dezembro 31, 2007

...e mostra o pau!


Depósito bancário em favor de um representante da ONG Boa Visão.
Não tire conclusões precipitadas antes da manifestação das instituições que protegem o cidadão.
Não pega bem!
Dá-lhe, Paulão!

Paulo Mamulengo mata a cobra...


Paulo de Tarso anexa o depósito bancário do convênio entre a Prefeitura Municipal de Iranduba e a ONG Projeto Boa Visão.

Anexo da denúncia de Paulo de Tarso ao CRM-AM (II)


Outro receituário anexo pelo artista Paulo de Tarso na denúncia ao CRM-AM contra a Prefeitura Municipal de Iranduba.

Anexo da denúncia de Paulo de Tarso ao CRM-AM (I)


Receituário anexo pelo artista Paulo de Tarso na denúncia ao CRM-AM contra a Prefeitura Municipal de Iranduba.

Paulo Mamulengo versus Prefeitura Municipal de Iranduba


A denúncia feita pelo artista Paulo de Tarso ao Conselho Regional de Medicina do Amazonas contra o convênio entre a Prefeitura Municipal de Iranduba e a ONG Projeto Boa Visão data de fevereiro deste ano de 2007.

Carta denúncia do artista Paulo de Tarso ao CRM-AM contra a Prefeitura Municipal de Iranduba


Clique para ler a carta-denúncia do artista Paulo de Tarso ao Conselho Regional de Medicina do Amazonas contra um convênio entre a Prefeitura Municipal de Iranduba-AM e a ONG Projeto Boa Visão.

Paulo Mamulengo: sexto dia em greve de fome

D. Rosângela e Paulo Mamulengo

ARTISTA POPULAR PERMANECE EM GREVE DE FOME NO INTERIOR DO AMAZONAS

A greve de fome do bonequeiro Paulo de Tarso, em Iranduba, interior amazonense já entra no seu 6º. dia, sem que qualquer autoridade ou representante daquela prefeitura tenha tentado um diálogo junto ao artista e/ou familiares. Paulo permanece acampado em praça pública, na sede municipal, como forma de pressionar aquele poder público a pagar os salários atrasados a que tem direito. Ontem, com a pressão apresentando 9/5 foi necessário recorrer ao Pronto Socorro local para repor os sais minerais e garantir as energias necessárias para continuar o seu protesto que considera retaliação do prefeito do município, Nonato Lopes.

No início do ano, Paulo havia formulado denúncia contra atos da administração local sobre um programa da Secretaria de Saúde para fazer exames oftalmológicos. “O projeto estava sendo executado por uma Ong de Santa Catarina, chamada ‘Boa Visão’, que atraiu em torno de mil pessoas, principalmente pessoas de baixa renda (e escolaridade) de comunidades rurais do município, que foram levadas a adquirir, de forma irregular, óculos fornecidos sem recibos ou notas fiscais, e sem quaisquer garantias de retorno ou procedimento médico posterior”.

Paulo apresentou documentos que comprovam as irregularidades apontadas, como as receitas assinadas pelo médico Francisco Stocco e recibos de depósitos feitos em nome de Gustavo Mendes Stocco. “O mais estranho é o fato do favorecido nos depósitos bancários ser pessoa física, com o mesmo sobrenome do médico que assina as receitas, e este último sem consultório no Estado e sem endereço no CRM”, disse. Paulo acredita que isso tenha motivado o prefeito a suspender seus salários por 10 meses.

Paulo Mamulengo, como é chamado, é artista popular conhecido no Amazonas e bonequeiro oficial de uma das bandas mais famosas e com tradição no Amazonas, a “Banda da Bica”, do bar do Armando, na capital. Recentemente participou do Festival de Bonecos que o Sesc trouxe para Manaus, como representante do Amazonas. Natural de Patos, na Paraíba, reside há 20 anos na Vila de Paricatuba, em Iranduba. Formado em Filosofia, pela Universidade Federal do Amazonas, participa de projetos sócio-ambientais e é funcionário concursado da Prefeitura Municipal de Iranduba, no cargo de Serviços Gerais.

Apesar do prefeito do município, Nonato Lopes, haver concedido duas entrevistas para rádios locais, uma na quinta, outra no sábado, comprometendo-se em realizar o pagamento de forma imediata, não há sinais de aproximação. Por outro lado, Paulo permanece em praça pública, apoiado diretamente pela esposa, Dona Rosângela e, indiretamente pela população que, por receio de retaliações, não o apóia diretamente, mas tem prestado solidariedade ao artista em greve.

Mais informações sobre o caso e a greve de Paulo Mamulengo, contate: (092) 8157 2040 (Dona Rosângela, esposa de Paulo de Tarso)

Documentos anexos: formalização da denúncia contra a ONG BOA VISÃO, Recibos de depósito e receita médica.

NOTA: O texto é da jornalista e escritora Regina Melo.

dezembro 30, 2007

Por que eu amo Humberto Amorim?

Oscar Peterson

Amar Humberto Amorim, se não fosse pelo Jazz seria pela sua rara sensibilidade. Poderia citar como exemplo a bela homenagem que hoje ele fará ao grande Oscar Peterson, que acaba de nos deixar. Mas é a maneira despudorada de manifestar seus sentimentos que faz de Humberto Amorim um raro exemplo de homem: seja nas declarações de amor que faz à sua amada Lu, seja na declaração pública de amor que recebi do querido amigo, num dos seus programas domingueiros de jazz. Saudado pelos amigos como um homem incomum pela coragem da manifestação do seu sentimento, me pareceu que só os seres emancipados são capazes de pairar sobre o senso comum. Ao querido amigo, pelo comovente tributo a Oscar Peterson, desejo que o programa de jazz desta noite aqueça o coração de todos os seus ouvintes. Para ti, para Lu, para Nicholas, para tuas filhas e toda a família, um Feliz Ano Novo.
***
Jazzófilo(as),

Nós todos, aficionados pelos gênero jazz e pela música de alta qualidade, ficamos um pouco mais orfãos no domingo passado com a a saída de cena na cidade de Mississauga, em Ontário, no Canadá, do gênio e um dos mais amados músicos de jazz, o pianista canadense Oscar Peterson.

Durante sua carreira de sete décadas tocou com a grande maioria dos ícones do jazz como Ella, Dizzy Gillespie, Louis Armstrong, Count Basie, Stan Getz e Duke Ellington.

No nosso programa Momentos de Jazz desta noite, a partir das 20h00, pela Rádio Amazonas Jazz Fm 101,5, iremos reviver estes momentos e prestar tributo merecido àquele que será sempre lembrado por sua virtuosidade e técnica musical ao piano - Oscar Peterson.

Não percam. Até jazz!!!

Humberto Amorim

Mensagem para Pedrinho


A mensagem abaixo é destinada a Pedro Gabriel Godinho Delgado, atual Coordenador Nacional de Saúde Mental, a quem chamo fraternalmente de Pedrinho. A mensagem parece pessoal. Não é. Vale para o coletivo, toda vez que ruído de comunicação pintar por aí.
Meu caro Pedrinho,

Aproveito o ensejo da mensagem disponível no grupo de discussão emdefesareformapsiquiátrica para cumprimentá-lo e tentar afastar de uma vez por todas os ruídos de comunicação entre você o estado do Amazonas. E que não são poucos.

Pretendia fazer uma comunicação pessoal sobre o quadro da Saúde Mental depois que o governador Eduardo Braga sancionou a Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas no dia 10 de outubro - Dia Mundial de Saúde Mental, por ocasião dos 20 Anos de Luta Antimanicomial, evento realizado no início deste mês de dezembro, em Bauru-SP. Mais uma vez o universo conspirou... contra. Não consegui encontrá-lo.

Primeiro, porque por pouco repetia-se a cena de 20 anos atrás, quando faltei ao II Congresso Brasileiro dos Trabalhadores de Saúde Mental, na mesma cidade de Bauru, ocasião em que se instituiu o lema Por uma Sociedade Sem Manicômios. Acabara de sair de uma greve de fome em defesa da reforma psiquiátrica no Amazonas. Seis quilos a menos, sem um tostão furado no bolso, deixei de ir ao encontro dos companheiros que não fiz.

Desta vez, devido uma falha no sistema ficaria sem passagem e hospedagem não fosse a Universidade do Estado do Amazonas ter entrado em cena e me colocar no game, como diriam os mais jovens. Mais uma vez, em cena o imponderável: fiquei num hotel distante do seu. Pior. As duas mesas redondas em que participamos tinha como local campus diferentes, dos três disponíveis para o evento (Unesp, Unip, Usc). Caramba! Sai Capeta que este corpo não te pertence!

Segundo, porque não consegui vê-lo na manifestação pública ocorrida no centro de cidade de Bauru, no mesmo coreto da manifestação daquele dezembro de 1987. E olha que meu campo visual é a do fotógrafo que sou. Vi velhos militantes: Roberto Tykanori, Ana Marta Lobosque, Marcus Vinicius, Silvio Yasui, entre outros. Mas lá você não estava. Soube, então, que você viajara um dia antes devido outros compromissos. Lástima!

Só pode ser olho-gordo!, pensei com meus botões. Foi então que sobreveio uma epifania e a ficha caiu: de um imenso olho-gordo saiam, aos borbotões, um monte de reformistas-de-araque. Os mesmos que produziram uma moção de repúdio contra a Lei de Saúde Mental por ocasião da Conferência Estadual de Saúde. Durma-se com um barulho desses!...

Impossível, para mim, não associar este a um outro fato: a recente desaprovação da instituição da Fundação de Direito Privado pela maioria dos participantes da Conferência Nacional de Saúde, instrumento que poderia permitir a desprecarização dos regimes de trabalho vigentes hoje no Sistema Único de Saúde, como o Programa Saúde da Família e a grande maioria dos Programas de Saúde Mental existentes no Brasil, para ficar nestes dois exemplos. Só deu pro nosso! Teremos trabalho redobrado para convencer nossos parlamentares na Câmara Federal de que não podemos mais ficar na dependência das nossas organizações-não-tão-governamentais-assim para manter os serviços substitutivos ao manicômio, se não quisermos dar mais munição para a contra-reforma psiquiátrica tão bem representada pelos segmentos conservadores abrigados na Associação Brasileira de Psiquiatria, por exemplo.

Mas, raios-que-o-partam, porque esses reformistas-de-araque surgem, recorrentemente, de modo tão inesperado? E o que isso tem a ver com você, Pedrinho? Uai! Você lembra como fui hostilizado por esses tipos num encontro em Manaus, em 2005, quando você fez sua primeira viagem para tentar "empoderar" o Coordenador Estadual do Programa de Saúde Mental, então resistindo como um Brancaleone e seu pequeno exército. Não queríamos submetê-lo ao mesmo ritual canibalizante.

Vivemos dias de tensão, e em especial 72 horas angustiantes antes da Lei ser sancionada. O governo temia uma manifestação de última hora. Pensou-se numa saída inteligente. Não havia. Porque a hora exigia mais que inteligência. Exigia força. Força simbólica. Não nos faltou. Encarnada na Associação Chico Inácio, filiada à Rede Nacional de Luta Antimanicomial, única entidade que foi à rua em defesa da construção da cidadania dos portadores de sofrimento mental, sob a proteção de São Doidão, fizemos uma festa memorável no dia 10 de outubro - Dia Mundial de Saúde Mental -, quando o governador sancionou a Lei de Saúde Mental num dos salões da Universidade do Estado do Amazonas. Não houve mortos nem feridos. Vitória do movimento Por uma sociedade sem manicômios, que queremos dividir com os companheiros que vivem em outras latitudes desse imenso Brasil.

Que os ruídos de comunicação fiquem para trás, nas águas que passaram no ano de 2007. Que no ano de 2008, possamos estabelecer relações mais ricas de realizações e de significados plenos para nossos coletivos. A Universidade do Estado do Amazonas está pronta a fazer sua parte.

Fraternalmente,

Rogelio Casado

dezembro 28, 2007

Lúcio Flávio Pinto comemora 20 anos do Jornal Pessoal

Foto: Mari Chiba - Lúcio Flávio Pinto

Neste final de 2007 não poderia deixar de cumprimentar o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, conterrâneo de meu pai, pela passagem dos 20 anos de existência do Jornal Pessoal, um exemplo de jornalismo corajoso. Grande Lúcio Flávio Pinto!
27.09.2007 17:25
Debate com Lúcio Flávio Pinto comemora os 20 Anos do Jornal Pessoal

Para celebrar os 20 anos do Jornal Pessoal (JP) foi realizado um encontro entre os leitores e o Sociólogo, Jornalista e Escritor Lúcio Flávio Pinto no final da tarde, do dia 26. A conversa foi marcada pela interação, abordando assuntos polêmicos sobre a história do Pará em seu contexto sócio-econômico, político e midiático atual.

Durante o encontro, o leitor Ângelo Madson, estudante de sociologia da Universidade Federal do Pará, questionou a importância do JP diante dos problemas da sociedade informatizada. Nesse contexto, Lúcio criticou a autocensura do jornalista e o jornalismo de produção virtual. “Não existe jornalismo de gabinete, o jornalista tem que ter percepção, ver, olhar e sentir a contemporaneidade. Deve pensar na opinião pública e não no cliente, afinal, ninguém consegue saber o que acontece na Amazônia baseado-se apenas nas capitais”, comentou, após criticar os releases que têm ocupado grande parte dos jornais impressos.

Lúcio Flávio que já foi condenado quatro vezes, possui mais de 32 processos judiciais como frutos de seu jornalismo crítico e independente. Ao fazer um breve relato sobre sua carreira, destacou seu envolvimento constante com a imprensa alternativa, como o jornal “Opinião” do Rio de Janeiro, durante a década de 70. Em seguida, fez um relato sobre a morte por encomenda do deputado estadual Paulo Fontelles, em 1987, que motivou quatro meses depois, a circulação da primeira edição do Jornal Pessoal. “Além do aspecto emotivo ou pessoal, a morte do deputado foi significativa. Era o primeiro atentado político ocorrido na história da capital.”

O jornalista falou ainda sobre as ações da justiça que “sufocam a imprensa”, dentre outras dificuldades que enfrenta na produção e impressão, que já passou por várias gráficas. “Já me espancaram, agora, qual vai ser a próxima agressão?... a despeito dessas limitações o Jornal Pessoal tem feito história, pois sugere um novo pensamento ao leitor”, afirmou.

O evento foi organizado pela professora Marly Silva, como parte do projeto Confronto de Idéias, que estimula debates científicos sobre a Amazônia e seus problemas. Segundo Marly, “reconhecer a importância do JP é fundamental para fomentar um novo discurso na sociedade.”

No final do encontro foram feitas homenagens ao jornalista que pretende lançar um livro contando os detalhes dos 20 anos da história do Jornal Pessoal. “Hoje é dia de festa para os leitores, mas temos que lutar para que essa data não termine apenas com um bolo de festa. Um movimento precisa ser feito para devolver a democratização ao Lúcio e a outros que tem o mesmo ideal: da persistência, da retidão e da coragem,” declarou emocionado o professor aposentado Jean Hebette.

Fonte: Universidade Federal do Pará

dezembro 27, 2007

O Natal da discórdia

Transposição do rio São Francisco

Eis o artigo que me foi enviado pelo querido amigo Falcão Vasconcelos, geógrafo, professor da UFU.

18/12/2007

DEBATE ABERTO

O Natal da discórdia

O autor aprofunda a crítica, deseja um feliz 2008, e se despede respeitosamente dos leitores de Carta Maior.

Bernardo Kucinski

Minha crítica à greve de fome de Dom Luiz ofendeu leitores e constrangeu Carta Maior. A direção segurou o texto por dois dias e quando o publicou, dele se dissociou: “Posições oficiais da Carta são assinadas por mim, Editor Chefe, pelo seu diretor-presidente, Joaquim Ernesto Palhares, ou por ambos”. Assinado: Flávio Wolf de Aguiar, Editor Chefe. Leitores em penca reclamaram indignados contra sua publicação.

Já havia sentido a rejeição de muitos leitores ao modo irônico ou à crítica ao movimento ambientalista. Desta vez, parece que mexi num vespeiro. Levei o maior cacete. De fato, meu texto chega ao limite do sarcasmo porque fiquei revoltado com a distorção de informações sobre o projeto do São Francisco. Era preciso chocar para romper o emparedamento do debate. Mesmo porque está em jogo um divisor de águas no campo progressista que vai muito além do Rio São Francisco. Apesar de fugir ao meu estilo analítico costumeiro, adotando uma retórica dramática, eu tinha a boa informação.

Gostei do novo estilo. A maioria dos leitores, não. Vários me acusaram de desqualificar o bispo em vez de discutir seus argumentos. Quando enviei o artigo à Redação, no domingo, dia 9 (com data para o dia 10), o bispo não havia explicitado seus argumentos em texto assinado. Só fez isso na Folha de S. Paulo do dia 12. Meu objetivo, que muitos leitores não captaram, era decifrar as razões da segunda greve de fome, já que, ao contrário da primeira, não a movia o motivo clássico desse gesto, que é forçar uma negociação. A partir dos pressupostos de que um governo democrático não poderia ceder à chantagem, e o bispo, como um general da Igreja, sabia disso, concluí que o Dom Luiz queria mesmo era morrer. Foi ele quem se desqualificou. Eu apenas matei a charada, como diz um dos raros leitores que me apoiaram.

Agora, que o bispo explicitou seus argumentos, é possível refutá-los. Mas antes, quero falar de minhas divergências mais gerais. A primeira é em relação ao lugar do governo Lula na nossa história. Concordo com a maioria dos leitores que o governo Lula ficou aquém do que esperávamos, em especial na fase paloccista, e continua afogado em contradições. Lula fez uma aliança estratégica com os bancos? Fez. Eu mesmo apontei isso na Carta Maior. Mas criou o Pró-Uni, o Bolsa Família, o programa Luz para Todos e o programa Quilombola; o programa de Agricultura Familiar, aumentou substancialmente o salário mínimo, dialoga com os movimentos populares; vestiu o boné do MST, o dos petroleiros e o das margaridas. Contribuiu para a o enterro da Alca e promove a integração latino-americana. Criou o Banco do Sul e a TV Pública.

Não é pouca coisa. Não sei se tudo isso “mudará o Brasil”. Sei que não quero entrar na história como um dos linchadores de Lula e de um governo que eu ajudei a eleger. Como disse Maria da Conceição Tavares, parodiando a confusão que se estabeleceu no Chile no governo Allende: “É um governo de merda, mas é o nosso governo de merda.”

