PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
fevereiro 28, 2006
Tô com a BICA e não abro
Cultura biqueira
Conferindo a letra
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AXÉ
Estação Roberlândia
O carnaval e o espírito dionisíaco: o caso da BICA
O carnaval e o espírito dionisíaco
Certa vez, um senador da república, amazonense, disse que o peixe-boi estava em extinção porque tinha esgotado seu ciclo de vida. Ora, ora! Do neolítico à era do chip, muita coisa mudou, caro senador. Vossa Excelência esqueceu-se de mencionar que a ação predatória do homem há muito tem como sustentação o capitalismo selvagem - expressão deliciosa, em desuso.
No caso das folias de Momo há quem aposte no declínio dionisíaco do carnaval. Não é o caso do senador, carnavalesco até o último fio do cabelo. Em honra a Dionísio, convém lembrar que os sujeitos humanos não são vítimas passivas da indústria que envolveu o carnaval.
Ainda que o carnaval tenha sido utilizado como instrumento de governos de classe, como o que sucedeu na era Vargas; ainda que a burguesia proprietária estimule e se beneficie materialmente da comercialização do carnaval de abadás, que contém os foliões entre cordas; ainda assim, os sujeitos sem poder continuam a lutar contra o sistema e a sobreviver dentro dele, apesar da comercialização da quadra momesca pela mídia do espetáculo.
A Banda da BICA é um dos exemplos de resistência. Apoiada por profissionais liberais, comerciantes, jornalistas, fotógrafos, juízes, advogados, economistas, engenheiros, médicos, artistas, servidores públicos etc., todos recusam a aceitação do que é dado e tentam construir a autonomia que muita das vezes lhes falta no interior das instituições a que estão vinculados.
O carnaval da BICA é um desses bens públicos fundamentais no processo social de criação de um espírito crítico libertário. É saúde mental direto na veia do cidadão - verdadeiro libelo contra toda forma de autoritarismo que costuma campear no vale amazônico.
Vale lembrar que saúde mental não é a ausência de sofrimento mental. A afirmação é do Dr. Mario Rodrigues Louzã Neto. E diz mais. É o estado mais ou menos constante de uma pessoa emocionalmente ajustada, que é capaz de se auto-realizar, de criticar a realidade, de ser auto-crítica e de manter o gosto pela vida. Goza de boa saúde mental aquele que é capaz de diferenciar o falso do autêntico, o desonesto do honesto, o verdadeiro do irreal, de modo que suas relações humanas não sejam marcadas pela acomodação, nem pela apatia, mas sejam dotadas de valor e reconhecidas pela comunidade. Algumas das características da saúde mental são: independência, auto-confiança, cooperação, capacidade de desempenhar um trabalho e assumir responsabilidades, confiabilidade, persistência, conviver harmoniosamente com sua orientação sexual e a dos outros, capacidade de demonstrar amizade e amor, capacidade de dar e receber, senso de humor, amar o próximo e o diferente, saber brincar (“O homem só se torna homem quando aprende a brincar – Schiller”), promover o bem estar pessoal e da comunidade onde vive.
Inegavelmente, o carnaval da BICA produz um duplo efeito: na saúde mental e na saúde política da cidade. Como especialista em saúde mental, recomendo BICA na veia. Agende, a data é cativa: todo sábado magro de carnaval.
Certa vez, um senador da república, amazonense, disse que o peixe-boi estava em extinção porque tinha esgotado seu ciclo de vida. Ora, ora! Do neolítico à era do chip, muita coisa mudou, caro senador. Vossa Excelência esqueceu-se de mencionar que a ação predatória do homem há muito tem como sustentação o capitalismo selvagem - expressão deliciosa, em desuso.
No caso das folias de Momo há quem aposte no declínio dionisíaco do carnaval. Não é o caso do senador, carnavalesco até o último fio do cabelo. Em honra a Dionísio, convém lembrar que os sujeitos humanos não são vítimas passivas da indústria que envolveu o carnaval.
Ainda que o carnaval tenha sido utilizado como instrumento de governos de classe, como o que sucedeu na era Vargas; ainda que a burguesia proprietária estimule e se beneficie materialmente da comercialização do carnaval de abadás, que contém os foliões entre cordas; ainda assim, os sujeitos sem poder continuam a lutar contra o sistema e a sobreviver dentro dele, apesar da comercialização da quadra momesca pela mídia do espetáculo.
A Banda da BICA é um dos exemplos de resistência. Apoiada por profissionais liberais, comerciantes, jornalistas, fotógrafos, juízes, advogados, economistas, engenheiros, médicos, artistas, servidores públicos etc., todos recusam a aceitação do que é dado e tentam construir a autonomia que muita das vezes lhes falta no interior das instituições a que estão vinculados.
O carnaval da BICA é um desses bens públicos fundamentais no processo social de criação de um espírito crítico libertário. É saúde mental direto na veia do cidadão - verdadeiro libelo contra toda forma de autoritarismo que costuma campear no vale amazônico.
Vale lembrar que saúde mental não é a ausência de sofrimento mental. A afirmação é do Dr. Mario Rodrigues Louzã Neto. E diz mais. É o estado mais ou menos constante de uma pessoa emocionalmente ajustada, que é capaz de se auto-realizar, de criticar a realidade, de ser auto-crítica e de manter o gosto pela vida. Goza de boa saúde mental aquele que é capaz de diferenciar o falso do autêntico, o desonesto do honesto, o verdadeiro do irreal, de modo que suas relações humanas não sejam marcadas pela acomodação, nem pela apatia, mas sejam dotadas de valor e reconhecidas pela comunidade. Algumas das características da saúde mental são: independência, auto-confiança, cooperação, capacidade de desempenhar um trabalho e assumir responsabilidades, confiabilidade, persistência, conviver harmoniosamente com sua orientação sexual e a dos outros, capacidade de demonstrar amizade e amor, capacidade de dar e receber, senso de humor, amar o próximo e o diferente, saber brincar (“O homem só se torna homem quando aprende a brincar – Schiller”), promover o bem estar pessoal e da comunidade onde vive.
Inegavelmente, o carnaval da BICA produz um duplo efeito: na saúde mental e na saúde política da cidade. Como especialista em saúde mental, recomendo BICA na veia. Agende, a data é cativa: todo sábado magro de carnaval.
fevereiro 24, 2006
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