna dos imigrantes nipônicos, o certo é que, em Luiz Bacellar, ela surge como decorrência natural de sua inclinação para a síntese, espécie de clímax para o persistente exercício de despojamento, e sobretudo, exigência de sua profunda vinculação com o cósmico. Coincidentemente, nosso poeta sempre fugiu ao confessional e o haicai, na teoria e na prática ortodoxa, implica a visão pura do horizonte do mundo, aquela que há quando o “eu” desaparece, totalmente liberto de sofrimentos e dualidades. Além disso, Bacellar iniciou-se na filosofia zen-budista e é poeta comprometido com a essência das coisas.

A prática do haicai em Bacellar tanto exibe o cordão umbilical com Matsuo Bashô, de quem traduz várias composições em gesto de reverência, como se mostra autônoma e inventiva, de olhos voltados para a sedução da natureza, seja universal ou amazônica. No primeiro caso serve de exemplo “A foice da lua/a messe das nuvens/ceifa devagar”. Muitas e luminosas são as captações da paisagem regional, celebrando o tapete róseo do jambeiro, o relâmpago do calango, a sensualidade do jambu, o mureru poranga, as palmeiras ao vento, o mamoeiro, o ninho de japó, que compara a um “Pé de meia só”. Nessa linha de composição destaca-se o haicai nacionalista: “Na laranja e na couve/picada - as cores brasileiras/da feijoada”.

Note-se que em sua produção, nem sempre a natureza é apreendida em estado puro. Há momentos em que o cósmico e o humano implícito se defrontam. “Por-do-sol. / Em resposta o edifício / acende as luzes”. Outro exemplo: “Súbita garoa: floração de sombrinhas /nas alas do parque”. A série “Volta ao mundo em 10 flagrantes”, com alusões a Rossio, Piazza Navona, Torre Eiffel etc, confirma a visceral conexão do autor com o mundo da cultura e com o urbano, traço fundamental desde o livro de estréia. Neste se encontra, vizinho ao prólogo, o poema “O Poeta veste-se”. Tem-se no texto um perfeito equilíbrio entre elementos pertencentes à esfera da natureza e à esfera da cultura, no caso, a ocidental de que também fazemos parte. É admirável a articulação que Bacellar promove entre os dois mundos, inserindo-se entre eles, em plena harmonia. Leio parte da composição:

“Com seu paletó de brumas
e suas calças de pedra,
vai o poeta
.……………………………
a caminhar pelas serras.

(pelos montes friorentos
mal se espreguiça a manhã)

Com seu pull-over cinzento
(feito com lã das colinas)

com seus sapatos de musgo
(camurça verde dos muros)

com seu chapéu de abas largas
(grande cumulus escuro).

Mas algo ainda lhe falta
Para a elegância completa:

Súbito pára, se curva,
Num gesto sóbrio e perfeito,

Um breve floco de nuvens
Colhe e prende na lapela.

Se, no cômputo geral, a poesia de Bacellar trava um constante diálogo com o mundo da realidade física palpável, o poeta sempre seduzido pela fruição dos sentidos, nem por isso exclui momentos de grande inquietação espiritual:

“Anjo decaído, irresoluto, ansioso
oscilo entre o Criador e o Rebelado
tão fluido coração me deu o Fado
que nem n’água, ar ou fogo dou repouso.”

Há também composições em que o poeta envereda pelo território do sonho e pela invenção do mito, liberto de qualquer tradição, entregue de corpo e alma à fantasia.

A poesia, todos sabemos, é fenômeno irredutível a explicações de ordem racional, a despeito das análises interpretativas e iluminadoras dos grandes críticos.

Espero que os versos citados sirvam de isca à leitura profunda e prazerosa dos leitores, dispostos a conhecê-lo melhor.

Astrid Cabral Posted by Picasa