janeiro 31, 2016

Na disputa pelo Oscar, dois filmes desiguais. POR José Geraldo Couto (BLOG DO IMS)

PICICA: "Em “Carol”, delicadeza da fotografia e efeitos cromáticos incomuns realçam solidão do indivíduo no cenário urbano. Já “A Grande Aposta” pouco informa, entretém ou emociona" 

Na disputa pelo Oscar, dois filmes desiguais


160130-Carol

Em “Carol”, delicadeza da fotografia e efeitos cromáticos incomuns realçam solidão do indivíduo no cenário urbano. Já “A Grande Aposta” pouco informa, entretém ou emociona

Por José Geraldo Couto, no blog do IMS

Dois “filmes do Oscar”, ambos perfeitamente assistíveis, nenhum deles plenamente satisfatório, ao menos para mim: Carol, de Todd Haynes, e A grande aposta, de Adam McKay. Comecemos por Carol.

A história, baseada no romance O preço do sal, de Patricia Highsmith, e ambientada na Nova York da virada dos anos 1940 para os 50, tem algo de déjà vu: o envolvimento amoroso entre uma ricaça casada e mãe (Cate Blanchett, luminosa como sempre) e uma jovem vendedora de loja e aspirante a fotógrafa (Rooney Mara).

Toda a tensão dramática provém do descompasso entre esse amor e o mundo ordenado e coercitivo em que ele se desenvolve, no qual os papeis sexuais e sociais têm uma definição precisa. Uma breve alusão, logo no início, ao Comitê de Atividades Antiamericanas faz a ponte entre a paranoia anticomunista do macarthismo e a defesa feroz da tradicional família americana.

O divórcio social se traduz de forma aguda no iminente divórcio particular entre Carol, a burguesa casada, e seu marido rico (Kyle Chandler), conservador e autoritário como convinha a um chefe de família de sua classe. No centro do conflito, a filhinha do casal.

Estética do descompasso



O que eleva o filme do mero melodrama militante a uma outra coisa é, justamente, sua estética. A delicadeza e a elegância da direção de arte e da fotografia, muito mais do que cumprir um papel decorativo, de embelezamento, criam uma atmosfera que constitui a obra e a justifica. Uma atmosfera ao mesmo tempo suave e pungente.

Falou-se da proximidade estética do filme com a pintura de Edward Hopper, e o próprio diretor de fotografia Edward Lachman disse que sua principal referência foi o fotógrafo de imagens fixas Saul Leiter (1923-2013), um pioneiro no uso estético da cor na captação de cenas urbanas. Vidros molhados ou embaçados pelo vapor, reflexos, luz refratada ou oblíqua, tudo isso aparece, com forte efeito emocional, nas fotos de Leiter – e no filme de Todd Haynes.

A aproximação com Hopper se dá não apenas em termos puramente cromáticos (as cores esmaecidas, em que a emergência pontual de um vermelho ou um amarelo adquire pungência dramática), mas sobretudo na ambiência de aquário, na atmosfera melancólica que acentua o escoar do tempo e a solidão do indivíduo no cenário urbano. Um desacerto análogo ao que as protagonistas experimentam com seu tempo e lugar.

O subtema da fotografia, atividade que a jovem amante pratica lindamente diante dos nossos olhos, assume eventualmente o primeiro plano; fundo e figura se confundem.

Mas é um filme que se presta a leituras equivocadas ou frustrantes. O admirador de filmes anteriores de Todd Haynes, como Velvet goldmine e Não estou lá, em que era mais evidente a inquietação criadora – e provocadora – do diretor, podem ver em Carol uma rendição ao cinema mainstream. O espectador mais ingênuo ou desatento pode considerá-lo apenas mais um melodrama (exangue, amortecido) sobre “o amor que não ousa dizer seu nome”. Paciência. Um filme é tantos filmes quantos são seus espectadores.

A grande aposta e o MacGuffin

Filmes sobre o mundo intrincado da especulação financeira já formam quase um gênero à parte no cinema norte-americano, engendrando desde melodramas maniqueístas como Wall Street, de Oliver Stone, até um ensaio sobre a insanidade e o vício do dinheiro como O lobo de Wall Street, de Scorsese.

 




Em casos assim, geralmente os meandros do mercado e seu incompreensível funcionamento são, no fundo, meros pretextos, gatilhos para o desenvolvimento dramático e o delineamento dos personagens. Aquilo, em suma, que Hitchcock chamava de MacGuffin. Para quem não conhece o conceito, aqui vai a explicação que o cineasta deu numa palestra de 1939: “Poderia ser um nome escocês, tirado de uma história sobre dois homens num trem. Um deles diz: ‘O que é esse embrulho no bagageiro?’ O outro responde: ‘Ah, é um MacGuffin’. O primeiro pergunta: ‘O que é um MacGuffin?’ ‘Bem’, diz o outro homem, ‘é um aparelho para aprisionar leões no norte da Escócia’. O primeiro homem diz: ‘Mas não há leões no norte da Escócia’, e o outro replica: ‘Bom, então não é um MacGuffin’. Ou seja, um MacGuffin não é coisa alguma.”


Fecha parêntese. Em A grande aposta, ao contrário, a artificial bolha imobiliária que estourou nos Estados Unidos em 2008, desencadeando uma crise econômica internacional, não é mero MacGuffin, pois boa parte da narrativa do filme busca explicar o que estava acontecendo no mercado, e os personagens praticamente só falam e agem em função disso.

É inevitável que o espectador leigo no assunto, como eu, se perca um pouco naquele cipoal de hipotecas, ISDA, CDOs etc. O que fica disso tudo é que alguns visionários perceberam antes de todo mundo que o castelo de cartas da especulação imobiliária estava prestes a desmoronar. Destacam-se, entre eles, os consultores de investimentos (ou seja lá como se chama o que fazem) Michael Burry (Christian Bale) e Mark Baum (Steve Carell), cada um no seu canto, sem conhecer as investigações do outro.

Heróis ambíguos

São personagens que você já conhece de outros filmes, sejam eles policiais ou aventuras de ficção científica: aqueles outsiders, vistos como esquisitos, frequentemente escarnecidos por suas ideias heterodoxas, e que no fim provam estar certos.

As “novidades” nesse aspecto são duas. Primeiro, trata-se de personagens ambíguos, que ao mesmo tempo desejam alertar para o desastre e tirar proveito dele. Segundo, sua clarividência não conduz a um final feliz, uma vez que o sistema político-financeiro absorve a crise de maneira a fazer os pobres pagarem a conta, como sempre. (E aqui não se trata de nenhum spoiler, ao menos para quem sabe minimamente o que se passou neste planeta nos últimos anos.)

Outra característica distintiva de A grande aposta é sua mistura de ensaio e ficção, que se converte em metalinguagem quando algum personagem – em especial o cínico investidor Jarred Vennett (Ryan Gosling), do Deutsche Bank – fala diretamente para a câmera comentando a ação ou o que está por trás dela. Não se trata propriamente de uma novidade, se lembrarmos a introdução didática de Cassino e as interpelações do personagem de DiCaprio aos espectadores em O lobo de Wall Street, ambos de Scorsese.

Nada disso, em si, é um problema, nem tampouco uma solução. A questão, a meu ver, é que a articulação entre essas várias instâncias – a radiografia da crise, a crítica ao sistema, o drama dos personagens – nem sempre se dá de forma orgânica, isto é, de modo a entreter, informar e emocionar o público. Pelo menos comigo isso não aconteceu. As histórias pessoais de personagens como Burry e Baum soam como ganchos dramáticos artificiais e frágeis. E confesso que, em termos de compreensão do mercado financeiro, saí do cinema quase tão obtuso quanto entrei. Mas isso, claro, é um problema meu.



José Geraldo Couto

*José Gerado Couto é crítico de cinema e tradutor. Publica suas criticas no blog do IMS. Para ler as edições anteriores da coluna, clique aqui.


 Fonte: BLOG DO IMS

Millôr Fernandes: Frases, poemas, fábulas, contos e histórias no Sarau Elétrico!

