PICICA: É sabido que o movimento social reagiu às medidas tomadas pela Presidência da República, no campo da atenção aos problemas do abuso de álcool e outras drogas. Nitidamente elas contrariaram decisões tomadas na IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Por isso, audiências foram solicitadas, todos os setores ouvidos. Faltava saber da atual Coordenação Nacional de Saúde Mental o que resultou dessa rodada de conversas. Um grande suspense rondava o caso. Finalmente, o atual Coordenador de Saúde Mental Roberto Tykanory quebrou o silêncio no sábado passado através da twitcam. Uma bela iniciativa. Diálogo direto com todos os interessados. Infelizmente, a divulgação deixou a desejar. Há muito mais do que 80 pessoas interessadas nesse tipo de diálogo. Há dezenas de blogues com temáticas voltadas para a saúde mental que poderiam ter sido devidamente comunicados sobre o evento, ampliando o público participante. De todo modo, uma novidade positiva até então não experimentada. Ao que parece os interesses foram conciliados. Resta saber se os russos concordam. O reconhecimento de que comunidades terapêuticas para abusadores de álcool e outras drogas não podem ser ignoradas, certamente partiu do reconhecimento de que, objetivamente, faltou, nos últimos anos, investimento em serviços com profissionais qualificados. Esse fato pode ter sido decisivo no pragmatismo presidencial. Sobretudo quando recrudesceram as pressões da mídia, não de todo injustificáveis, já que é inegável o descompasso desse setor, comparada a outras ações de saúde mental. O problema é: num cenário de redução de gastos públicos, face às medidas para enfrentar a crise econômica mundial, como instalar 900 casas de passagem para usuários abusadores de álcool e outras drogas nos próximos três anos, à razão de 30 casas por mês, proposta pela Coordenação Nacional de Saúde Mental e que tanto encantou a presidenta? Como a maior parte das comunidades terapêuticas ainda está fora do padrão exigido pelo SUS, e como a velocidade de formação de pessoal para atender as demandas do setor público é menor do que o tamanho do nosso desejo, o processo de construção de uma rede mínima deve enfrentar dificuldades. A implantação de novas equipes de consultório de rua, com sua estratégia de redução de danos, é uma novidade bem vinda no mar de dificuldades que nos esperam. Seria suficiente, para esse início de enfrentamento das questões postas pelos abusadores de álcool e outras drogas? Sim e não. Somadas à necessidade de ampliação em todo o país da rede de CAPS para adultos e crianças com problemas mentais severos e persistentes, CAPS ad; a oferta de mais residências terapêuticas para 12 mil internos que aguardam saída dos hospitais psiquiátricos e a criação de Centros de Convivência, poucas vezes mencionados nos discursos oficiais; temos tarefa pra formiguinha nenhuma botar defeito, para usar uma metáfora tão apreciada pelos que não se dobram aos desafios. De todo modo, reafirmo minhas esperanças na equipe liderada por Tykanori. Mas alerto: quem fica parado é poste; movimento social que se preza tem um olho no jogo institucional e o outro na rua, que é o lugar que ocupamos criativamente ao longo da história. Os inimigos não dormem de touca, e nós já demos muita bobeira em não tomar uma posição contra essa falta de investimentos no setor.
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