PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
dezembro 31, 2008
Carta aberta de Uri Avnery a Barack Obama*
Carta aberta de Uri Avnery a Barack Obama*
Posted: 30 Dec 2008 02:45 PM CST
As humildes sugestões que se seguem são baseadas nos meus 70 anos de experiência como combatente de trincheiras, soldado das forças especiais na guerra de 1948, editor-em-chefe de uma revista de notícias, membro do parlamento israelense e um dos fundadores do movimento pela paz:
1) No que se refere à paz israelense-árabe, o Sr. deve agir a partir do primeiro dia.
2) As eleições em Israel acontecerão em fevereiro de 2009. O Sr. pode ter um impacto indireto, mas importante e construtivo já no começo, anunciando sua determinação inequívoca de conseguir paz israelo-palestina, israelo-síria e israelo-pan-árabe em 2009.
3) Infelizmente, todos os seus predecessores desde 1967 jogaram duplamente. Apesar de que falaram sobre paz da boca para fora, e às vezes realizaram gestos de algum esforço pela paz, na prática eles apoiavam nosso governo em seu movimento contrário a esse esforço.
Particularmente, deram aprovação tácita à construção e ao crescimento dos assentamentos colonizadores de Israel nos territórios ocupados da Palestina e da Síria, cada um dos quais é uma mina subterrânea na estrada da paz.
4) Todos os assentamentos colonizadores são ilegais segundo a lei internacional. A distinção, às vezes feita, entre postos “ilegais” e os outros assentamentos colonizadores é pura propaganda feita para mascarar essa simples verdade.
5) Todos os assentamentos colonizadores desde 1967 foram construídos com o objetivo expresso de tornar um estado palestino – e portanto a paz – impossível, ao picotar em faixas o possível projetado Estado Palestino. Praticamente todos os departamentos de governo e o exército têm ajudado, aberta ou secretamente, a construir, consolidar e aumentar os assentamentos, como confirma o relatório preparado para o governo pela advogada Talia Sasson.
6) A estas alturas, o número de colonos na Cisjordânia já chegou a uns 250.000 (além dos 200.000 colonos da Grande Jerusalém, cujo estatuto é um pouco diferente). Eles estão politicamente isolados e são às vezes detestados pela maioria do público israelense, mas desfrutam de apoio significativo nos ministérios de governo e no exército.
7) Nenhum governo israelense ousaria confrontar a força material e política concentrada dos colonos. Esse confronto exigiria uma liderança muito forte e o apoio generoso do Presidente dos Estados Unidos para que tivesse qualquer chance de sucesso.
8)Na ausência de tudo isso, todas as “negociações de paz” são uma farsa. O governo israelense e seus apoiadores nos Estados Unidos já fizeram tudo o que é possível para impedir que as negociações com os palestinos ou com os sírios cheguem a qualquer conclusão, por causa do medo de enfrentar os colonos e seus apoiadores. As atuais negociações de “Annapolis” são tão vazias como as precedentes, com cada lado mantendo o fingimento por interesses politicos próprios.
9) A administração Clinton, e ainda mais a administração Bush, permitiram que o governo israelense mantivesse o fingimento. É, portanto, imperativo que se impeça que os membros dessas administrações desviem a política que terá o Sr. para o Oriente Médio na direção dos velhos canais.
10) É importante que o Sr. comece de novo e diga-o publicamente. Idéias desacreditadas e iniciativas falidas – como a “visão” de Bush, o “mapa do caminho”, Anápolis e coisas do tipo – devem ser lançadas à lata de lixo da história.
11) Para começar de novo, o alvo da política americana deve ser dito clara e sucintamente: atingir uma paz baseada numa solução biestatal dentro de um prazo de tempo (digamos, o fim de 2009).
12) Deve-se assinalar que este objetivo se baseia numa reavaliação do interesse nacional americano, de remover o veneno das relações muçulmano-americanas e árabe-americanas, fortalecer os regimes dedicados à paz, derrotar o terrorismo da Al-Qaeda, terminar as guerras do Iraque e do Afeganistão e atingir uma acomodação viável com o Irã.
13) Os termos da paz israelo-palestina são claros. Já foram cristalizados em milhares de horas de negociações, colóquios, encontros e conversas. São eles:
a) estabelecer-se-á um Estado da Palestina soberano e viável lado a lado com o Estado de Israel.
b) A fronteira entre os dois estados se baseará na linha de armistício de 1967 (a “Linha verde”). Alterações não substanciais poderão ser feitas por concordância mútua numa troca de territórios em base 1: 1.
c) Jerusalém Oriental, incluindo-se o Haram-al-Sharif (o “Monte do Templo”) e todos os bairros árabes servirão como Capital da Palestina. Jerusalém Ocidental, incluindo-se o Muro Ocidental e todos os bairros judeus, servirão como Capital de Israel. Uma autoridade municipal conjunta, baseada na igualdade, poderia se estabelecer por aceitação mútua, para administrar a cidade como uma unidade territorial.
d) Todos os assentamentos colonizadores de Israel – exceto aqueles que possam ser anexados no marco de uma troca consensual – serão esvaziados (veja-se o 15 abaixo)
e) Israel reconhecerá o princípio do direito de retorno dos refugiados. Uma Comissão Conjunta de Verdade e Reconciliação, composta por palestinos, israelesnses e historiadores internacionais estudará os fatos de 1948 e 1967 e determinará quem foi responsável por cada coisa. O refugiado, individualmente, terá a escolha de 1) repatriação para o Estado da Palestina; 2) permanência onde estiver agora, com compensação generosa; 3) retorno e reassentamento em Israel; 4) migração a outro país, com compensação generosa. O número de refugiados que retornarão ao território de Israel será fixado por acordo mútuo, entendendo-se que não se fará nada para materialmente alterar a composição demográfica da população de Israel. As polpuldas verbas necessárias para a implementação desta solução devem ser fornecidas pela comunidade internacional, no interesse da paz planetária. Isto economizaria muito do dinheiro gasto hoje militarmente e a partir de presentes dos EUA.
f) A Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza constituirão uma unidade nacional. Um vínculo extra-territorial (estrada, trilho, túnel ou ponte) ligará a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.g) Israel e Síria assinarão um acordo de paz. Israel recuará até a linha de 1967 e todos os assentamentos colonizadores das Colinas de Golã serão desmantelados. A Síria interromperá todas as atividades anti-Israel, conduzidas direta ou vicariamente. Os dois lados estabelecerão relações normais.h) De acordo com a Iniciativa Saudita de Paz, todos os membros da Liga Árabe reconhecerão Israel, e terão com Israel relações normais. Poder-se-á considerar conversações sobre uma futura União do Oriente Médio, no modelo da União Européia, possivelmente incluindo a Turquia e o Irã.
14) A unidade palestina é essencial. A paz feita só com um naco da população de nada vale. Os Estados Unidos facilitarão a reconciliação palestina e a unificação das estruturas palestinas. Para isso, os EUA terminarão com o seu boicote ao Hamas (que ganhou as últimas eleições), começarão um diálogo político com o movimento e sugerirão que Israel faça o mesmo. Os EUA respeitarão quaisquer resultados de eleições palestinas.
15) O governo dos EUA ajudará o governo de Israel a enfrentar-se com o problema dos assentamentos colonizadores. A partir de agora, os colonos terão um ano para deixar os territórios ocupados e voluntariamente voltar em troca de compensação que lhes permitirá construir seus lares dentro de Israel. Depois disso, todos os assentamentos serão esvaziados, exceto aqueles em quaisquer áreas anexadas a Israel sob o acordo de paz.
16) Eu sugiro ao Sr., como Presidente dos Estados Unidos, que venha a Israel e se dirija ao povo israelense pessoalmente, não só no pódio do parlamento, mas também num comício de massas na Praça Rabin em Tel-Aviv. O Presidente Anwar Sadat, do Egito, veio a Israel em 1977 e, ao se dirigir ao povo de Israel diretamente, mudou em tudo a atitude deles em relação à paz com o Egito. No momento, a maioria dos israelenses se sente insegura, incerta e temerosa de qualquer iniciativa ousada de paz, em parte graças a uma desconfiança de qualquer coisa que venha do lado árabe. A intervenção do Sr., neste momento crítico, poderia, literalmente, fazer milagres, ao criar a base psicológica para a paz.
* Uri Avnery é um jornalista e histórico ativista israelense, e publicou esta carta no seu site. A tradução acima é de Idelber Avelar, publicada em seu blog.
Ser niño en Palestina
FERRÁN SALES
EL PAIS SEMANAL - 02-01-2005
Son más de la mitad de la población palestina y no tienen futuro. Una infancia marcada por la guerra y los controles policiales. Seiscientos niños han perdido la vida desde el comienzo de la Intifada. Miles de ellos sufren sus consecuencias a diario. Ésta es la historia de esa generación perdida.