PICICA: "Publicado em 2 de mai de 2012
Frases, poemas, fábulas, anedotas, contos e histórias da vida de Millôr. Tudo isso foi trazido ao público no Sarau Elétrico que homenageou o cartunista. O evento que ocorreu em Porto Alegre, no Bar Ocidente, contou com a participação de Katia Suman, Luís Augusto Fischer, Cláudia Tajes, Cláudio Moreno e David Coimbra. Confira os melhores momentos!"

Millôr Fernandes: Frases, poemas, fábulas, contos e histórias no Sarau Elétrico! - L&PM WebTV

LePM Editores

O ministro, o coordenador, sua ideologia e a Ciência, por Luciano Elia (CARTA MAIOR)

PICICA: "A Reforma Psiquiátrica, considerada ideológica pelo ministro da Saúde, produziu uma imensa rede de cuidado constituída por diferentes dispositivos"

O ministro, o coordenador, sua ideologia e a Ciência

A Reforma Psiquiátrica, considerada ideológica pelo ministro da Saúde, produziu uma imensa rede de cuidado constituída por diferentes dispositivos




Luciano Elia
Elza Fiuza / Agência Brasil


O ministro da Saúde, Marcelo Castro, declarou em recente reunião divulgada pela imprensa que a “Reforma Psiquiátrica é demasiado ideológica e pouco científica". Esta declaração foi feita no bojo da nomeação para a Coordenação Nacional de Saúde Mental de Valencius Wurch Duarte Filho, psiquiatra de prática manicomialista contumaz, ex-diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras, o maior manicômio privado da América Latina, extinto em 2012 após um longo e criterioso processo de desconstrução iniciado no ano 2000 por iniciativa do Poder Público, com base nos princípios da "ideológica" Reforma.


O contexto em que esta declaração foi feita é indiscutivelmente ideológico: o de um ministro de Estado tentando justificar o injustificável da nomeação de um Coordenador Nacional de Saúde Mental contrário à Política Pública de Saúde Mental que há 30 anos é adotada no Brasil, com amplos e numerosos marcos legais e institucionais, como uma política de Estado internacionalmente reconhecida e respeitada como uma das melhores do mundo. Esta afirmação não foi feita no âmbito de uma discussão científica, intelectual ou acadêmica e, embora o ministro pretenda que ela tenha inspiração na Ciência, ela foi feita por um representante do Estado Brasileiro, e, portanto deve ser submetida a exame por parte da comunidade científica brasileira crítica.


A Reforma Psiquiátrica Brasileira comporta um complexo conjunto de saberes e práticas articulados (Psiquiatria Clínica, Psiquiatria Social, Saúde Coletiva, Saúde Pública, Psicanálise, Psicologia, História Política, História Crítica, Direito Crítico, Filosofia, Esquizoanálise, Fenomenologia, entre outros) que produziram uma profunda e consequente transformação nas práticas de cuidado e assistência em saúde mental.  Mais do que isso, ampliou em muito a compreensão e a extensão de um campo que, no passado, era coextensivo ao da saúde mental, a saber, o da clínica psiquiátrica: basta analisar os documentos, marcos textuais e portarias da DINSAM (Divisão Nacional de Saúde Mental) que vigiam até os anos 80 no Brasil para se verificar claramente a equivalência entre saúde mental e clínica psiquiátrica. A Reforma o redefiniu como campo da atenção psicossocial, que por sua vez não apenas redefine radicalmente o conceito de loucura, sofrimento psíquico e distúrbio mental como inclui problemáticas como uso abusivo de drogas, vulnerabilidade social, conflito com a lei, delinquência, sempre em uma perspectiva contrária à da patologização excessiva, da judicialização e da criminalização. Como poderia um campo com esta complexidade e poder de transformação da realidade ser assim, tão imediatamente (isto é, sem maiores mediações argumentativas) considerado não-científico?




Suporia o ministro que a Psiquiatria é uma ciência estritamente biológica? Supõe ele que a loucura é um distúrbio intra-individual, endógeno, cerebral, neurológico, bioquímico? A Psiquiatria, eminente campo das Ciências Médicas ao qual cabe a imensa e honrosa tarefa de debruçar-se sobre a loucura, não pode contentar-se com um reducionismo organicista. É preciso que exista, no seio do saber e das práticas da boa Psiquiatria científica, a dimensão do Social como exigência metodológica, conceitual e ética, e por isso é preciso que a Psiquiatria se articule com as Ciências Sociais e Históricas, e com uma clínica do sujeito, tal como a que a Psicanálise propõe, baseada na legitimidade da palavra daquele que sofre, sempre escutada como testemunho subjetivo.


A Reforma Psiquiátrica Brasileira, considerada ideológica pelo ministro, produziu uma imensa rede de cuidado, constituída por diferentes dispositivos interligados, todos articulados em rede, dispositivos oriundos e gerenciados por diferentes setores de atividades do Poder Público que operam sobre problemáticas sociais: Saúde (setor primordial e de origem do campo, ao qual cabe convocar e acionar os demais), Educação, Justiça, Assistência social, Esporte e lazer, Cultura, entre outros, que sempre estão implicados na rede de cuidados proposta pela Reforma no lugar do modelo manicomial e hospitalocêntrico, que, pelo contrário, não implica rede, não se articula com nenhum dispositivo institucional fora dele, concebendo-se como instituição total para o suposto tratamento dos “doentes mentais”, que, ali confinados, privados dos laços e do convívio social, seriam “tratados” de sua “doença”.


Afirmar que as práticas derivadas da Reforma Psiquiátrica Brasileira não seriam científicas (e sim “ideológicas’) e portanto sua eficácia não poderia ser cientificamente comprovada constitui um lema, e, portanto, um enunciado, ele próprio, ideológico e não científico. Não se pode, por força do rigor metodológico exigido pela ciência, aplicar critérios de verificação próprios de um campo a um outro, estruturalmente heterogêneo ao primeiro. A ciência não é una, mas diversa e cada campo que a compõe apresenta especificidades conceituais e metodológicas que precisam ser congruentes com os critérios de validação e verificação que se lhe aplicam. A hegemonia de um desses campos sobre os demais - como ocorre hoje em dia, movida pela aliança do capital financeiro e do correlato domínio político - é um abuso de ordem ideológica que precisa ser regulado e submetido a um constante exercício de crítica política, intelectual e científica. A ideologia cientificista  pretende controlar e manipular a sociedade inteira, convencendo-a de que todo um amplo espectro de saberes e práticas clínicas, sociais, psicossociais deve ser desqualificado como “não-científico”, sem comprovação e sem “evidências” de sua eficácia.


Por outro lado, os operadores do campo da saúde mental que seguem os princípios éticos e os conceitos teóricos da Reforma na sua práxis clínico-territorial quotidiana, nos Centros de Atenção Psicossocial, nos Centros de Convivência, nas Unidades de Acolhimento, nas Residências Terapêuticas, enfim, nos diversos dispositivos que compõem as redes do campo de atenção psicossocial não cessam de verificar a eficácia de sua práxis. Pacientes egressos de longas internações psiquiátricas, contados hoje já aos milhares, dão permanentemente seu depoimento de como sua vida (pessoal, familiar, social) mudou depois que passaram a ser tratados nos dispositivos clínicos da Reforma, substitutivos aos manicômios. Crianças e adolescentes tratados em CAPSis (Centros de Atenção Psicossocial infanto-juvenis), muitas vezes desde pequenos, apresentam mudanças impressionantes no curso de seu desenvolvimento, e são numerosos os casos de crianças autistas que chegaram a esses serviços ainda com pouca idade e que passaram a fazer uso da fala, estabelecer laços sociais com outras crianças e adultos, frequentar escolas. E cabe lembrar, de passagem, que a medicação nesses casos quase sempre se limita ao controle comportamental de impulsos, não tendo valor terapêutico algum: são os recursos da clínica da atenção psicossocial que atuam e promovem as mudanças. No plano do uso abusivo de drogas, são fartas as experiências nas quais os usuários declaram que finalmente podem falar de suas vidas, suas dificuldades, sua experiência, enfim, em vez de serem tomados e tratados como meros consumidores de drogas, e em um número impressionante de casos abandonam o uso das substâncias com poucas semanas de trabalho de clínica psicossocial. Declaram também que as internações compulsórias pelas quais eventualmente passaram só pioraram a sua situação, pois “enquanto eu estava internado ninguém mudou a minha vida, então quando saio enfio o pé na jaca” (sic - fala de uma usuária que passou quatro meses internada compulsoriamente). Fala-se em “dependência química” sem qualquer rigor na conceituação da categoria empregada e na validação do “diagnóstico”, pois que, na maioria dos casos de uso abusivo de drogas em situação de rua e em jovens de populações extremamente pobres uma análise real e rigorosamente científica da situação do usuário que leve em conta a complexidade dos fatores envolvidos sempre indicará vários tipos de dependência, exceto a química.


