PICICA: "Estudo pioneiro explica: estiagem recorde está relacionada a
formação de “bolha gigante de ar quente” no Sudeste. Em SP, aumento do
consumo d’água e má gestão das represas completaram desastre"
Crise hídrica: a natureza da Conexão Amazônica
– 13 de janeiro de 2016
Estudo pioneiro explica: estiagem recorde está relacionada a formação de “bolha gigante de ar quente” no Sudeste. Em SP, aumento do consumo d’água e má gestão das represas completaram desastre
Por Claudio Angelo, no Observatório da Clima
No entanto, eles também dizem que, mesmo diante da incerteza, reduzir o desmatamento e recuperar florestas são provavelmente uma boa ideia para aumentar a resiliência do país à seca: “Considerando a complexidade das relações entre floresta e chuva nas regiões a leste dos Andes, uma possível solução para não alterar o ciclo hidrológico da Amazônia seria reduzir o desmatamento e reflorestar áreas em várias regiões do Brasil”.
Bloqueio: Da mesma forma, o artigo do grupo, publicado num dossiê sobre a crise hídrica da Revista USP, evita atribuir o problema à mudança climática. Para Marengo e colegas, o que deixou São Paulo a seco foi uma combinação entre uma estiagem anormal, o crescimento da demanda e o mau gerenciamento dos recursos hídricos.
O estudo enumera, porém, uma série de anomalias climáticas enormes entre as causas da estiagem. A estação chuvosa de 2013/2014 foi a mais seca na região do Cantareira desde 1962, quando começou a série histórica. A temperatura na região em janeiro de 2014 também foi recorde – 2,5oC acima da média histórica, ou mais do que duas vezes e meia o aquecimento médio do planeta no último século.
O bloqueio atmosférico, a tal zona de alta pressão que barrou a entrada de frentes frias, de pancadas de chuva e da umidade da Amazônia, também foi para lá de anormal: esses fenômenos geralmente duram de 7 a 15 dias, nos piores casos. O bloqueio de janeiro e fevereiro de 2014 durou 45. Ele foi reforçado por temperaturas também anormalmente altas da superfície do mar no Atlântico Sul naquela época.
O resultado dessa combinação incomum de fatores atmosféricos e oceânicos, mais o despreparo do governo paulista para lidar com a situação, é algo que os paulistanos estão vendo em suas torneiras até agora, mesmo depois que os reservatórios do Sistema Cantareira finalmente saíram do volume morto, dois anos após o início da estiagem. O evento foi considerado o quinto desastre natural mais caro de 2014 no mundo, com um prejuízo estimado em US$ 5 bilhões (R$ 20 bilhões em valores de hoje). A falta de chuva em 2014 secou o solo, impediu a umidade que alimentaria os reservatórios em 2015 e fez a situação se arrastar durante todo o ano passado.
Marengo afirma que não há estudos conclusivos sobre o comportamento dos bloqueios atmosféricos num cenário de aquecimento global. Além disso, nota uma situação aparentemente paradoxal: nas últimas décadas há uma aparente diminuição das chuvas na região do Cantareira, mas uma elevação da precipitação na cidade de São Paulo. Isso pode estar relacionado a um fenômeno totalmente dissociado da mudança climática – a ilha de calor urbana.
“A seca é consequência da variabilidade natural do clima, não da mudança climática. O que teria a ver com a mudança do clima seria a [crise] hídrica, onde as altas temperaturas, a falta de chuva e o aumento da população determinaram um maior consumo de água”, disse o cientista ao OC.
No entanto, ele alerta que a previsão dos modelos climáticos para o Sudeste é de períodos secos mais longos e mais calor nas próximas décadas, intercalados com períodos de chuva intensa. “Ou seja, a seca pode voltar e, se nada for feito para nos adaptarmos, a crise hídrica voltará também, e será mais intensa e longa no futuro mais quente”, diz o climatologista peruano radicado no Brasil.
“Escapamos do apagão em 2001, parece que vamos a escapar também agora em 2016, se continuar chovendo neste verão. Mas parece que não aprendemos nada da crise de 2001, e só espero que os tomadores de decisões tenha aprendido a lição desta seca em 2014-15, para não sermos pegos de surpresa por uma nova seca e uma nova crise hídrica no futuro.”
Fonte: OUTRAS MÍDIAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário