agosto 31, 2011

The Beatles: Strawberry Fields Forever

PICICA: Tem dias que acordo  meio punk. Hoje acordei meio psicodélico. Aproveitando uma dica de Letícia Seyeu, ofereço aos meus leitores este clássico da música pop.

Crítico do Jornal da Tarde tem siricutico com documentário panfletário sobre o Xingu

PICICA: O crítico de cinema do Jornal da Tarde teve um siricutico ao ver o documentário "À Margem do Xingu - Vozes não consideradas", direção de Felipe Briso e Gilberto Topczewski (leia aqui: "Documentário com jeito de panfleto"). Talvez ele tenha razão. Também acho que documentário panfletário não tem nada que participar de festival de cinema. O lugar desse tipo de documentário é nas quebradas do mundaréu. E, cá pra nós, "panfleto" não pega bem em festival de cinema que se preza. Resta saber se a platéia que levantou-se no meio da projeção era uma platéia "pó-de-arroz". Pelo sim, pelo não, manda o documentário pro PICICA, que  a turma daqui de casa adora um panfleto. Ademais, guerra é guerra, maninho. Contra Belo Monte, vale vídeo sujo, panfletário; até imagens de celular, meu camarada!

Palestra com Ana Marta Lobosque – tema “Responsabilidade: onde nos leva?”

PICICA: Você já pensou nos fundamentos que sustentam o conceito de responsabilidade? Certamente, você já fez algumas leituras. Quer aprofundar o assunto? Faz o seguinte. Faça o download da palestra da Médica Psiquiatra e doutora em Filosofia Ana Marta Lobosque, que já lhes apresentei em post anterior. Enquanto isso, faça suas navegações habituais. Depois veja a maestria com que ela conduz o assunto. Um dia ainda trago Ana Marta para o público manauara conhecê-la.

Alô, Sampa e adjacências: Coleção ALÉM DA MATÉRIA, com curadoria de Kita Flórido


"Israel às vésperas do Estado Palestino", por Sérgio Storch

PICICA: "Pouco a pouco, as sociedades israelense e palestina vão se preparando  para o próximo dia 20 de setembro – tão esperado por uns, e tão indesejado por outros (e a linha de corte não está no eixo israelenses x palestinos), quando a Assembleia Geral da ONU provavelmente aprovará por maioria esmagadora o reconhecimento do Estado Palestino."

Israel às vésperas do Estado Palestino



Por Sérgio Storch


O ataque terrorista que matou 9 israelenses na quinta feira passada (20/8) levou à suspensão das manifestações populares com mais de 300.000 pessoas acampadas em todos os centros urbanos de Israel. A organização das manifestações prepara-se para recuperar o fôlego, programando uma marcha em silêncio para o próximo fim de semana. As duas semanas de manifestações desde o início de agosto já provocaram efeitos que podem ser duradouros. A sociedade civil descobriu uma força insuspeitada, e Israel se revirou ideologicamente. Até mesmo filhos do primeiro ministro Netanyahu participaram dos protestos.


As conexões dessas manifestações com a questão palestina passam por dentro das críticas ao orçamento militar e aos subsídios habitacionais para os assentamentos nos territórios ocupados. Porém as principais conexões não são diretas nem explícitas. É razoável supor que a força das manifestações e a necessidade de atender às reivindicações causem abalos na estabilidade da coalizão de direita que tem conquistado a maioria dos votos para o Parlamento na maior parte das eleições nos últimos 30 anos. Alguns analistas na imprensa israelense acreditam que o protesto social rompeu o padrão que havia se tornado habitual na reação do Exército israelense aos atentados terroristas. Esperemos que não seja excesso de otimismo.


De fato, diferentemente de outras ocasiões, deve ser notado que o governo israelense não se aproveitou da oportunidade de utilizar a ameaça externa como pretexto para um ataque em maior escala. A espiral de violência que acontecia no passado foi contida no nascedouro. Há movimentos de bastidores na relação do governo israelense com o Hamas, que já se sabe não ter sido o autor desses ataques, no sentido de não entornar o caldo de um processo de abrandamento que já vinha ocorrendo: a libertação de mais de 200 prisioneiros palestinos por Israel há algumas semanas (inclusive a principal liderança moderada do Hamas, o religioso Hassan Yousef e a libertação iminente do soldado israelense Guilad Shalit, capturado pelo Hamas já há mais de 5 anos.


