PICICA: "Um livro recolhe fotografias da vida cotidiana e mostra sociedade
dinâmica e diversa, antes da expulsão de seus habitantes para criação
de Israel. Imagens desmentem ideia de um “território vazio”"
Palestina, até 1948: exercício contra o esquecimento
– on 10/01/2016
Um livro recolhe fotografias da vida cotidiana e mostra sociedade
dinâmica e diversa, antes da expulsão de seus habitantes para criação
de Israel. Imagens desmentem ideia de um “território vazio”
Por Olga Rodriguez | Tradução: Inês Castilho
Um livro que reivindica a memória palestina, como afirma seu próprio título: “Contra o esquecimento. Uma memória fotográfica da Palestina antes da Nakba, 1889-1948” (1)
O projeto, coordenado por Teresa Aranguren, Sandra Barrilaro, Johnny Mansour e Bichara Khader, com prólogo do arabista Pedro Matínez Montávez, mostra uma realidade negada com demasiada frequência: a existência da Palestina não como abstração, mas como uma sociedade, cultura e território que foi ocupado e usurpado por colonos.
Nas palavras da jornalista Teresa Aranguren, boa conhecedora da região, “negar a existência do povo da Palestina foi premissa fundamental do movimento sionista, que pretendeu não apenas ocultar sua existência, mas até mesmo a lembrança de que havia existido”. Porém o que existe deixa rastro, e este livro recompila parte dessa memória que constata a existência, antes da ocupação, de centenas de milhares de palestinos que foram expulsos de suas terras em 1948.
As fotografias mostram o povo palestino, sua vida cotidiana, assim como aldeias que foram destruídas pelos ocupantes e cujos nomes já não figuram no mapa. “Este livro recolhe fotografias que são pegadas daquela existência que se quis apagar. Não é um exercício de nostalgia, mas de afirmação”, observa Aranguren.
As fotos incluem desde as greves palestinas contra o mandato britânico e o sionismo até cenas familiares de costumes da época, passando pelas integrantes do Primeiro Congresso das Mulheres Árabes da Palestina, que se mobilizaram contra a Declaração de Balfour (1917), a qual contemplava a criação de um Lar Nacional Judaico na Palestina.
O acesso a uma parte das fotos foi facilitado pelo professor e historiador palestino Johnny Mansour, procedente da cidade de Haifa, o qual explica no livro que os habitantes palestinos de Haifa “foram obrigados a expatriar-se em 1948 sem contemplação e com procedimentos muito selvagens, de tal forma que de seus 75 mil habitantes palestinos não ficaram mais que 3 mil”.
Outras imagens foram recompiladas por Teresa Aranguren e Sandra Barrilaro, que viajaram aos territórios palestinos ocupados e recolheram fotos de familiares de seus amigos e conhecidos em diversas cidades e povoados. Outras ainda pertencem ao arquivo fotográfico do hotel American Colony de Jerusalém, conhecido como Coleção Matson, com mais de 22 mil negativos e placas de vidro.
As fotos incluem retratos de celebridades, acontecimentos sociais e políticos, festas populares, fábricas, profissões. O livro recolhe também trechos da carta enviada ao primeiro ministro britânico Winston Churchill pela delegação árabe que viajou a Londres para opor-se à declaração de Balfour em 1921, que afirmava:
“O grave e crescente mal-estar entre a população palestina provém de sua convicção absoluta de que a atual política do governo britânico se propõe a expulsá-la de seu país com o objetivo de convertê-lo em um Estado nacional para os imigrantes judeus… A Declaração Balfour foi feita sem consultar-nos e não podemos aceitar que decida nosso destino…”.
A ocupação da Palestina e a expulsão de sua gente já era uma crônica anunciada nos anos vinte. Duas décadas depois, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto contribuíram para torná-la realidade. Suas consequências seguem sendo sofridas e ampliadas em pleno século XXI.
(1) Ediciones del Oriente y del Mediterráneo.
Por Olga Rodriguez | Tradução: Inês Castilho
Um livro que reivindica a memória palestina, como afirma seu próprio título: “Contra o esquecimento. Uma memória fotográfica da Palestina antes da Nakba, 1889-1948” (1)
O projeto, coordenado por Teresa Aranguren, Sandra Barrilaro, Johnny Mansour e Bichara Khader, com prólogo do arabista Pedro Matínez Montávez, mostra uma realidade negada com demasiada frequência: a existência da Palestina não como abstração, mas como uma sociedade, cultura e território que foi ocupado e usurpado por colonos.
Nas palavras da jornalista Teresa Aranguren, boa conhecedora da região, “negar a existência do povo da Palestina foi premissa fundamental do movimento sionista, que pretendeu não apenas ocultar sua existência, mas até mesmo a lembrança de que havia existido”. Porém o que existe deixa rastro, e este livro recompila parte dessa memória que constata a existência, antes da ocupação, de centenas de milhares de palestinos que foram expulsos de suas terras em 1948.
As fotografias mostram o povo palestino, sua vida cotidiana, assim como aldeias que foram destruídas pelos ocupantes e cujos nomes já não figuram no mapa. “Este livro recolhe fotografias que são pegadas daquela existência que se quis apagar. Não é um exercício de nostalgia, mas de afirmação”, observa Aranguren.
As fotos incluem desde as greves palestinas contra o mandato britânico e o sionismo até cenas familiares de costumes da época, passando pelas integrantes do Primeiro Congresso das Mulheres Árabes da Palestina, que se mobilizaram contra a Declaração de Balfour (1917), a qual contemplava a criação de um Lar Nacional Judaico na Palestina.
O acesso a uma parte das fotos foi facilitado pelo professor e historiador palestino Johnny Mansour, procedente da cidade de Haifa, o qual explica no livro que os habitantes palestinos de Haifa “foram obrigados a expatriar-se em 1948 sem contemplação e com procedimentos muito selvagens, de tal forma que de seus 75 mil habitantes palestinos não ficaram mais que 3 mil”.
Outras imagens foram recompiladas por Teresa Aranguren e Sandra Barrilaro, que viajaram aos territórios palestinos ocupados e recolheram fotos de familiares de seus amigos e conhecidos em diversas cidades e povoados. Outras ainda pertencem ao arquivo fotográfico do hotel American Colony de Jerusalém, conhecido como Coleção Matson, com mais de 22 mil negativos e placas de vidro.
As fotos incluem retratos de celebridades, acontecimentos sociais e políticos, festas populares, fábricas, profissões. O livro recolhe também trechos da carta enviada ao primeiro ministro britânico Winston Churchill pela delegação árabe que viajou a Londres para opor-se à declaração de Balfour em 1921, que afirmava:
“O grave e crescente mal-estar entre a população palestina provém de sua convicção absoluta de que a atual política do governo britânico se propõe a expulsá-la de seu país com o objetivo de convertê-lo em um Estado nacional para os imigrantes judeus… A Declaração Balfour foi feita sem consultar-nos e não podemos aceitar que decida nosso destino…”.
A ocupação da Palestina e a expulsão de sua gente já era uma crônica anunciada nos anos vinte. Duas décadas depois, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto contribuíram para torná-la realidade. Suas consequências seguem sendo sofridas e ampliadas em pleno século XXI.
(1) Ediciones del Oriente y del Mediterráneo.
Olga Rodriguez
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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