janeiro 12, 2016

David Bowie se foi. Aqui estão frases que ilustram seu legado. POR Ana Freitas (NEXO)

PICICA: "Ao longo de sua carreira, o artista transgrediu paradigmas da música, da moda, da cultura e influenciou mais que sua geração"

David Bowie se foi. Aqui estão frases que ilustram seu legado


  • Ana Freitas
11/Jan 17h50 

Ao longo de sua carreira, o artista transgrediu paradigmas da música, da moda, da cultura e influenciou mais que sua geração

Foto: Reprodução/Alladin Sane
Bowie lutava contra um câncer há 18 meses e lançou disco novo apenas 3 dias antes da morte
Bowie lutava contra um câncer há 18 meses e lançou disco novo apenas 3 dias antes da morte
 
David Bowie morreu na noite deste domingo (10), em decorrência das complicações de um câncer, dois dias depois de seu aniversário de 69 anos e do lançamento de seu mais recente álbum, Blackstar.



 O fato gerou comoção. Grandes personalidades da música, do cinema, da política, da literatura, da moda e até da ciência lamentaram a partida do artista, que por um ano e meio lutou contra o câncer.

Relembre frases emblemáticas de David Bowie - e entenda como elas se encaixam em sua longa trajetória:
“O amanhã pertence àqueles que podem escutá-lo chegando”
em entrevista de 1977
David Bowie foi aclamado por muitos como um artista muito à frente de seu tempo. O jornal americano "New York Times", no obituário que publicou para o artista, o descreve como o “impetuoso e revolucionário compositor que ensinou gerações de músicos sobre o poder do drama, da imagem e das personas”.
“Sempre tive uma necessidade de ser mais do que humano. Sempre achei fraco ser humano. Eu pensava ‘foda-se, quero ser sobre-humano’”
Sua estética transgressora e por vezes andrógina também permitiu que ele se tornasse um símbolo da moda e da contracultura, mais notadamente da cultura LGBT. Em 1976, disse em uma entrevista à revista "Playboy" que era bissexual.
“Eu acho que a fama por si só não é recompensadora. No máximo, te consegue mesa nos restaurantes.”
em entrevista à revista Q, 1990
Bowie era um crítico do culto cego à fama desde antes da ascensão da cultura das celebridades. A primeira vez em que ele questionou os mitos da fama foi em Fame, uma canção de 1975. A letra diz “Fama, faz um homem assumir o controle / Fama, te coloca onde as coisas são vazias / Fama, não é seu cérebro, é só uma chama / Que queima suas mudanças para te manter louco”.
“Suponho que para mim, como um artista, não queria só expressar meu trabalho. Queria mesmo, mais do que tudo, contribuir de alguma forma para a cultura em que eu estava inserido.”
em entrevista à GQ, em 2002
David Bowie ficou conhecido por influenciar a cultura pop de maneira profunda e multidisciplinar: música, cinema, teatro, moda e movimentos de contracultura devem muito à obra do artista. Sua figura e a maneira como geriu a carreira lançaram reflexões sobre fama, símbolos e arte. Iggy Pop já disse algumas vezes que deve a carreira a ele.
“A música em si vai ser como água e eletricidade. (...) Tenho confiança de que em dez anos, por exemplo, não vai mais existir copyright”
em 2002, em entrevista ao jornal NY Times
Em 2002, Bowie já previa a revolução musical que se aproximava com a popularização da internet e o MP3. Em uma entrevista, ele disse que os músicos deveriam aproveitar os últimos anos da indústria como conheciam e se preparar para fazer muitos shows, porque era a única coisa do modelo antigo que restaria. Ele também foi capaz de entender o que a internet representaria para a cultura dos direitos autorais na mesma época.
“Eu acho que venho escrevendo consistentemente sobre os mesmos temas por uns 35… quase 40 anos. Não houve muito espaço pra mudança comigo. Foi tudo sobre desânimo, desespero, medo, isolamento, abandono.”
em entrevista à BBC, em 2002
Há um tema recorrente na obra de Bowie: a sensação de ser um estrangeiro, um esquisito. Suas letras frequentemente descreviam o mundo do ponto de vista de alguém que não se encaixava, um renegado, um incompreendido, quase um alienígena. Um exemplo é seu primeiro grande hit, “Space Oddity”, de 1969, que descreve o diálogo de um astronauta solitário no espaço com sua base na Terra.
  