A operação pela qual se pretende desqualificar como ideológica esta verdadeira revolução científica só pode encontrar suas razões na mais leviana moção ideológica: a de desmontar um processo histórico que só logrou obter o grau de transformação social e clínica que reconhecidamente vem obtendo por sua robustez científica - pois que é próprio da ciência produzir efetivas transformações na realidade, inalcançáveis pela mera ideologia, por razões de interesse político e econômico, nada difícil de identificar no mundo atual.


O que está em jogo em toda essa ideologia cientificista portanto não é, de modo algum, a verdade científica nem a eficácia do tratamento, mas os interesses da indústria de psicofármacos, uma das mais rentáveis do mundo, dos laboratórios, que premiam opulentamente médicos que prescrevem psicofármacos além de determinado limiar de prescrições (e quase todo médico hoje, seja qual for sua especialidade, prescreve psicofármacos sob os mais diversos pretextos “clínicos”), pautam o que deve e o que não deve ser publicado em periódicos “científicos’, intervêm seletivamente em editais de  concursos públicos para docentes e pesquisadores até mesmo em universidades “públicas”, definem critérios de editais de convênios de entidades da sociedade civil com a gestão pública e acabam por comandar as políticas públicas de um Estado que se faz refém do capital.

Luciano Elia é psicanalista, professor titular da área de Psicanálise do Instituto de Psicologia da UERJ, supervisor clínico-territorial de Centros de Atenção Psicossocial




Créditos da foto: Elza Fiuza / Agência Brasil


Fonte: CARTA MAIOR

janeiro 30, 2016

DUFFY: The Man Who Shot the Sixties

PICICA: "Enviado em 12 de set de 2011
Duffy together with David Bailey and Terence Donovan is recognized as one of the innovators of "documentary" fashion photography, a style which revolutionized fashion imagery and furthermore the fashion industry. So influential were their images that in 1962 the Sunday Times dubbed Duffy, Bailey & Donovan the "Terrible Trio" and Norman Parkinson further added to their notoriety by naming them "The Black Trinity". Together they dominated the London photographic scene, constantly pushing each other to new heights. Even socially they would spend many hours together talking, living and breathing photography.

In the 1970s DUFFY suddenly disappeared from view and burned all his negatives. Filmed on the eve of the first-ever exhibition of his work, Duffy agrees to talk about his life, his work and why he made it all go up in flames.

Courtesy Chris Duffy.

http://www.duffyphotographer.com/
http://www.guardian.co.uk/artanddesig...

The DEVELOP Tube Photography Video Channel is an educational resource which features interviews, profiles, lectures and films about photojournalism, fine art and documentary photography. Find us on Vimeo too."

DUFFY: The Man Who Shot the Sixties (Full length film)

The DEVELOP Tube Photography Video Channel on YouTube The DEVELOP Tube Photography Video Channel on YouTu

Richard Avedon- Darkness and Light

PICICA: "Publicado em 6 de set de 2012
From the 1995 American Masters Series.

All great artists, including great photographers, become perfectionists, essentially driving the master achievements of their greatest works. This is an excellent episode, that I first video taped onto VHS and loaned to my daughter and others. I am glad to see that PBS has allowed it to stay up in Youtube. Avedon's words in narrative and his images here, are very powerful and can change lives."

Richard Avedon- Darkness and Light

Dumrongpong Ponlaboon


Francesca Woodman

PICICA:

Profound individuals love illusion. They are passive and clean of heart. They subconciously and consciously are compelled to examine and demonstrate the world bestoyed before them. True genius is black- art is white. Anything that seeks undo attention is not art. 

True art is black and black is true.

Life is melancholic most of the time. I do not want to examine that, I pefer to escape it. Truly escape, truly.

Art is unpredictable and therefore not photographed or heard or watched..... It just is everywhere..
 

Francesca Woodman.avi

Ирина Рузина

janeiro 29, 2016

The Woodmans [2010] Legendado

PICICA: "Publicado em 16 de jul de 2015
Francesca Woodman se suicidou, aos 22 anos, pulando de um edifício de Manhattan. Ela foi uma fotógrafa ávida, que deixou para trás uma coleção imensa de fotografias peculiares, em preto e branco. Seus pais, George e Betty, também artistas, e seu irmão Charlie eram inteiramente dedicados à sua arte e um ao outro, até a morte de Francesca. Trinta anos depois, o diretor Scott Willis pinta um retrato profundo e comovedor de uma família cheia de culpa e de orgulho."

The Woodmans [2010] Legendado PT-BR

Jordana Lee

FRANCESCA WOODMAN - LAURIE ANDERSON

PICICA: "Publicado em 12 de jul de 2015"
 

FRANCESCA WOODMAN - LAURIE ANDERSON

Enzo Amoruso

Os Dias Com Ele [AGENDA]

PICICA: "Publicado em 5 de mai de 2014
Facebook: https://facebook.com/programaagenda

O Agenda volta seu olhar para o filme Os Dias Com Ele, vencedor da Mostra Aurora no Festival de Cinema de Tiradentes de 2013, e que entra em circuito em Belo Horizonte."

Os Dias Com Ele [AGENDA]

Agenda Rede Minas

Os Dias Com Ele (2013)

PICICA: "Publicado em 17 de ago de 2014
Os Dias com Ele não traz uma premissa incomum no documentário, pelo contrário: o filme foca na relação entre a diretora Maria Clara Escobar e seu pai, o filósofo Carlos Henrique Escobar. Através dos traumas pessoais, a narrativa pretende espelhar os traumas da nação, principalmente relacionados ao sombrio período da ditadura militar. As relações família-pátria e público-privado têm constituído o eixo de dezenas de documentários nacionais, e este é mais um exemplar da boa qualidade deste grupo de obras."

Os Dias Com Ele (2013)

André L

Os dias com ele (BLOG DO IMS)

PICICA: "A diretora Maria Clara Escobar se propõe a realizar um documentário sobre seu pai, o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar, preso e torturado durante a ditadura militar e autoexilado em Portugal. Autor de mais de 30 livros, entre filosofia, poesia e ensaios, Carlos se recusa a fazer o filme proposto por Maria Clara. Maria Clara não quer fazer o filme a que seu pai se dispõe. “Os dias com ele” se dará no agenciamento desse embate." 

Os dias com ele

  • Produção (Brasil, 2013. 105’)
  • Direção Maria Clara Escobar
A diretora Maria Clara Escobar se propõe a realizar um documentário sobre seu pai, o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar, preso e torturado durante a ditadura militar e autoexilado em Portugal. Autor de mais de 30 livros, entre filosofia, poesia e ensaios, Carlos se recusa a fazer o filme proposto por Maria Clara. Maria Clara não quer fazer o filme a que seu pai se dispõe. “Os dias com ele” se dará no agenciamento desse embate. 

O filme foi realizado em duas viagens a Portugal, a primeira de quatro meses, a segunda de dois meses, “e um método mais automático do que resultado de uma reflexão” – observa Maria Clara –, “ele usando a construção das palavras e eu, o aparato da câmera. Ele repetindo um método de construir e eu, um de desconstruir. O que retrata e o retratado. O que olha e o que é visto. E, por que não, dentro dessa mesma lógica de relação de poderes negociados e apropriação de sua matéria, o que é pai e a que é filha. Repetimos muitas vezes este procedimento; e de maneira estranha, através da repetição, íamos nos aproximando e conhecendo pouco a pouco as armadilhas de cada um e talvez as armadilhas em que cada um estivesse preso”.