Pouco a pouco, as sociedades israelense e palestina vão se preparando para o próximo dia 20 de setembro – tão esperado por uns, e tão indesejado por outros (e a linha de corte não está no eixo israelenses x palestinos), quando a Assembleia Geral da ONU provavelmente aprovará por maioria esmagadora o reconhecimento do Estado Palestino. Eleições para conselhos locais na Palestina acabam de ser postergadas, para evitar qualquer fato que possa turvar o processo.
Outro ponto importante: haverá eleições em Israel em 2012 (e também na Palestina… e também a reeleição ou sucessão de Obama). Será que o tripé que compõe a coalizão de direita em Israel chega até lá? Repare como esses fatos estão interligados: na semana passada o senador Glenn Beck, da extrema direita norte-americana, foi fazer uma tournée em Israel. Com discurso fundado na paranóia em relação ao ressurgimento do antissemitismo, esse expoente do Tea Party foi tão longe para cabalar votos norte-americanos para as eleições presidenciais de 2012. Pesquisa divulgada em julho sobre as inclinações eleitorais na comunidade judaica norteamericana colocam em dúvida a eficácia desse esforço. É claro que o cálculo político dos dirigentes israelenses e palestinos conta com a alta probabilidade de mais 4 anos com Obama na Casa Branca.
Examinemos com mais atenção a coalizão de direita israelense, e veremos brechas importantes. Ela é formada por partidos e ONGs de diferentes prioridades, mas cujo apoio mútuo tem sido indispensável para que cada um se sustente no poder. Nós brasileiros conhecemos bem isso nos governos FHC e Lula, mas em Israel esse equilíbrio já dura o dobro de tempo, e o recado mais importante do protesto social é que chegou o limite da exaustão.
Quais são as forças no governo?
  • Os partidos de direita com agenda neoliberal que, assim como no resto do mundo, defendem a concorrência selvagem e a redução dos serviços públicos (educação, saúde, previdência social) em que Israel já foi exemplar há algumas décadas (e ainda é, se comparado ao Brasil). Sua principal figura é o atual primeiro ministro, Netanyahu. Têm velhas pendengas com o trabalhismo israelense (que corresponde à direita do nosso PT, somada com a esquerda dos nossos tucanos). Para compreender a profundidade do abalo produzido pelos novos movimentos sociais, repare que Netanyahu chamou agora, para comandar a política econômica e as políticas sociais o professor Trajtenberg, conhecido no país por sua sensibilidade social e pela competência em negociações com setores insatisfeitos. É uma tentativa de estabelecer algum diálogo com os protestos.
  • A essa direita neoliberal e pragmática soma-se — e com ela às vezes se confunde — uma direita ultranacionalista secular, que tem como expoente o atual ministro do Exterior, Avigdor Liberman, imigrado da ex-União Soviética. Diversamente da anterior, é uma direita linha dura, não só nas questões de defesa do país, mas também em relação às liberdades democráticas  – que, contrariamente ao que insistem às vezes se pensa, são fortes no Estado de Israel (não nos territórios ocupados, sempre é bom salientar). Mesmo com essa coalizão de direita dominando o legislativo e o executivo, o judiciário tem tomado decisões favoráveis a minorias políticas e aos palestinos dos territórios ocupados. Vale também lembrar que os cerca de 2 milhões de árabes que têm cidadania israelense podem votar em seus próprios representantes para o Parlamento, e têm acesso à maior parte dos serviços públicos. Mas esse setor linha dura tem levado o governo a seguidos ataques à liberdade de expressão, chegando a ameaçar pesquisadores das universidades com a perda de bolsas, quando insistem em pesquisar temas inconvenientes (apesar dessas pressões a pesquisa acadêmica em Israel acolhe pesquisadores árabes israelenses que advogam aberta e pacificamente a tese da extinção do estado judeu e sua substituição por um estado único binacional). A direita extremista choca até mesmo a direita neoliberal: recentemente o próprio Netanyahu vetou um projeto de lei que estabeleceria um Comitê de Investigação da origem dos fundos das ONGs pacifistas (a imprensa israelense o caracterizou como um macartismo israelense). Mas até um mês atrás ela era considerada o pilar predominante da coalizão. Embora nada tenha a ver com as demandas sociais, ela parece ser a principal derrotada pelas duas semanas de manifestações dos acampados nas praças.
  • Finalmente, os partidos ultraortodoxos (que correspondem aos fundamentalistas cristãos e muçulmanos). Detêm uma fatia do eleitorado relativamente pequena (em torno de 10 a 15%) mas indispensável para a hegemonia da coligação de direita (como foi também em outras coligações; ou seja, esse bloco se bandeia para o lado onde possa conseguir mais vantagens). O que buscam é o controle da educação para torná-la menos secular, e subsídios vultosos para as escolas religiosas, que drenam boa parte dos recursos retirados aos serviços públicos para o restante da população. Conseguem que o poder religioso seja exercido por um rabinato oficial, que não representa a pluralidade de expressões da própria religião judaica na sociedade israelense. Entre eles há facções (a minoria da minoria) nitidamente racistas e fanáticas, cujas manifestações são prato cheio para a mídia pinçar e para a opinião pública mundial enxergar toda a sociedade israelense como uma teocracia de aiatolás de kippá. Sua força no âmbito da coalizão foi evidenciada em recente votação, no Parlamento, de lei que instituiria o casamento civil e a liberdade dos casais escolherem como desejam casar. Mesmo apoiado por 2/3 da sociedade israelense, o projeto de lei foi derrotado por 40 votos contra 17 a favor. Essa turma é alinhada à direita linha dura na questão da expansão de Israel para os territórios ocupados. Acreditam ser direito adquirido com base na Bíblia, e têm para isso o apoio internacional apaixonado da direita cristã em nível mundial, o assim chamado “sionismo cristão”, que vem crescendo.
Pois bem. As ruas mostraram que essa coalizão pode estar com os dias contados. Dependendo de novos fatos, devem derivar conseqüências para o pedregoso caminho a ser trilhado para o que poderá ser um acordo permanente e definitivo de paz entre israelenses e palestinos.
O dia 20 de setembro poderá ser o fim de uma jornada e o início de outra, provavelmente mais complexa e mais interessante, pois trata-se agora do direito dos palestinos à construção de um novo país.
Essa região gosta de mitos bíblicos. Quem não se lembra de que os hebreus precisaram passear por 40 anos no deserto do Sinai para então poderem chegar à terra do leite e do mel, em que nem Moisés pôde entrar? Por que? Porque Jeová quis que somente entrassem aqueles que não tivessem a memória da escravidão. Ora, a ocupação israelense sobre os territórios do futuro Estado Palestino já aniversario os seus 44 anos…

* Sérgio Storch é consultor em Planejamento, ativista de diversas causas ligadas à transformação social. Escreve, em Outras Palavras, a coluna Outro Israel é Possível



Fonte: Outras Palavras

agosto 30, 2011

Palestra: "A Divina Comédia", por Zemaria Pinto, na Quarta Literária do dia 14 de setembro

PICICA: "Ensaísta, dramaturgo, crítico e poeta, Zemaria Pinto é formado em Economia pela Universidade Federal do Amazonas, onde também fez especialização em Literatura Brasileira e, atualmente, é mestrando em Estudos Literários."