Minha segunda divergência diz respeito à dimensão política da luta pela defesa do meio ambiente. Uma coisa é levar essa luta debaixo do tacão de um regime militar, outra coisa é no interior de um governo democrático, sensível às demandas populares e sobre o qual temos enorme influência, em especial nos aparelhos de Estado que cuidam do meio ambiente e dos programas sociais.

Divirjo também da doutrina de muitos movimentos ambientalistas. Quando fui procurado pelo Greenpeace para participar de sua fundação no Brasil, lá pelos anos 80, instintivamente recusei. Digo instintivamente porque somente há poucos meses topei com a teoria da minha recusa. Num pequeno artigo no Jornal do Brasil, Emir Sader dizia ser impossível tratar temas como a economia, sem considerar conceitos básicos da economia política, entre os quais o conceito de “imperialismo”.

É isso. Uma coisa é uma agenda ambientalista endógena, concebida por nós, que considere nosso estágio de desenvolvimento, nossas necessidades básicas e nossa correlação interna de forças. Outra coisa é aceitar acriticamente a agenda que vem de fora. Ou não perceber que também na luta ambientalista incidem o fator de classe e o fator imperialismo. O Norte com renda per capita de 30 mil dólares pode propugnar até mesmo crescimento zero ou de emissão zero de CO2. O Sul com renda per capita de 3 mil dólares tem que se orientar necessariamente pelo conceito do desenvolvimento sustentado, aquele que preserva o meio ambiente e os recursos naturais, mas garantindo as necessidades básicas da população presente.

Uma parte do movimento ambientalista brasileiro não se orienta pelo conceito do desenvolvimento sustentado, e sim por um paradigma criado por sociedades já bem abastecidas em tudo, e que preferem atribuir ao nosso território o papel de uma gigantesca reserva florestal, indígena e de biodiversidade do planeta Terra. Não estão nem aí para as necessidades básicas da população brasileira.

Para atender essas necessidades e nos tornarmos uma sociedade minimamente civilizada, precisamos construir cinco milhões de moradias, e levar a elas água, eletricidade e esgoto. Precisamos criar pelo menos trinta milhões de empregos. Erguer dezenas de escolas, hospitais e postos do Ibama e da Polícia Federal. Implantar vastas redes de transporte de massa, metrôs, hidrovias e ferrovias, tudo isso obedecendo padrões avançados de controle ambiental.

Os números são todos grandes. Mas temos recursos para isso. Nunca se ganhou tanto dinheiro no país com as exportações. É preciso lutar por políticas públicas que aloquem esses recursos em benefício da população, Mas os ambientalistas foram tomados pela cultura do não. Nada pode ser feito e, se for grande, é ainda mais condenável. Temos uma frente nacional “contra” os transgênicos, outra contra o projeto do São Francisco, e logo, logo teremos, se é que já não temos, a frente nacional contra as barragens, contra o uso de células-tronco e contra as estradas de integração continental. É o autismo frente às carências do povão, o fundamentalismo na luta pelo meio ambiente e o ludismo na reação contra os avanços da biotecnologia.

Deveríamos ter, isso sim, uma frente nacional pelo zoneamento agrícola, outra pelo imposto sobre a exportação de commodities, e mais outra pela atualização dos índices de produtividade agrícola (sem o que é impossível a desapropriação para fins de reforma agrária). Uma frente nacional pela ocupação ordenada da Amazônia, outra pela integração continental. Tínhamos que pressionar pela recuperação das pequenas hidrelétricas, desativadas pelo regime militar, e lutar ao mesmo tempo pela construção das de maior porte, por gerarem energia limpa, renovável e barata, a um baixo custo social.

Na oposição ao projeto da adutora do São Francisco, os traços de fundamentalismo se adensaram perigosamente quando a Igreja se meteu na história. Leiam de novo a mensagem de apoio de Leonardo Boff a Dom Luiz, enviada por um dos leitores indignados com meu artigo. O mesmo Leonardo Boff que observou dias atrás ser incorreto discutir a existência de Deus à luz da ciência, porque a fé é uma questão de imaginação e espiritualidade, agora convoca a fé para combater um projeto terreno de captação de águas de um rio. “Acompanho com respeito e sustento com todo o coração sua decisão de doar a vida para que haja mais vida para os pobres e para o rio São Francisco... Sua opção não é a de um suicida mas de um homem livre, capaz de amar até o fim, amparado no Deus de Jesus...” E vai por aí afora, citando passagens da escritura e invocando repetidamente o nome de Deus.

Lembrei-me do segundo mandamento: “Não invocarás o nome de Deus em vão”. E também do oitavo: “Não levantarás falso testemunho”. Isso porque são falsos os argumentos de Dom Luiz, da CPT e da CNBB contra o projeto. Há restrições e críticas sérias ao projeto, mas as dos bispos são inconsistentes, resvalando para o demagógico.

O bispo começa pelo argumento de que Lula não tinha mandato para tocar esse projeto porque evitou discuti-lo durante a campanha eleitoral. Disso conclui que Lula governa autoritariamente, que Lula e não ele é o inimigo da democracia. “Vivêssemos numa democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo”, escreve Dom Luiz. Outro bispo, Dom Tomás Balduíno, em artigo no Estadão, vai além: diz que “quem dividiu o país, e até a Igreja, foi Lula e não Dom Luiz Cappio”.

Vamos perdoar a menção a uma “democracia republicana” por parte de uma Igreja que se opõe ao divórcio e ao uso da camisinha. Digamos que foi um erro de digitação. Esses bispos se esquecem que depois de Lula ser eleito, a história seguiu seu curso e ele também foi reeleito, numa segunda campanha em que a prioridade dada ao projeto já era notória. E mais: o presidente recebeu votação esmagadora na reeleição exatamente nos Estados do Nordeste, onde vai se dar essa importante intervenção.

Lembro ainda que, por ordem do presidente, o ministro Ciro Gomes agendou uma rodada de discussões com Dom Luiz , como parte do acordo para acabar com sua primeira greve de fome. Mas Dom Luiz não compareceu. Foi ele que não quis discutir.

O bispo escreve e repete que 70% da água transposta vai para uso industrial, 26% para uso agrícola e 4% para a população difusa. Isso provaria que o projeto foi feito para servir grandes empreendimentos agropecuários e industriais. Mas a verdade é que as águas vão perenizar os mesmos rios e abastecer exatamente os mesmos sistemas municipais, açudes e sabespes, atualmente em operação, e que já sofrem crises periódicas de abastecimento mesmo na ausência de secas.

Não encontrei no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) os números do bispo, por mais que procurasse. Encontrei, sim, este trecho: “A demanda urbana das áreas que serão beneficiadas pelo empreendimento foi avaliada em aproximadamente 38 metros cúbicos por segundo no ano de 2025. Desse total, cerca de 24 metros cúbicos por segundo correspondem ao consumo humano e 14 metros cúbicos à demanda industrial”. Portanto, pelo menos em relação à proporção demanda humana-demanda industrial, o bispo está errado. Diz ainda o Rima: “o projeto foi planejado procurando atender o maior número de pessoas possível”.

Confira em www.mi.gov.br/saofrancisco/integracao/rima.asp

A adutora não foi feita para abastecer nenhum projeto especifico de agrobusiness ou industrial; ela reforça as adutoras e açudes já existentes, dando ao Nordeste uma perspectiva de longo prazo de desenvolvimento econômico, urbano, agrícola. O bispo não menciona quais seriam esses projetos gigantes. Procurei exaustivamente e acabei encontrando a origem da desinformação: um documento da Comissão Pastoral da Terra, hoje a principal produtora de falácias contra o projeto, ao ponto de desbancar a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que não admitia perder uma gota do rio que aciona seus geradores em Paulo Afonso.

A CPT alega que a adutora “vai servir para a siderúrgica do Pecém, vai servir para a agroindústria do Apodi”. Ora, a siderurgia do Pecém fica próxima ao litoral, no Ceará, distante centenas de quilômetros do ramo Norte do projeto, que mal entra no Ceará, desviando-se em direção à Paraíba e ao Rio Grande do Norte, depois de reforçar o Riacho dos Porcos. Desse riacho até Pecém são centenas de quilômetros de rios que até mudam de nome e passam por açudes diversos. Não tem nada a ver com a siderúrgica, que já tem abastecimento local assegurado de 2 metros cúbicos por segundo, para um consumo de apenas 1,73 metros cúbicos por segundo.

Esses dados foram admitidos pela Agência Brasil de Fato, do MST (http://www.brasildefato.com.br/). Como contradizem o argumento da CPT, a agência alega que, no futuro, quando outras indústrias forem atraídas pela siderúrgica, “caso o complexo prospere, a demanda de água superará a oferta atual”. Notem o ato falho na utilização da palavra “prospere”. Eles não querem que nada prospere. Também omitem que a siderúrgica vai produzir placas grossas, para exportação, e não as placas finas que atrairiam empresas metalúrgicas de processamento.

Mais falacioso ainda é chamar a agricultura de Apodi de agrobusiness, ao modo de um palavrão que desclassifica tudo. Apodi é uma história de sucesso e exuberância agrícola e grande diversidade de produção e formas de propriedade. Ali cresce, graças à Embrapa, a mais produtiva variedade de acerola. Ali o governo federal está implantando um projeto específico de financiamento da agricultura familiar. Ali existem seis assentamentos agrícolas e três cooperativas de produtores. Ali o governo instalou também um projeto de três minifábricas familiares para o processamento da castanha do caju, e um outro que vai beneficiar 400 pequenos produtores de mel. Um único projeto de irrigação em andamento no Apodi, com água pressurizada, vai atender a mais de 200 agricultores.

Todas essas falácias e mais algumas foram inventadas pela CPT depois que se desmoralizou o argumento principal anterior de que a adutora ia secar o Rio São Francisco. Ocorre que, em julho de 2004, depois de intensos debates técnicos, o governo inverteu a lógica do antigo projeto pelo qual as águas do São Francisco seriam transpostas para os sistemas do semi-árido sempre que seus açudes estivessem baixos, sem levar em conta o nível da represa de Sobradinho. Ficou decidido que será retirada uma quantidade mínima para garantir o consumo humano, e só quando Sobradinho tiver excesso de água, a captação será maior. Na sua nova formulação são retirados 26,4 metros cúbicos por segundo, cerca de 1% da vazão no local da captação, e somente quando Sobradinho estiver vertendo, ou seja, botando fora excesso de água, a captação pode aumentar, mesmo assim até o limite de 87,9 metros cúbicos. O Rima estima que, na média anual, a perda do rio vai ficar em 65 metros cúbicos por segundo.

Mas no sertão beneficiado o ganho é muito maior porque, ao eliminar a insegurança, a adutora diminui a necessidade de armazenamento dos açudes existentes, reduzindo as perdas por evaporação de seus espelhos de água em 22,5 metros cúbicos por segundo. É um efeito de “sinergismo, que, segundo o Rima, nunca existiu antes em projetos de adutoras. Por tudo isso, a nota técnica 492 da Agência Nacional de Águas (ANA), de setembro de 2004, avalizou o projeto (http://www.ana.gov.br/). Um ano depois a ANA concedeu ao Ministério da Integração a outorga definitiva para o uso dessas quantidades, através das resoluções 411 e 412. Está tudo na internet. Aliás, o portal do Ministério do Meio Ambiente, que abriga a maioria dessas informações, é muito abrangente.

Sem o argumento de que o rio vai secar, os padres passaram a argumentar que há um outro projeto, o Átlas do Nordeste, elaborado pela ANA, mais barato, custando apenas R$ 3,6 bilhões, metade do custo do São Francisco, e beneficiando três vezes mais gente, 44 milhões. É tudo falso, no atacado e no varejo. Ou um “equívoco”, como diz educadamente o presidente da ANA, José Machado: “Em primeiro lugar o Átlas não pode ser considerado um programa ou projeto. É, na verdade, um portfólio de eficientes soluções técnicas para serem eventualmente financiadas. Não visou equacionar o problema da segurança hídrica do Nordeste, uma vez que não se tratou do atendimento de usos múltiplos da água, como a produção de alimentos e irrigação. Também não foi considerado o abastecimento das sedes municipais com menos de cinco mil habitantes, dos distritos, vilas e núcleos rurais. Por outro lado, o projeto de Integração do São Francisco com as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) é um projeto de desenvolvimento regional com perspectiva de conseguir benefícios que se estendam para além de 2025. O Átlas e o PISF são, pois, iniciativas distintas, em sua gênese, seus objetivos e em sua área de abrangência. Não são conflitantes”.

Apenas um quinto dessas soluções técnicas já tinha projetos, mesmo assim abandonados. O Átlas é um mapeamento do que prefeitos deveriam ter feito e não fizeram. Mostra que é assustador o número de municípios com mais de cinco mil habitantes em situação crítica de abastecimento de água: 90% deles em Alagoas, 81% no Ceará, 65% no Rio Grande do Norte e assim por diante. O motivo é simples: é o controle da maioria dessas prefeituras por grupos locais de interesse, fazendeiros e forças conservadores ou prefeitos corruptos. Além disso, abarca apenas metade dos 2116 municípios dos dez Estados analisados, os que têm mais de cinco mil habitantes. Portanto, é o oposto do argumento dos bispos, de que suas soluções atendem aos pequenos, enquanto a transposição atende aos grandes. É falso também que beneficiariam 44 milhões de habitantes. Essa é população total da região e não a população específica dos municípios mapeados.

Outro argumento falacioso é o de que o governo preferiu o grande para favorecer as empreiteiras e, por isso, abandonou o projeto das cisternas. Trata-se da falácia da falsa premissa. Não é verdade que o governo preteriu o projeto das cisternas. O governo apoiou com entusiasmo desde o início a proposta da Articulação do Semi-árido, que reúne 700 ONGs, incluindo-a no seu programa de Combate à Fome. Foi criada uma entidade especial para gerir o programa, que recebe recursos do governo e de empresas privadas. Lula inaugurou a primeira cisterna, justamente para dar força ao projeto. Trata-se de um projeto sofisticado, em que os moradores mesmo constroem as cisternas, recebendo treinamento e suporte de uma rede de ONGs. Quando as ONGs, para as quais foram repassados os recursos, se revelaram vagarosas demais, o governo entrou de sola para acelerar o programa, e no último mês de julho o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome lançou o edital 13/07, oferecendo mais R$ 10 milhões a entidades que queiram entrar no programa. A meta de construir um milhão de cisternas está em pé. Já foram construídas 220 mil. Cada cisterna consegue armazenar pelo menos 10.500 litros de água, o suficiente para necessidades básicas de uma família de cinco pessoas. Mas não o bastante para uso agrícola, mesmo no caso da agricultura de subsistência. As cisternas são a solução para água de beber, de banho, de cozinhar e lavar em residências isoladas, esparsas, na área rural, onde os sistemas municipais de abastecimento não chegam. Não podem ser construídas nas cidades. Um projeto complementa de forma ideal o outro.

Nos últimos documentos da CNBB, em textos de Frei Betto, de Leonardo Boff e outros, surgiu um novo argumento, o de que o projeto “não vai levar água aos índios e quilombolas”. Tanto quilombos quanto aldeamentos indígenas por definição se situam em regiões isoladas, mas com boa oferta de água. Foram os locais onde se fixaram, fugindo dos bandeirantes assassinos e capitães de mato. A esses locais o Luz para Todos está levando eletricidade, que não havia. Mas água já tem.Os padres também alegam que o projeto é pleno de ilegalidades. É bem o contrário. Seus opositores é que vêm se valendo de truques legalísticos, para obstar projetos que passaram por todos os crivos técnicos das agências reguladoras e todos as votações de comitês de bacias. Entram na Justiça com pedidos de liminares, sabendo que justiça vai demorar anos para entrar no mérito. Sempre que o mérito é julgado, o projeto é aprovado. Além disso, ambientalistas têm impedido o fechamento de atas de audiências públicas à força. Várias das audiências do São Francisco foram interrompidas à força. Eu pergunto: de que lado está o autoritarismo?

Termino perguntando: será que, por trás dessa campanha contra a adutora do São Francisco, não está o ressentimento pela perda do rebanho dos pobres, que hoje tem um cartão Bolsa Família? Ou dos pobres que se libertariam da opressão da falta de água no Nordeste? Ou será que estamos testemunhando o enquadramento da Igreja de Libertação na encíclica Spe Salvi , lançada pelo papa e ex-corregedor da fé, Ratzinger, o mesmo que pediu a expulsão de Leonardo Boff da Igreja? Essa encíclica reafirma a renúncia à libertação terrena em nome de uma salvação na dor e na morte. Além de lembrar vivamente a tragédia de Dom Luiz, é imobilista e reacionária. Deixa o campo da história para as forças conservadoras deitarem e rolarem, impedindo a Igreja de Libertação de disputá-lo com um projeto secular de transformação social.

Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).

Fonte: Carta Maior

Bernardo Kucinski critica D. Luiz Cappio

Foto: Marcos Zanutto - Bernardo Kucinski
Cáspite! Por um momento de leseira deixei de ler Carta Maior. Por pouco me escapou a crítica feita pelo jornalista Bernardo Kucinski ao bispo D. Luiz Cappio. A bem da verdade, quem me chamou atenção foi o meu amigo Falcão Vasconcelos, geógrafo, professor da UFU, para um outro texto definitivo, mais denso, sobre a transposição do rio São Francisco, escrito pelo mesmo jornalista, um dos mais respeitados entre seus pares. Ambos foram publicados pela Carta Maior. Vamos ao primeiro.

11/12/2007

DEBATE ABERTO

O bispo de Barra quer morrer

O que pode explicar a atitude de Dom Luiz Cappio, ao fazer uma segunda greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco? Um bispo é um quadro político, um “general da Igreja”, não age por acaso nem por impulsos repentinos.

Bernardo Kucinski

Dom Luiz vai morrer. Na primeira greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, ele ainda falava em negociação. Agora não propõe negociar nada. Exige que o Exército abandone o canteiro de obras e o projeto seja arquivado. Diz que, se não for assim, vai até o fim na sua greve de fome, que já dura 13 dias. O fim é a morte por inanição. É obvio que o que ele quer mesmo é morrer.

Um bispo não é um religioso qualquer, um ingênuo tomado pela crendice. É um quadro dirigente. Superou etapas formativas e seletivas, chegando ao topo da hierarquia católica. Estudou os clássicos. Sabe latim, grego e talvez até hebraico. Leu São Tomás de Aquino. Conhece filosofia; teoria política. É um general da Igreja. Seu gesto é o equivalente clerical do “pronunciamento” militar.

Dom Luiz deve saber que nenhum governo pode abandonar seu principal projeto de desenvolvimento regional. Deve saber também o que é um Estado laico. E o que é democracia. Que um governo democrático não pode ceder à chantagem, nem querendo. Se Dom Luiz sabe de tudo isso, o que busca ele com o auto-sacrifício?

Esse é o grande enigma. Um denso mistério que provavelmente irá para debaixo da terra junto com seu corpo.

Podemos apenas especular.

Será que através do martírio extremo ele busca a glória pessoal? Talvez até a beatificação? Nesse fim de semana eram esperadas mais de dez mil pessoas em romaria ao bispo. Imaginem depois de morto? Certamente vai ser erguido ali um santuário. E ele vai virar um santo. Santo Cappio. Um novo Padim Cícero do Sertão. Mas não pode ser isso. Um bispo tem estrutura mental e autodisciplina para não se deixar levar pela soberba.

Talvez Dom Luiz queira, com sua morte, dar sentido a um bispado que já não tinha vida. Hoje Barra é uma cidade morta. Já foi um florescente centro mercantil, ao qual aportavam barcos plenos de mercadorias oriundas de todo o sertão. Enfim, já foi um BISPADO de verdade, o promissor Bispado de Barra. Só que o bispado morreu, com o definhamento do próprio rio.

A decadência de Barra não tem nada a ver com o projeto de transposição de águas do São Francisco. Tem a ver com o que aconteceu antes, com os quatro séculos de depredação das margens do rio, o assoreamento e o declínio mercantil do Porto de Barra. Em todo o país, antigos portos fluviais foram abandonados. Armazéns e casarões decorados com azulejos portugueses são hoje ruínas ou centros recuperados de turismo.

Aconteceu no delta do Parnaíba, no estuário do Amazonas, em Belém do Pará, no Rio Guaíba, em Porto Alegre. Aconteceu em Barra.

A diferença é que o Rio São Francisco ganhou um projeto que, com a transposição de uma pequena fração de suas águas, poderá transformar o cenário de toda uma região, hoje miserável. E revitalizar o próprio rio, recuperando matas ancilares e canalizando esgotos de cidades ribeirinhas. Não colide com as ações pontuais e caridosas da Igreja, nem com o projeto do governo de construção de um milhão de cisternas, mas vai muito além.

A Igreja não acredita na salvação em terra, em mudar a realidade. Tudo é destino. Transformações profundas como as embutidas no projeto do São Francisco violam o desígnios de Deus. Violam o estado da natureza, o curso natural das águas. Violam o ecossistema, dizem os ambientalistas, usando outra linguagem, mas defendendo o mesmo imobilismo. O criacionismo os une. Deus criou o mundo em seis dias. Não cabe ao homem mudá-lo. Além disso, o projeto não devolverá à Barra a glória perdida. Não vai reviver o bispado. O bispado está morto e acabado. O que o projeto pode dar a Dom Luiz é a oportunidade de uma morte em Cristo. O martírio extremo, que redime os pecados ainda em vida. Não é pouca coisa.

O que o bispo busca é a expiação de suas culpas ainda em vida. Inclusive a culpa por não ter morrido na greve de fome anterior. Na culpa, está a essência da fé católica, assim como da fé judaica. Judeus e católicos já nascemos culpados. Culpados de quê? De tudo. Do pecado de Adão. Do pecado de Caim. Da venda de José aos mercadores egípcios pelos seus próprios irmãos. Da libertinagem em Sodoma e Gomorra. Da adoração do Bezerro de ouro pelos seguidores de Moisés. Da crucificação de Cristo. Todos os grandes mitos da bíblia são construídos em torno do pecado.

E tem mais. Tem a culpa por deixarmos que fosse destruído o Segundo Templo. Pelos pogroms. Pelo massacre dos Incas e Aztecas e o saque de suas riquezas. Pela Santa Inquisição, que em nome da fé perseguiu, torturou e matou nas fogueiras milhares de cristãos novos. Pela escravização dos negros. Pelo apoio de Pio XII aos nazistas, ao General Franco e aos genocidas croatas. Pela mãozinha dos bispos católicos aos torturadores militares argentinos e chilenos. Pela pedofilia. Pela ostentação da Santa Madre Igreja.

E mais ainda: a culpa por termos sobrevivido à ditadura, enquanto tantos dos nossos morreram. Por estarmos vivos. Pelo aquecimento global. Pelos crimes do estalinismo e do Khmer Rouge. Pelo massacre de Ruanda. Pela miséria e a prostituição infantil. Pelo neoliberalismo. Culpas não nos faltam, assim como não faltam ao bispo de Barra. A diferença é que Dom Luiz descobriu como as expiar ainda em vida.

Paradoxalmente, Dom Luiz cometerá um último pecado no momento exato em que seu derradeiro suspiro o redima das culpas anteriores: o pecado de tirar a própria vida.

A vida nos foi dada por Deus e só Ele pode tirá-la.

Que Deus o perdôe, assim como perdoará os emuladores de seu auto-sacrifício: o MST, a CPT, o Cimi, certos políticos e alguns jornalistas, tanto da grande imprensa quanto da alternativa. Eles não sabem o que fazem.

Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).

Carta de D. Luiz Cappio

Margem do rio São Francisco


Advento do Senhor
Escrito por D. Luiz Flávio Cappio
21-Dez-2007


Aos meus irmãos e irmãs do São Francisco, do Nordeste e do Brasil

Paz e Bem!

Sobradinho, 20 de dezembro de 2007

“Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus: é Ele que vem para nos salvar’. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. (Isaías 35, 3-6)

No dia de ontem completei 36 anos de sacerdócio – 36 anos a serviço dos favelados de Petrópolis (RJ), dos trabalhadores da periferia de São Paulo e do povo dos sertões sem-fim do nordeste brasileiro. Ontem, vimos com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário. Ontem, quando minhas forças faltaram, recebi o socorro dos que me acompanham nesses longos e sofridos dias.

Mas nossa luta continua e está firmada no fundamento que a tudo sustenta: a fé no Deus da vida e na ação organizada dos pobres. Nossa luta maior é garantir a vida do rio São Francisco e de seu povo, garantir acesso à água e ao verdadeiro desenvolvimento para o conjunto das populações de todo o semi-árido, não só uma parte dele. Isso vale uma vida e sou feliz por me dedicar a esta causa, como parte de minha entrega ao Deus da Vida, à Água Viva que é Jesus e que se dá àqueles que vivem massacrados pelas estruturas que geram a opressão e a morte.

Uma de nossas grandes alegrias neste período foi ter visto o povo se levantando e reacendendo em seu coração a consciência da força da união, crianças e jovens cantando cantos de esperança e gritos de ordem com braços erguidos e olhos mirando o futuro que almejamos para o nosso Brasil querido. Um futuro onde todos, todos sem exceção de ninguém, tenham pão para comer, água para beber, terra para trabalhar, dignidade e cidadania.

Recebi com amor e respeito a solidariedade de cada um, próximo ou distante. Recebi com alegria a solidariedade de meus irmãos bispos, padres e pastores, que manifestaram de forma tão fraterna a sua compreensão sobre a gravidade do momento que vivemos. Através do seu posicionamento corajoso, a CNBB nos devolveu a esperança de vê-la voltar a ser o que sempre foi em seus tempos áureos: fiel a Jesus e seu Evangelho, uma instituição voltada às grandes causas do Brasil e do seu povo e com uma postura clara e determinada na defesa da dignidade da pessoa humana e de seus direitos inalienáveis, principalmente se posicionando do lado dos pobres e marginalizados desse país.

Ouvi com profundo respeito o apelo de meus familiares, amigos e das irmãs e irmãos de luta que me acompanham e que sempre me quiseram vivo e lutando pela vida. Lutando contra a destruição de nossa biodiversidade, de nossos rios, de nossa gente e contra a arrogância dos que querem transformar tudo em mercadoria e moeda de troca. Neste grande mutirão formado a partir de Sobradinho, vivemos um momento ímpar de intensa comunhão e exercício de solidariedade.

Depois desses 24 dias encerro meu jejum, mas não a minha luta que é também de vocês, que é nossa. Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer nossa mobilização. Até derrotarmos este projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco. É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho que eu encerro meu jejum. Sei que conto com vocês e vocês contam comigo para continuarmos nossa batalha para que “todos tenham vida e tenham vida em abundância”.

Dom Luiz Flávio Cappio

Fonte: Carta Maior

MST faz balanço de 2007

Ano V - nº 147
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007.
Estimado amigo e amiga do MST,

O ano de 2007 vai chegando ao fim e por isso gostaríamos de socializar com você um balanço político da nossa luta. Queremos prestar contas do que fizemos na nossa trincheira, que é a luta pela Reforma Agrária. Queremos compartilhar com nossos companheiros e companheiras, que militam em outras trincheiras, o que fizemos nesse período, e ao mesmo tempo, reafirmar nosso compromisso na luta pela transformação desta sociedade.

Acreditamos que o ano de 2007 foi importante para a organização da nossa militância, na luta pela Reforma Agrária e também pelas lutas gerais que travamos em alianças com diversos outros movimentos do campo e da cidade. O ano também foi importante para que pudéssemos amadurecer nosso entendimento de que não é possível fazer Reforma Agrária se não derrotarmos o agronegócio. A realização de nosso 5° Congresso Nacional, com mais de 17 mil delegados de todo país, foi fundamental para construirmos a unidade na análise da realidade agrária e na construção de uma nova proposta de Reforma Agrária Popular.

