dezembro 23, 2008

Memórias do hospício (VI)

Amazonio Mendes e Serafim Corrêa
Memórias do hospício (VI)

Findava o governo Amazonino Mendes. Só então formulei uma crítica ao seu mandato na minha área de conhecimento: Saúde Mental. A mim sempre pareceu fácil criticar governos. O tabu, ainda hoje, é analisar o papel político do corpo técnico de saúde mental. Há quem queira reconhecer mérito por terem evitado o colapso do sistema. Mas o modelo baseado em hospital psiquiátrico e ambulatórios medicalizadores da dor humana há muito caducou.

Assim sendo, deve-se questionar a passividade com que o setor deixou a Reforma Psiquiátrica patinar nesse período. Se o cenário de omissão contribuiu para o descompromisso do governo, o mau desempenho deste último não pode ser imputado aos técnicos, mas à falta de vontade política daquele. Vale lembrar que naquela época as ações de saúde mental eram da alçada do Estado.

Hoje, com as ações de saúde municipalizadas desde 2003, é o governo Serafim Corrêa quem precisa ser avaliado. A ele cabia a implantação de uma rede diária de atenção em saúde mental, através dos centros de atenção psicossocial (caps), que não apareceu sequer no seu discurso de re-eleição. Aliás, só um candidato pronunciou a palavra proibida – CAPS – en passant, durante um debate televisivo.

As condições de negociação eram excepcionais. O arco de aliança política em torno do Presidente da República abriu uma perspectiva promissora – como nunca – entre as três esferas de poder: municipal, estadual e federal. Porém, nem o projeto de lei de saúde mental proposto à SEMSA pela Associação Chico Inácio, nem um CAPS sequer saíram do papel.

Justiça se faça. O prédio onde funciona o único CAPS de Manaus (construído pelo governo do Estado e repassado para o Município) foi cedido em 2006 para o Estado implantar aquele serviço. É pouco para uma demanda de 2 milhões de habitantes de uma cidade que necessita pelo menos 10 Centros de Atenção Psicossocial para adultos com problemas severos e persistentes, sem falar nas crianças, abusadores de álcool e outras drogas, centros de convivência...

Manaus, Dezembro de 2008.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no Caderno Raio-X, do Jornal Amazonas em Tempo, que circula às quartas-feiras.
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