Manaus, 26 de agosto de 2011

Livraria Valer tem a satisfação de convidá-lo(a) para a Quarta Literária que acontecerá dia 14 de setembro, no Espaço Cultural da Livraria Valer, situado na Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro. O evento tem início às 16h30, com a exibição do filme O nome da Rosa. Em seguida, às 18h30, terá início a palestra sobre a obra A Divina Comédia, de Dante Alighiere, ministrada pelo escritor Zemaria Pinto. Estarão expostas no Espaço Cultural a Instalação “Atelier”, de Olivença, e obras de diversos artistas.

A Quarta Literária é um encontro mensal entre escritores, professores, estudantes e leitores, em que são discutidos temas ligados à literatura, às artes e à cultura em geral, firmando-se como um espaço para geração de novos conhecimentos e diálogo intelectual. Após as discussões há sorteio de livros e é servido o Chá Poético. Os encontros acontecem no Espaço Cultural Valer (altos da Livraria Valer) situado na Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro.A entrada é franca.


Sobre Dante Alighiere e A Divina Comédia

A Divina Comédia é um poema composto de um canto introdutório e de três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. Cada parte é integrada por trinta e três cantos, totalizando, portanto, cem cantos. São muito discutidas as datas da composição do poema: muito provavelmente, Dante começou-o por volta de 1302, para depois nele trabalhar durante toda a sua vida. O título do livro, por extenso, é pelo próprio poeta apresentado na carta a Cangrande della Scala. Dante chamou à obra simplesmente “Comédia”, porque, como as comédias propriamente ditas, termina com um final feliz. Talvez lhe haja chamado “Comédia” ainda por modéstia, enquanto considera a Eneida como tragédia. O adjetivo “Divina” é um acrescento mais tardio, ao que reza a lenda, por Boccaccio. Apareceu impresso pela primeira vez na edição veneziana de 1555.

O poema, no seu conjunto, é a história da conversão do pecador a Deus. O poeta tencionava fazer da Divina Comédia principalmente sua obra de doutrina e de edificação, uma "Suma" que compreendesse o saber do seu tempo, da ciência à filosofia e à teologia. Por isso, o poema é repleto de significados alegóricos e ainda morais. Assim, por exemplo, Virgílio, que cantou os ideais de paz e justiça do Império Romano no tempo de Augusto, e que guia o poeta através do Inferno e do Purgatório, simboliza a razão integrada com a sabedoria moral, e é também a voz da própria consciência de Dante. Beatriz, a mulher amada que o guia no Paraíso, é a sabedoria cristã iluminada pela graça, a suprema sabedoria dos santos, a única que pode levar a Deus. Tudo no poema é perfeita construção alegórica, e nisto Dante limita-se a respeitar as regras do seu tempo: pois quantas não são de fato as obras medievais que referem as viagens ultraterrenas, devidamente arquitetadas para edificação do pecador? No poema dantesco há um sutil artifício que permite ao poeta encerrar nos seus cantos também a história do seu tempo. Dante imagina fazer uma viagem em 1300 e portanto refere naturalmente tudo quanto aconteceu antes desta data; mas, reconhecendo aos mortos a capacidade de prever o futuro, põe-nos a profetizar os acontecimentos públicos e particulares que não deseja deixar em silêncio.

 

Sobre Zemaria Pinto


Ensaísta, dramaturgo, crítico e poeta, Zemaria Pinto é formado em Economia pela Universidade Federal do Amazonas, onde também fez especialização em Literatura Brasileira e, atualmente, é mestrando em Estudos Literários. Além de inúmeras palestras sobre literatura, tem ministrado oficinas e cursos, com destaque para a poesia. Tem publicados os 11 livros: dois de poemas (Fragmentos de silêncio – 1995, Música para surdos – 2001), dois de haicais (Corpoenigma – 1994, Dabacuri – 2004); uma peça de teatro (Nós, Medéia – 2003), dois de ensaios para o vestibular (em 2000 e 2001, em parceria com o professor Marcos Frederico Krüger), organização de poemas de Octávio Sarmento (A Uiara & outros poemas – 2007) e um de teoria literária (O texto nu – 2009), além do recém-lançado ensaio O conto no Amazonas – 2011 e os juvenil A cidade perdida dos meninos-peixes.Próximos lançamentos: O beija-flor e o gavião (juvenil), em setembro, O urubu albino (infantil), em outubro, Viagens na casa do meu avô (infantil),Ensaios ligeiros (artigos), Drops de pimenta (contos), Lira da madrugada (ensaio) e A invenção do expressionismo em Augusto dos Anjos (ensaio). Peças de teatro: Papai cumpriu sua missão, Diante da justiça, O beija-flor e o gavião (encenadas); Nós, Medéia, A cidade perdida dos meninos-peixes (versão para o palco), Otelo solo e Cenas da vida banal (inéditas). Membro da Academia Amazonense de Letras desde 2004, Zemaria Pinto mantém os blogs: Palavra do Fingidor (http://palavradofingidor.blogspot.com), Poesia na Alcova (http://poesianaalcova.blogspot.com) e O Fingidor (http://ofingidor2008.blogspo.com), divulgando a literatura produzida no Amazonas.