Fonte: BLOG DO IMS

Pecando pelo excesso: desinformação e mau uso reduzem a eficácia dos antibióticos. Entrevista especial com Luis Caetano Antunes (IHU)

PICICA: "“O acesso a informações precisas poderia reduzir a prescrição inadequada de antibioóticos pela comunidade médica. Campanhas publicitárias na mídia, por sua vez, poderiam ajudar a conscientizar a população sobre a importância do uso correto destas drogas e dos malefícios de seu uso abusivo”, explica o pesquisador." 

Pecando pelo excesso: desinformação e mau uso reduzem a eficácia dos antibióticos. Entrevista especial com Luis Caetano Antunes

“O acesso a informações precisas poderia reduzir a prescrição inadequada de antibioóticos pela comunidade médica. Campanhas publicitárias na mídia, por sua vez, poderiam ajudar a conscientizar a população sobre a importância do uso correto destas drogas e dos malefícios de seu uso abusivo”, explica o pesquisador.

Foto: waldircardoso.wordpress.com
O antibiótico é uma das descobertas que revolucionaram a medicina possibilitando sanar diversas doenças, que hoje são consideradas simples e de fácil tratamento, mas que antes do surgimento dessa classe de medicamentos não tinham cura. Entretanto, cientistas alertam que podemos estar a caminho da “era pós-antibiótico”, em que essas drogas deixarão de ter efeito em função do aparecimento das chamadas superbactérias. Ironicamente, esses microrganismos têm se originado a partir do uso indiscriminado e incorreto de antibióticos.

Conforme aponta em entrevista por e-mail à IHU On-Line, o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Luis Caetano Antunes, o excesso e má administração desses medicamentos potencializam mutações nas bactérias que as tornam mais capazes de sobreviver a adversidades.

“Mutações que geram resistência estão sempre surgindo, aleatoriamente, em populações de microrganismos. Entretanto, na ausência do antibiótico essas mutações não favorecem em nada as bactérias que as carregam, e logo desaparecem. Porém, se um antibiótico está presente, essa mutação trará um benefício para a bactéria que a possui. Caso o uso do antibiótico não seja feito da maneira correta (tratamento interrompido, doses esquecidas, etc), as bactérias mais sensíveis, isto é, sem mutações, serão eliminadas, mas as bactérias contendo essas mutações sobreviverão e se multiplicarão”, explica.

O pesquisador adverte que essas mutações que conferem maior resistência às bactérias se proliferam com facilidade e podem ser transmitidas para diferentes grupos de microrganismos no corpo humano, gerando uma série de infecções intratáveis. Ao longo da entrevista, Antunes fala ainda sobre a importância dos antibióticos e das pesquisas em diferentes fontes para o descobrimento de novos medicamentos, e da urgência de conscientizar a sociedade, os profissionais, estudantes e pesquisadores da área da saúde sobre o assunto. “Apesar de haver um certo consenso sobre a relevância do tema, é necessário que a comunidade médica e científica sensibilize os gestores e a população sobre a importância deste assunto. Além disso, é fundamental que haja uma formação mais sólida dos estudantes de medicina quanto ao desafio representado pelo uso abusivo de antibióticos e a resistência microbiana gerada por este fenômeno”, frisa.

Luis Caetano Antunes é bacharel Magna cum laude em Microbiologia e Imunologia e mestre em Ciências Biológicas - Microbiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É doutor em Microbiologia pela University of Iowa, nos Estados Unidos, onde trabalhou no laboratório do membro da National Academy of Sciences, Dr. E. Peter Greenberg. Realizou seu pós-doutorado na University of British Columbia, no Canadá, trabalhando no laboratório do então estudioso do Howard Hughes Medical Institute International Research, Dr. B. Brett Finlay. Atualmente é pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz.

Confira a entrevista.

Luiz Caetano Antunes
Foto: www.ensp.fiocruz.br
IHU On-Line - O uso de antibiótico sem prescrição médica já é um problema de saúde pública no Brasil?
 
Luis Caetano Antunes - É difícil estimar o tamanho deste problema. Antes da implementação da Resolução da Diretoria Colegiada - RDC 44/2010, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, era senso comum que antibióticos podiam ser facilmente adquiridos em farmácias de todo o Brasil sem a apresentação de receita. Com a introdução desta medida, espera-se que esse comportamento tenha sido alterado, tanto pela maior dificuldade imposta para a compra do remédio sem receita, como pela maior conscientização da população e dos profissionais envolvidos, como os farmacêuticos e atendentes de farmácias.

 
Apesar de não se poder afirmar com convicção que a compra desses medicamentos sem receita ainda ocorra em níveis preocupantes, essa é certamente uma possibilidade. Além disso, a compra com receita também pode ser prejudicial à saúde pública, caso a prescrição tenha sido feita de forma incorreta, ou se a tomada do medicamento também for feita de maneira inadequada. Ou seja, o mau uso dos antibióticos não se limita à sua compra sem a devida receita médica, mas envolve uma série de outros fatores.

IHU On-Line - É possível identificar por quais razões as pessoas consomem antibiótico de modo abusivo? É por conta da automedicação ou da prescrição médica?

Luis Caetano Antunes - Tanto a automedicação quanto a prescrição médica incorreta contribuem para esse problema. Entretanto, é importante notar que não é só o uso “excessivo” de antibióticos que representa um problema. O uso incorreto também é prejudicial. Se um paciente interrompe o tratamento antes do tempo, ou esquece doses com frequência isso também pode acarretar em problemas de resistência bacteriana e falha terapêutica.

Acredito que a maior causa para que isso ainda ocorra seja a falta de informação. Isso vale tanto para a comunidade médica quanto para a população em geral. O acesso a informações precisas poderia, por exemplo, reduzir a prescrição inadequada destes

“O remédio é sempre associado a algo positivo, que cura. Isso faz com que a população, na dúvida, tenha a tendência de utilizar estas drogas mesmo quando não há necessidade 

  


medicamentos pela comunidade médica. Campanhas publicitárias na mídia, por sua vez, poderiam ajudar a conscientizar a população sobre a importância do uso correto destas drogas e dos malefícios de seu uso abusivo. No momento atual, a população simplesmente não tem essas informações. O remédio é sempre associado a algo positivo, que cura. Isso faz com que a população, na dúvida, tenha a tendência de utilizar estas drogas mesmo quando não há necessidade.
IHU On-Line - Quais são os efeitos colaterais do uso abusivo desse tipo de medicação? Fala-se que o uso abusivo de antibióticos geram bactérias super-resistentes no organismo. Poderia nos explicar a relação entre essas questões?

Luis Caetano Antunes - O maior problema associado ao uso abusivo de antibióticos é a geração de bactérias resistentes. O antibiótico é uma droga feita para matar os microrganismos. Entretanto, em uma população de microrganismos, assim como em uma população de qualquer ser vivo, existem sempre mutações sendo produzidas. Esse é um processo normal e responsável pela evolução das espécies. Mutações são geradas aleatoriamente. A grande maioria destas mutações não gera nenhuma mudança importante no organismo, e por isso são perdidas ao longo das gerações. Entretanto, quando uma mutação gera um benefício, ela acaba sendo selecionada. Em outras palavras, se uma mutação faz com que um organismo se torne mais forte e melhor capacitado para enfrentar as dificuldades impostas pelo ambiente onde vive, esse organismo terá uma maior chance de sobrevivência e reprodução, fazendo com que essa mutação seja mantida e propagada. Isso também ocorre com a resistência aos antibióticos.

Um microrganismo é dito resistente a um antibiótico quando aquela droga não tem mais a capacidade de inibir a sua sobrevivência e crescimento. Mutações que geram resistência estão sempre surgindo, aleatoriamente, em populações de microrganismos. Entretanto, na ausência do antibiótico essas mutações não favorecem em nada as bactérias que as carregam, e logo desaparecem. Porém, se um antibiótico está presente, essa mutação trará um benefício para a bactéria que a possui. Caso o uso do antibiótico não seja feito da maneira correta (tratamento interrompido, doses esquecidas, etc), as bactérias mais sensíveis, isto é, sem mutações, serão eliminadas, mas as bactérias contendo essas mutações sobreviverão e se multiplicarão.

