janeiro 18, 2007

A ética jornalística













NOTA: Valho-me de notícia que circulou na internet para apresentar o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto para quem ainda não o conhece.

Nova York, 17 de outubro de 2005 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas vai outorgar os Prêmios Internacionais da Liberdade de Imprensa para três jornalistas e uma advogada de mídia – do Brasil, China, Uzbequistão e Zimbábue – que enfrentaram espancamentos, ameaças, intimidações e prisão por seu trabalho. Os prêmios serão oferecidos no 15º jantar anual de premiação do CPJ no Waldorf-Astoria em Nova York, em 22 de novembro de 2005.

Lúcio Flávio Pinto trabalha na isolada região amazônica do Brasil, um dos locais mais perigosos da América Latina. Como proprietário e editor do Jornal Pessoal, no estado do Pará , no norte do país, ele cobre uma área que é quase duas vezes o tamanho do Texas e é o lar de fazendeiros corruptos e especuladores de terra.

Ele tem informado sobre o tráfico de drogas, a devastação ambiental, e a corrupção política e empresarial. Em retorno, tem sido ameaçado e submetido a uma onda de processos espúrios. Um poderoso proprietário de mídia local, que também é político, agrediu Pinto em um restaurante em janeiro (2005), com socos e chutes. Os guarda-costas do agressor deram cobertura durante o ataque.

Escrevendo colunas e dirigindo coberturas em seu pequeno jornal quinzenal, Pinto desafiou a dominação de um proeminente grupo de mídia. Em retaliação, os diretores da empresa lançaram uma enxurrada de processos legais contra ele.

Juizes, políticos e empresários também entraram com ações civis e criminais contra Pinto, que já expôs a grilagem de terra rica em madeira nobre por corporações, assim como a corrupção envolvendo títulos de terra.

http://www.cpj.org/awards05/awards_release_05_Pt.html

Minha admiração por este corajoso jornalista vem dos anos 70, quando ele atuava na imprensa nanica. Agora é possível ler seus artigos, com alguma freqüência, no sítio do Observatório da Imprensa: um exemplo para velhas e novas gerações. Leia seu texto sobre ética jornalística e sobre Raimundo Rodrigues Pereira, outro jornalista da pesada.

ÉTICA JORNALÍSTICA

Ameaças contra o bispo do Xingu

Por Lúcio Flávio Pinto em 16/1/2007

Reproduzido do Jornal Pessoal nº 383, 1ª quinzena de janeiro/2007

As ameaças de morte feitas contra o bispo do Xingu, dom Erwin Krautler, motivaram a CNBB a divulgar uma nota excepcionalmente dura e certeira sobre essa prática tristemente rotineira na Amazônia, de desprezo pela dignidade e a vida humana, atrás da qual está uma cultura da morte, "assumida conscientemente por alguns segmentos influentes da sociedade paraense, que colocam à disposição do crime o dinheiro, a mídia e os pistoleiros".

Segundo o comunicado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, "certos meios de comunicação social no nosso Estado nem sempre resistem à tentação de veiculação profissional da mentira, da utilização de meias verdades e até do silêncio criminoso". Esses veículos acabam se prestando à proliferação de listas públicas de pessoas marcadas para morrer, o que vem ocorrendo "vergonhosa e impunemente ao longo dos anos em nosso Estado". Dessa maneira, acabam fortalecendo o poder oculto das organizações criminosas, ao invés de coibi-las, evitando que realizem seus objetivos: "eliminar a vida, os direitos da pessoa e escarnecer a dignidade humana".

O Sindicato dos Jornalistas, que nesta semana promoveu um encontro acadêmico para discutir o novo código de ética da categoria, podia usar as observações e advertências da CNBB como pauta para colocar em prática a preocupação com o papel dos meios de comunicação. Não em tese, mas concretamente, dando nomes às abstrações da nota e reconstituindo os fatos sugeridos. Fazendo valer e não apenas dizer. A questão, gravíssima, exige. Sem prosopopéia.

Jornalista Raimundo

Pouca gente conhece Raimundo Rodrigues Pereira, um pernambucano de olhar inquisidor, de 65 anos: provavelmente por mera coincidência, ele mereceu matérias de quatro páginas nas edições deste mês das revistas Imprensa e História Viva. Oito páginas nas duas publicações pode parecer muito para um personagem que raramente aparece na grande imprensa, mas ao final da leitura constata-se que foi muito pouco para traduzir o significado desse "gigante da imprensa nanica", conforme a manchete de uma das matérias.

Raimundo comandou o Opinião, que no começo de 1973, em pleno regime militar, concorreu acirradamente em vendagem com a revista Veja, embora fosse um David pelejando contra um Golias. Os dois semanários se nivelaram em torno de 40 mil exemplares vendidos quando a censura, agindo com ferocidade maior sobre o alternativo, o forçou a ir ficando para trás, até desaparecer, quatro anos depois, não sem antes assinalar sua presença como a mais gloriosa de toda genealogia dos jornais de combate, oposição ou alternativos.

A leitura das duas matérias, confrontada com a raquítica bibliografia a respeito, leva à conclusão de que uma história mais satisfatória sobre esse período e essa variante da imprensa ainda está distante de ser escrita. Mas pelo menos as novas gerações foram apresentadas ao tema.

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=416FDS006
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