Evento: Quarta Literária (exibição de filme, palestra e exposição)
Palestra: A Divina Comédia – Dante Alighiere
Palestrante: Zemaria Pinto
Filme: O Nome da Rosa
Exposição e Instalação: Olivença e diversos artistas
Promoção: Livraria Valer
Data: 14 de setembro de 2011
Horário: A partir das 16h30
Local: Espaço Cultural Valer – Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro
Contatos: Valer – (92) 3635-1324 / Palestrante: zemariapinto@hotmail.com
Entrada: Franca
  

"A epidemia de doença mental" (Revista Piauí)

PICICA: "Parece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais." (Ah, bão! Logo se vê. É coisa de gringo. Abaixo da linha do Equador é tudo festa, maninho! Manô City não me deixa mentir. Aqui não tem furacão, terremoto. Nem guerra, nem judiação. A classe média não para de crescer. Pororoca aqui vira banzeiro. Só tem um porém! Até hoje não tem um dicionário de amazonês com o registro da palavra PICICA. Imperdoável! Como é que alguém pode viver sem dar picica.)

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A epidemia de doença mental

Por que cresce assombrosamente o número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos
por Marcia Angell
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arece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais. A quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda de seguridade suplementar ou o seguro por incapacidade, aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007 – de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76.
No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas. A doença mental é hoje a principal causa de incapacitação de crianças, bem à frente de deficiências físicas como a paralisia cerebral ou a síndrome de Down.
Um grande estudo de adultos (selecionados aleatoriamente), patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, realizado entre 2001 e 2003, descobriu que um percentual assombroso de 46% se encaixava nos critérios estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria, por ter tido em algum momento de suas vidas pelo menos uma doença mental, entre quatro categorias.
As categorias seriam “transtornos de ansiedade”, que incluem fobias e estresse pós-traumático; “transtornos de humor”, como depressão e transtorno bipolar; “transtornos de controle dos impulsos”, que abrangem problemas de comportamento e de déficit de atenção/hiperatividade; e “transtornos causados pelo uso de substâncias”, como o abuso de álcool e drogas. A maioria dos pesquisados se encaixava em mais de um diagnóstico.
O tratamento médico desses transtornos quase sempre implica o uso de drogas psicoativas, os medicamentos que afetam o estado mental.Na verdade, a maioria dos psiquiatras usa apenas remédios no tratamento e encaminha os pacientes para psicólogos ou terapeutas se acha que uma psicoterapia é igualmente necessária.
A substituição da “terapia de conversa” pela das drogas como tratamento majoritário coincide com o surgimento, nas últimas quatro décadas, da teoria de que as doenças mentais são causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que podem ser corrigidos pelo uso de medicamentos. Essa teoria passou a ser amplamente aceita pela mídia e pelo público, bem como pelos médicos, depois que o Prozac chegou ao mercado, em 1987, e foi intensamente divulgado como um corretivo para a deficiência de serotonina no cérebro.
O número de pessoas depressivas tratadas triplicou nos dez anos seguintes e, hoje, cerca de 10% dos americanos com mais de 6 anos de idade tomam antidepressivos. O aumento do uso de drogas para tratar a psicose é ainda mais impressionante. A nova geração de antipsicóticos, como o Risperdal, o Zyprexa e o Seroquel, ultrapassou os redutores do colesterol no topo da lista de remédios mais vendidos nos Estados Unidos.
Para ler mais, acesse Pauí

Marcelo Kimati, Médico Psiquiatra e doutor em Ciências Sociais, esquenta o debate sobre Comunidades Terapêuticas

PICICA: O viés pouco democrático com que decisões de interesse coletivo estão sendo tomadas pelo governo federal  no âmbito do enfrentamento da questão das drogas, não é um fato isolado. Os movimentos sociais acusaram o golpe. Ato contínuo agendaram audiências com as autoridades governamentais. O mal estar é amplo, geral e irrestrito. No Amazonas, sem qualquer debate público o governo estadual decidiu pela criação de uma "clínica para drogados". Corremos o risco de vermos re-editados o velho hospício... desta vez para "drogados". As força que sustentam as decisões de governo estão, em parte, contidas nas críticas do Médico Psiquiatra e doutor em Ciências Sociais Marcelo Kimati, Supervisor Clínico Institucional e Consultor em saúde mental no estado do Rio Grande do Norte, aqui reproduzidas. A questão que se coloca para os movimentos sociais - reconhecendo a legitimidade com que os companheiros da atual Coordenação Nacional de Saúde Mental tem contribuído historicamente na construção da reforma psiquiátrica brasileira - é como enfrentar essa questão política. Marcelo Kimati está propondo um Grupo de Trabalho junto ao Ministério da Saúde, com ampla participação dos movimentos sociais. Taí uma decisão que tem um caráter técnico e político que merece ser amadurecida, sob pena de perdas irreparáveis para o campo da atenção aos abusadores de álcool e outras drogas e para a reforma psiquiátrica antimanicomial que queremos. Em tempo: Leia, também, "Crack – solução é acolher e reconstruir vidas". Se a mídia continuar pautando o governo federal, estamos "pebados" (amazonês = "ferrados", se é que vocês me entendem).

Sete Pontos Acerca do Debate das Comunidades Terapêuticas


Após o debate de sábado com o Coordenador de Saúde Mental do MS entendo que há muitos motivos para preocupações com o tema e gostaria de apontar para alguns deles por Marcelo Kimati, Médico Psiquiatra e doutor em Ciências Sociais...


Após o debate de sábado com o Coordenador de Saúde Mental do MS entendo que há muitos motivos para preocupações com o tema e gostaria de apontar para alguns deles
por Marcelo Kimati, Médico Psiquiatra e doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP, atualmente Supervisor Clínico Institucional e Consultor em saúde mental no estado do Rio Grande do Norte
A discussão acerca da incorporação das comunidades terapêuticas entre as estratégias da política de atenção integral a usuários de álcool e drogas vem evoluindo rapidamente nas últimas semanas. Diversas listas de e-mails ligados à saúde mental e redução de danos têm abordado o tema, o último encontro do colegiado de coordenadores de saúde mental discutiu junto ao Ministro da Saúde esta incorporação, movimentos sociais têm se reunido em torno deste debate, assim como conselhos de classe em especial o de psicologia. Encontro-me entre aqueles que são críticos a este processo, mas é importante dizer que esta postura se dá a despeito da plena legitimidade da equipe de saúde mental do Ministério da Saúde, sua reconhecida contribuição histórica e seu inequívoco alinhamento com o movimento da reforma psiquiátrica no país. Entretanto, após o debate de sábado com o Coordenador de Saúde Mental do MS entendo que há muitos motivos para preocupações com o tema e gostaria de apontar para alguns deles, com referência no conteúdo da fala do coordenador:
1) Legitimidade das comunidades terapêuticas - acho preocupante a naturalidade com que se tem pressuposto a legitimidade social destas instituições. Vem se dando, com isso, a naturalização da sua incorporação pelo Estado. Esta legitimidade se dá pelo número de usuários de drogas que foram auxiliados por elas? Pela sua conexão com movimentos religiosos também legítimos, pelo número de entidades que de fato apoiam seu funcionamento? É importante salientar que estas razões de legitimidade se estendem a diversos outros modelos institucionais, como, por exemplo, os maus hospitais psiquiátricos, apoiados por associações de classe, por grupos organizados representantes de hospitais e mesmo de usuários da saúde mental. E ainda assim defendemos há anos uma política que supere este modelo de atenção por entendermos que o HP não é promotor de autonomia, impõe uma anulação do sujeito entre outras coisas. Da mesma forma, entender que uma instituição é legítima não é o mesmo de inseri-la na rede de atenção mediante financiamento. A inserção e financiamento das CTs justificada pelo argumento da legitimidade inverte uma lógica de produzir ofertas necessárias à rede para incorporar ofertas sem saber ao certo para o que elas servem ao SUS. Finalmente, iniciar um diálogo com estas instituições é muito diferente de incorporá-las à rede de atenção em saúde mental.
2) Regulação - Durante o debate, a regulação dos leitos de comunidades terapêuticas foi apontada como a principal estratégia para que elas não passem a ser a resposta universal para a questão do uso de drogas. Existe uma ampla experiência no país em relação à regulação de leitos psiquiátricos: em municípios que implantaram um modelo de atenção baseada em ações territoriais e numa rede substitutiva, as centrais de regulação são importantes dispositivos de articulação do funcionamento do sistema. Dentro deste papel, a regulação de leitos é a instância que polariza as maiores tensões da rede e de sua articulação. As vagas em hospitais psiquiátricos são cedidas apenas quando esgotadas as possibilidades da rede substitutiva e isto implica em negar solicitações de vagas, o que constitui uma ação não só técnica, mas política. O tensionamento se dá na medida em que a concepção de que o hospital psiquiátrico é o local de atendimento à crise ainda é hegemônica. No caso da rede de atenção a usuários de álcool e drogas o mesmo acontece; a percepção da necessidade do isolamento e promoção da abstinência em ambiente protegido para o tratamento predomina. Inclusive entre os reguladores e trabalhadores de saúde. Na imensa maioria dos casos, as centrais de regulação atuam como distribuidoras burocráticas de vagas em hospitais psiquiátricos e futuramente de comunidades terapêuticas. O papel técnico e político da regulação é ainda muito frágil num nível nacional porque não implica exclusivamente em qualificação, mas em alinhamento com a política de atenção em saúde mental referenciada na reforma psiquiátrica. Qualificar as centrais de regulação está longe de ser suficiente para garantir o uso apropriado (qual seria este?) de leitos de CT, especialmente se considerarmos que a regulação é e será feita por psiquiatras.
3) Atenção em Rede e Projetos Terapêuticos - é temerária a possibilidade de inserir um dispositivo de atenção em álcool e drogas no SUS sem que tenhamos um perfil claro do seu usuário. Atualmente todos os serviços da rede AD têm seus modelos baseados em experiências que ocorreram em municípios do país e que tiveram a função de preencher lacunas assistenciais. As Casas de Acolhimento Transitório, os CAPS ad III, os SHRad e os consultórios de rua surgiram desta forma. A ideia desta rede é promover a atenção integral e pressupõe uma complementariedade dos serviços. Caso não seja definido o papel das CTs nesta rede, a prática diária nos municípios irá definir este papel. E este papel irá reproduzir a concepção hegemônica de que o cuidado em álcool e drogas deve ocorrer com isolamento do usuário. A rede substitutiva irá se consolidar como complementar e haverá filas de espera de internação em comunidades terapêuticas. O cenário pode parecer pessimista, mas está longe de ser fantasioso. Da mesma forma, o projeto terapêutico das comunidades é fechado, tem tempo de internação pré-definido, há uma programação para o primeiro, segundo, terceiro meses de tratamento, muitas tem ambulatórios para o pós-alta. As CTs não funcionam segundo demandas da rede, mas se entendem como um dispositivo completo.
4) Expansão da Rede - é fantasioso crer que tornar todos os CAPS ad em 24 hs seja viabilizado por uma decisão presidencial. Um serviço comunitário que funciona 24 hs demanda uma transformação da concepção de atenção em saúde mental no município, qualificação dos profissionais, articulação política local e negociação intensa com conselhos. Além disso, há uma demanda de revisão importante do financiamento dos CAPS III. Prova disso é a baixa velocidade de expansão dos CAPS III nos últimos 05 anos. É infinitamente mais fácil para um gestor municipal contratar uma comunidade terapêutica com recursos federais do que implantar um CAPS 24 hs, que irá demandar contratação, licitação, aluguel de imóvel, contrapartida municipal e enfrentamento do conselho de medicina que prega o caráter antiético destes serviços. Diminuir o impacto do financiamento de CTs com o argumento de que a rede de CAPS 24 hs irá triplicar é ingenuidade.
5) RDC 29 - A RDC 29 é uma forma de dar legitimidade a um número gigantesco de instituições que se encontravam em situação de irregularidade pelo número de exigências da RDC 101. A demanda de parlamentares ligados às CTs era, há anos, de flexibilizar as exigências para que estas instituições pudessem ser regularizadas. E a mudança da RDC foi neste sentido: dar regularidade às instituições, e não para exigir qualidade do tratamento oferecido. O argumento de que existia um problema técnico na RDC 101 não justifica o fato desta discussão não ter sido levada para a sociedade, para os trabalhadores de saúde ou para os usuários do sistema.
6) Política de Saúde Mental - A reforma psiquiátrica é há anos criticada por propor uma política supostamente baseada num discurso ideológico, sem fundamentação técnica. Desta vez, não há justificativa técnica para o financiamento das comunidades terapêuticas. Não sabemos de quantos leitos são necessários, quem se beneficia disso, não há estudos que comprovem diminuição de mortalidade de pessoas que são submetidas a esta abordagem, não há estudos de promoção de abstinência em longo prazo no pós-alta fora de ambiente protegido. A demanda é política, e de uma política sabidamente não da saúde. A sustentação da incorporação das CTs ao SUS parece passar por um discurso de uma legitimidade que vem da força política de grupos que apoiam o modelo. Não há como ignorar que a força destes grupos não está na instituição que defendem, mas no caráter religioso que permeia todo o projeto institucional e que insere as comunidades numa ideologia (o “poder da fé, da vontade contra o vício”, etc) que agrega força no legislativo. É assustador perceber assim o que está pautando a política de atenção em álcool e drogas.
Finalmente, concordo com o Coordenador Nacional de Saúde Mental ao dizer que as CTs não podem ser ignoradas. Tampouco podemos fugir deste debate as considerando como dispositivos da assistência porque os usuários que as utilizam são os mesmos do Sistema Único de Saúde. Mas este debate tem de ser amplo e deve ter repercussões no âmbito da gestão federal. A portaria de financiamento das CTs deve ter seu lançamento adiado. Deve ser feito um grupo de trabalho no MS com participação dos movimentos para que o tema seja debatido. O Ministro da Saúde em seu discurso de posse afirmou que a questão de álcool e drogas teria uma ampla participação dos movimentos sociais a exemplo do que se deu em AIDS. Está na hora deste compromisso ser cobrado. Porque o custo do descumprimento será, seguramente, que estes movimentos deixarão de se sentir representados nesta gestão.
Fonte: Saúde com Dilma