Até o astronauta canadense Chris Hadfield gravou Space Oddity na Estação Espacial Internacional, em 2014, e publicou o vídeo no YouTube.
“Quando você vai ficando velho, todas as dúvidas se tornam duas ou três. Por quanto tempo? E o que eu faço com o tempo que ainda tenho?”
em entrevista de 2002 ao jornal NYT
Bowie nunca parou de produzir artisticamente, mesmo quando foi diagnosticado com câncer, em 2013. A energia dele é lendária: visível nos shows, nas várias faces artísticas que ele assumia e até nas frases - certa vez, Bowie declarou preferir as drogas estimulantes e disse que, se pudesse, não dormia.

Foto: David Bowie/Divulgação
O camaleão do rock conseguiu, de acordo com críticos, transformar a morte em sua última grande obra de arte
O camaleão do rock conseguiu, de acordo com críticos, transformar a morte em sua última grande obra de arte
 
 Lançou 26 álbuns em quase 50 anos de carreira, quase um a cada dois anos. Ele também atuou no teatro e no cinema: em 1976, foi elogiado por seu primeiro grande papel, o protagonista do filme “The Man Who Fell to Earth”.

Depois, seguiu fazendo outros papeis - dramas, comédias, animações e ficções científicas. A maioria de suas atuações foram pequenas participações: o site sobre cinema IMDB registra 39 papéis como ator. Também dirigiu, produziu e escreveu filmes, além de compôr trilhas sonoras.
“Eu não tenho lealdade estilística. É por isso que as pessoas me percebem como alguém que muda o tempo todo. Mas há uma continuidade real na minha identidade. [...], eu acredito que tenho mais integridade que qualquer outro artista com trabalho contemporâneo ao meu.”
em entrevista para a revista GQ em 2003



 O jornalismo americano apelidou David Bowie de Camaleão do Rock. O motivo é que o artista era capaz de se recriar totalmente em poucos anos - tanto na arte que produzia quanto na estética com que representava as obras que criava e compunha. E mesmo com as mudanças, seguia produzindo álbuns considerados geniais pela crítica e muito bem aceitos pelo público.
“Já fiz mais de 25 álbuns de estúdio, e acho que provavelmente só fiz uns dois discos ruins, alguns que eram nada mal e alguns muito bons. Tenho orgulho do que fiz. Foi uma boa caminhada.”
em uma entrevista de 2008
David Bowie tem uma obra longa e de qualidade consistente, mesmo com grandes dieferenças de sonoridade, de inspiração e de estética. Space Oddity, de 1969, é um disco de folk; The Man Who Sold The World, no entanto, inaugura uma fase de glam e hard rock do artista.

Hunky Dory, de 1971, é uma viagem de pop experimental e folk enquanto o próximo, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, é uma opera rock sobre um alien bissexual que acaba de chegar de Marte e se torna um rockstar. Em 1974, Diamond Dogs já previa a sonoridade punk que tomaria conta da música poucos anos depois.

Young Americans, disco de 1975, foi aclamado pela juventude negra americana e se tornou um dos clássicos do soul. Bowie tem hits das pistas, como Just Dance, da rodinha de violão, como Space Oddity, hinos do rock, como Ziggy Stardust.
“Olhe para cima, estou no paraísoTenho cicatrizes escondidas
Tenho drama, não pode ser roubado
Agora, todo mundo me conhece
Olhe para cima, cara, estou em perigo
Não tenho mais nada a perder
Sabe, vou ser livre
Como aquele pássaro azul
Não é a minha cara?”
em Lazarus, faixa de Blackstar, lançado em 2016
Bowie escolheu lançar Blackstar, seu último disco, no dia 8 de janeiro, data de seu aniversário. Estreou também o clipe de Lazarus, ambientado em um leito de hospital. A letra fala claramente sobre a iminência da morte, que ele parece encarar com resignação.


Críticos disseram que, com Lazarus e Blackstar, Bowie conseguiu transformar a própria morte em obra de arte - sua obra final.

Fonte: NEXO

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