fevereiro 04, 2013

"Anotações sobre o Canto I, Odisséia" / "Penelope na Odisseia a fiar, Canto II", por acharolastra

PICICA: "Só pra recapitular, no primeiro canto de Odisseia é explicado que Odisseu está longe de casa por castigo de Poseidon e por causa do sentimento possessivo de Calipso. Seu filho Telêmaco e sua esposa Penélope aguardam seu retorno enaunto os homens da cidade tomam o herói por morto e se engalfinham para decidir quem se casará com a suposta viúva e herdará o palácio e o governo de Ìtaca.

Babados fortíssimos."


Anotações sobre o Canto I, Odisseia

Odisseia trata do desaparecimento de um governante, guerreiro e esposo muito querido que não retorna à Ìtaca após a guerra de Tróia. É mantido em cativeiro, contra a vontade da maioria dos deuses olímpicos, pela deusa Calipso (Tia Dalma de Piratas do Caribe, sempre é bom lembrar) que o deseja como marido. Como cegou um dos seus filhosa, ocíclope Polifermo, Posido (ou Poseidon)  também conspira para que o herói permaneça isolado numa ilha paradisíaca que Homero chama de o umbigo do oceano.

Seu filho Telêmaco se encontra em Ítaca à espera do herói. Mas não se trata apenas de uma tragédia familiar, é preciso saber quem assumirá o governo da cidade após se casar com a rica Penélope. A urgência do retorno se dá porque seus pretendentes estão no palácio de Odisseu, festejando às custas dos bens da família enquanto a viúva não decide se quer se casar novamente e com quem.

Curiosidades

 

O nome Odisseu significa causar e ter problemas.

Telêmaco quer dizer “longe da batalha”, uma referência à sua ausência na Ilíada.


Alguns autores defendem que Penelope é filha de Sísifo, o que seria bem legal.

Trecho comentado: as musas como fonte de inspiração

 


Musa, reconta-me os feitos do herói austucioso que muito
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Tróia;
muitas cidades do homens viajou, conheceu seus costumes,
como no mar padeceu sofrimentos inúmeros na alma,
para que a vida salvasse e de seus companheiros a volta.


É através da invocação da Musa que Homero começa a apresentação do conflito central da Odisseia, um pedido para que inspire o poema épico. Na Grécia Antiga haviam 9 musas, filhas de Mnemosine e Zeus (que acabo de descobrir, nem é o deus maos fodão da árvore genealógica dos deuses gre. Cada uma delas responsáveis por um ou mais campos do saber, revelando o modo muito peculiar de como o conhecimento era compartimentado na Grécia Antiga.

Algumas fontes citam Polímnia como a musa dos hinos, da agricultura, da geometria e meditação, representada usando túnica e véu. Acredita-se que Homero buscou inspiração em Calíope, cujo nome significa aquela de bela voz. É a musa da eloquência, da poesia épica e da ciência, um detalhe bastante curioso numa época que dessassocia o saber científico da inspiração e cratividade.

Trecho comentado: Telêmaco preocupado

 


Dele já não há mais notícia, sumiu, só me havendo deixado
pranto e aflições. Mas não é somente por ele que me aflijo; (…)
Ela nem sabe, de vez, recusar essas núpcias odientas,
nem, de uma vez, aceitar. E, com isso, eles gastam sem pausa
minha fazendo. A mim próprio, por certo, bem cedo consomem.Telêmaco


Apesar de o conflito em torno de Penépole ser mutio lembrado, a situação de Telêmaco em Odisseia não é menos interessante. Um número considerável de pretendentes se encontra no palácio da família, vivendo às custas da herança deixada por Odisseu. A situação só mudará se a viúva do herói decidir se casar novamente. Enquanto isso, Telêmaco parece impotente enquanto a riqueza do palácio se esvai.

Trata-se de questionar não somente o direito de herança mas também a sucessão do poder em Ìtaca, antes ocupado pelo herói de forma benevolente. Se Odisseu estivesse na cidade, o governo seria transmitido para Telêmaco. Porém, nesse contexto, a pessoa que desposar Penélope herda o palácio, os tesouros deixados por Odisseu e o cetro. Ou seja, tudo aquilo que Telêmaco provavelmente enxerga como sendo seu por direito.

Trecho comentado: Penelope é uma esposa fiel ou uma excelente estrategista?

 


Para teu quarto recolhe-te e cuida dos próprios lavores,
roca e tear, e às criadas solícitas ordens transmite
para que tudo executem, que aos homens importa a palavra,
mormente a mi, a quem cumpre assumir o comando da casa.
Telêmaco


Chegamos ao conflito mais interessante e por enquanto apenas sugerido do primeiro canto – Penélope rocando e fiando enquanto os homens decidem seu destino. Muitos querem-na como esposa exemplar. Tenho a impressão de que se trata de um estrategista das boas. O sabido por enquanto é que Penelope parece crer o marido vivo. Ou será que ela simplesmente não quer se submeter a um homem, seja ele seu filho ou um estranho qualquer apenas interessado apenas em sua herança e no governo da cidade?

Fonte:  Indigestivos Oneirophanta

* * * 

Penelope na Odisseia a fiar, Canto II

Só pra recapitular, no primeiro canto de Odisseia é explicado que Odisseu está longe de casa por castigo de Poseidon e por causa do sentimento possessivo de Calipso. Seu filho Telêmaco e sua esposa Penélope aguardam seu retorno enaunto os homens da cidade tomam o herói por morto e se engalfinham para decidir quem se casará com a suposta viúva e herdará o palácio e o governo de Ìtaca.

Babados fortíssimos.




I. A TELEMAQUIA

(…) a respeito de duas desgraças que em casa me pesam
Uma consiste na morte de meu pai ilustre, que outrora
paternalmente benigno reinou sobre vós, os presentes
ora outra muito mais grave ocorreu, e que breve há de a casa
completamente arruinar-me e destruir toda a minha fazenda.
A seu mau grado se vê minha mãe assediada e forçada
por pretendentes que os filhoa se dizem dos nobres da terra.

Telêmaco, filho de Odisseu e Penelope

A pergunta sobre Telêmaco está resolvida – ele está mais preocupado com a herança do que com o desaparecimento do pai. Isso é dito na Assembléia, onde é tomada a decisão de que ele saia em busca de notícias do pai com a ajuda de Palas Atena. Caso seja dada alguma informação sobre o paradeiro do divo, deverão esperar que volte por um ano.

É por isso que os primeiros cantos de Odisseia são chamados de Telemaquia, contam a busca de Telêmaco por Odisseu. Um dos seus maiores problemas é que ainda não é adulto, não tem os meios necessários para expulsar à força os pretendentes. Muito provavelmente a viagem será uma espécie de rito de passagem.

A personagem se declarar despreparado, até mesmo para falar em público. Em nenhum momento é feita uma descrição psicológica. Porém, quando Telêmaco está a caminho de falar na assembléia, Homero diz que Palas Atena lhe infunde nos ombros a graça divina, de modo tal, que os do povo o admiravam à sua passagem.




II. Penélope por John Waterhouse

Nós pretendentes não somos culpados, nós outros Aquivos;
culpa a tua mãe, por demais entendida em processos escusos. (…)
SAbe manter a esperança em todos e a todos promente
bem como envia mensagens, mas outros desígnios medita. (…)
Sim, não sairemos daqui para os nossos domínios, ou de outrem,
antes de vê-la casada com um dos Aqueus de sua escolha.

Antínoo, pretendente

Penélope e os Pretendentes, John Waterhouse, 1912.
Penélope e os Pretendentes, John Waterhouse, 1912.

Penélope me parece ser uma mulher incompreedida. Antes de ler Odisseia, sempre tive a impressão de que se tratava de uma esposa devota, chorosa de saudade. Hoje tenha cá muitas dúvidas sobre esse retrato. Ela me parece muito mais uma estrategista do que a esposa abnegada que copiosamente chora a morte do marido.

Os pretendentes a descrevem como inteligente, alguém que resolve seus problemas com sabedoria e sagacidade. Dessa vez acreditam que ela está a fazer uma burrada pois, enquanto fia, eles permanecem no palácio gastando a herança. Creio que se trata de uma troca. Tê-los por perto por algum tempo, cozidos em banho-maria.

Enquanto isso, alguma solução é arquitetada. É o que vejo nesse óleo de John Waterhouse, até essa semana um desconhecido para mim. Penélope não espera, mas parece agir, ocupada demais com alguma coisa cuja metáfora é o fiar. Todos os outros assistem, hipnotizados. É como se Penelope estivesse numa peça de teatro que a todos distrai.

A pintura coloca em oposição os pretendentes e as servas, ou estaríamos falando de uma relação de igualdade? Penélope parece dominar a todos, que se colocam ao seu dispor. O pano de fundo é a conjuntura política da cidade. Em breve Odisseu há de voltar esua estratégia foi no mínimo bensucedida. Me falta saber porquê ela tomou tal decisão.

Cenas do próximo capítulo. Opa, canto!

Fonte: Indigestivos Oneirophanta

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