janeiro 24, 2013

"Uma história fantástica: índios brasileiros na Grécia", por Oswaldo Conti-Bosso

PICICA: "O problema da universidade, para mim, começa antes da universidade brasileira existir. Mais precisamente, em 1870, com as quatro conferências do Nietzsche sobre o futuro dos estabelecimentos de ensino é nessa ocasião que ele arranja um jeito de ser aposentado por invalidez, se não me engano, e sai da universidade. Ele já começava a ver que a importância crescente do jornalismo e da imprensa como instrumento para fazer a cabeça das pessoas colocava a universidade em crise. Em termos de detecção do problema, ele começa lá. O que vemos atualmente seria o final desse processo. E a aceleração é ainda maior quando a universidade começa a ter que adotar cada vez mais critérios de empresa para produzir e avaliar conhecimento. Aí, no meu entender, dançou mesmo." (TRECHO DA ENTREVISTA QUE NÃO TEM NADA A VER COM OS ÍNDIOS).

 

Uma história fantástica: índios brasileiros na Grécia


Caros,
O artigo, ou melhor, a entrevista com Laymert Garcia dos Santos, esta em arquivo anexo, pano rápido, qualquer palavra a mais, pode ser a gota d´água, como dirio o único reacionário, "a vida como ela é":
(...) "Ailton Krenak me contou uma história fantástica do dia em que ele e Davi Kopenawa Yanomami foram até Atenas receber um prêmio da Fundação Onassis pela preservação do meio ambiente. Recepcionados com limusine na porta do avião, banquetes, aquela loucura toda, eles receberam o prêmio e, enfim, foram levados para uma visita à Acrópole junto com o embaixador brasileiro. Quando a visita acabou, o embaixador perguntou para Davi: "Então Davi, o que você acha?" E ele respondeu: "Ah! Agora eu entendi, a casa do avô do garimpeiro é aqui". "Onde estão as florestas de vocês?", ele perguntou. "Aqui nunca teve floresta?" E responderam: "sim, há muito tempo, mas depois...". Eu achei fantástico, porque ele trazia, agora, o antes! É o pré-socrático chegando! Ele diz: "Entendi, vocês são construtores de ruínas!" Numa outra chave, pode-se dizer: "que cretino, não soube ver a beleza da Acrópole". Mas a relação que ele fazia era entre a ruína da Acrópole e a floresta. Num tipo de pensamento destes, o que interessa é a origem, é o "antes", então ele vai pra trás. Acho isso muito interessante como situação."

Outra história, não de índio, de civilização atrasada e que "se acha":
(...) Osvaldo – No ano passado, você mencionou numa palestra, cujo título era muito sugestivo, "Educação desculturalizada"6, o problema da "ausência do cultivo do espírito" na universidade. Como deveríamos pensar essa ausência hoje, tanto no Brasil quanto no mundo? 
No Brasil é mais grave, pois o processo de decomposição é mais acelerado. Mas eu acho que é um problema geral. O problema da universidade, para mim, começa antes da universidade brasileira existir. Mais precisamente, em 1870, com as quatro conferências do Nietzsche sobre o futuro dos estabelecimentos de ensino é nessa ocasião que ele arranja um jeito de ser aposentado por invalidez, se não me engano, e sai da universidade. Ele já começava a ver que a importância crescente do jornalismo e da imprensa como instrumento para fazer a cabeça das pessoas colocava a universidade em crise. Em termos de detecção do problema, ele começa lá. O que vemos atualmente seria o final desse processo. E a aceleração é ainda maior quando a universidade começa a ter que adotar cada vez mais critérios de empresa para produzir e avaliar conhecimento. Aí, no meu entender, dançou mesmo.
Esse processo é curioso porque, no mesmo momento em que a universidade parece não ser mais capaz de fornecer largueza de espírito, flexibilidade mental e capacidade de lidar com situações e problemas complexos (que seria a cultura), o capital vai considerar que essa é a coisa mais valiosa que temos. É uma situação paradoxal, mas vemos uma incapacidade total das universidades de reconhecer em que mundo estão. Há uma defasagem tão grande entre as velocidades de transformação do mundo e da universidade, uma incapacidade da universidade de reconhecer a sua inadequação com relação a esse mundo, que eu acho que ela é uma instituição terminal mesmo. O que virá depois como maneira de transmissão de saber, eu não sei. Mas acho que, em termos de dominação, o desaparecimento da universidade tem um papel importante, porque a possibilidade de se ter um pensamento crítico (inclusive necessário para a própria ponta do sistema) fica bastante reduzida sem a universidade.

Fonte: Luis Nassif Online

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