Nació en un checkpoint del Ejército israelí. La noche en que Dallal empezó a sentir los dolores del parto pidió a Mustafá que la llevara hasta la clínica. Una ambulancia pasó a recogerlos por su casa. Aunque desde la aldea de Jayus hasta la maternidad de Nablus hay sobre el mapa menos de una hora, nunca llegaron a su destino. Los soldados del puesto de Kafr Zeibad les impidieron el paso. La discusión empezó a hacerse interminable; Azzaf, la abuela, insultaba a los militares; sus tías Naal y Fátima lloraban desconsoladamente, y el padre trataba de razonar con el responsable del destacamento para que les dejara continuar su camino. El viento frío de enero y las voces se filtraban por todos los resquicios del furgón, mientras la enfermera y el chófer ayudaban a la madre a dar a luz. Así fue como Aya vino al mundo.
Este mes, la pequeña cumplirá dos años. Lo festejará comiéndose un pastel en los brazos de su padre, al tiempo que tratará de sacarse los zapatos nuevos de cuero negro, regalo de su madre. Sus pies diminutos no están aún acostumbrados a sentirse tan aprisionados. En el jardín, a la sombra del limonero, todos recordarán aquella noche azarosa, que pudo haber acabado en un drama. Las secuelas del parto en condiciones poco confortables lastrarán a la niña para el resto de su vida; padece problemas respiratorios y sufre síntomas periódicos de cansancio. El clan de los Shamasna trata de no lamentarse: “Hemos tenido suerte, nuestra hija está con vida. Lo peor ha pasado. Alá nos protege”.
No es un caso aislado. Desde que en el mes de septiembre de 2000 se iniciara la Intifada hasta el pasado mes de febrero, las estadísticas del Ministerio de Sanidad de la Autoridad Nacional Palestina han contabilizado 51 casos de nacimientos en checkpoints del Ejército. Sólo 22 madres salvaron la vida de sus bebés. En los 29 casos restantes, los recién nacidos murieron a las pocas horas. Las organizaciones humanitarias internacionales han puesto en marcha un programa destinado a ayudar a las madres para que puedan dar a luz en sus casas y no tengan que aventurarse por esas carreteras de Cisjordania, constantemente interceptadas por controles. Antes de que estallara la revuelta, el 95% de los alumbramientos tenían lugar en hospitales; ahora sólo lo hacen en la clínica un 50%. Nacer en Palestina se ha convertido en el primer acto de resistencia en la vida de un niño.
Los obstáculos creados por la ocupación no parecen sin embargo afectar a la población palestina, que no ha dejado de crecer ni un solo instante. El 52,4% de los habitantes de Cisjordania y Gaza tienen menos de 17 años. Su incremento es de un 3,5% anual, y el de fertilidad, el 5,9% por pareja. Los índices de mortalidad infantil son de 25,2 cada mil nacimientos. Los demógrafos judíos contemplan aterrorizados el aumento irrefrenable del número de palestinos, que según ellos amenaza con romper lo que consideran el “punto de equilibrio” entre ambas sociedades.
Nacer en un ‘checkpoint’ no es simplemente un símbolo. Es además una forma de aprender desde el primer momento que las tropas israelíes estarán presentes en todos los actos de su vida. Esto es lo que sienten los niños de las aldeas de Tuba y Al Mukfara, al sureste de las colinas de Hebrón, al sur de Cisjordania. Todas las mañanas, los militares vienen hasta la puerta de su casa para acompañarlos hasta la escuela palestina de Al Tuwani. Un total de 21 muchachos, con edades comprendidas entre los 6 y los 12 años, caminan con las mochilas a la espalda emparedados entre los blindados. Lo hacen en silencio, como si tuvieran miedo de volverse a encontrar en cualquier recodo las milicias armadas de los colonos de los asentamientos cercanos de Maon y Havat Maon. El Ministerio de Defensa otorgó a estos pequeños una custodia militar, tras una agria polémica parlamentaria en la que se denunciaron las vejaciones que los colonos infligían a los alumnos a diario con la excusa de que pasaban por sus propiedades.
“Hasta finales del pasado mes de noviembre, un grupo de pacifistas cristianos, en su mayoría oriundos de Estados Unidos y de Italia, dábamos protección a los muchachos en el camino de ida y regreso a la escuela”, explica Joseph Carr, de 23 años, licenciado en historia, oriundo de Misuri, convertido desde hace un tiempo en representante del comando pacifista asentado en la aldea de Al Tuwani. Su principal misión es la de tutelar las idas y venidas de los niños, aun a costa de arriesgar su vida.
Antes de que los soldados se hicieran cargo de la custodia de los pequeños, los comandos colonos habían atacado en dos ocasiones a los alumnos. Los asaltantes, vestidos de negro y con el rostro tapado, blandiendo cadenas y palos, habían puesto en fuga a los menores y lesionado a sus acompañantes, tras saquearles la documentación y robarles su dinero. La queja de las víctimas, militantes de Christian Peacemaker Teams y de Amnistía Internacional, hizo enrojecer de vergüenza a los mandos del Ejército, que han asumido definitivamente la responsabilidad de proteger a este grupo de escolares palestinos.
Esta mañana, los 66 alumnos de la escuela pública de Al Tuwani –entre 150 y 250 habitantes– han despedido su jornada escolar cantando una y otra vez las primeras estrofas del poema Nuestro país. Desde la explanada que sirve de campo de fútbol se oyen con claridad las voces de los pequeños, repitiendo las estrofas de la poetisa Fadua Tukán. Los vehículos blindados del Ejército esperan impacientes más allá, en lo alto del camino, a que se apaguen los cánticos y el maestro ponga fin a la clase.
“Mi país es el paraíso. / Lo quiero con todo mi corazón”.
Sofía, de 12 años, vecina de Tubas, séptima hija de un campesino del clan de los Rabaid, ha sido la primera en salir de la clase. Capitanea un grupo reducido de cinco compañeros, que trotando se dirigen al encuentro de los militares. De manera disciplinada se han colocado en formación detrás de uno de los vehículos blindados. Han empezado a andar mientras un segundo todoterreno les custodia sus espaldas. Durante media hora caminarán por un sendero de piedras, que bordea un pinar y pasa junto a las casas blancas con teja roja del asentamiento. Hoy no ha habido ningún incidente.
–Sofía, ¿tú qué querrás ser cuando seas mayor?
–¿Yo? Maestra.
Ir a la escuela se ha convertido también para muchos niños palestinos en un acto de resistencia. En Cisjordania y Gaza apenas existe el analfabetismo; sólo un 8,1%, en su mayoría entre personas ancianas. En los territorios hay censadas un total de 2.109 escuelas a las que acuden 1.017.443 niños y en las que imparten sus enseñanzas 37.240 profesores. Todo esto es en teoría, porque desde que se inició la Intifada, los israelíes han cerrado durante cierto tiempo 850 escuelas, otras 8 las han convertido en cuarteles, 185 han sido parcialmente destruidas por los bombardeos y 11 han quedado demolidas. Un tercio de los niños en edad de escolarizar tienen a diario dificultades para llegar a sus clases, según asegura Unicef. Los índices de aprovechamiento de los alumnos han descendido drásticamente; por ejemplo, el número de estudiantes que suspenden los cursos de matemáticas ha pasado del 35% al 68%.
Los expertos en política educacional advierten alarmados que por primera vez en la historia de Palestina ha descendido la escolarización. Los primeros síntomas se detectaron en el curso 2002-2003, que coincide con la época más dura de las sanciones colectivas impuestas por el Ejército. Los índices de inscripción a la escuela bajan cada año un 1,5%, lo que representa que cada curso 15.000 jóvenes dejan de ir al colegio. La tendencia señala un continuo descenso que amenaza con quebrar uno de los pilares de la sociedad palestina: la enseñanza. En muchos casos son los padres quienes tienen miedo de enviar a sus hijos al colegio, entre otras razones porque las aulas han dejado de ser un lugar seguro y el camino a la escuela se ha convertido en un sangriento laberinto.