Mesmo que no fim essa infecção seja curada, é possível que o indivíduo esteja agora colonizado por bactérias resistentes e, caso essas bactérias venham a causar um outro processo infeccioso no futuro, o antibiótico que foi usado para trata-lo da primeira vez não será mais eficaz. Para piorar ainda mais a situação, bactérias possuem mecanismos bastante eficientes para transferir mutações entre si. Assim, estas bactérias resistentes presente no organismo do indivíduo poderão também transferir essa resistência para outras bactérias do corpo humano

IHU On-Line - O que seria uma alternativa ao uso de antibióticos hoje?

Luis Caetano Antunes - Realisticamente falando, não existe alternativa concreta ao uso de antibióticos. Antibióticos serão sempre necessários, e por isso a importância de seu uso correto e controlado. A alternativa que temos é continuar a busca por novas drogas. Drogas para as quais os microrganismos ainda não tenham desenvolvido resistência. Entretanto, isso tem sido difícil, e cada vez menos antibióticos novos são descobertos e lançados no mercado.

  


“Realisticamente falando, não existe alternativa concreta ao uso de antibióticos, eles serão sempre necessários, e por isso a importância de seu uso correto e controlado 

Eu acredito que a solução para esse problema será a procura por estas drogas em fontes não convencionais. Por exemplo, o corpo humano é colonizado por uma comunidade altamente complexa de bactérias, que interagem com o nosso organismo pacificamente, sem causar doenças e auxiliando-o em uma série de funções. Estas comunidades evoluíram com o organismo humano por centenas de milhares de anos, e sabemos que elas exercem uma função protetora contra bactérias nocivas. Essa diversidade microbiana e as moléculas que estas bactérias produzem poderão se tornar uma fonte importante de novas moléculas a serem utilizadas no controle de infecções no futuro.

IHU On-Line - É possível estimar qual tem sido a eficácia da Resolução RDC 44 da Anvisa, que proíbe a venda de antibióticos sem prescrição médica?

Luis Caetano Antunes - É difícil saber na prática se a RDC 44/2010 realmente teve um impacto na venda destes medicamentos sem receita. O que sabemos é que a venda de antibióticos teve uma queda expressiva nos primeiros meses após a implementação desta medida. Entretanto, após cerca de seis meses os números retornaram ao patamar anterior. Isso sugere que a maior razão do uso inadequado de antibióticos não é na verdade a tomada de medicação sem receita pela população, mas sim a prescrição indiscriminada destas drogas, já que agora, mesmo com a exigência da receita, os níveis de consumo continuam elevados.

IHU On-Line - Como a discussão sobre o uso de antibióticos é feita entre os especialistas da área da saúde? Há consenso sobre como as pessoas devem consumir esse tipo de medicamento?
Luis Caetano Antunes - Em minha opinião a discussão sobre esse assunto ainda é feita muito em nível científico. Apesar de haver um certo consenso sobre a relevância do tema, é necessário que a comunidade médica e científica sensibilize os gestores e a população sobre a importância deste assunto. Além disso, é fundamental que haja uma formação mais sólida dos estudantes de medicina quanto ao desafio representado pelo uso abusivo de antibióticos e a resistência microbiana gerada por este fenômeno.

(Por Patrícia Fachin e Leslie Chaves)

Para ler mais:



  • 26/05/2013 - A medicalização da vida faz mal à saúde. Entrevista especial com José Roque Junges
  • 25/05/2013 - Mais medicalização, menos autonomia. Entrevista especial com Charles Dalcanale Tesser
  • 15/10/2014 - Bioética, biopolítica e tanatopolítica. A obsessão doentia pela saúde perfeita. Entrevista especial com Anna Quintanas
  • 12/02/2014 - A financeirização da saúde. Entrevista especial com Luiz Vianna Sobrinho
  • 07/09/2013 - Programa Mais Médicos e os problemas estruturais da saúde pública brasileira. Entrevista especial com Nêmora Barcellos
  • 15/04/2013 - Saúde e tecnologia. A busca da imortalidade. Entrevista especial com Luis David Castiel
  • 16/09/2007 - Saúde Coletiva: contribuições e debates. Entrevista com Liana Bastos
  • 21/02/2011 - Lei de patentes fez País gastar R$ 123 milhões a mais com 4 medicamentos
  • 26/11/2010 - Europa de olho nos nossos medicamentos
  • 19/10/2009 - Correa anuncia revogação de patentes de medicamentos
  • 22/05/2007 - Vaticano dá apoio ao Brasil em política de acesso a medicamentos
  • 15/08/2010 - Vaticano denuncia 700 mil mortes anuais por medicamentos falsos
  • 30/07/2015 - Pesquisa da Fundação Tropical desenvolve remédio para curar a malária em um dia
  • 12/08/2014 - OMS aprova uso de remédio não testado em humanos para tratar ebola
  • 05/05/2014 - “A alimentação é o nosso primeiro remédio”. Entrevista com Richard Béliveau
  • 18/10/2010 - Brasil defende direito de quebrar patente de remédios
  • 06/07/2010 - Homeopatia é para o organismo, remédio para a doença, afirma biólogo
  • 28/11/2007 - 85% da humanidade não pode pagar seus remédios
  • 23/03/2006 - Nova fonte para a produção de remédios
  • 10/12/2015 - Por que o uso de antibióticos na criação de animais ameaça a saúde humana
  • 18/01/2016 - Alternativas atraentes para os antibióticos
  • 20/05/2015 - OMS busca plano global contra resistência crescente a antibióticos
  • 05/05/2014 - Para OMS, resistência de bactérias a antibióticos é 'ameaça global'

  • Veja também:



  • A medicalização da vida. A autonomia em risco. Revista IHU On-Line nº 420.

  • Fonte: IHU

    janeiro 28, 2016

    O tempo do luto é outro. POR Carla Rodrigues (BLOG DO IMS)

    PICICA: "“Vamos falar sobre o luto”, em vamosfalarsobreoluto.com.br, é um espaço que merece atenção na internet brasileira, dada a nossa dificuldade cultural de falar sobre a morte. Carrega um paradoxo talvez incontornável, porque falar sobre o luto será sempre também falar sobre a vida que fica, continua, sobrevive, permanece. Se, como me disse um médico e amigo, é preciso passar pelo luto,  se o luto é uma experiência inevitável, então é também inevitável aprender a falar sobre ele – assim como precisamos aprender a falar sobre a morte, como nos encontros promovidos pelo Death Cafe em Londres –, mas para isso me parece que devemos também falar sobre o tempo." 


    O tempo do luto é outro

    POR Carla Rodrigues Carla Rodrigues | 27.01.2016


    “Vamos falar sobre o luto”, em vamosfalarsobreoluto.com.br, é um espaço que merece atenção na internet brasileira, dada a nossa dificuldade cultural de falar sobre a morte. Carrega um paradoxo talvez incontornável, porque falar sobre o luto será sempre também falar sobre a vida que fica, continua, sobrevive, permanece. Se, como me disse um médico e amigo, é preciso passar pelo luto,  se o luto é uma experiência inevitável, então é também inevitável aprender a falar sobre ele – assim como precisamos aprender a falar sobre a morte, como nos encontros promovidos pelo Death Cafe em Londres –, mas para isso me parece que devemos também falar sobre o tempo.


    A velocidade da vida contemporânea rima perfeitamente com seu imperativo de felicidade a qualquer custo, tema tão bem trabalhado nas pesquisas de João Freire Filho, organizador de Ser feliz hoje, livro no qual discute, entre inúmeros outros aspectos, como o imperativo da felicidade nos embrutece. Manter-nos funcionando como máquinas bem azeitadas exige também a manutenção de um certo ritmo, a partir do qual perde-se o tempo da delicadeza.

