agosto 12, 2011

O "Lado B" do criador do PICICA

PICICA: Nesta semana, finalmente, fui à casa noturna mais badalada de Manaus: O Chefão. Humberto Amorim, contratado da casa, já me intimara mil vezes a ouvi-lo, a cada final de mes, acompanhado da banda All That Jazz. Como só posso atualizar o blog na madrugada, na ampla maioria das vezes, passei a adotar hábitos contrários ao meu amigo Alfredo Loureiro que é um notívago contumaz; razão pela qual fiquei privado de compor o gargarejo da audiência do melhor cronner de jazz do norte do Brasil e jazzófilo incomparável (vou arranjar encrenca com o HDias e uma patota entendida no assunto). Desta vez a intimação veio por Andrea Arruda, jornalista com quem trabalhei quando Coordenador Estadual de Saúde Mental (2003-2007), e, mais do que isso, minha amiga do peito. O convite já era irrecusável por si só, ainda mais com a proposta de participar da gravação do Programa Lado B, conduzido por Orlando de Souza e  Renato Seyssel. Na verdade, o convite era triplamente irrecusável; por Andrea, pelo programa em si e porque sou, no fundo, o proprio lado B. Em razão dos meus  novos hábitos noturnos, numa noite de rara insônia, já que durmo cedo, assisti ao programa. Qual não foi minha surpresa! Finalmente, um programa novo na TV manauara. Daí que feito o convite, não precisou de muito esforço para me convencer – identificação total com o programa. Pode parecer que os entrevistadores exploraram pouco meu lado B. Lêdo engano. Às vezes me sinto um personagem vivendo uma outra cena em pleno exercício da minha atividade profissional. Razão tem o poeta. Eu sou muitos. Também, pudera! Voce pensa que é fácil assumir a radicalidade de certos atos numa terra avessa à radicalidade dos discursos e das práticas comprometidas com os desafios desses tempos bicudos? Como o meu lado A é o de um pacato cidadão, cumpridor de seus deveres, contribuinte em dia com o fisco e curtidor de jazz, a dupla percebeu que o meu lado B estava na minha vida púbica. E mandaram bem. A propósito, a dupla de entrevistados tem um lado B encantador. Prazerosamente pude ouvi-los depois do programa, regado a bom uisque. O público se encantaria em sabê-lo. Um é poeta dos bons; o outro é neto de um dos artistas mais queridos dos amantes do circo como eu. Who is who? Ao final, saí amigo dos dois apresentadores. O encontro com Orlando de Souza, na verdade foi um reencontro. Na outra reencardenação, quando eu era agricultor do faraó, ele fazia parte da sua corte declamando versos. Hoje vivo numa outra lavoura a plantar sonhos e cuidar para que não falte bálsamo para curar a dor da alma dos aflitos; ele continua a declamar sua poesia disseminando a palavra e interpretando o mistério da existência. Orlando, em sua infinita generosidade, celebrou esse reencontro me oferecendo uma bela poesia, abaixo postada. Divido-a com os leitores. Confira a entrevista na TV Cultura. Eu, me diverti; espero que vocês também se divirtam. Em tempo: no mesmo dia o meu brother Simão Pessoa também gravou o programa. Simon é um capítulo à parte. Fico devendo ao leitor.  

Orlando e Renato mostram o Lado B de entrevistados

Entre as muitas novidades que a nova TV Cultura está trazendo está o Lado B. Um bate-papo divertido com personalidades da cultura, das artes, da política, enfim, com gente que sabe muito bem o que diz. Apresentado por Orlando de Souza e Renato Seyssel, o Lado B vai ao ar todas as terças às onze e meia da noite.

Exibição: Terça-feira
Horário: 23h





VARANDA INOXIDÁVEL

                      Orlando de Souza
                      Pra Rogelio Casado

Como namorada vespertina
Desperta sonolenta a melancolia
Por que a tristeza acorda sempre
Às seis da tarde?
Será o rádio, a Ave Maria?
É quando as luzes se acendem
E iluminam na memória
Um olhar de crayon.

Da minha varanda percorro faróis
Luzes de freio
Luzes dos quartos, das cozinhas
Dívidas e amores pendurados nos lustres
Das muitas salas de jantar

Nenhum copo nos planos
Nenhum amigo ao telefone
Na poça da ardósia uma bagana
Divide meu rosto velho
Nada de novo na minha cama

Da minha varanda vejo um mar de luzes
Como se o céu virasse
E derramasse na paisagem
Toda a inquietude das estrelas

Nenhum beijo no lábio
Nenhuma língua na noite
Nenhuma pele morena
Como se em braile
Brilhando na ponta dos meus dedos

E apesar de tamanha ausência
Na minha varanda
                entorpecido éden
Rego o paraíso artificial
Antes de correr distraído
Por meu prateado jardim
De tesouras abertas.

                            Manaus, agosto 2011.

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