dezembro 24, 2008

Memorial lembra luta de Wilson Pinheiro

Wilson Pinheiro, foto publicada em www.folhadoacre.com

Memorial lembra luta de Wilson Pinheiro - 24/12/2008

Local: Rio Branco - AC
Fonte: A Tribuna
Link: http://www.jornalatribuna.com.br/

Foi sob forte emoção, a família de Wilson Pinheiro participou da inauguração do memorial em homenagem ao líder seringueiro, na manhã da última segunda-feira, 22, em Brasiléia, como parte da programação especial da Semana Chico Mendes. O espaço escolhido para abrigar o Memorial é o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, local onde Wilson foi assassinado. A solenidade simples contou com a participação de trabalhadores rurais, amigos de Wilson, autoridades, ambientalistas, membros da Igreja Católica, representantes de instituições ambientais e outros.

Muito emocionada, Hiamar de Paiva Pinheiro, filha de Wilsão, falou em nome da família, representada também pela viúva do sindicalista, Maria Terezinha de Paiva Pinheiro, e por Ambrósio, único filho homem.

“Esse momento para nós é de emoção de ter que falar de uma pessoa que muito contribuiu com a sociedade acreana, com o Brasil e com nossos trabalhadores rurais. Agradeço em nome do nosso governador Binho, e principalmente da minha família e companheiros de meu pai, e do doutor Tufic, que foi quem atendeu Wilson. Esse momento é difícil para mim, pois o Wilson continua presente e nos faz muita falta. Com esse resgate a sociedade acreana e brasileira poderá conhecer o precursor do movimento sindical, o Wilson Pinheiro, que juntamente com outros companheiros, como Elias Rosendo e João Maia e tantos outros, lutou pelo povo. A maior vitória nossa é que Wilson Pinheiro lutava por vidas, e ao mesmo tempo preservava a floresta, fazendo com que os seringueiros se mantivessem em suas colocações, em suas estradas de seringa”, disse Hiamar, ressaltando que o Governo do Estado, com o ex-governador Jorge Viana e com o governador Binho Marques, é o maior colaborador da ampliação das ações comunitárias.

“Muitas coisas foram ampliadas pelo governo do Estado, e hoje nós vivemos num de inclusão social: começamos com o Jorge Viana e agora com o governador Binho Marques. Estou representando a minha família e tenho muito orgulho da memória do Wilson para que o povo saiba quem foi meu pai, que aquilo que está na nossa memória agora parta para a história, para que possam conhecer e valorizar esse grande líder.”

Hiamar aproveitou para fazer um pedido aos trabalhadores de que não desistam da luta, pois muito ainda precisa ser feito, e que o sonho de Wilson e Chico Mendes não está realizado.

“O Wilson foi o presidente de sindicato que mais teve sócios, e hoje são poucos. Mas, apesar disso, todos são muito importantes, e acredito que teremos momentos mais brilhantes porque são 28 anos sem Wilson Pinheiro, 28 anos que o Acre sabe quem é Lula, pois ele veio pela primeira vez ao Acre por causa da morte do meu pai. Nós temos hoje um governo que representa a classe, o povo era massacrado e não tinha valor, não era respeitado. Rendo todas as homenagens a Lula, Jorge Viana e Binho Marques. São dois momentos: hoje faz 20 anos que Chico Mendes foi brutalmente assassinado e que minha filha de 16 anos partiu. Mas hoje minha filha Maria Helena completa três anos, nasceu no dia de heróis. Estamos inaugurando a história que estava na memória, a história de Wilson Pinheiro.”

Rosildo Rodrigues de Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, disse que a homenagem à memória de Wilson Pinheiro, com a criação do memorial, foi uma solicitação dos próprios trabalhadores rurais e representa a continuidade do movimento.

“Para mim hoje é um dia muito especial ao homenagear a memória de Wilson Pinheiro. Nos 20 anos sem Chico a gente ainda vê muita esperança no rosto de nossos muitos companheiros.

Como presidente do sindicato, que completou 33 anos no último dia 21, quando implantamos essa luta, muitos dos companheiros que ajudaram estão aqui ainda, otimistas com algumas conquistas, apesar das derrotas, mas, afinal de contas, a gente vive de desafios. Esse dia é especial levando para as pessoas a luta e os ideais de Wilson, que está retratado nessa exposição. Agradeço o Governo do Estado, que é parceiro em trazer à população uma luta que estava armazenada, para que possa ser conhecida por todos os acreanos, o Brasil e o mundo e, principalmente, nossos jovens.”