    Uma das características do luto é quebrar esse ritmo maquínico e, de certa forma, mostrar seu absurdo. O tempo do luto é também a indicação do tempo em que chegará a nossa própria morte. Se há verdade na ideia de que toda angústia é angústia de morte, falar sobre o luto é conversar com a angústia, a partir dela, e deixar existir em nossas vidas a tristeza das faltas. Há saudades, lacunas, tristezas, sentimentos de perda e de vazio, que a morte de alguém muito amado exacerba, mas esses buracos que nos são constitutivos – no começo, há falta – estão cada vez mais sendo encobertos pelo necessidade de manter o giro do tempo rodando em ritmo acelerado, violento, virulento.

    Quando escrevi sobre as exigências de flexibilidade do capitalismo tardio, um dos aspectos que sublinhei foi a constatação do sociólogo espanhol Manuel Castells, para quem o tempo deixou de ser “linear, irreversível, mensurável e previsível”, produzindo uma experiência de eterno “presente”. Não acho que havia nada de errado com o meu tempo quando ele era linear e, sobretudo, previsível. Embora tente me adaptar aos “novos tempos”, também gosto da ideia de resistir a suas exigências, de dizer não à obrigação de produtividade, de resultados, de eficiência, cujos valores contaminam tanto e a tal ponto os processos pessoais que contaminam até o tempo do luto.  Sofra rápido, porque a vida continua, é um dos clichês do luto contemporâneo.

    Penso sobretudo que o tempo do luto é necessariamente marcado pela presença do passado, ou a isso que se dá o nome de saudade. Para que a experiência de “eterno presente” nos mantenha funcionando segundo os imperativos da felicidade e da performance, é preciso não passar pelo tempo do luto. Falar, conversar, trocar experiências, dizer como se sente em relação a quem partiu, contar histórias, lembrar e até esquecer, tudo isso faz parte do tempo do luto, que não pode ser encaixado em qualquer normatividade. Em um mundo que pretende definir o vinho certo, a comida certa, a cerveja certa, a roupa certa, a decoração certa, o lazer certo, na hora certa, para o lugar certo, fica difícil dar tempo ao luto, porque não há o “tempo certo” do luto.

    No clássico Luto e melancolia, Freud observa que é "digno de nota que nunca nos ocorre considerar o luto um estado patológico, nem encaminhá-lo para tratamento médico, embora ele acarrete graves desvios da conduta normal da vida. Confiamos que será superado depois de algum tempo e consideramos inadequado e até mesmo prejudicial perturbá-lo". Quando fala em “depois de algum tempo”, deixa (propositalmente) em aberto qual é a medida desse tempo.  No site Vamos Falar Sobre O Luto, há um relato marcante de um pai que perdeu a filha e passou um ano se reinventando.

    Na prática, todo luto implica também o trabalho de encerrar a existência civil de quem morreu – e mesmo neste aspecto jurídico mais básico, o prazo para abertura de um inventário é de 60 dias. Até mesmo o imperativo da lei reconhece que há um tempo do luto. A tramitação do fim de uma vida civil torna concreto o que o filósofo Jacques Derrida escreveu sobre a morte de uma pessoa querida: a cada vez, o fim do mundo. Providências administrativas nos evidenciam que cada morte representa o fim de um mundo, do mundo compartilhado com aquele que partiu: “A morte declara a cada vez o fim do mundo em sua totalidade, o fim de todo mundo possível, e a cada vez o fim do mundo como totalidade única, portanto insubstituível e portanto infinita”. Essa morte, como toda morte, tem um tempo. Vamos falar sobre o luto, e para isso podemos começar reconhecendo que o tempo do luto é outro.



    Carla Rodrigues

    Carla Rodrigues é professora de Ética do Departamento de Filosofia da UFRJ. Fez especialização, mestrado e doutorado em Filosofia na PUC-Rio e pós-doutorado no IEL/Unicamp. É coordenadora do laboratório de pesquisa Escritas - filosofia, gênero e psicanálise.

    Fonte: BLOG DO IMS

    Vale do Javari: Funai diz que não vai exonerar coordenador de sede ocupada pelo Matís, por Elaíze Farias (AMAZÔNIA REAL)

    PICICA: "O protesto continua em Atalaia do Norte. Os indígenas estão envolvidos em conflitos que resultaram nas mortes de dois Matís e ao menos nove Korubo, em 2014.



    25/01/2016 23:09
     
    O protesto continua em Atalaia do Norte. Os indígenas estão envolvidos em conflitos que resultaram nas mortes de dois Matís e ao menos nove Korubo, em 2014.  (A foto acima é de autoria do indígena Marke Turu)

    A ocupação de cerca de 100 índios, entre eles 62 da etnia Matís, da sede da Coordenação Regional do Vale do Javari da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Atalaia do Norte (AM), completa nesta terça-feira (26) uma semana sem negociação. A principal reivindicação dos indígenas para acabar com o protesto, a exoneração do coordenador Bruno Pereira, não foi aceita pela Presidência da Funai.

    Em nota enviada à agência Amazônia Real, a Funai se diz surpresa com relação à ocupação, uma vez que está mantendo um diálogo aberto com os Matis. “Não haverá mudança do titular da Coordenação Regional do Vale do Javari, diante da situação de ocupação da coordenação”, afirmou a fundação, que é presidida pelo ex-senador João Pedro Gonçalves (PT).

    Os Matís reagiram. O representante da Associação Indígena Matís (Aima), Markê Turu, 30, disse à reportagem que a ocupação vai continuar.

    “Se o Bruno não sair vai ficar ruim de ele continuar trabalhando, porque eles sempre precisam dos Matís para ser intérprete dos Korubo. Não queremos que ele continue”, disse a liderança. 
    Com flechas em punho, os Matís retiraram Bruno Pereira à força do prédio da coordenação em Atalaia do Norte (a 1.338 quilômetros de Manaus) no dia 19 de janeiro. Ele está à frente do cargo há cinco anos. Os indígenas dizem que estão insatisfeitos com a forma com a qual o funcionário e os demais servidores da Funai atuam na intermediação de conflito interétnico com índios isolados da etnia Korubo.

    O conflito começou no final de 2014 com as mortes de dois Matís por Korubo. Conforme a reportagem da Amazônia Real apurou, os Matís revidaram, atacando ao menos nove Korubo. Três índios isolados sobreviveram com ferimentos por arma de fogo. Os Matís se armaram prometendo mais vingança, em outubro de 2015. O coordenador Bruno Pereira prometeu desarmar os Matís com apoio da Polícia Federal, daí a revolta desse povo contra o servidor.

    Markê Turu disse à reportagem que o coordenador Bruno Pereira ameaçou os Matís. “Estamos sendo ameaçados pela própria Funai e queremos viver em paz. O presidente da Funai deve ajudar nós. Nós que colaboramos com a Frente de Proteção dos índios isolados. Eles não levam isso em consideração. Fica difícil dizer que estamos bem”, afirmou.

    Ele também afirmou que o coordenador tenta impedir que os Matís tenham contato com outros povos do Vale do Javari, especialmente os que já têm atuação mais consolidada no movimento indígena.
    “Somos um povo de recente contato. A maioria de nossos parentes não sabe se expressar em português. Eles entendem, mas não sabem falar. Por isso que precisamos da ajuda dos outros povos. Mas a Funai quer isolar nós dos outros. O coordenador está nos dividindo. Se continuar, coloca em risco de fazer guerrear entre nós”, afirmou.

    Funcionários da Funai ouvidos pela reportagem afirmam que depois do revide, os Korubo não querem mais contato com os Matís.

    Matís afirmam que  o protesto vai continuar (Foto: Mare Turu Matís)
    Matís afirmam que o protesto vai continuar (Foto: Marke Turu Matís)

    A ocupação da sede da Coodenação Regional da Funai do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, recebe apoio de índios das etnias Mayoruna, Kanamari e Marubo. A reportagem apurou que o coordenador Bruno Pereira, que tinha paradeiro incerto na semana passada, agora está na região do município de Tabatinga, no Alto Solimões, onde a Funai tem também uma coordenação regional. Em Tabatinga há uma representação do Ministério Público Federal, que está monitorando a ocupação dos indígenas em Atalaia do Norte.