[Boletim Diplo] Outras Palavras debate Espanha Rebelde (agora, sem vírus)

PICICA: "Outras Palavras, que tem acompanhado o movimento espanhol com informação e análises, sente-se feliz de convidar os leitores para uma conversa com dois ativistas espanhóis. Será nesta quarta-feira (31/8), em nossa redação (à Rua Augusta, 1239, em São Paulo). Organizada em conjunto com a Universidade Nômade, o Grupo Biolutas e o LAB-TeC da URFJ, o encontro apresentará a nossos leitores dois ativistas que tiveram papel importante papel nas ocupações de praças de Madri (Raúl Cedillo) e Barcelona (Javier Toret)."



Outras Palavras debate Espanha Rebelde

Encontro, em S.Paulo, será transmitido via net. 

Site terá área para ampla contribuição de colaboradores e prepara mudanças gráficas
Capazes de despertar entusiasmo em várias partes do mundo, e de evidenciar a urgência de uma nova democracia, as ocupações de praças que se espalharam pela Espanha ainda são, contudo, pouco debatidas. Que circunstâncias permitiram que um protesto tramado inicialmente por pequenos grupos de jovens reunisse rapidamente centenas de milhares de pessoas e, rompendo barreiras entre gerações, tivesse apoio e carinho de uma maioria dos cidadãos? Quais as e perspectivas (quando terminar o verão espanhol) de um movimento (denominado “15M”, em homenagem a 15 de Mayo, data da primeira ocupação) que não segue as formas de organização da esquerda tradicional, ONGs ou sindicatos? Como garantir eficiênca das formas de organização em rede e desierarquizadas? Que paralelos poderiam ser estabelecidos entre a situação na Espanha e no Brasil?
Outras Palavras, que tem acompanhado o movimento espanhol com informação e análises, sente-se feliz de convidar os leitores para uma conversa com dois ativistas espanhóis. Será nesta quarta-feira (31/8), em nossa redação (à Rua Augusta, 1239, em São Paulo). Organizada em conjunto com a Universidade Nômade, o Grupo Biolutas e o LAB-TeC da URFJ, o encontro apresentará a nossos leitores dois ativistas que tiveram papel importante papel nas ocupações de praças de Madri (Raúl Cedillo) e Barcelona (Javier Toret).