Empoderamento comunitário
O projeto do Memorial foi proposto pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia ao Governo do Estado, através da Fundação Elias Mansour e Patrimônio Histórico. Foram investidos cerca de R$ 120 mil para a reforma, a construção da nova sede e a exposição que homenageia Wilson Pinheiro.

Daniel Zen, presidente da Fundação Elias Mansour, representando o Governo do Estado, falou da importância do empoderamento comunitário.

“Essa é uma expressão que o governador Binho Marques sempre utiliza e que é incorporada cada vez mais por todos do Governo, secretários, colaboradores e servidores. Significa trabalhar no sentido de que os grupos comunitários atinjam sua autonomia, enfim, tenham um desenvolvimento comunitário cada vez mais evoluído. Mas, para alcançar esse ponto, o Estado atua como colaborador. Aqui é um exemplo claro desse empoderamento comunitário, porque foi o sindicato que realizou esse projeto. O Memorial Wilson Pinheiro é um exemplo muito bom de como governo e sociedade podem andar de mãos dadas no sentido do desenvolvimento comunitário. O Governo deixa essa homenagem especial à memória de Wilson Pinheiro, que tanto colaborou na defesa dos trabalhadores da Amazônia, e à sua família.”

Exposição retrata a luta de Wilson Pinheiro e seus companheiros - A exposição está dividida em cinco salas. A primeira, intitulada Nosso Chão, contextualiza o modo de vida de índios, ribeirinhos, seringueiros e demais trabalhadores florestais, e a Defesa Amazônia; a segunda, O Líder, traz Wilson Pinheiro: a história de um guerreiro, com peças que pertenciam ao sindicalista, como o tradicional terno branco em algodão, o óculos estilo rayban, a espingarda, a carteira do sindicado e outros; a terceira sala Nasce um Sonho, retrata o surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (1975), o movimento e conta um pouco da história de Valdiza Alencar de Souza, verdadeiro exemplo de fibra e de força da mulher acreana, foi uma das primeiras mulheres a ingressar na direção do sindicato e a lutar pelos direitos dos trabalhadores rurais acreanos; o quarto espaço fala do empate e encerrando o percurso, Uma Luta Interrompida: “Morre o dirigente sindical, não morre o sindicalismo”, contextualiza o assassinato, na noite de 21 de Julho de 1980, do líder sindicalista Wilson Pinheiro nas dependências do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia com três tiros à queima roupa. Cercado de muita tensão, o enterro de Wilson Pinheiro acabou se tornando um grande ato de resistência dos seringueiros ao avanço do latifúndio no Acre.

Muitas lideranças populares e eclesiásticas acompanham a cerimônia.

Hiamar de Paiva Pinheiro

(trechos da entrevista concedida para a revista Wilson Pinheiro, 20 anos depois)


“...Éramos oito filhos, sete meninas menores...” “... Lembro de uma vez que meu pai precisou ir a um empate enfrentar pessoas armadas e não tinha sequer um canivete no bolso. Não sei dizer se ele era corajoso ou muito inocente pra fazer isso” “... No dicionário de meu pai não existia a palavra covardia. O pistoleiro que assassinou meu pai, sim, era covarde porque atirou pelas costas. Com certeza que se ele tivesse chegado frente à frente meu pai não teria corrido. Ele teria morrido do mesmo jeito, mas não teria corrido” “... foi gratificante a luta de meu pai porque levou em consideração o lado humano. Eu tenho muito respeito por essa luta, e se tivesse que voltar tudo novamente eu acharia maravilhoso” “... Quando ele não podia voltar pra casa, o sindicato era o local de trabalho e o local de morar também” “... Uma semana antes de meu pai ser assassinado eu encontrei com ele.
Era uma segunda-feira, e na outra segunda-feira ele morreu. Ele ainda foi me deixar no caminho da escola. Eu lembro até do último filme que meu pai assistiu... (chorando) Até hoje me pergunto por que ainda não me acostumei. Já se passaram 20 anos... Mas eu não consigo, toda vez é assim.” “... Me inspiro na luta de meu pai” “Ninguém resgata a luta de ninguém porque cada um já nasce com a sua” (AN do Acre)

Fonte da fonte: Amazonia.org

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Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente no Brasil, muito sangue ainda será derramado, principalmente nos rincôes do Brasil, onde a LEI só existe para beneficiar os poderosos e o POVO é recebido à bala nas repressões contra o Direito sagrado da propriedade privada e contra o latifúndio.