PICICA: A fotografia abaixo foi feita por Ana Marta Soares durante a IV Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em Brasília em 2009. Uso-a aqui, despudoradamente, para homenagear a minha querida Ana Marta Lobosque (a palavra querida se pressupõe uma intimidade que não tenho, demonstra, entretanto, o meu bem querer para com uma das intelectuais mais amadas pelos militantes da luta por uma sociedade sem manicômios; daí porque estou todo pimpão na pose). Uma das minhas frustrações como Coordenador Estadual de Saúde Mental (2003-2007) - e foram tantas -, foi não ter conseguido trazê-la ao Amazonas, onde sua obra passou a ser uma espécie de leitura obrigatória. Não há estudante de psicologia que não a conheça. Ana Marta deu o ar da sua graça na minha página no facebook e fez um breve comentário sobre o texto aqui postado relativo à fala do Coordenadador Nacional de Saúde Mental, Roberto Tykanori (comentário abaixo), no sábado passado, no twitcam. No referido texto menciono o silêncio nos discursos oficiais sobre um importante dispositivo da reforma psiquiátrica anti-manicomial, conhecido como Centros de Convivência. São escassos no país inteiro. E, no entanto, são fundamentais. Como os usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não devem permanecer vinculados eternamente a esses serviços, salvo como referência para eventuais crises, são os Centros de Convivência que passam a ter uma importância capital na vida dos usuários e seus familiares, sob pena de, à sua falta, deixá-los em ociosidade, o que representa um grande ônus para os familiares. Leia mais abaixo uma discussão sobre o tema conduzido pela nossa estimada Ana Ana Marta Lobosque.
Rogelio Casado e Ana Marta Lobosque - Foto: Ana Marta Soares, Brasília, 2009
LEGAL, ROGÉLIO, DIVULGAR O DEBATE. NÃO CONSEGUI OUVIR. MAS ESTOU COM VOCÊ NO QUE DISSE NO SEU BLOG, OU SEJA: REITERO MINHA CONFIANÇA NA EQUIPE DA COORDENAÇÃO, TANTO QUANTO A NECESSIDADE DE ATENÇÃO CONSTANTE PELOS MOVIMMENTOS SOCIAIS. (Ana Marta Lobosque) Em tempo: Leia o post anterior, para entender o contexto.
Ana Marta Lobosque coordena uma importante iniciativa de formação de pessoal no campo da Saúde Mental, em Belo Horizonte - iniciativa que mantém na internet denominado ESPAÇO SAÚDE MENTAL. Trata-se de um espaço destinado à promoção de debates, divulgação de notícias, disponibilização de material, e outras atividades relevantes para profissionais, gestores, usuários, familiares e estudantes interessados na Saúde Mental, na perspectiva da Reforma Psiquiátrica. O Espaço Saúde Mental é mantido pelo GPT-SM - Grupo de Proteção em Saúde Mental na Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais - ESP/MG, com apoio do Núcleo de Tecnologia Educacional - NTE.
Qual o lugar e quais contribuições de distribuições como os centros de convivência na redes locais de Saúde Mental?
Ementa: Os centros de convivências têm produzido práticas de grande fertilidade e beleza no campo da saúde mental, propiciando a inserção social ampla e efetiva dos portadores de sofrimento mental. São dispositivos des-sanitarizados, ou seja, não dependem de técnicas e profissionais de Saúde ou de Saúde Mental e sim de artistas e artesãos na condução das oficinas e outras atividades. Seu objetivo principal é a produção de laços sociais, através da criação e expressão, tendo a produção artística/artesanal como organizadora do processo. A produção de obras de arte no sentido formal da palavra, ou mesmo, a geração de renda são inteiramente secundários a esse objetivo. Na rede, são os dispositivos onde nascem as intervenções mais amplas no âmbito da cidade: as manifestações culturais (18 de maio), a organização política dos usuários (ida à marcha dos usuários a Brasília) e também as iniciativas no campo da geração de renda (grupos de produção solidária). Entretanto, os centros de convivência ainda são pouco conhecidos e existem em poucos municípios. Contribui para isto, certamente, o fato de que não haja mecanismos de financiamento federal e estadual para implantá-los e custeá-los. Entretanto, é possível que as próprias redes desconheçam o lugar e a importância desses dispositivos.
E para você, qual a importância desses dispositivos?
Foi muito legal ler o relato da experiência de vocês nestes necessários passos “além-da-saúde”. A gente sabe que poucos municípios ousam caminhar nesse sentido, porque não há financiamento federal, o gestor local geralmente não apoia, e aí tem de ser na base do desejo, encarando coisas meio árduas mesmo, como vem ocorrendo com vocês. Mas vale a pena, não é? Pois a gente sabe que essas coisas fazem toda a diferença…
Gostaria muito de ouvir outros municípios a respeito: se não fazem nada nessa área, por quê; se fazem, como é, como avaliam…
Vocês estão de parabéns pela obstinação!
Abraço,
Bom com relação a questão do Centro de Convivência é um espaço de fortalecimento de laço social e produção mas de difícil sustentação devido a falta de recursos financeiros e na minha realidade em Lagoa da Prata de conseguir que os usuários assumam esse espaço como deles. Iniciamos há 3 anos na raça um grupo de convivência sustentado pela Associação Cuca Legal ( assoc. de usuários e familiares), ou seja, um projeto com muita vontade e nenhum recurso financeiro. Continuamos s/ recurso mas bancando o projeto com um grupo de usuários, ainda é na pratica um grupo de convivência que desenvolve atividades de pintura em tecido na 3a. feira à tarde e na 4a. feira tem bordado vagonite, crochê e confecção de panos de prato e jogo de lençois. As atividades se modificam dependendo da persistência do monitor voluntário (geralmente um usuário mais estabilizado e com habilidade na atividade) e da dificuldade dos participantes. O grupo ainda não consegue caminhar s/ presença de técnico do CAPS, estamos engatinhando. Nesse intervalo a Prefeitura forneceu barracas p/ feira de artesanato que também caminha em passos lentos, a Associação tem uma barraca que chama atenção por ser uma atividade que agradou os homens são eles que vendem os produtos feitos nas oficinas do CAPS e do Conviver. As mulheres preferem fazer os produtos e os homens vender aos sábados de manhã. Agora pensamos em atividades p/ homens pois eles têm muita resistência com as atividades oferecidas. É um lento processo mas temos um espaço cedido pelo Lions Club e a Associação Cuca Legal faz eventos p/ arrecadar dinheiro. É muito árduo mas conseguimos ter uma usuária inserida no mercado de trabalho (faxineira numa loja) que aguarda concurso da Pref. p/ participar. Essa é nossa trajetória. Abraços, Eliana
Mas, por falar nisso, como andam as discussões e as práticas “além-da saúde” por aí? Fazem algum link com as questões que colocamos na ementa?
Um abraço,
Bem, um motivo possível é que, como os fóruns andaram desativados por muito tempo, as pessoas tenham se desacostumado de frequentá-los.
Mas é possível também que o desconhecimento a respeito dos Centros de Convivência não suscite nem mesmo curiosidade a esse respeito.
Insistimos: trata-se de um dispositivo importante e fecundo nas redes de Saúde Mental. Vamos discuti-lo!
Abraço a todos,