Nos últimos anos houve uma ofensiva das transnacionais sobre a agricultura para controlar terra, sementes, água, solo, enfim, nosso território e nossos recursos naturais. Essa ofensiva ainda é fruto do avanço do neoliberalismo que se instalou no país no início da década de 1990. A correlação de forças mudou. Nossos inimigos ficaram mais fortes. Antes nós estávamos acostumados a brigar contra o latifúndio. Agora nossos inimigos são os latifúndios improdutivos, as empresas transnacionais que querem dominar a agricultura e o agronegócio. Essa avaliação nos levou a compreender que a Reforma Agrária só irá avançar se derrotarmos o neoliberalismo.

Nossas Lutas

Começamos o ano com uma grande mobilização que marcou o 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Em vários estados mulheres trabalhadoras rurais se organizaram em luta por Soberania Alimentar e Contra o Agronegócio. Em São Paulo, as mulheres da Via Campesina ocuparam a Usina Cevasa, agora controlada pela estadunidense Cargill, e em outros estados foram ocupadas áreas da Aracruz Celulose, da Stora Enso e da Boise.Em abril, realizamos uma grande Jornada de Luta pela Reforma Agrária. Foram feitas marchas, ocupações de latifúndios improdutivos, protestos em prédios públicos, fechamento de praças de pedágios e de estradas em 24 estados, onde estamos organizados. A jornada também cobrou punição aos assassinos dos 19 Sem Terra executados em abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (PA). E seguimos em mobilização no mês de maio, quando nos reunimos aos movimentos populares urbanos e centrais sindicais para realizar a jornada unificada do dia 23. “Nenhum Direito a Menos”, contra as reformas neoliberais, a retira de direitos dos trabalhadores e a política econômica do governo Lula.

No segundo semestre também realizamos atos e ocupações no Dia do Trabalhador Rural, celebrado no dia 25 de julho, quando ocupamos a fazenda Boa Vista, em Alagoas, de propriedade da família Calheiros. Fizemos a Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública (realizada em agosto), junto com os estudantes para cobrar acesso às universidades, e participamos da Campanha “A VALE é Nossa”, que teve como ponto alto a realização do plebiscito popular, em setembro. Foram 3.729.538 de brasileiros que participaram, dos quais 94,5% votaram que a VALE não deveria continuar nas mãos do capital privado.

Ocupações e marchas seguiram pelos meses de setembro e outubro, em quase todos os estados, para denunciar o abandono em que se encontra a agricultura familiar e a Reforma Agrária. No Rio Grande do Sul, três colunas de trabalhadores e trabalhadoras marcharam por 62 dias rumo ao grande latifúndio – Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul, para cobrar a desapropriação da área para a Reforma Agrária. E fechamos o ano com as ocupações das sedes da empresa suíça Syngenta Seeds, em vários estados, e com a ocupação da Estrada de Ferro Carajás, da VALE, no estado do Pará.

Não podemos nos calar ao lembrarmos com saudade os companheiros e companheiras que pagaram com a própria vida o direito de lutar. É o caso de Valmir Mota de Oliveira (Keno), executado a sangue frio no dia 21 de outubro, por uma milícia armada contratada pela transnacional Syngenta, em Santa Teresa do Oeste, no Paraná. Perdemos também outros companheiros e companheiras como Maria Salete Ribeiro Moreno (MA), Cirilo de Oliveira Neto (RN), Dênis Santana de Souza (PE), para citar alguns.

Prioridade na Educação

Em 2007 seguimos investindo em educação e formação. Nossa Campanha Nacional de Solidariedade às Bibliotecas do MST arrecadou mais de 220 mil exemplares de livros! Estamos orgulhosos pelo apoio recebido de muitos parceiros, intelectuais e amigos, que se dispuseram não só a doar os livros, mas também a divulgar nossas idéias. Também temos orgulho dos nossos 2.500 jovens camponeses que estão fazendo graduação em universidades e dos nossos 240 jovens que foram estudar medicina na Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), em Cuba. Também nos orgulhamos do crescimento da Escola Nacional Florestan Fernandes, como um patrimônio, não só para a formação do MST, mas como local de formação de toda a classe trabalhadora.

O ano foi de lutas e se encerra com nosso apoio ao ato do Frei Dom Luiz Cappio, que durante 24 dias permaneceu em greve de fome contra o projeto de transposição do rio São Francisco. Precisamos fortalecer a trincheira da luta contra a transformação de nossos recursos naturais e de nossos bens mais valiosos, como a água, em mercadoria. Apesar da intransigência do governo em abrir o diálogo, concordamos com frei Cappio quando ele diz que “uma de nossas grandes alegrias neste período foi ter visto o povo se levantando e reacendendo em seu coração a consciência da força da união”.

Sabemos que o próximo ano não será fácil, assim como 2007 não foi. Sabemos que a disputa entre os dois projetos de agricultura vai se acirrar ainda mais. Porque no modelo do agronegócio e das transnacionais não há lugar para os camponeses nem para o povo brasileiro. Eles querem uma agricultura sem agricultores! Por isso seguimos nossa luta contra o agronegócio, pela ampliação da desapropriação de terras para a Reforma Agrária, contra as sementes transgênicas, contra o domínio do capital estrangeiro sobre a agroenergia, contra a expansão da cana e do eucalipto. Lutaremos para impedir o avanço da propriedade estrangeira, que vem dominando nosso território. Em todas essas lutas esperamos encontrar você que sempre nos apoiou.

Um ótimo ano de 2008 para todos (as) nós com muita luta e muitas vitórias!
Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular!


Secretaria Nacional do MST

D. Cappio e as alternativas populares

D. Luiz Cappio
D. Cappio e as alternativas populares
Escrito por Antonio Julio de Menezes Neto
21-Dez-2007


O BIRD divulgou novos dados em que o Brasil aparece com o sexto maior PIB do mundo, ao lado de países como a Inglaterra, a França, a Rússia e a Itália. Perde para os EUA, a China, o Japão, a Alemanha e a Índia. Esta notícia deveria nos levar a uma reflexão acerca de “que país queremos”, indo além do debate sobre a nossa triste distribuição de renda e da concentração do PIB nas mãos de alguns enquanto a grande massa vive de bolsa-família. Pois estas discussões, muitas vezes, pregam a melhor distribuição de renda apenas como um direito de todos entrarem no “sagrado reino” da mercadoria e do consumismo. Quero ir além e discutir qual o sentido produção de tantas mercadorias. Também quero questionar o quê estamos produzindo, para quê e, finalmente, para quem.

No mundo capitalista o ser humano torna-se escravo da mercadoria. Assim, se produzimos muito e vendemos muito, o PIB cresce, o emprego aumenta, os impostos avolumam e por aí vai. Para tanto, produzimos por produzir, produzimos para vender. Não existe planejamento das necessidades e a população não é consultada acerca do que deve ser priorizado. Somos apenas induzidos a irmos ao mercado adquirir as mercadorias que foram produzidas por outros e das quais somos alienados. Ou seja, somos conseqüência da produção e circulação das mercadorias. Mas será que não estaria na hora de questionarmos este modelo e exigirmos debater o que produzimos, o que necessitamos e o que queremos?

Faço estas reflexões para questionar este sistema e para apoiar a luta de um bispo. Sim, a luta de Dom Cappio no seu jejum tem muito a ver com esta discussão. Pois Luiz Cappio luta contra este modelo de “desenvolvimento e progresso” simbolizada pela mega-obra de transposição do rio São Francisco para desenvolver o hidro/agronegócio e favorecer grandes empreiteiras. Possivelmente, os defensores desta lógica achem que, desta maneira, criaria-se emprego na construção da obra, nas futuras atividades agronegociais, no comércio, etc. Ou seja, a mesma lógica capitalista que poucos frutos sociais carrega.

Mas, diante deste modelo, o governo está conhecendo, talvez pela primeira vez, a oposição popular organizada. Diversos movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o MST, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Central dos Movimentos Populares, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia ou movimentos religiosos, como as diversas Pastorais, a CPT, o CIMI, dentre muitos outros, estão manifestando apoio ao bispo e propondo um outro modelo de desenvolvimento. Um bispo está levando a que o governo Lula e seu modelo de desenvolvimento capitalista sejam questionados pela base.

Mas qual seria este “outro” modelo de desenvolvimento? Em primeiro lugar, não viria de cima para baixo e nem viria para atender interesses de grandes empresas. As necessidades seriam discutidas e debatidas com as populações envolvidas e interessadas. Em segundo lugar, a extensão ou tamanho da obra não seria prioritário apenas porque renderia frutos políticos ou envolveria muito dinheiro. Às vezes, soluções menores e mais equilibradas podem apresentar melhores resultados sociais. Em terceiro lugar, a relação ser humano/natureza seria levado em conta como fator de qualidade de vida. Em quarto lugar, as obras poderiam ser desconcentradas, permitindo um controle social mais amplo. Em quinto lugar, o ser humano seria a prioridade. Esclareça-se que este novo modelo não seria sinônimo de “tecnologia atrasada”. Pelo contrário, teríamos o compromisso de usar a ciência e a tecnologia de ponta para desenvolver este modelo e não o modelo capitalista de grandes e concentradas obras.

Neste sentido, seria indiferente o lugar que ocupássemos no ranking do PIB, mas certamente construiríamos uma sociedade mais justa, equilibrada e feliz, como, tenho certeza, deseja o Bispo Luiz Cappio.

Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo, doutor em educação e professor na UFMG.
antoniojulio@uai.com.br

Fonte: Correio da Cidadania

Condomínio poético

"Hmmm! Massa!", declarou Drummond ao saber da existência do Condomínio Poético.
Condomínio Poético é um projeto aberto de intervenção urbana/site specific que utiliza poemas em grande formato, apropriando-se da linguagem publicitária e propondo uma poesia não só para ler, mas também para olhar. Intentamos que a poesia saia de seu “papel” tradicional, o livro e procure a parede, dizendo-se do mesmo modo e de outra maneira: “a poesia tem vida própria/imita a publicidade/bebe do design gráfico/o poema que surge no indoor da galeria pede mais/pede a rua - seu futuro é outdoor…” Expoesia-Dez/2006.

Baseado nisso é que nós do Coletivo Madeirista convidamos você para participar desse projeto enviando um texto poético, para, juntos, ocuparmos os vazios cinzentos da cidade e encher o mundo com poesia.

Regulamento:


1) Poderão participar desse projeto todas as pessoas de qualquer parte do mundo;

2) Os trabalhos deverão ser originais, assumindo o participante a responsabilidade pelos direitos autorais;

3) É recomendável que os textos sejam curtos (máximo 10 linhas);

4) Não há limite de participação, você pode enviar quantos trabalhos quiser, mas todos os trabalhos recebidos passarão por uma comissão de seleção que poderá aceitar ou recusar qualquer texto, avaliando-o quanto aos critérios de inteligência, ironia e humor, sem levar em conta o estilo;

5) Para participar do projeto você deve preencher todos os itens da ficha de inscrição e enviá-la por meio eletrônico ao endereço: condominiopoetico@gmail.com

6) Todos os textos aqui postados e/ou submetidos à curadoria desse projeto estão sob a licença Creative Commons podendo ser replicados em qualquer parte do mundo por qualquer participante do projeto, sem fins lucrativos.

7)A participação nesse projeto, pressupõe a concordância com todos os itens deste regulamento.

ficha_condominio_poetico4.doc

*dentre os poemas selecionados que participarem do projeto, alguns poderão ser convidados a participar da antologia impressa que leva o mesmo nome.

**a seleção será comunicada por e-mail

en español:

El “Condominio Poético” es un proyecto abierto de intervention urbana/site especific qué usa poemas en gran formato, apropiándose de la linguage publicitaria y propone no sólo una poesía para leer, pero también para mirar. Nosotros intentamos que la poesía deje suyo tradicional “papel”, el libro y busca la pared, diciéndose de la misma manera y de otra manera: “la poesía tiene vida propia/ imita la publicidad/bebe del plan gráfico/el poema surge en el interior de la galería/pide la calle - su futuro es outdoor…”Expoesia-Dez/2006.

Basado en eso, nosotros del Colectivo Madeirista le invitamos a participar de ese proyecto enviándonos un texto poético, para, juntos ocuparmos los vacíos grises de la ciudad y llenar el mundo con poesía.

Bases:

1) Pueden participar de ese proyecto todas las personas de cualquier parte del mundo;

2) Los trabajos deben ser originales y el participante debe asumir la responsabilidad por los derechos autorales de la obra;
3) Es aconsejable que los textos sean cortos (máximo 10 líneas);

4) No hay ningún límite de participación, usted puede enviar cuántos trabajos quiera, pero todos los trabajos recibidos pasarán por una comisión de selección que puede aceptar o negar cualquier texto, evaluándolo según los criterios de inteligencia, ironía y humor, sin llevar en cuenta el estilo;

5) Para participar en el proyecto, usted debe llenar ese formulario de registro y enviarlo a la direccción electrónica: condominiopoetico@gmail.com

6) Todos los textos sometidos a la curadoría de ese proyecto están bajo la licencia Creative Commons y se puede replicarlos en cualquier parte del mundo por cualquier participante del proyecto, sin ánimo de lucro.

7) La participación en ese proyecto, presupone el acuerdo con todos los artículos de estas bases.

ficha_condominio_poetico_es2.doc

* dentre los poemas seleccionados que participen en el proyecto, algunos pueden ser invitados a participar en la antología impresa que toma el mismo nombre.

* * la selección habrá de comunicarse por e-mail

Ontem, hoje e sempre: a velha e boa mobilização


A Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos (Aborda) brinda os brasileiros com a bela poesia Vai, Ano Velho, de Afonso Romano de Sant'Ana neste final de ano. Quanto a mim, desejo a todos os companheiros de lutas e ideais que ampliem, cotidianamente, a velha e boa mobilização. Contem com este blogueiro.

VAI, ANO VELHO
Afonso Romano de Sant'Ana

Vai, ano velho, vai de vez,
vai com tuas dívidas
e dúvidas, vai, a dobra a ex-
quina da sorte, e no trinta e um,
à meia-noite, esgota o copo
e a culpa do que nem lembro,
e me cravou entre janeiro e dezembro.

Vai, e leva tudo: destroços,
ossos, fotos de presidentes,
beijos de atrizes, enchentes,
secas, suspiros, jornais.
Vaderetrum, pra trás,
leva pra escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
Não quero te ver mais,
só daqui a anos, no anais,
nas fotos do nunca-mais.

Vem, Ano Novo, vem veloz,
vem em quadrigas, aladas, antigas
ou jatos de luz moderna, vem,
paira, desce, habita em nós,
vem com cavalhadas, folias, reisados,
fitas multicores, rebecas,
vem com uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia,
e, pr um instante, estanca
o verso real, perverso,
e sacia em nós a fome
-de utopia.

Vem na areia da ampulheta como a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
trasemente ou pérola
na casca da ostra
como se
se
outra se-
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como o ovo
o Sol a gema do Ano Novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

Adeus, tristeza: a vida
é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
Agora
é recomeçar.
A utopia é urgente.
Entre flores de urânio
é permitido sonhar.

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dezembro 24, 2007

Morre Oscar Peterson, aos 82 anos, em Toronto

Foto: Jean-Bernard Sieber - ARC/Reuters - Oscar Peterson
Jazzófilos(as),

No nosso programa "Momentos de Jazz", logo mais (ontem, dia 23/12) a partir das 20h00 pela Rádio Amazonas Jazz FM - 101,5, daremos início a Retrospectiva Jazz 2007 no primeiro set. Na sequência, apresentarei em primeira-mão (bonus de Natal) o cd "The Four Freshmen - Voices in Standards" acompanhados por uma Big Band. Mas não é só isso, o Cd da Divina Sassy Sarah Vaughn e seu Trio ao vivo no Mr.Kelly's de Chicago que não era republicado há 20 anos será uma curtição ímpar, como também o repertório do cd que produzi e apresentei na última reunião do ano durante a Rave do Clube dos Discófilos Fanáticos que intitulei "Loved Ones" em homenagem as maravilhosas mulheres do jazz.

Você não perde por esperar o início do programa de hoje.

Enquanto seu lobo não vem, desejo a todos um Feliz Natal, um próspero 2008 com os pés no chão e a cabeça nas nuvens.

Até jazz!!!

Humberto Amorim

NOTA:
Ontem, perdi o programa do meu querido amigo Humberto Amorim. Lilian, minha irmã, que há trinta anos mora fora de Manaus, veio com Gabriel, meu sobrinho, passar o Natal conosco. O dia todo visitamos os irmãos, que nem todos os dias podem ir abraçá-la em Salvador, onde reside. Perder um programa do Humberto, ou do HDias, que às vezes o substitui, já é dureza. Mas perder Oscar Peterson, aí é demais para o meu coração musical. Hoje foi anunciada sua morte, que aconteceu no domingo, dia 23, na cidade de Toronto, aos 82 anos. Os jazzistas estão enlutados, e Humberto intimado a prestar-lhe urgente homenagem, o que estou certo irá acontecer no programa do próximo domingo. Descanse em paz, grande Oscar Peterson.

Leia Noite, de Clarice Casado, no PáginaDois

Na última semana, Clarice Casado falou sobre seu encontro com Verissimo em "Noite" na segunda, Melissa de Menezes percorreu a distância de um rio em "Galho da margem esquerda" na quarta e Cassiano Rodka nos apresentou a "O escritor sem a musa" na sexta.

Na terça, Fabiano Liporoni listou e comentou as melhores "Músicas de 2007" na seção de música.

Na quinta, Fabiano Liporoni sugou os vampiros do filme "30 Dias de Noite ou terror no cinema" na seção de cinema.

Nesta semana, teremos um texto literário de Clarice Casado na segunda, Elaine Santos na seção de música na terça, um texto literário de Marcella Marx na quarta, Moisés Westphalen na seção de cinema na quinta, um texto literário de Cassiano Rodka na sexta.

Boa leitura e um feliz Natal a todos!

Todos os dias tem novidade no PáginaDois!
http://www.paginadois.com.br/

Feliz Natal e Próspero Ano Novo

Crianças indígenas da nação yanomami
Para meus queridos amigos e leitores, lembro que, apesar do Natal não constar no calendário indígena, não custa nada lançar um olhar generoso para o futuro das populações indígenas, sem as quais nossas ciências continuarão a patinar quando o assunto é qualidade de vida. Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

Deco, neste Natal, incorpora um Charles Chaplin

Foto: Nivya Valente - Deoclecino Bentes Souza (Deco) e Rogelio Casado, Manaus-AM, 2005

Neste flagrante fotográfico, Deco discursa para os filiados da Associação Chico Inácio, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Amazonas, da qual foi presidente, por ocasião do lançamento do PICICA - Observatório dos Sobreviventes (atualmente, em fase de reformulação). Pela beleza da mensagem do estimado amigo, vale a transcrição.

*****
Feliz Natal

A obra do genial Charlie Chaplin, falecido ha 30 anos, guarda o mistério da eterna empatia com o público, que pode ser parcialmente explicada pelo amor que ele sempre demonstrou pelas pessoas falíveis, não-máquinas. O imortal Carlitos relembra-nos o que muitas vezes esquecemos de ser: respeitosamente humanos.

Desejamos a você um Natal especial como nenhum outro. E que, em 2008 você viva bem consigo mesmo e com seu semelhante.

Deocleciano

Augusto Boal indicado ao prêmio Nobel da Paz 2008

Augusto Boal e o Teatro do Oprimido

Se não fosse pela obra, Augusto Boal há muito mora em meu coração pela incrível semelhança com minha querida Tia Pátria, um dos ícones da Praça dos Remédios da morena Manaus, onde atuou como terapeuta popular e vendedora de tacacá nos anos 1940, 1950, 1960. Grande Augusto!!!
Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2007

AUGUSTO BOAL INDICADO AO PREMIO NOBEL DA PAZ 2008

caros amigos e caras amigas, envio para vocês uma excelente notícia para que possa ser repassada para os seus parceiros e aliados.

Augusto Boal foi pré-indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz 2008. Todos nós sabemos que será muito difícil ganhar, mas o simples fato de ser pré-indicado muito nos honra a todos, pois esse prêmio contempla o próprio método do teatro do oprimido, que é a obra maior de Boal, hoje extensamente praticado em mais de setenta países dos cinco continentes como pode ser verificado no site internacional http://www.theatreoftheoppressed.org/

Importante dizer que para que, esta indicação se torne realidade e AugustoBoal possa ser laureado com o Nobel da Paz 2008, é fundamental que este apoio se dê de forma prática, ou seja, até no próximo dia 31 de janeiro deve-se enviar uma carta pelo correio para o comitê norueguês (vide abaixo) escrevendo brevemente o motivo desta indicação e explicando quem está indicando, falando sobre sua entidade e/ou cargo que ocupa. As indicações podem ser feitas especialmente por professores universitários, entidades de direitos humanos e cultura, membros dos poderes legislativo, executivo e judiciário, entre outros. Se concordar, por favor, solicitamos que repasse esta mensagem para outros professores universitários e entidades. Qualquer dúvida, por favor, entre em contato conosco.

Endereço para onde deve ser enviada a carta pelo correio postal (não eletrônico).

The Norwegian Nobel Committee
Henrik Ibsens gate 51
NO-0255 OSLO
Norway
tel. - +47 22 129300 fax - + 4722 12 93 10

Todas entidades da saude mental e áreas afins podem mandar sua carta.

Grato.

Geo Britto mailto:geobritto@ctorio.org.br

CENTRO DO TEATRO DO OPRIMIDO

Av. Mem de Sá, 31 - Lapa - Centro
Rio de Janeiro. RJ. Brasil 20230-150
Tel/fax. 55-21-2232 5826 / 2215 0503. http://www.ctorio.org.br/

dezembro 19, 2007

Marcus Vinicius avisa

Michel Foucault

Com os votos de que Foucault ilumine nossas cabecinhas, analisemos o projeto do INSS para condutas médico-periciais no âmbito da psiquiatria. Amém!
AVISA LÁ, AVISA LÁ...

Caros Colegas,

Conforme anunciado e prometido durante o evento "Banalização da Interdição Judical no Brasil" realizado pelo CFP /Comissão de Direitos Humanos da Camara dos Deputados, o INSS esta promovendo a revisão das orientações para a "perícia psiquiátrica". Como esta atividade sempre esteve marcada por muitas distorções seria legal que todos pudessem baixar o arquivo e analisar, contribuindo com o aprimoramento do documento, bem como repassar para a turma da saúde do trabalhador.
Abaixo a nota da consulta pública com o link para o texto.

Marcus Vinicius de Oliveira

O PRESIDENTE DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL-INSS, no uso de suas atribuições legais, torna público o projeto Diretrizes Médico-periciais em Transtornos Mentais que dispõe sobre os transtornos mentais e as condutas médico-periciais no âmbito do INSS, quanto à avaliação da incapacidade laborativa dos segurados do Regime Geral de Previdência Social-RGPS, para fins de tomada de decisão com relação aos requerimentos dos benefícios de auxílio-doença apresentados ao Instituto.
www.previdencia.gov.br/docs/pdf/consulta-publica.pdf

dezembro 18, 2007

Tenório Telles encarna o espírito da Livraria Valer

Foto: Rogelio Casado - Tenório Telles, Manaus-AM, 15.12.2007
Sem Isaac Maciel a Editora Valer não teria se materializado. Sem Tenório Telles a Editora Valer não teria espírito próprio (sem nenhum demérito a quantos colaboraram para esse empreendimento). Entretanto, é preciso que se diga: a literatura amazonense deve muito ao espírito empreendedor desse jovem autor e editor amazonense. Tenório Telles mora no coração dos que sonham com uma outra sociedade, mais fraterna, mais justa e mais solidária; de uma sociedade que tenha no livro um instrumento a favor da manifestação da diversidade, do respeito à diferença e do exercício da tolerância; mas sobretudo na construção de um outro processo civilizatório. Querido amigo, receba meus cumprimentos com a emoção de quem reconhece a extraordinária relevância da sua obra inconclusa: a revitalização da literatura amazonense.

dezembro 17, 2007

Lucinha Cabral na festa da Editora Valer

Foto: Rogelio Casado - Lucinha Cabral, Manaus-AM, 15.12.2007
A cantora caboquinha Lucinha Cabral fez o fundo musical para a festa de 10 anos da Editora Valer. Fundo musical mesmo, porque tem uns bacanas que ainda não entenderam que quando Lucinha canta todas as vozes devem calar-se para ouvi-la. Nesse dia ela estava com a voz especialmente aveludada. Não é para menos. Antes de entrar no palco, Lucinha havia tomado um chá de ervas aromáticas, cultivadas pelos anões eunucos que trabalham para freiras lésbicas num campo agrícola de um convento da Alsácia. Linda, erótica, sensual e libidinosa Lucinha, os deuses te saúdam!

Zemaria Pinto na festa da Editora Valer

Foto: Rogelio Casado - Zemaria Pinto e Tenório Telles, Manaus-AM, 15.12.2007
O poeta Zemaria homanageou duas inesquecíveis e saudosas personagens: Antônio Paulo Graça, autor de Uma poética do Genocídio, editado pela Topbooks, e Alcides Werk, autor de Trilha Dágua, editado pela Edições Imprensa Oficial do Estado do Amazonas (minha edição é a quarta, de 1994, presenteada pelo Zé, com dedicatória do autor, em maio de 1995). Sobre este último Zemaria produziu um belo ensaio intitulado A Miragem elaborada (um vôo livre sobre a poesia de Alcides Werk), como trabalho final do Curso de Pós-Graduação em Literatura Brasileira, na Universidade Federal do Amazonas, em 1989.

Aqui um trecho do ensaio sobre uma passagem poética:

Outros poemas como Vitória-Régia, Ariranha e Jaburu, compidado em Poemas Da Água e da Terra, têm por motivo, ainda a ocupação de espaço poétido pelos seres amazônicos. Nesse mesmo livro - uma edição bilíngüe, português-inglês, para consumo ocasional de turistas preocupados com a causa ecológica - os poemas Calypso e Boto cor de Rosa registram a famigerada incursão de Jacques Cousteau pela Amazônia, em 1986. Não sem poesia, como nesta passagem de Calypso:

A salsugem do seu casco
traz às minhas narinas
a lembrança de lugares que apenas sonhei


Não sem amarga ironia, como no poema dedicado à farsa criada por Costeau e vendida como verdade científico-piegas ao mundo:

Boto,
boto cor de rosa,
que em menino aprendi vermelho

Wilson Nogueira e Renan Freitas Pinto na festa da Valer

Foto: Rogelio Casado - Tenório Telles, Wilson Nogueira e Renan Freitas Pinto, Manaus-AM, 15.12.2007
Tenório Telles saudou na pessoa de Wilson Nogueira os escritores publicados pela Editora Valer, em sua grande maioria vindos das diversas calhas dos rios amazônicos. Wilson, por exemplo, vem da calha do Rio Amazonas, e ele próprio vem da calha do Rio Purús. Só Renan veio de Garanhuns, Pernambuco para fazer história como pensador da cultura amazonense e como editor da Edua - Editora da Universidade do Amazonas.

Thiago de Mello na festa da Editora Valer

Foto: Rogelio Casado - Tenório Telles e Thiago de Mello, Manaus-AM, 15.12.2007
O poeta Thiago de Mello lembrou da infância escolar vivida no Grupo Escolar José Paranaguá, em Manaus. Aos sábados, havia aula de leitura. Para ele, a Livraria Valer será lembrada no futuro como a escola José Paranaguá da atualidade, pelos encontros literários das quartas-feiras.

Deixemos o poeta falar. Da sua obra Faz escuro mas eu canto, editada pela Civilização Brasileira, em 1979, extraio o artigo VIII do Estatuto do Homem, ali publicado:

ARTIGO VIII.

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá o milagre da flor.