Iman tenía 12 años. El pasado 5 de octubre se dirigía, como todas las mañanas, de su casa a la escuela, pero una espesa niebla la hizo equivocarse de camino. Sin saberlo, se dirigió hacia el puesto militar de vigilancia, situado en la frontera, entre el campo de refugiados de Rafah y Egipto. A pesar de que los soldados identificaron a la niña como una escolar por su bata a rayas característica de los centros de la UNRWA, el mando dio orden de disparar. La excusa fue que en la mochila podría llevar una bomba. Un destacamento al mando de un oficial se acercó hasta el punto en que la pequeña había caído herida. Según los primeros indicios, el capitán R., jefe de la laureada Brigada Givati, disparó a quemarropa sobre el cuerpo inmóvil, antes de regresar a su acuartelamiento. El número de impactos permiten aventurar que vació su cargador. Los soldados que le acompañaban denunciaron el incidente a la prensa de Tel Aviv. Las autoridades militares están investigando el caso.
“El cuerpo de mi hija tenía 21 agujeros de bala. Cuatro de ellos en la cabeza. El más indignante y criminal le atravesó el cráneo, de arriba abajo. Todos a corta distancia. Las fotos tomadas en el hospital lo dejan claro. No cabe ninguna disculpa. La mataron a sangre fría”, se lamenta Samir Darweesh al Hams, de 49 años, padre de la muchacha, profesor de lengua y literatura árabe en una escuela de Naciones Unidas.
La muerte de Iman ha sacudido a toda su familia, incluidos sus ocho hermanos. Era la menor. Los que la conocieron dicen que era alegre. Soñaba con convertirse un día en maestra, como su padre. Sobre su cama ha dejado sus últimos juguetes: una muñeca y un oso de peluche. En la mesa debían de estar abiertos los libros, su plumier y la caja de lápices de colores, que llevaba en el momento de su muerte dentro de la mochila. Los soldados lo destruyeron todo con una carga explosiva, creyendo que se trataba de una bomba. A la familia Al Hams le queda la esperanza de que el proceso judicial iniciado desde Jerusalén por la abogada israelí Leah Tsemel pueda acabar un día con una sentencia condenatoria contra el oficial autor de los disparos.
No sólo se muere en el camino del colegio. También se muere dentro de los muros de la escuela. Ghadeer Mujermar tenía 10 años cuando recibió el impacto de un proyectil israelí en el pecho. Estaba sentada en su pupitre en un centro de enseñanza primaria del campo de refugiados de Al Gharbi, en el término municipal de Jan Yunes, en la Franja de Gaza. Murió tres días más tarde en la unidad de cuidados intensivos del hospital de Shifa, en Gaza capital. La oficina de estadística de la UNRWA, que gestiona una quinta parte de las aulas palestinas, denunciaba el pasado mes de noviembre que en tan sólo dos semanas, tres de sus alumnos habían muerto en la escuela o saliendo de ella, y otros ocho habían resultado heridos en el interior de las aulas. Durante el año 2004, la organización internacional ha documentado al menos 71 tiroteos israelíes contra sus establecimientos de enseñanza.
Los nombres de las escolares Iman Darweesh al Hams y Ghadeer Mujermar están ya para siempre en la lista de niños muertos en la segunda Intifada. Entre el 29 de septiembre de 2000 y el 30 de junio de 2004, casi 600 menores palestinos han fallecido en acciones bélicas del Ejército o en incursiones de los colonos. En esta cifra se incluyen los 51 menores que, de una manera supuestamente accidental, murieron en las operaciones de asesinatos selectivos perpetradas por los militares contra los activistas palestinos. Cerca de un tercio de los niños muertos en esta Intifada tenían menos de 13 años. El 52% de los muertos, por disparos de armas automáticas. El 64,4% fueron víctimas de ataques aéreos, terrestres o por el fuego indiscriminado de los militares, según asegura la organización no gubernamental Defence for Children International.
Mohamed Jamal al Durra fue el primero en morir en esta Intifada. Falleció un día después de que estallara la revuelta. Tenía 12 años. Todos los indicios aseguran que murió tiroteado por el Ejército, aunque los israelíes tratan de exculparse afirmando que fue víctima de un fuego cruzado. Las imágenes de su muerte, en brazos de su padre, filmadas por un cámara de la televisión francesa, fueron difundidas por todo el mundo y se convirtieron en una prueba más de los métodos desproporcionados utilizados por Israel para reprimir la revuelta palestina. Pero además, para el mundo árabe, su muerte es un símbolo. Muchas calles han sido bautizadas con su nombre, se han impreso sellos con su imagen e incluso compuesto canciones. En el campo de refugiados de Breij, en el centro de Gaza, todos conocen a los Durra.
“Nada puede compensar la muerte de un hijo. El único consuelo es haber engendrado después de su muerte otro niño, al que también hemos puesto el nombre de Mohamed; pronto cumplirá los dos años”, asegura Jamal al Durra, de 42 años, albañil en paro, padre de siete hijos. Las heridas provocadas por ocho impactos de bala durante el tiroteo en el que murió su hijo le han dejado un brazo y una pierna inútiles. No se avergüenza en confesar que vive de la ayuda internacional, incluidos los 10.000 dólares que en su día le envió desde Irak el presidente Sadam Husein.
Un mes después de la muerte de Mohamed Durra fallecía también en Gaza Fares Faiq Odeh. Con sólo 15 años se había convertido en otro símbolo de la Intifada. Su fotografía, tomada por un reportero de una agencia internacional, en la que se le veía de espaldas arrojando una piedra contra la mole inmensa de un tanque israelí, es una de las imágenes más emblemáticas de la revuelta. Moriría pocos días después de aquella foto, de un disparo en el cuello. Fares en árabe significa caballero; odeh, regreso. Caballero del Retorno. Su sueño era convertirse en un combatiente.
“Cuando miro su foto me siento feliz. Pero también sé que no ha muerto y que continuará viviendo en mi nieto Fares; apenas tiene un año”, afirma la madre, Enam, de 44 años. Lidera una familia destrozada por el dolor y el infortunio. Tres de sus nueve hijos padecen enfermedades degenerativas. El dinero que han venido recibiendo a raíz de la muerte de su hijo ha servido para tratar de salvar la vida de sus tres hermanos enfermos. Los Odeh coinciden con los Durra en perpetuar dentro del clan el nombre de sus hijos muertos; no sólo hay un nuevo Mohamed, también hay otro Fares.
Pero también están los pequeños heridos. Las estadísticas aseguran que en los últimos cuatro años, 10.000 niños han resultado alcanzados en el transcurso de acciones bélicas israelíes. Un porcentaje muy elevado de estos menores han quedado lisiados para el resto de sus vidas. Éste es el caso de Ahmed Abuhader, que acaba de cumplir los 16 años. Está inválido de las dos piernas. Fue alcanzado por un misil israelí el pasado mes de septiembre en la operación Días de Penitencia. En el momento del impacto, el muchacho salía de la escuela y volvía a casa.
“Noté un golpe en la pierna. Pero continué corriendo hasta que un compañero me dijo que estaba sangrando. Miré hacia atrás; vi cómo la pierna se desgajaba de mi cuerpo. Caí al suelo. La otra pierna también la tengo inservible”, explica Ahmed, sentado en su silla de ruedas, en su casa del campo de refugiados de Jabalia, donde vive con sus padres y sus ocho hermanos. Las mismas restricciones fronterizas, que no dejan que su padre pueda ir a trabajar a Israel, no le permiten a Mohamed ir a un hospital en el extranjero donde puedan colocarle unas prótesis para poder caminar. Es consciente de que para el resto de su vida será un inválido. Pero ello no le impide soñar: quiere continuar sus estudios y llegar a ser médico.
La represión y las detenciones están provocando también heridas profundas en los menores palestinos. Desde el inicio de la Intifada, alrededor de 2.500 niños han sido arrestados o detenidos. Las estadísticas de las organizaciones humanitarias aseguran que en el año 2001, el 95% de los niños detenidos fueron sometidos a “abusos físicos y psicológicos, e incluso a torturas”. Aunque no hay porcentajes recientes, todo lleva a pensar que el comportamiento de las tropas hacia los menores no ha cambiado. Los informes oficiales más recientes, del pasado mes de octubre, aseguran que 391 palestinos menores de 18 años están encarcelados en prisiones israelíes. El 50% de los menores detenidos no han podido recibir visitas de sus familiares. Las sentencias de los tribunales militares son rigurosas: uno de los menores ha sido condenado a perpetuidad; tres, a 15 años de cárcel, y otros cuatro, a penas que oscilan entre los 5 y los 9 años. El resto de los niños cumplen condenas de 6 a 18 meses, en su mayor parte por arrojar piedras. No hay programado para ellos ningún tipo de actividad mientras permanecen en las cárceles. Pasan todo el día en las celdas sin hacer nada, salvo las dos horas, una por la mañana y otra por la tarde, en que se les permite salir al patio. Permanecen aislados del resto del mundo. Los aparatos de televisión y de radio están prohibidos, asegura el Ministerio de Detenidos palestino.