    Na nota enviada à reportagem, a Presidência da Funai afirma acreditar no diálogo como solução pacífica para o conflito entre as etnias Matís e Korubo. E lembrou que, em dezembro de 2015, o presidente João Pedro Gonçalves, o diretor de Proteção Territorial da Funai, Walter Coutinho Júnior, e o Coordenador Geral de Índios Isolados e Recém Contados, Carlos Travassos, estiveram reunidos com um grupo de lideranças Matis, em Brasília, durante a 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista.

    Na ocasião, segundo a Funai, todos os presentes reconheceram a importância de dialogar para se chegar a um entendimento sobre a situação na região.

    “Foi acertado, atendendo a um pedido dos Matís e outros povos do Vale do Javari, uma agenda do presidente e demais representantes da Funai na região, prevista para acontecer em fevereiro próximo, a fim de se estabelecer ações prioritárias, concluir as conversações iniciadas em Brasília e definir encaminhamentos a serem adotados”.

    Questionada se essa agenda estava mantida, a assessoria da Funai respondeu que “a ida do presidente à região, agendada para fevereiro, está sendo reavaliada diante da ocupação”.

    Univaja apoia protesto dos Matís

    Lideranças da Univaja e Coiab apoiam ocupação da Funai (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)
    Lideranças da Univaja e Coiab apoiam ocupação da Funai (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

    Em Manaus, o protesto do Matís levou o presidente da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), Paulo Barbosa da Silva, 37, da etnia Marubo, a se posicionar em reunião da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). Em entrevista nesta segunda-feira (25) à Amazônia Real, Paulo Marubo, como é mais conhecido, disse que Carlos Travassos (Coordenador Geral de Índios Isolados e Recém Contados) lhe confirmou por telefone que Bruno Pereira não será exonerado.

    “Sendo assim, a ocupação vai aumentar. Não confiamos mais na fala do presidente da Funai. Encontrei com ele em agosto de 2015, no Rio de Janeiro, no Museu do Índio. Convidei ele para visitar o Vale do Javari. Nunca um presidente da Funai visitou nossa terra. Os Matís se reuniram com ele dezembro e haviam dado um prazo até o dia 20 de janeiro para mudar a coordenação. Isso não aconteceu. Eles decidiram ocupar. A mobilização então é de todo o Vale do Javari, não apenas dos Matís”, afirmou Paulo Marubo.

    Conforme a Amazônia Real apurou, a permanência de Bruno Pereira deve atrair mais indígenas à sede da Coordenação do Vale do Javari em Atalaia do Norte. Segundo Paulo Marubo, outras lideranças “devem descer” (das aldeias pelos rios) até a sede do município para reforçar o protesto.

    “Já que começamos, vamos até o final. Não vamos desistir. Vamos pedir para outras lideranças descerem. Vai aumentar. A tendência é chegar mais liderança”, disse Paulo Marubo.

    Conflito interétnico é grave

    Os índios Korubo fizeram contato em setembro de 2015 (Foto: CGIIRC/Funai)
    Os índios Korubo fizeram contato em setembro de 2015 (Foto: CGIIRC/Funai)

    Na Terra Indígena Vale do Javari, que possui 8,4 milhões de hectares localizada na região de Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, vivem cerca de 5 mil indígenas. Alguns são de contato permanente: Matís, Marubo, Kanamari, Kulina Pano, Mayoruna (também chamados de Matsés) e Tsohom Djapá – este pertencente a duas famílias linguísticas, Pano e Katukina. O povo Korubo é considerado isolado, apesar de um pequeno grupo ter sido contatado em 1996 pela Funai. O órgão estima que no Vale do Javari há pelo menos outros 16 grupos isolados. A situação de saúde entre as etnias é vulnerável pela incidência de doenças como gripe, malária e hepatite. Paulo Marubo diz que, apesar da presença de equipe de saúde, o atendimento sofre com falta de medicamentos. 

    De acordo com a Coordenação Regional da Funai, os índios isolados Korubo permaneciam em situação de isolamento e eram monitorados pela Frente Etnoambiental Ituí-Itaquaí do Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM), fronteira com o Peru, até o início dos anos 90.

    Em 1996, os sucessivos conflitos com mortes de índios e não-indígenas, além das ameaças de invasão das terras por madeireiros e pescadores da região, levaram o sertanista Sydney Possuelo a realizar uma expedição na qual foi efetivado o primeiro contato com os índios Korubo. Eles falam uma língua do tronco linguístico Pano, o mesmo dos Matís, que foram os intérpretes dos diálogos do contato de um grupo denominado “da Mayá”, um índia Korubo.

    Depois do contato do sertanista Sydney Possuelo, o “grupo da Mayá” passou a se estabelecer à margem do rio Ituí, onde a Funai mantém um posto de vigilância e monitoramento dos grupos isolados.

    Dezoito anos depois, outro grupo de Korubo apareceu na aldeia Massapê, onde vivem os índios Kanamari realizando o segundo contato. Um homem e uma mulher, acompanhados de quatro crianças, formalizaram diálogos.

    No dia 10 de setembro de 2014, a Funai informou que os índios recém-contatados foram abrigados na base de Proteção Etnoambiental Ituí-Itaquaí. Eles foram vacinados por funcionários da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) na aldeia Massapê.

    De acordo com a Funai, a população de índios Korubo contatados era de 33 pessoas. Mas, haveria outros grupos da etnia em situação de isolamento.

    No dia 05 de dezembro de 2014, dois Matís, Dame e Ivan, foram mortos por um outro grupo de ao menos seis Korubo. O ataque aconteceu no roçado da aldeia Todowak, no rio Coari. Na ocasião, os Matís prometeram se vingar com um revide. Depois, eles negaram que houve confronto com os Korubo.

    A reportagem da Amazônia Real entrevistou à época (veja aqui) o coordenador Geral de Índios Isolados e Recém Contatados, Carlos Travassos. Ele classificou o ataque dos Korubo aos Matís como uma quebra de protocolo entre as duas etnias da Amazônia.

    “Na memória dos Matís sempre ocorreu uma situação oposta. Os Matís que atacavam os Korubo. Os Matís sempre roubaram as mulheres dos korubo, mas isso (mortes) nunca ocorreu”, disse Travassos.

    Segundo Carlos Travassos, os dois Matís mortos, Dame e Ivan, eram lideranças respeitadas.  “Ivan participou de contatos com os índios Korubo por vários anos”, afirmou coordenador, na época.
    Em nota enviada na mesma ocasião (dezembro de 2014), à reportagem, a Univaja disse que após o ataque dos Korubo, 30 guerreiros Matís partiram para a selva a fim de revidar as mortes, numa ação classificada pela organização como um confronto interétnico motivado por “grande revolta” e resultado do descaso da ação indigenista da Funai na região do Vale do Javari.

    Na mesma época, a Funai negou a ocorrência de revide dos Matís contra os Korubo. Segundo Carlos Travassos, os Matís estavam reunidos por conta do luto das lideranças. “Não há informações sobre revide ao ataque”, disse.

    No final de setembro de 2015 foi registrado o terceiro contato entre as duas etnias. O novo encontro foi divulgado pela Funai somente no dia 19 de novembro do ano passado. Segundo o órgão, os Matís empreenderam diálogos com um grupo de 21 Korubo, mas se sentiram ameaçados (leia mais aqui).

    No mesmo dia da divulgação do contato pela Funai, 19 de novembro de 2015, o jornalista Felipe Milanez publicou matéria (leia aqui) na revista Carta Capital sobre o conflito dos Matís com os Korubos. O jornalista apurou que de 7 a 15 Korubo morreram em ataque dos Matís. 

    Em resposta a Felipe Milanez, a Funai confirmou a informação, mas disse que o número de mortes de Korubo seria menor (leia a nota completa). “Noutro momento, relataram [os Korubo] como foi o revide dos Matís e informaram que pelos menos oito mortes”, diz. O motivo do confronto entre as etnias ainda é apurado pelo órgão. Foram os Korubo contatados que revelaram também o motivo do ataque deles aos índios Matís,  Dame e Ivan. “Foram motivadas pela morte de uma criança recém-nascida por doença e por recusa dos Matís em entregar os bens da família”, diz a nota.