Raúl Cedillo integra o coletivo da 
Universidade Nómada em Madri.  Além de ajudar a articular o 15M em Barcelona, Javier Toret foi um dos responsáveis por imaginar, em 2006, protesto muito criativo num supermercado de Sevilla. Cerca de cem trabalhadores sem registro em carteira ou direitos sociais (em parte, imigrantes) entraram, no 1º de Maio, num estebelecimento da rede Plus. Passaram a apresentar esquete teatrais, cantar músicas e reivindicar. Bloquearam os caixas e, ao final, levaram um carrinho do supermercado, com comida. Por tal ousadia, o ativista responde a processo e pode pegar dois anos de cadeia.

A atividade desta quarta-feira não tem pretensões acadêmicas nem pretende atrair multidões. Será simplesmente uma conversa e troca de informações e opiniões entre gente que procura, em distintas partes do mundo, superar os impasses em que a democracia representativa nos meteu – e reconstituir a ideia de que temos o direito de construir nosso futuro coletivo.
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O papo marca também os preparativos para uma ampliação editorial importante, em 
Outras Palavras. Nas próximas semanas, e em etapas, um novo site irá se somar à nossa revista virtual e à a"="" target="_blank">http://ponto.outraspalavras.net/">área em que difundimos, hoje, uma seleção de bons textos publicados na websfera. Será uma espécie de blog coletivo, aberto para interessados em acompanhar temas importantes e a escrever sobre eles.

O blog, inspirado em iniciativas como a de Luís Nassif, difundirá, em sua página principal, informações postadas pelos leitores como comentários. Além disso, convidará um grupo de colaboradores diretos, que poderão postar sem moderação. Para tanto, bastará apresentar um breve projeto de colaboração e se cadastrar.

A nova iniciativa editorial é parte do trabalho de 
Outras Palavras como animador do Ponto de Cultura Escola Livre de Comunicação Compartilhada. No ano passado, ele se desdobrou em 40 oficinas sobre mídias livres na área digital. Em 2011, o projeto terá viés mais prático. Além de resultar no novo site, mais colaborativo, oferecerá uma pequena ajuda de custo (R$ 300 mensais) a dez pessoas interessadas em escrever regularmente para o projeto. E articulará reuniões de pauta, semanais e abertas a todos os colaboradores. De certa forma, a conversa com os espanhóis Raul e Javier antecipa estes encontros. A estreia do novo projeto virá acompanhada de uma importante reforma gráfica em nossos espaços na internet.
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Outras Palavras alegra-se de comunicar, também, que foram liquidados, já na quarta-feira passada (24/8) os vírus que haviam invadido nosso site. O trabalho de desinfecção foi executado pelo programador Ricardo Richieri, nosso colaborador. Para proteger os leitores, o site preferiu, preventivamente, aguardar alguns dias, antes de fazer o comunicado. Agora, você já pode navegar em nossas páginas sem medo algum. (O problema agora, meus caros, é convencer meus leitores a retornar - grifo do PICICA).


Forte abraço da
Redação de 
Outras Palavras

Duas palavrinhas de Ana Marta Lobosque sobre os Centros de Convivência para usuários de Saúde Mental

PICICA: A fotografia abaixo foi feita por Ana Marta Soares durante a IV Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em Brasília em 2009. Uso-a aqui, despudoradamente, para homenagear a minha querida Ana Marta Lobosque (a palavra querida se pressupõe uma intimidade que não tenho, demonstra, entretanto, o meu bem querer para com uma das intelectuais mais amadas pelos militantes da luta por uma sociedade sem manicômios; daí porque estou todo pimpão na pose). Uma das minhas frustrações como Coordenador Estadual de Saúde Mental (2003-2007) - e foram tantas -, foi não ter conseguido trazê-la ao Amazonas, onde sua obra passou a ser uma espécie de leitura obrigatória. Não há estudante de psicologia que não a conheça. Ana Marta deu o ar da sua graça na minha página no facebook e fez um breve comentário sobre o texto aqui postado relativo à fala do Coordenadador Nacional de Saúde Mental, Roberto Tykanori (comentário abaixo), no sábado passado, no twitcam. No referido texto menciono o silêncio nos discursos oficiais sobre um importante dispositivo da reforma psiquiátrica anti-manicomial, conhecido como Centros de Convivência. São escassos no país inteiro. E, no entanto, são fundamentais. Como os usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não devem permanecer vinculados eternamente a esses serviços, salvo como referência para eventuais crises, são os Centros de Convivência que passam a ter uma importância capital na vida dos usuários e seus familiares, sob pena de, à sua falta, deixá-los em ociosidade, o que representa um grande ônus para os familiares. Leia mais abaixo uma discussão sobre o tema conduzido pela nossa estimada Ana Ana Marta Lobosque.
Rogelio Casado e Ana Marta Lobosque - Foto: Ana Marta Soares, Brasília, 2009
LEGAL, ROGÉLIO, DIVULGAR O DEBATE. NÃO CONSEGUI OUVIR. MAS ESTOU COM VOCÊ NO QUE DISSE NO SEU BLOG, OU SEJA: REITERO MINHA CONFIANÇA NA EQUIPE DA COORDENAÇÃO, TANTO QUANTO A NECESSIDADE DE ATENÇÃO CONSTANTE PELOS MOVIMMENTOS SOCIAIS. (Ana Marta Lobosque) Em tempo: Leia o post anterior, para entender o contexto.


Ana Marta Lobosque coordena uma importante iniciativa de formação de pessoal no campo da Saúde Mental, em Belo Horizonte - iniciativa que mantém na internet denominado ESPAÇO SAÚDE MENTAL. Trata-se de um espaço destinado à promoção de debates, divulgação de notícias, disponibilização de material, e outras atividades relevantes para profissionais, gestores, usuários, familiares e estudantes interessados na Saúde Mental, na perspectiva da Reforma Psiquiátrica. O Espaço Saúde Mental é mantido pelo GPT-SM - Grupo de Proteção em Saúde Mental na Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais - ESP/MG, com apoio do Núcleo de Tecnologia Educacional - NTE.