“Yo fui torturada. Tenía sólo 15 años cuando me detuvieron cerca de un control militar de la ciudad vieja de Hebrón, cuando me dirigía a la escuela. Me registraron la mochila y encontraron junto con los libros un cuchillo, que llevaba para un trabajo en el colegio. Me acusaron de planear matar a un colono. Estuve 16 días incomunicada en una celda en la central policial de Jerusalén. Durante horas me colgaron de la pared asida por las muñecas o en una cama de hierro. Al menos en dos ocasiones entraron en la celda, me abrieron la boca y me inyectaron con un spray gas, que me impedía respirar. Cuando todo esto se acabó, me trasladaron a la prisión de menores en Ramle, donde he estado durante dos años”. Fida Gannam acaba de cumplir los 18 años, se encuentra en libertad desde el pasado mes de enero.
En la biografía de Fida hay un enorme paréntesis, como un agujero negro. En ocasiones se asoma hasta el brocal de su pozo y vuelve a sentir aquella profunda angustia, en la que creía ahogarse y que la llevaba inexorablemente a estallar en lágrimas. Le es imposible dejar de percibir aquel olor de suciedad que emanaba de la comida y que le impedía durante días probar bocado. Pero sobre todo no puede olvidar la soledad en la que vivió durante todo el tiempo en que estuvo encerrada. Ahora, lentamente, ha empezado a reconstruir su vida. Quiere ser abogada.
Fonte: http://www.comunidadpalestina.org/
La rosa de Palestina
La rosa de Palestina
Urariano Mota,
periodista y escritor brasileño.
Un poema de Vinícius ordena, suplica, que "Pensem nas crianças mudas telepáticas. Pensem nas meninas cegas inexatas. Pensem nas mulheres rotas alteradas. Pensem nas feridas como rosas cálidas...". Ese poema, La rosa de Hiroshima, ordena, resiste e insiste en nuestra memoria cuando vemos la foto de Somaeah Hassan, de 6 años, abatida en la franja de Gaza. Esa flor fusilada, entre gases, con los ojitos semicerrados, es la propia Rosa de Palestina. Contengamos la velocidad de la mano, refrenemos la velocidad de escritura, desaceleremos el flujo de lectura. Pedimos una pausa en el caleidoscopio, en las luces fugaces, frívolas, vulgares del incesante ir y venir del noticiario de todos los días. Somaeah Hassan está muerta. Calma, cierren sus bocas, cañones calientes de las balas, suspendan la digitalización, periodistas de los noticieros, aseguren por un instante la divulgación del más caliente y reciente escándalo. Porque el escándalo ya está hecho. Somaeah Hassan está muerta. En la foto, sus ojitos se niegan a comprender el horrro de las balas que la sacarán del campo de refugiados de Rafah. Decir que "se niegan" es sólo una manera de hablar, pues, a sus seis años, son incapaces. Y si hubiese más tiempo, más vida, otra vida, Somaeah comprendería y se negaría a comprender el gran horror de su pueblo cercado como perros rabiosos. Y la rabia, en perrros, se mata, pero la rabia, en gente tratada como perro, no se mata, solamente crece cuando matan a criaturas como Hassan.
Refrenemos la mano. Es difícil, pero intentémoslo.
Nos vendría bien, pide la paz que nuestro pecho desea, un lugar común que nos ayudase, que nos socorriese. Decir, por ejemplo, que así es la guerra, cruel como todas, que en ella no hay santos ni demonios, que la guerra nos transforma a todos en ángeles de las tinieblas. Dicho esto, sería mejor decir que el terror ejercido por el estado de Israel no es más que una respuesta al terror sufrido antes por su gente. Dicho esto, podemos decir finalmente que el mal y el malo deben ser destruidos para que vuelva ala paz. Pero, al llegar a ese punto, preguntamos: ¿de qué mal y de qué malos hablan ustedes, rostros pálidos? ¿nadie notó aún que nuestra cara tiene la misma cara y la misma sangre que la gente palestina? ¿Que ellos, los palestinos, son nuestra propia cara? ¿Nadie notó que la desesperación del pueblo palestino es nuestra propia desesperación en otras tierras y otras circunstancias? La misma desesperación que todo el mundo sufre en situaciones límite. Ahora que EE.UU. mandan a dar la vuelta al mundo a su negro para el consumo externo, el general Colin Powell, éste se nos aparece como un nuevo Al Jolson, con la cara tiznada. Los intereses de que habla no son nuestros. Sirven a la misma rosa atómica que cayó sobre Hiroshima y Nagasaki.
Entonces volvemos, más serenos. Pero, desgracia, descubrimos serenos que no tenemos manos. Solamente tenemos una gran letargia. Entonces quebramos el torpor, volvemos al principio.
"A rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a anti-rosa atómica" sufrió una traducción en el campo de refugiados de la franja de Gaza. Se hizo una rosa fusilada, la Rosa de Palestina, en el cuerpito frágil de Somaeah Hassan. Esa niña nos hiere como una hijita muerta. Ella nos habla, en árabe, en dialectos, en otro lengua, y la comprendemos y amamos como a una hija que nuestro semen esculpió. Más aún, como un ser esculpido por nuestro hermano. Hermano, con un sentido más hondo que el genético, más hondo que el racial, más hondo que el nacional. Con un sentido de hermano de hermano que es el propio sentido de la humanidad. Hassan es nuestra propia humanidad abatida, y se abre en otras rosas que se desplazan en Jerusalén. Rosas que en vez de pétalos tienen carne, hígado, corazón, intestinos.
Ya secamos las lágrimas. No nos pregunten por qué vomitamos. No querríamos tener esas Rosas de Palestina.
22 de Julio de 2003
Fonte: Comunidad Palestina de Valencia
dezembro 30, 2008
Flor da Raiva
Por alexzapa 29/12/2008 às 13:45
.
Poema de apresentação do Flor da Palavra no I Festival da Digna Rabia, Cidade do México
Somos flores com antenas
Nuestra otra política no se haz solamente en las "polis"
Se haz en prédios con tallos en sus rachaduras
o entonces en asentamientos del mst usando software libre
Nuestra historia, nuestras otras historias son de más de 500 años y más y más...
Es una historia de re-crear lo que no se olvidó
Somos índios amazonicos intergalácticos de tefé, curitiba, florianópolis, são paulo en las metropolis sucias de los asfaltos de sangre negro
Las milicias de policias en las favelas del rio de janeiro
La criminalizacion del mst en rio grande do sul
La "chacina de la candelária"
y el anonimato del anonimato
son las mimas espinas que cerran nuestras rádios comunitárias
y matan matan...
En nuestras políticas no hay mera espontaneidad, sino la improvisación de la creatividad
No se escribe aquí metáforas, sino formas de meta
Formas de lenguages en luchas de signo y sangre
En contra el capitalismo que invade nuestras tierras y mentes
Floreamos el mundo sin tomar el poder
Para que se vayan todos
Para otro mundo posible
Para todos todo
Y la lucha sigue sigue
En una lucha tan global como la economia de ellos
Por una tierra libre hasta la victoria
Por fin, aqui no se acaba mi historia
Sino empeza el baile de nuestra revolución
El Color de la tierra y la geografia de nuestro amor...
...y Rabia.
Alexzapa, festival da Digna Rabia, Cidade do México. 28 de dezembro
Hello, everybody!
Concorso Fotografico Nazionale
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montepremi 20.000 euro
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Fonte: Concorso Fotografico Nazionale
Navegador
Aníbal Beça ©
Porque todo aquí es agua
voy tañendo soledad
porque todo aquí es calma
fui herido en ansiedad.
Tracé tiempo y derrotero
para inventarme en un río
un reloj sin los punteros
siembra de verde bajío.
Sin un puerto de llegada
soy alma que se navega
enjuagando mis pisadas
al caminar por las vegas.
Navegar que me navego
a nada nunca me niego
*
NAVEGADOR
Anibal Beça
Por que tudo aqui é água
vou tangendo a solidão
Por que tudo aqui é calma
fui ferido em aflição
Teci no tempo um roteiro
que me inventasse num rio
um relógio sem ponteiros
várzea de verde baixio
Sem um porto de chegadas
ou alma a se navegar
lavando minhas pegadas
no meu impulso de andar
Navegador me navego
a nada nunca me nego
As políticas naturais de desastre
por Alex
As catástrofes pouco têm de natural e muito da lógica do capital. O modelo de desenvolvimento implementado, ao ter por norte único o lucro, de qualquer forma possível, tira proveito das destruições do planeta seja como desgraça ou nas conseqüências destas.