    A partir daí se tornou comum a presença dos índios isolados Korubo nas aldeias Matís. Mas, o clima de tensão entre os dois povos, que já tinham disputas históricas, mudou a rotina das aldeias (leia mais) no início de 2016. A Funai diz que os Korubo estão em segurança, mas não explicou se pediu reforço policial.   

    Matís confirmam o revide aos Korubo

    Ocupação dos índios Matís da sede da Funai. (Foto: Divulgação/Associação Indígena Matís)
    Ocupação dos índios Matís da sede da Funai. (Foto: Divulgação/Associação Indígena Matís)

    No último dia 20 de janeiro de 2016, os Matís enviaram ao presidente da Funai, João Pedro Gonçalves, uma carta justificando a ocupação da sede de Atalaia do Norte. No documento, do qual a Amazônia Real teve acesso, eles relatam as reivindicações e reconhecem, pela primeira vez, que atacaram também os índios isolados Korubo depois das mortes das lideranças Dame e Ivan. No entanto, os Matís não citam o número de Korubo mortos no chamado revide ou vingança do Vale do Javari.

    Diz um trecho da carta: “O povo Matís reconhece seus erros de terem se confrontado com os Korubo, e que não irão mais tomar qualquer atitude hostil com restante dos Korubo que estão permanentemente nas redondezas das aldeias, assim pede que a Funai também reconheça a chacina cometida pela própria Funai nos anos 1973 a 1974 quando o sertanista Jaime morreu abordunada pelos Korubo no antigo Frente de Atração Marubão”, destacam eles, lembrando de um conflito com não indígenas.

    Ainda na carta, os Matís dizem que “a falta de monitoramento desses isolados resultou em conflitos entre Korubo e Matís, questão que tirou o foco da atenção em outras situações como a invasão dos pescadores nessa região dominado pelos isolados e de outras atribuições da Funai no âmbito do Javari”.

    De acordo informações apuradas pela Amazônia Real, no revide os Matís atacaram os Korubo com arma e fogo. Cerca de três índios isolados sobreviveram ao ataque, mas tinham ferimentos de chumbo pelo corpo, o que leva crer que a armas usada pelos Matís seria espingardas e não fechas.

    “Matís estão arrependidos”, diz Marubo

    Presidente da Univaja, Paulo Marubo (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)
    Presidente da Univaja, Paulo Marubo (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

    Na entrevista concedida à Amazônia Real, o presidente da Univaja, Paulo Marubo comentou pela primeira vez sobre a vingança entre as etnias. Ele disse que os Matís estão arrependidos e reconhecem que cometeram um erro.

    Paulo Marubo afirma que o conflito com morte entre as etnias, em parte, foi provocado pela maneira como a Funai atuou após o contato do grupo de Korubo em setembro de 2014 na aldeia Massapê.

    Segundo ele, este grupo, formado por seis pessoas, foi enviado por equipes da Funai e da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) para a base da Frente Etnoambiental Vale do Javari para receber atendimento de saúde. Um dos Korubo estava com malária e outro com pneumonia.

    Paulo disse que o grupo ficou na base da Frente Etnoambiental e, posteriormente, enviado para a aldeia onde vive Mayá, principal liderança Korubo contatada em 1996. “No mesmo período, os demais Korubo acharam que, após tanto tempo afastado, o grupo atendido pela Funai havia sido morto pelos Matís”, disse Paulo Marubo.

    O presidente da Univaja afirma que o grupo vivia muito próximo dos Matís. “Eles foram até a roça dos Matís e mataram os dois homens. Mataram com cacete. Um terceiro Matís correu e avisou. Daí, no mesmo dia, os Matís foram lá e vingaram. Segundo os Korubo, nove deles morreram. Eles contaram isso para a Funai. Quem fez a tradução foram os Korubo que vivem no grupo da Mayá, pois alguns dos contatados falam português”, afirma.

    Para Paulo Marubo, este confronto é um exemplo do que pode se repetir nos próximos contatos caso a Funai não mude sua forma de atuar junto aos isolados. “A Funai tem a visão dela, da maneira que entende. Mas a gente entende da nossa maneira. A gente quer evitar atrito. Mas para isso, a gente quer trabalhar junto”, disse.

    Índios têm deixado o isolamento

    Nos últimos três anos, a presença de índios isolados do Vale do Javari tem aumentado, segundo a Univaja. Muitos aparecem nas proximidades das aldeias e das malocas, fazendo visitas nas áreas, sendo vistos por mulheres indígenas de povos já contatados, ou pegando produtos dos roçados.

    Essa presença tem sido constante não apenas entre os Korubo que circulam na área onde também vivem os Matís. Há também relatos de isolados em outras aldeias de todo o território do Vale do Javari.
    Paulo Marubo conta que em julho de 2014, um pequeno grupo de isolados foi visto nas proximidades da aldeia Maronal, onde ele vive. O presidente da Univaja acha que estes indígenas vistos regularmente em Maronal são do próprio povo Marubo que optaram por permanecer isolados até então, mas que agora estão “aparecendo”. Marubo disse que não sabe dizer o motivo, pois nunca houve diálogo entre eles.

    “Quando foram vistos em julho de 2014, a gente comunicou para a Funai local em Atalaia e para Brasília. A Funai sequer se manifestou. Hoje estão (os isolados) começando a aparecer de novo. Estive em dezembro passado na minha aldeia e muitas mulheres os viram na roça, de noite. Eles pegavam banana. A gente acha que é do nosso povo, mas isolado”, disse.

    Segundo Paulo Marubo, a presença de isolados tem aumentado nas aldeias já contatadas e isto precisa ser levado em consideração pela Funai e nas formulações de novas estratégias de como se fazer o contato. Ele afirma que o receio é que mais conflitos, desta vez com outros povos, possam ocorrer.

    “O nosso medo é que isso (conflito) volte a se repetir. São 55 aldeias no Vale do Javari. Há três anos, a população de isolados começou a aparecer com mais frequência em todas as aldeias da terra indígena, até mesmo fora, na área do rio Juruá. Não apenas entre os Matís. Isso nunca tinha acontecido. A gente fez um documento alertando para que o Estado tomasse providências. A Funai diz para os indígenas que não tem que entrar em conflito. Só que para não gerar esse conflito, o Estado tem que preparar as pessoas, capacitar os próprios indígenas. Isso que a gente quer”, disse Paulo Marubo.

    Ele diz que é preocupante o quadro reduzido de funcionários da Funai que atuam no Vale do Javari. Diz que também já estão “cansados” de ouvir dos coordenadores e dos dirigentes da Funai sobre as dificuldades financeiras do órgão e da falta de estrutura.
    “A gente pediu que fosse criado um posto de vigilância para não ter conflito interétnico. Talvez a Funai estando lá, controlaria a circulação não dos isolados, mas dos contatados. Quando comunicamos das outras vezes, o Carlos Travassos disse que os isolados que apareciam eram os jovens que estavam interessados em conhecer outras áreas. Eu acho que é outra coisa. Que está aumentando a população deles. Vão crescendo, vão circulando em outras áreas e territórios”, disse.

    Paulo Marubo diz que, um outro contato com os Korubo, desta vez feito pelos Matís em setembro de 2015, foi justamente para evitar conflito. “Os Matís queriam se aproximar deles, fazer amizade, ensinar como se faz roça. Mas a Funai não quer, não deixa. Disseram para os Matís que são os Korubo que têm que decidir se fazem ou não contato. Acontece que os Korubo estão sempre próximos. São vizinhos”, disse.

    Embora não haja estimativa populacional dos Korubo, Paulo Marubo conta que, com base em sobrevoo nas áreas das malocas deste povo, ele acredita que sua população é de 400 pessoas.
    “Os Korubo vivem na área central do Vale do Javari. Ele não têm material para fazer roçado. A vida deles é fazer roça pequena, que não dura dois anos. Eles são nômades, não têm um local fixo. Ficam mais coletando e caçando. Por isso que eles pegam as coisas dos roçados dos Matís, pois são vizinhos”, explicou.

    Fotos do contato dos Korubo em setembro de 2015 (Foto: CGIIRC/Funai)
    Fotos do contato dos Korubo em setembro de 2015 (Foto: CGIIRC/Funai)

    Fonte: AMAZÔNIA REAL