Qual o lugar e quais contribuições de distribuições como os centros de convivência na redes locais de Saúde Mental?
Ementa: Os centros de convivências têm produzido práticas de grande fertilidade e beleza no campo da saúde mental, propiciando a inserção social ampla e efetiva dos portadores de sofrimento mental. São dispositivos des-sanitarizados, ou seja, não dependem de técnicas e profissionais de Saúde ou de Saúde Mental e sim de artistas e artesãos na condução das oficinas e outras atividades. Seu objetivo principal é a produção de laços sociais, através da criação e expressão, tendo a produção artística/artesanal como organizadora do processo. A produção de obras de arte no sentido formal da palavra, ou mesmo, a geração de renda são inteiramente secundários a esse objetivo. Na rede, são os dispositivos onde nascem as intervenções mais amplas no âmbito da cidade: as manifestações culturais (18 de maio), a organização política dos usuários (ida à marcha dos usuários a Brasília) e também as iniciativas no campo da geração de renda (grupos de produção solidária). Entretanto, os centros de convivência ainda são pouco conhecidos e existem em poucos municípios. Contribui para isto, certamente, o fato de que não haja mecanismos de financiamento federal e estadual para implantá-los e custeá-los. Entretanto, é possível que as próprias redes desconheçam o lugar e a importância desses dispositivos.
E para você, qual a importância desses dispositivos?

5 respostas a Qual o lugar e quais as contribuições de dispositivos como os centros de convivência nas redes locais de Saúde Mental?

  1. Ana Marta Lobosque disse:
    Cara Eliana,
    Que bom reencontrá-la neste Fórum!
    Foi muito legal ler o relato da experiência de vocês nestes necessários passos “além-da-saúde”. A gente sabe que poucos municípios ousam caminhar nesse sentido, porque não há financiamento federal, o gestor local geralmente não apoia, e aí tem de ser na base do desejo, encarando coisas meio árduas mesmo, como vem ocorrendo com vocês. Mas vale a pena, não é? Pois a gente sabe que essas coisas fazem toda a diferença…
    Gostaria muito de ouvir outros municípios a respeito: se não fazem nada nessa área, por quê; se fazem, como é, como avaliam…
    Vocês estão de parabéns pela obstinação!
    Abraço,
    Ana Marta Lobosque
  2. Eliana M. Delfino disse:
    Ana Marta, que agradável surpresa essa retomada. Pensei que o espaço havia encerrado.
    Bom com relação a questão do Centro de Convivência é um espaço de fortalecimento de laço social e produção mas de difícil sustentação devido a falta de recursos financeiros e na minha realidade em Lagoa da Prata de conseguir que os usuários assumam esse espaço como deles. Iniciamos há 3 anos na raça um grupo de convivência sustentado pela Associação Cuca Legal ( assoc. de usuários e familiares), ou seja, um projeto com muita vontade e nenhum recurso financeiro. Continuamos s/ recurso mas bancando o projeto com um grupo de usuários, ainda é na pratica um grupo de convivência que desenvolve atividades de pintura em tecido na 3a. feira à tarde e na 4a. feira tem bordado vagonite, crochê e confecção de panos de prato e jogo de lençois. As atividades se modificam dependendo da persistência do monitor voluntário (geralmente um usuário mais estabilizado e com habilidade na atividade) e da dificuldade dos participantes. O grupo ainda não consegue caminhar s/ presença de técnico do CAPS, estamos engatinhando. Nesse intervalo a Prefeitura forneceu barracas p/ feira de artesanato que também caminha em passos lentos, a Associação tem uma barraca que chama atenção por ser uma atividade que agradou os homens são eles que vendem os produtos feitos nas oficinas do CAPS e do Conviver. As mulheres preferem fazer os produtos e os homens vender aos sábados de manhã. Agora pensamos em atividades p/ homens pois eles têm muita resistência com as atividades oferecidas. É um lento processo mas temos um espaço cedido pelo Lions Club e a Associação Cuca Legal faz eventos p/ arrecadar dinheiro. É muito árduo mas conseguimos ter uma usuária inserida no mercado de trabalho (faxineira numa loja) que aguarda concurso da Pref. p/ participar. Essa é nossa trajetória. Abraços, Eliana
  3. Ana Marta Lobosque disse:
    Então, Samara, é bem possível sim. Agradeço por ajudar a divulgar o Espaço!
    Mas, por falar nisso, como andam as discussões e as práticas “além-da saúde” por aí? Fazem algum link com as questões que colocamos na ementa?
    Um abraço,
    Ana Marta
  4. Olá, Marta! Creio que a primeira hipótese seja a mais provável. Sugiro que seja feita uma ampla divulgação sobre a reativação do fórum em outros sites, blogs e redes sociais. Já estou fazendo isso! Daqui a pouco a coisa começará a esquentar novamente! Até já! Beijo, Samara.
  5. Ana Marta Lobosque disse:
    Curiosamente, a questão proposta para este Fórum de Debates, a propósito dos Centros de Convivência e dispositivos afins, ainda não gerou nenhuma intervenção.
    Bem, um motivo possível é que, como os fóruns andaram desativados por muito tempo, as pessoas tenham se desacostumado de frequentá-los.
    Mas é possível também que o desconhecimento a respeito dos Centros de Convivência não suscite nem mesmo curiosidade a esse respeito.
    Insistimos: trata-se de um dispositivo importante e fecundo nas redes de Saúde Mental. Vamos discuti-lo!
    Abraço a todos,
    Ana Marta Lobosque