PICICA: Segundo o Passa a Palavra, para os trabalhadores da cultura na luta contra a desmercantilização da cultura, "uma instituição como a Funarte já nem pode mais ser entendida como lugar representativo do inimigo que combatem, uma vez que as mais importantes tomadas de decisão a respeito das políticas culturais estão nas mãos das grandes corporações.
A luta dos trabalhadores da cultura: Episódio nº 1
Trabalhadores da cultura desocupam a Funarte com um ato em frente ao Itaú Cultural. Fim do “primeiro episódio”, mas mobilização continua. Por Passa Palavra
Era por volta de 3 horas da tarde quando os portões da Funarte foram abertos e os manifestantes saíram em marcha pelas ruas do centro de São Paulo. Dando sequência à série de atividades que anunciaram desde a segunda-feira passada, os trabalhadores da cultura deixaram hoje o espaço da instituição e realizaram um ato que culminou na frente do Itaú Cultural, na avenida Paulista.
A manifestação, que marcava o desfecho deste “primeiro episódio” de luta, teve um caráter altamente performático, bem diferente do que costumamos ver em outros atos de rua. Um carro a frente, com teclado, bateria, guitarra, baixo, microfone e outros instrumentos musicais puxava uma dupla fila de artistas e apoiadores que entoavam canções e coreografavam com assentos de privada, simbolizando a mercantilização e a privatização da cultura. Eram cerca de 500 pessoas cantando em coro, enquanto membros da Brava Cia. de Teatro encenavam seus “fúrias” a frente do bloco.
A ação foi pensada em ensaiada pelos trabalhadores da cultura durante este fim de semana. Na assembleia de sexta-feira passada eles decidiram pela saída e começaram a organizar o desfecho deste primeiro momento da mobilização. Para as pessoas que estavam instaladas no espaço da Funarte, a ocupação já teria cumprido o seu papel, sendo a hora de preservar as forças acumuladas e começar a pensar em ações mais radicais e que atinjam mais diretamente as instituições que hoje comandam a política cultural do país. A maioria dos ocupantes destaca que a última semana foi um momento intenso de aprendizado político e fortalecimento de laços entre os grupos, o que se demonstra não só pelas atividades de formação que ocorreram quase todas as noites, mas também pelas inúmeras conversas e iniciativas extra-oficiais que aconteciam por todos os cantos da Funarte. Parte deste acúmulo ficou expresso nas duas cartas finais que a ocupação redigiu [aqui e aqui] e que foram lidas e aclamadas por todos, minutos antes dos portões se abrirem.
Pela leitura do documento, o movimento demonstrava ter chegado ao entendimento de que as reivindicações pontuais apresentadas, como as aprovações das PECs 150 e 236, constituem apenas uma pequena parte da batalha pela desmercantilização da cultura; e que, neste horizonte mais largo, uma instituição como a Funarte já nem pode mais ser entendida como lugar representativo do inimigo que combatem, uma vez que as mais importantes tomadas de decisão a respeito das políticas culturais estão nas mãos das grandes corporações.
Por volta das 17h, o movimento chega, então, à Avenida Paulista, onde se localizam as principais instituições financeiras beneficiadas pelas leis de incentivo fiscal que fundamentam os programas culturais do país. A cada banco que passavam ou espaço cultural gerido pelas grandes empresas, os trabalhadores da cultura encenavam um ataque ao inimigo, chamando a atenção e despertando a simpatia do público que passava pela rua.
A cena final do “ato-bomba”, como chamavam, aconteceu na frente do Itaú Cultural, próximo à estação Brigadeiro do Metrô, onde foi feita uma projeção de vídeo e, depois de muita brincadeira misturada com protesto, instalada com cimento na calçada uma privada.
Fim da ocupação da Funarte e fim do primeiro episódio da série. No entanto, a mobilização continua e outros atos-bombas vêm por aí. Para tanto, uma nova reunião já está marcada para o dia 10/08, às 19h, no Teatro Coletivo, na Avenida Consolação.
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