Por um lado, temos as autoridades governamentais que buscam se isentarem de suas responsabilidades ao culpar a natureza pelas tragédias, escondendo assim, uma série de (não) políticas públicas que permitiram tal ocorrência. Evita-se uma discussão séria sobre os motivos – através do argumento de "não politizar a situação", liberando a gestão pública e os interesses empresariais de responsabilidades. As catástrofes aparecem quase como um castigo divino, que nada tem a ver com o modelo de desenvolvimento aplicado e que se continua a aplicar.
Por outro lado, tentando uma análise mais abrangente, culpa-se o ser humano pelas mudanças climáticas. Enxerga-se assim a sombra do problema, mas não a sua face. Há que se politizar o sucedido, pois por trás de tudo existe uma série de políticas públicas que têm permitido, em paralelo às causas naturais, a situação que hoje se vive e que se repete como num círculo infernal a cada verão.
O que poderia ser evitável segue se repetindo, sacralizado acima do poder humano e da política, essa transmutação impede que se percebam as causas reais.
Os responsáveis por esses crimes contra a natureza e a humanidade não serão encontrados na explicação da moda, de "mudança climática", ou pela nova-velha teoria de cima, elaborada pelos "especialistas acadêmicos" e comprada no supermercado das idéias pré-fabricadas, que culpam as vítimas pela sua desgraça. "Ocupação irregular do solo" nos dizem eles, mostrando a superfície e não a raiz do problema, como se o direito à habitação não fosse uma questão de políticas e responsabilidade públicas. Senão vejamos:
Segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal, este apenas executou 13% do orçamento previsto (para o ano de 2008) para prevenção e preparação de desastres; No estado de Santa Catarina as Áreas de Preservação Permanente foram diminuídas em extensão por pressão da Bancada Ruralista, a mesma que constrói diques irregulares para valorizar suas propriedades e que, através de uma política de habitação em prol da especulação imobiliária, torna inacessível, para a maioria da população, a moradia nas regiões mais planas e seguras, forçando as pessoas pobres a ocuparem, para poderem sobreviver, as encostas e morros.
A mão do capital acompanha as destruições da natureza, seja via desflorestamento, esgotamento dos solos, contaminação, desequilíbrio ecológico, poluentes atmosféricos, especulação imobiliária, segregação social.
Centenas de mortos, milhares de desabrigados e de pessoas que não poderão voltar aos seus lares. Em meio às tragédias pode-se medir a estatura das pessoas. Para uns e umas estes desastres servem para capitalizar suas imagens através de oportunismos midiáticos, doações avultantes, eventos pirotécnicos. Mas, por outro lado, a anônima solidariedade de baixo se espalha arrecadando muito do pouco que possuem.
Contudo, os bilhões saídos dos cofres públicos agora, e somente agora, que se somam com as doações de solidariedade popular provavelmente serão investidos na reconstrução da infra-estrutura da cidade, ou seja, na construção de pontes, estradas, créditos para (re)construção de moradias… E não é que alimentamos, uma vez mais, os lucros das empreiteiras, construtoras, propriedades agrícolas…? O capital lucra duplamente com as tragédias, na sua causa e nas suas conseqüências. As tragédias, assim, aparecem como oportunidade aos conglomerados empresariais que atuam nos processos de reconstrução.
Entretanto, o capitalismo, enquanto sistema, não é antagônico a proteção ambiental. Este pode apropriar-se do discurso e prática ecológica como mecanismo de sua reprodução, isto é, de acúmulo de lucro e multiplicação de explorações e desigualdades. Em que pese este fato, o aumento do consumo nos atuais padrões energéticos e a sombra da crise financeira pode influenciar o quadro geopolítico e econômico mundial, acirrando nacionalismos e conflitos, incluso armados.
E a população pobre, se não efetivar saídas coletivas e autônomas, se não se mobilizar para uma mudança substancial neste quadro e, ao invés disso continuar a entregar sua vida aos gestores e políticos, deverá ser obrigada a, mais uma vez, reiniciar sua jornada do zero. Tal qual Sísifo, a subir os morros e encostas, para no próximo verão rezar para que todo seu trabalho (suas casas, seus bens, suas vidas) não role morro abaixo. Nova Orleans, Tabasco, La Paz, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Sudeste Asiático… mudam-se as localidades, os nomes das cidades e os países, mas as causas das "tragédias naturais do capital" continuam a mesmas.
Fonte: http://coletivosopros.wordpress.com/2008/12/15/as-politicas-naturais-de-desastre/
dezembro 29, 2008
Gandra: a fábrica de tijolos
GANDRA: A FÁBRICA DE TIJOLOS
José Ribamar Bessa Freire
28/12/2008 - Diário do Amazonas
Ives Gandra Martins, professor da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), é advogado tributarista. Adora números e odeia índios. Traz no coldre uma arma engatilhada, carregada de cifras, que dispara contra Makuxi e Wapixana, a quem imprecisa e desrespeitosamente chama – sem se preocupar com a grafia correta - de nakixi e xapixanos. Domingo passado, descarregou sua munição contra os índios de Roraima fazendo contas bizarras, em artigo na Folha de São Paulo (“11 cidades de São Paulo”).
Se elefante comesse barro e tivesse fiofó quadrado seria uma fábrica de tijolos, ensina ‘Pão Molhado’, meu sobrinho. Esse modelo de raciocínio é usado por Ives Gandra, quando afirma que se tivesse a mesma densidade demográfica da cidade de São Paulo, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol abrigaria 110 milhões de brasileiros. No entanto, lá, nesse território - onze vezes maior que a capital paulista - vivem ‘apenas’ 18 mil índios, ele diz. Ou seja, o fiofó do elefante é redondo. Gandra deplora esse enorme desperdício, informando que em todo Brasil “pouco mais de 400 mil índios ocupam 107 milhões de hectares”.
Gandra está inconformado porque o elefante não é uma olaria. Multiplica 107 milhões de hectares por 10.000 m², mostrando que no Brasil os índios controlam territórios com 1.070.000.000.000 m² (um trilhão e setenta bilhões de metros quadrados). Cifras, estratosféricas e assustadoras, são manipuladas para nos convencer de que é muita terra pra pouco índio, que os índios são privilegiados e que suas terras deviam ser ocupadas por brasileiros não-índios. Repete a mesma lenga-lenga de seus artigos anteriores (“Gostaria de ser índio”–11/10/04; “876 índios”–05/05/05).
É uma tática manjada – e nem sempre honesta – usada para confundir e não para informar. Vejam só: se digo que Ives Gandra faz 74 anos em 12 de fevereiro de 2009, forneço um dado de que ele é um garotão diante de Matusalém, morto aos 969 anos. No entanto, Gandra se torna diluviano e jurássico, muito mais velho do que o avô de Noé, se afirmo – o que é absolutamente correto – que ele já viveu 2.333.664.000 segundos.
Ir e vir
Esse homem não hesita em usar sua experiência de mais de 2 bilhões de segundos bem vividos e o seu prestígio de constitucionalista para afirmar que cerca de 185 milhões de brasileiros não podem andar livremente pelo país, exercendo o seu direito constitucional de ir e vir, porque 13% das terras – um trilhão e setenta bilhões de metros quadrados – estão nas mãos dos índios, os únicos que podem percorrer 100% do território nacional, o que lhes confere, portanto “direitos superiores aos dos brasileiros não-índios”.
Índio privilegiado? Ri-dí-cu-lo! Isso é um escárnio. Gandra quer tornar antipáticos para a sociedade brasileira os direitos indígenas garantidos pela Constituição, usando uma forma primária e troglodita de pensar, que agride nossa inteligência. O pior é que tem gente que acredita. No Painel do Leitor da Folha, Marco Nogueira escreveu: “Compartilho da preocupação de Ives Gandra (...) Creio que as informações que o autor coloca em seu artigo são verídicas”. Leitores de O Globo, referindo-se a artigo de Denis Ronsefield (Viagem à Amazônia – 22/12/08) fizeram também idênticos comentários, recomendando sua leitura aos ministros do Supremo Tribunal (STF).
Imagine só! A gente não sabe se fica indignado ou se morre de pena desses leitores, aparentemente tão babacas como a Irene Fontini, que acredita na Flora, a assassina de seu filho e de seu marido, na novela A Favorita. Na verdade, são poucos os brasileiros que conheceram uma aldeia indígena, que conviveram com índios e que leram os trabalhos de antropólogos. Eles têm suas próprias preocupações. A tendência é, portanto, confiar na autoridade dos especialistas, alguns dos quais se aproveitam dessa lacuna para manipular mentes.
