dezembro 28, 2008

Hospícios fazem mal à saúde

Foto: Nivya Valente - Abraço simbólico no Centro Cultural Palácio Rio Negro - Manaus-AM, dez/2003

Nota do blog: O Fórum Sociedade Civil e Saúde Mental "Silvério Tundis" deixou de existir. Com tal ele nunca teve organização jurídica. Enquanto existiu cumpriu um papel importante na luta pela construção da cidadania dos "portadores" de sofrimento psíquico. Sua história está por ser contada e analisada. Foi através dele que, em 2001, iniciamos a luta por um Projeto de Lei de Saúde Mental para o Estado do Amazonas, o que só seria votada e sancionada em outubro de 2007. Essa bandeira, abandonada pelos reformistas de araque que compunham um outro fórum - Fórum de Saúde Mental do Estado do Amazonas - (que também teve vida breve) encontrou na Associação Chico Inácio - filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial - seu principal articulador. Para tanto, foi fundamental o apoio da Pro-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade do Estado do Amazonas. Observe, leitor(a), que naquela época a campanha começou propondo 80 mil assinaturas para uma emenda popular. Diante do insucesso da iniciativa, no ano de 2003 a Coordenação do Programa Estadual de Saúde Mental iniciou uma série de abraços simbólicos visando a redução do preconceito social contra a loucura. Mais uma vez a Associação Chico Inácio se fez presente aos eventos. E assim fizemos história. Em nome dessa memória, eis o texto de apoio à luta por uma sociedade sem manicômios.

* * *



FÓRUM SOCIEDADE CIVIL E SAÚDE MENTAL DO ESTADO DO AMAZONAS "SILVÉRIO TUNDIS"

ESCLARECIMENTO À SOCIEDADE

HOSPÍCIOS FAZEM MAL À SAÚDE

Queremos o fim dos hospícios. Para tanto iniciamos a campanha por 80 mil assinaturas para uma emenda popular que crie um Projeto de Lei pela criação de Serviços Substitutivos ao Hospício. Mas, antes que nos acusem de irresponsabilidade, preste atenção nesse recado de interesse público.

O movimento antimanicomial dos trabalhadores de saúde mental conseguiu fechar 57 hospícios, eliminar 30 mil leitos, criar mais de 100 serviços substitutivos ao hospício (pensões, oficinas e lares protegidos, centros de convivência, centros e núcleos de atenção psicossocial etc.) além de mais de 2000 leitos em hospitais-gerais para internação de curto prazo. O custo de uma internação que é de R$ 780,00, com os serviços substitutivos foi reduzido para R$ 400,00, chegando a R$ 220,00. Economia em dinheiro e em sofrimento para os portadores de transtornos mentais.

Para isso não basta desospitalizar. É preciso garantir acompanhamento e escuta contínua aos sujeitos portadores de sofrimento mental, como se faz no PAM da Codajás, há cerca de 20 anos, sem estigma e sem o silêncio dos hospícios. Inclusive, trata-se do único lugar de escuta para crianças, adolescentes e idosos, sobre o qual a atual coordenação do Programa Estadual de Saúde Mental negligencia esta informação para a população da cidade de Manaus. Aliás, cidadão, cidadã, na maior parte dos serviços de atenção à saúde mental está faltando, além da terapia pela palavra, sem abuso de psicotrópicos, terapia ocupacional digna, produtiva e remunerada.

Enquanto existirem hospícios (a última instituição do autoritarismo) esse projeto de liberdade estará ameaçado. Casos graves continuarão existindo e deverão continuar sendo tratados através de restrição a espaços físicos nos quais equipes interdisciplinares acolherão os portadores de saúde mental com uma nova mentalidade. Afinal, como diz um antigo interno de hospício, quem está sujeito a entrar-em-transe tem que ser ajudado a sair do transe.

É preciso reabrir o diálogo com a loucura nossa de cada dia. Venha participar desse ato de amor à cidadania. Procure um de nossos postos de coleta de assinatura mais próximo de você.

Posted by Picasa

Nenhum comentário: