PICICA: Não há quem deixe de reclamar. Apenas não torna pública sua opinião. Ou há interesses em não torná-la pública. Não é o caso do cidadão Lúcio Carril. Indignado com a falta de tratamento dos esgostos do Prosamim, ele não se fez de rogado e pôs a boca no trombone na página do Manaus em Transição (Transition Towns). A indignação não é de todo improcedente. Afinal, o Prosamim é um projeto muito pai-d'égua, visto pelo lado social: tirar gente de submoradias em áreas de esgoto a céu aberto é não mais sujeitá-la a conviver com o lixo e suas doenças. O problema, do ponto de vista sanitário, é que não precisava reduzir o espelho d'água (como se não bastasse a falta da mata ciliar) e transformar os igarapés em cloacas da cidade. A cidade com a quarta economia do país não tem recursos para tratar os dejetos humanos e enviar para os igarapés água limpa. Ora, façam-me o favor! Com tantos nãos nesse textículo indignado, que tal se o Manaus em Transição levantar, doravante, a bandeira: IGARAPÉ POLUÍDO, NÃO! (Saiba o que é o Transition Towns. Nesta quarta-feira, dia 24 de agosto, vai rolar o PRIMEIRO ENCONTRO DO TT MANAUS, às 19h00, no Espaço Cultural Valer, localizado na Rua Ramos Ferreira, 1195 - Centro (Altos da Livraria Valer). Tô pondo a maior fé na moçada que vai se reunir por lá.
Largo do Mestre Chico - Foto: Rogelio Casado - Manaus - Amazonas - Brasil
Estive na terça-feira,16, no largo do Mestre Chico, na Cachoeirinha, participando de evento em defesa do Encontro das Águas. Fiquei mais uma vez perplexo com a capacidade dos nossos governantes de não fazer uma obra 100% correta. Como fazer infraestrutura, como o Prosamim, sem fazer tratamento de esgoto? Fizeram um escoadouro que deságua os dejetos no Rio Negro. Isso sem falar no mau cheiro. Fazer uma obra com alcance social sem considerar o meio ambiente é de uma ignorância sem tamanho, mas sei que não se trata de ignorância dos homens do poder. Como puderam consolidar um local de moradia sem fazer saneamento básico? Talvez esteja fazendo perguntas ingênuas, mas o meu óbvio tem caráter de protesto, de indignação, de revolta.
Fui para um ato em defesa do Encontro das Águas e me deparei com um crime ambiental. Se já me indignar ter que conviver com a ameaça contra nosso patrimônio natural, nem imaginava que os esgotos do Prosamim estão sendo desaguados no rio que banha Manaus. Além disso, o que me causa estranheza é o silêncio da sociedade e e suas representações, que não lançaram um manifesto, fizeram uma manifestação pública. E os institutos de pesquisa? E as universidades? E a comunidade científica?. Será que ninguém viu ou sentiu isso?. Será que o EIA-RIMA foi feito ou legitimado por instituições sérias? Ou será que foi feito por instituições sérias que resolveram não protestar porque pegaram seu quinhão? E nossos partidos de esquerda? E os nossos parlamentares de esquerda? Ninguém viu ou sentiu isso, o mau cheiro e a podridão das más intenções?
As interrogações ficam no ar para servirem de reflexão a todos nós, cidadãos e cidadãs de Manaus.
Lúcio Carril
Fonte: Manaus em Transição Manaus em Transição (Transition Towns)
Um comentário:
Esta questão já havia sido levantada durante as discussões do Movimento Marina Silva: o PROSAMIM não tem um metro quadrado de esgoto. Mas os ouvidos dos governantes estão blindados para os apelos sociais. Só fazem o que querem e o que dá retorno financeiro ou político! No final do século XIX, o então secretário de Negócios do Interior, Francisco Bittencourt, em relatório apresentado ao governador Ramalho Júnior, declarava: “para bom esgoto, água muita!”. Isso, porque as águas do rio Negro apareciam como purificadoras das águas de esgotos pelos fenômenos mecânicos físicos, químicos, biológicos, qualidade dos terrenos que constituem o leito e a margem do rio e a emulsão dos corpos gordurosos por meio dos carbonatos ácidos das águas. Ora, isto foi há 111 anos, quando Manaus tinha uma população de 20 mil habitantes, hoje são 2 milhões. Depois, o que foi feito? Um emissário subaquático de 3.600 metros para despejar os esgotos da cidade no rio Negro, no governo de João Walter de Andrade, em 1974. O que se tem feito, senão poluir as margens dos rios e utilizá-los como depósito fecal? Até quando nossos rios nos livrarão de tantas doenças que poderiam chegar até nós e não chegaram, ainda, pelas propriedades químicas do rio Negro? Com o aquecimento global, o regime dos rios será afetado. E, daí: como ficaremos, governantes sem compromisso com o presente e sem visão de futuro?
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