A Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos (Aborda) brinda os brasileiros com a bela poesia Vai, Ano Velho, de Afonso Romano de Sant'Ana neste final de ano. Quanto a mim, desejo a todos os companheiros de lutas e ideais que ampliem, cotidianamente, a velha e boa mobilização. Contem com este blogueiro.
VAI, ANO VELHO
Afonso Romano de Sant'Ana
Vai, ano velho, vai de vez,
vai com tuas dívidas
e dúvidas, vai, a dobra a ex-
quina da sorte, e no trinta e um,
à meia-noite, esgota o copo
e a culpa do que nem lembro,
e me cravou entre janeiro e dezembro.
Vai, e leva tudo: destroços,
ossos, fotos de presidentes,
beijos de atrizes, enchentes,
secas, suspiros, jornais.
Vaderetrum, pra trás,
leva pra escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
Não quero te ver mais,
só daqui a anos, no anais,
nas fotos do nunca-mais.
Vem, Ano Novo, vem veloz,
vem em quadrigas, aladas, antigas
ou jatos de luz moderna, vem,
paira, desce, habita em nós,
vem com cavalhadas, folias, reisados,
fitas multicores, rebecas,
vem com uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia,
e, pr um instante, estanca
o verso real, perverso,
e sacia em nós a fome
-de utopia.
Vem na areia da ampulheta como a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
trasemente ou pérola
na casca da ostra
como se
se
outra se-
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como o ovo
o Sol a gema do Ano Novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.
Adeus, tristeza: a vida
é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
Agora
é recomeçar.
A utopia é urgente.
Entre flores de urânio
é permitido sonhar.
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