Por isso, a responsabilidade de quem forma opinião é enorme. Ives Gandra, que sequer grafa corretamente os etnônimos, oculta o fato de que ninguém pode andar livremente nem por 87% e nem por 100% do território nacional, como esclarece Reinaldo Silva, jurista da Universidade Federal de Santa Catarina. E isto porque a Constituição prevê o regime de propriedade privada, garantindo o livre trânsito apenas pelos bens públicos de uso comum, como estradas e praças, e pelos bens públicos de uso especial como rodoviárias e aeroportos, o que representa menos de 10% do território brasileiro.
“Tente entrar anonimamente em áreas da Vale do Rio Doce que tem o tamanho de Portugal e depois nos conte a experiência”, sugere Marina Gurgel. Efetivamente, qualquer leitor que circular, sem autorização, nas fazendas dos clientes do escritório de advocacia Gandra Martins, pode ser preso. A grande propriedade ocupa 55% de todo o território cadastrado no Incra. Mas Gandra, defensor da propriedade privada, não coloca isso em questão, eliminando tendenciosamente a informação. Culpa os índios, cujas terras constitucionalmente não são propriedade privada e – para ele - não devem ser demarcadas. Recomenda isso aos ministros do Supremo.
Reza e jejum
Quem é, afinal, Ives Gandra? Numa linguagem rebuscada, a revista Consultor Jurídico traça seu perfil: “católico praticante, não perde missa aos domingos, reza depois das refeições e jejua na Quaresma. Leva a sério suas convicções e a doutrina da Igreja, com a mesma coerência que defende suas teses jurídicas. Assim é que, fiel ao preceito da indissolubilidade do vínculo matrimonial pregado pela Igreja, não se permite a ir ao casamento de quem se casa em segundas núpcias. A crença nos valores católicos também o levou a se filiar à Opus Dei, organização conservadora da Igreja”.
A biografia de Ives Granda informa ainda que ele está todo emedalhado. Recebeu colares, medalhas, prêmios, Ordem do Mérito Militar do Exército Brasileiro, Medalha do Pacificador, Diploma de Cidadão Araraquense, Troféu Guerreiro da Educação e oscambau a quatro. Diz ainda que ele é autor de mais de 40 livros, co-autor de 150 – um deles com Gilmar Mendes, presidente do STF - além de 800 estudos diversos. Nada, porém, que o legitime a dar pitaco sobre o destino dos índios.
Por que um homem de fé, com essa biografia, ataca os índios, de forma tão irada, simulando que está protegendo os direitos de 185 milhões de brasileiros? É que seu escritório de advocacia – Gandra Martins e Rezek - prestou serviços ao então governador de Roraima, Ottomar Pinto, representante dos arrozeiros. O sócio, Francisco Rezek, ex-ministro do Governo Collor de Mello, é quem ficou encarregado do processo. Assim, Gandra escreve para defender os interesses particulares de seus clientes.
Nas entrelinhas, ele revela que pretende influenciar os votos dos ministros do STF no julgamento ainda inconcluso de Raposa Serra do Sol, disparando mais cifras: “Pela decisão, se for confirmada no próximo ano – faltam três votos – os eminentes ministros do Supremo – que admiro há muitos anos, tendo inclusive, livros escritos com alguns deles – outorgariam, pelo precedente criado, a pouco mais de 400 mil índios, nascidos ou não no Brasil, com cultura diferente da dos outros 185 milhões de brasileiros, 107 milhões de hectares, vale dizer, 4.5 Estados de São Paulo, onde vivem hoje 42 milhões de brasileiros”.
Dessa forma, Gandra acaba ferindo um dos mandamentos do seu escritório de advocacia, redigido pomposamente com retórica balofa: “o advogado deve ter o espírito do legendário El Cid, capaz de humilhar reis e dar de beber a leprosos” (sempre, é claro, que o leproso pague a bebida). Ele faz exatamente o contrário daquilo que prega: dá de beber aos fazendeiros e humilha os índios. Felizmente, os ministros do Supremo sabem que elefante não come barro, tem fiofó redondo e não pode ser uma olaria. Os tiros disparados por Gandra contra os inexistentes nakixi e xapixanos, deixam intactos, felizmente, os Makuxi e Wapixana.
P.S. – Ah, ia me esquecendo, por questão de princípio Ives Gandra não vai assistir ao casamento de Irene Glória Fontini, uma viúva, com Tarcisio Meira Coppola, um divorciado. Nem o da Flora com o Dodi, também divorciado.
Gaza: «choque e pavor»
diplomatique
edição portuguesa
Gaza: «choque e pavor»
por Alain Gresh
(inédito)
Sábado, dia 27 de Dezembro, a aviação israelita fez raides assassinos contra Gaza. De acordo com as autoridades israelitas, os lugares visados eram centros de comando do Hamas e das suas forças armadas. O balanço deste dia eleva-se a mais de 270 mortos e várias centenas de feridos. Numerosos civis foram atingidos, como relata o correspondente do The New York Times em Gaza, Taghreed El-Khodary («Israeli Attack Kills Scores Across Gaza»):
«No hospital de Shifa, numerosos corpos jaziam na morgue, esperando que a sua família os viesse identificar. Muitos estavam desmembrados. No interior, a família de um bebé de cinco meses que tinha sido gravemente ferido na cabeça por um rebentamento de obus. Com o hospital sobrelotado, o seu pessoal parecia incapaz de prestar ajudar. Na esquadra de polícia de Gaza, pelo menos quinze agentes de trânsito que estavam a treinar foram mortos. Tamer Kahruf, 24 anos, um civil que trabalhava numa obra de construção civil em Jabaliya, no Norte de Gaza, explica que os seus dois irmãos e o seu tio foram mortos sob os seus olhos quando a aviação israelita bombardeou um posto de segurança nos arredores. Kahruf está ferido e sangra da cabeça.»
Vítima desde há várias semanas de um bloqueio total, Gaza (e os seus médicos, evidentemente) está impossibilitada de cuidar dos feridos em condições normais.
O sítio Internet Free Gaza recolheu numerosos testemunhos de estrangeiros e de palestinianos no terreno que dão uma ideia da dimensão dos ataques.
O Hamas ripostou disparando várias dezenas de mísseis sobre Israel. Um israelita foi morto e vários foram feridos em Netivot e Ashkelon.
No domingo, dia 28, de manhã, as agências de imprensa anunciavam que o exército israelita estava a concentrar as suas tropas terrestres à volta de Gaza. Os bombardeamentos tinham sido retomados, tendo os raides israelitas atingido desta vez, designadamente, uma mesquita e uma estação de televisão. De acordo com o ministro da Defesa Ehud Barack, em caso algum punham a hipótese de um cessar-fogo: «É necessário mudar as regras do jogo» (« Israel resumes Gaza bombardment », Al-Jazeera English, 28 de Dezembro).
Na sexta-feira, Israel tinha excepcionalmente reaberto três pontos de passagem e deixado passar várias dezenas de camiões. Segundo um comentador israelita que defende o ponto de vista do seu governo, esta abertura fazia parte de actos de «diversão e de camuflagem adoptados pelo governo nos últimos dias» para apanhar o Hamas de surpresa. A escolha de um dia de sabat também. O mesmo comentador, Ron Ben-Yishal, explicou a 27 de Dezembro no sítio Internet a estratégia israelita: «Shock Tretment in Gaza».
«O que começou em Gaza no sábado de manhã é aparentemente uma acção limitada, visando obter um cessar-fogo a longo prazo entre o Hamas e Israel, em termos favoráveis a Israel. Estes termos incluiriam o fim dos ataques com morteiros e mísseis; o fim dos ataques terroristas através da fronteira de Gaza; negociações séria para a libertação de Gilad Shalit; e a suspensão do reforço militar do Hamas. O meio para garantir os objectivos mencionados é, literalmente, um “tratamento de choque”. Assim, o Hamas já não será capaz de tomar a iniciativa, e será Israel que tomará a iniciativa e mostrará ao Hamas que vai responder de forma “desproporcionada” de cada vez que os habitantes do Negev Ocidental forem bombardeados. Nesta fase, não falaremos do derrube do regime do Hamas, mas sobretudo da formulação de novas regras do jogo e de um esforço para pressionar o Hamas a aceitar um novo cessar-fogo.»
No sítio Internet do diário Haaretz, Amos Harel assinou um comentário intitulado «IAF strike on Gaza is Israel’s version of ‘shock and awe’».
«Os acontecimentos ao longo da frente Sul que começaram sábado de manhã, às 11h30, parecem-se muito com uma guerra entre Israel e o Hamas. É difícil dizer onde (geograficamente) e por quanto tempo vai prosseguir a violência antes de uma intervenção da comunidade internacional com vista à suspensão das hostilidades. Todavia, a salva de abertura israelita não é uma operação “cirúrgica” ou um ataque limitado. É o assalto mais violente a Gaza desde que este território foi conquistado em 1967.»
Esta ofensiva coloca-se também no quadro, se assim se pode dizer, da campanha eleitoral israelita. No dia 10 de Fevereiro de 2009 terão lugar eleições gerais e cada um dos candidatos faz apostas ousadas. Mesmo o partido de esquerda Meretz apelou, antes do desencadeamento do ataque israelita, a uma acção armada [1]. Em contrapartida, o Gush Shalom, a organização de Uri Avnery, condenou firmemente a acção israelita e os ditos apoiantes da paz, como Amos Oz, que a apoiam. Lembremos que em Fevereiro de 1996, o primeiro-ministro de então, Shimon Peres, tinha lançado uma ofensiva contra o Líbano («Uvas da cólera») – que ficou célebre pelo massacre de Cana, com uma centena de refugiados mortos – na esperança de ganhar as eleições que se preparavam. Resultado: Benyamin Netanyahu ganhou e tornou-se primeiro-ministro. No sábado à noite, um milhar de pessoas manifestou-se em Telavive contra os ataques israelitas.
É interessante notar que os comentadores israelitas, como a maior parte dos comentadores da imprensa ocidental, não assinalam a razão mais importante do falhanço do cessar-fogo de seis meses, que durou de 19 de Junho até 19 de Dezembro. Como nos confirmou Khaled Mechaal, chefe da comissão política do Hamas na semana passada, o acordo compreendia, para além do cessar-fogo, o levantamento do bloqueio de Gaza e um compromisso do Egipto em abrir a passagem de Rafah. Ora, não só Israel violou o acordo de cessar-fogo lançando um ataque que matou várias pessoas no dia 4 de Novembro, como os pontos de passagem não foram reabertos senão parcialmente, e o bloqueio foi mesmo reforçado nas últimas semanas. A população, que era largamente favorável ao acordo em Junho, exige hoje uma clarificação: ou a guerra ou a abertura incondicional dos pontos de passagem e o fim da chantagem permanente que permite a Israel matar lentamente à fome (e privar de cuidados de saúde) a população. Esta está certa quando acusa Israel, como relata o sítio Internet da Al-Jazeera em inglês: «Gazans: Israel violated the truce» (Mohammed Ali).
O presidente Nicolas Sarkozy reagiu com um comunicado. «O presidente da República exprime a sua mais viva preocupação perante a escalada da violência no Sul de Israel e na Faixa de Gaza. Condena firmemente as provocações irresponsáveis que conduziram a esta situação, assim como o uso desproporcionado da força. O presidente da República deplora as importantes perdas civis e exprime as suas condolências às vítimas inocentes e às suas famílias. Pede a paragem imediata dos lançamentos de mísseis sobre Israel, assim como dos bombardeamentos israelitas sobre Gaza, e apela à moderação de ambas as partes. Lembra que não existe solução militar em Gaza e pede a instauração de uma trégua duradoura.»
Num comunicado publicado na sequência do seu encontro com Abul Gheit, ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner reiterou as mesmas posições, acrescentando todavia que a França pedia «a reabertura dos pontos de passagem», um ponto ignorado por Sarkozy.
A senadora Nathalie Goulet, da UMP (União para um Movimento Popular), pertencente à Comissão dos Negócios Estrangeiros, publicou a declaração seguinte: «Como sempre, Israel faz um uso excessivo da força perante a indiferença da comunidade internacional, que deixa degradar-se a situação em Gaza há meses e meses. Não há que culpar nem o Irão nem o Hamas, mas a inércia da comunidade internacional, o apoio sistemático da política americana a Israel e a intolerável “atitude dupla” das organizações internacionais. Israel viola desde há quarenta anos dezenas de resoluções da ONU, sem embargo, sem sanções e com toda a impunidade. A situação é insuportável para os habitantes civis de Gaza desde há anos. A situação tem vindo a degradar-se, com o seu cortejo de humilhações e uma sede de vingança. Olho por olho tornará o mundo cego, disse Gandi. Há já demasiado, demasiado tempo que estamos cegos e surdos em relação ao sofrimento do povo palestiniano.»
Os ataques também suscitaram as condenações habituais dos países árabes. Uma reunião de emergência da Liga Árabe terá tido lugar no domingo. O Egipto declarou que acusava Israel como responsável; esta afirmação é talvez uma resposta a informações da imprensa israelita que afirmam que o Cairo teria dado luz verde a uma operação limitada a Gaza visando derrubar o Hamas («Report: Egypt won’t object to short IDF offensive in Gaza», por Avi Issacharoff, Haaretz, 25 de Dezembro). Um outro artigo do Haaretz publicado no dia 28 de Dezembro, e que descreve a campanha de desinformação do governo israelita antes da ofensiva de Gaza, explica que Tzipi Livni, a ministra dos Negócios Estrangeiros, tinha informado o presidente Mubarak do ataque («Disinformation, secrecy and lies: How the Gaza offensive came about», por Barak Ravid). A cumplicidade do Cairo é confirmada por um relatório da Y-net, «Egypt lays blame on Hamas», por Yitzhak Benhorin (27 de Dezembro), que retoma as declarações do ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros Abul Gheit, explicando que o seu governo tinha prevenido o Hamas e que os que não tinham escutado estes avisos assumiam a responsabilidade da situação (sobre as razões da política egípcia, ler esta entrevista com Khaled Mechaal).
Nestas condições, é duvidoso que estas condenações árabes conduzam a resultados. A única iniciativa espectacular e eficaz que o Cairo poderia tomar seria reabrir a ponte de passagem de Rafah, o que não quer fazer de modo nenhum – até agora, limitou-se a abrir a passagem aos feridos palestinianos. E, de acordo com a agência de imprensa Maan, nenhum ferido se apresentou, afirmando os médicos palestinianos que o transporte dos feridos graves é impossível, a menos que o Egipto envie helicópteros («Not one Gazan at Rafah crossing despite Egyptian promise to treat wounded, country to send medical supplies instead», 27 de Dezembro).
Para lá do bloqueio, é necessário lembrar que:
• a recusa da comunidade internacional em reconhecer o resultado das eleições legislativas de Janeiro de 2006, que deram a vitória aos candidatos do Hamas, contribuiu para a escalada israelita; assim como a recusa de admitir realmente o acordo de Meca entre a Fatah e o Hamas;
• a União Europeia e a França em particular, quaisquer que sejam a suas tomadas de posição, encorajam concretamente a política israelita, designadamente recompensando Israel pela melhoria das relações entre Israel e a União Europeia, apesar das violações repetidas por Israel de todos os compromissos (diminuição do número de check-points, desmantelamento dos colonatos «ilegais», etc.);
• finalmente, lembremos esta verdade, cuja evidência é demasiadas vezes ocultada: a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental estão ocupadas desde há mais de quarenta anos. É esta ocupação que é a fonte de toda a violência no Médio Oriente.
Notas:
[1] «Leftist Meretz issues rare call for military action against Hamas», por Roni Singer-Heruti, Haaretz, 25 de Dezembro.
Eduardo Galeano: “Toda riqueza se nutre de alguna pobreza”
Eduardo Galeano: “Toda riqueza se nutre de alguna pobreza”
Posted: 28 Dec 2008 10:29 AM CST
Para finalizar este año, desde ¿Para qué otro blog más? les dejamos un regalo. Una hermosa entrevista al querido Eduardo Galeano, regalo de Luis, uno de nuestros colaboradores permanentes, que alaga este espacio con sus palabras. Feliz 2009.
Por Luis Zarranz, Florencia y Francisco Silio
Esta entrevista surgió entre Buenos Aires y Montevideo, se concretó en Mar del Plata y será publicada en una revista de Bariloche. Esas son las coordenadas geográficas pero sin embargo no tiene una geografía definida ni un tiempo preciso. En ella, Eduardo Galeano, un escritor y periodista que excede este recorrido, hablará de los cafés, de la crisis económica mundial, de América Latina, Bagdad, la inseguridad, las palabras traicionadas, los medios de comunicación, los servicios públicos y otras tantas cuestiones que nos atraviesan.
Cuando era chico y ser periodista era cosa del futuro lejano, me dije que entrevistar a quien ahora baja del ascensor a nuestro encuentro era mi máxima aspiración.
La anécdota sirve, como pocas, para reflejar la admiración que nos despierta el entrevistado y sería totalmente injusto omitir el dato, sabiendo lo fácil que usted se dará cuenta al leer la entrevista, ajena a todo manual del entrevistador: ahí donde decía que debíamos interrumpirlo, lo hemos dejado hablar. Donde estaba escrito eso de que “un buen periodista no muestra sus sensaciones”, hemos hecho el esfuerzo para que estuvieran a flor de piel.
La reflexión sobre esta experiencia, cosa que los manuales tampoco aconsejan hacer, nos arrojó una interesante conclusión: la subjetivación del hecho periodístico, ya de una manera intencionada, nos permitió no sólo saborear el momento sino merodear la esencia de quien teníamos enfrente, pero sentimos de nuestro lado.
La puerta del ascensor se abre en la planta baja de este refinado hotel de pretenciosa arquitectura y decoración, pero de escaso buen gusto. De él baja el único pasajero que transporta, procedente del décimo piso: pantalones de jeans, camisa azul turquesa. Por debajo, una camiseta negra. Por encima, un pulóver en forma de mochila, colgando sobre sus hombros y cayendo por la espalda.
Camina lento. No hay apuro en él. Las manos abrazadas por detrás, a la altura de la cintura. Un paso y otro, mirada marinero hacia el frente. Uno percibe una armonía entre ese tempo de cada paso, entre esa manera tan reflexiva de caminar y el intelectual que es, que ya, a prima vista, se siente trasladado a otro espacio y no en el anexo del Hotel Hermitage que lo hospeda en estos primeros días de la IV Feria del Libro de Mar del Plata, en la que es uno de los invitados ilustres y el encargado de la apertura.
Transitamos los quince metros que nos distancian desde el mostrador del lobby hasta su persona, es justo reconocerlo, con mucha más prisa, ansiedad y expectativa que él. Nos saludamos e intercambiamos las primeras palabras: que el tiempo está loco, que es extraño para la época el frío y el viento que hay hoy, y otras vaguedades climáticas.
Caminamos por el hotel, ya metidos en su ritmo, en busca de un lugar agradable y tranquilo donde poder sentarnos a conversar, actividad que los tiempos actuales desprecian. Ese sitio será el exclusivo café para huéspedes, donde los (pocos) que están presentes no hablan entre ellos sino con un alguien vía celular. Ninguno de ellos repara en la presencia de Eduardo Galeano. Es probable que, incluso, no sepan de quién se trata ni quieran saberlo.
Hombres de negocios, negocios de hombres: la presencia femenina es nula. Cada uno de ellos actúa tal como se espera que actúen en un ambiente como éste. El salón es, en efecto, una millonada de clichés, de poses y de gestos comunes. Somos nosotros y él los únicos que desentonamos con la geografía y eso más que una pena, genera orgullo.
Antes que el grabador se encienda, uno ya se siente complacido de estar a punto de cruzas palabras (de eso se trata) con quien ha hecho de ellas alquimia de sueños, dolores, alegrías, tristezas y las ha incorporado a la vida cotidiana. Este viaje relámpago a la Feliz con el exclusivo objetivo de entrevistar al escritor de Las Venas Abiertas de América Latina, El libro de los Abrazos, Patas Arriba y el reciente Espejos, entre muchísimos otros a través de los cuales ya hablamos con él; los intercambios de correos electrónicos, el llamado al celular para avisar(nos) que lo habían cambiado de “tapera”, un decir galeanesco para referirse a estos hoteles de múltiples estrellas: todo queda en el pasado en el silencio que pregona la primera pregunta.
-Vamos a arrancar, como diría mi abuelo, por el principio. Dicen que la vida es el reflejo de la infancia. ¿Cómo fue tu infancia, qué te acordás de aquellos años?
-La verdad que no tengo mucho para contar de mi infancia porque fue una infancia bastante silvestre. Yo vivía en un barrio donde ahora en Montevideo hay rascacielos pero en mis tiempos eran puro descampado. Mi hermano y yo, la verdad, que tuvimos una infancia muy libre, con bandas que se organizaban para pelear, al estilo de la edad.
-Así como cambió tu barrio, ¿cambió mucho Uruguay de aquella época a hoy?
-Sí, cambió. Claro que cambio. Cambio todo, Uruguay y el mundo han cambiado muchísimo. El Uruguay que me formó era el Uruguay de los cafés. Yo soy hijo de los cafés de Montevideo. Yo no tuve educación formal. Todo lo que sé se lo debo a los cafés viejos de Montevideo, los que me formaron. Ahora quedó uno solo vivo, pero había muchos.
-¿Qué se aprende en los cafés que no se aprende en los lugares formales?
-En mi caso una lección de vida que es saber valorar el tiempo y la posibilidad de perder el tiempo, tener siempre tiempo para perder el tiempo.
-Esta es otra de las cosas que también se perdió
-Sí, se perdió porque ahora el tiempo tiene un valor de rentabilidad, que tiene un precio que es superior al valor y entonces el tiempo se vende, como todo. En mi caso en particular, aprendí el arte de narrar en los cafés, escuchando narradores orales, gente que no sé quiénes eran pero me colaba en las mesas. En aquel tiempo se podía andar por Montevideo sin documentos, sin nada. No había violencia, entonces yo en los cafés me sentaba y escuchaba: así aprendí el arte de narrar.
-Y ahora que hay menos cafés, ¿dónde se puede aprender el arte de narrar?
-Todavía tengo un café, que me lo habían cerrado pero ahora me lo reabrieron, el Brasilero. Es un café de 1887, de las pocas cosas que quedan así vivas. Y la verdad que el café, hablando de rentabilidad, no es rentable. Que un tipo esté tres horas en una mesa con un cortado es inimaginable en el mundo de hoy. De todos modos el arte de narrar se aprende escuchando, siempre: eso no ha cambiado. Para no ser mudo hay que empezar por no ser sordo. Si vos no sabés escuchar no vas a saber hablar o en todo caso lo que digas no va tener interés para los demás porque los laberintos de tu propio ombligo pueden ser apasionantes para vos pero para el resto de la humanidad no tienen porqué ser un tema que interese demasiado. Entonces creo que para poder hablar hay que saber escuchar y hay que recibir esas voces y aprender que las voces que valen la pena escuchar suenan, a veces, en los lugares menos presentables. Digamos, no en los foros universitarios, en los centros donde se reúnen los expertos para explicar cómo es el mundo, sino en lugares sencillos simples, por ejemplo las paredes.
-Vos has rescatado mucho los graffitis. ¿Qué admiras de ellos?
-Yo soy un gran lector de paredes, que es la imprenta de los pobres, el periódico abierto a todos. Y ahí, en el Río Pinturas, en Argentina, están los primeros graffitis: son esas manos, que es un modo de decir ‘yo estuve ahí, yo soy algo más que una mota de polvo en el universo, yo soy algo más que un instantito de tiempo, estuve aquí’. Y un poco lo que mueve a la gente a escribir algo en una pared es eso, aparte de opinar. A veces opinan estupendamente: “Las vírgenes tienen muchas navidades pero ninguna Nochebuena” o “nos mean y la prensa dice llueve”.
-Ese es de Buenos Aires
-Ese es de Buenos Aires, el otro es de Montevideo pero hay millares de maravillas que uno va encontrando, va rescatando, y después de lo que uno escucha, la maravilla del relato oral. Se supone que las voces del pueblo son nada más eco de las voces del poder, según los técnicos, pero no es verdad eso. Es verdad que el lenguaje popular se ha degradado mucho por obra de la televisión y de los medios masivos que imponen cierto lenguaje obligatorio. Yo tengo una amiga canaria, de las Islas Canarias, que se interesa mucho por estos temas de lenguaje y el lenguaje rural en las aldeas perdidas de las islas. Entonces andaba recorriendo por ahí con un aparatito de estos (señala al grabador) para recoger las voces de los viejos. Y muchos de los viejos les decían, ‘no, mejor hablé con él que habla mucho más bonito’. Y él era el nieto, el bisnieto. Y ellos hablaban como la tele, por eso hablaban más bonito.
Galeano hunde sus labios en el cortado, los humedece, y luego, lentamente, absorbe su contenido. No habla sólo con su boca, no. Sus manos hablan también. Su mirada tiene voces, que es preciso saber escuchar y también saber mirar. La boca te mira con la misma pasión con que los ojos sueltan las palabras. Nos habla a nosotros pero casi podríamos jurar que le habla al café, a él mismo, a la historia que será, al futuro que fue.
Le preguntamos en qué cosas América Latina sigue teniendo las venas abiertas y en cuáles fue suturando las heridas y no esconde el fastidio por una pregunta que juzga reiterada en sus entrevistas. Nos lo dice con la boca pero también con los ojos, las manos, los gestos. “¿Qué te voy a contestar, lo mismo que siempre contesto?, que me encontré con el conde Drácula en una calle de Buenos Aires, que andaba buscando psicoanalista por el complejo de inferioridad que le producían las grandes corporaciones internacionales. Eso contesto siempre para evadirme”, argumenta para volver a evadirse. “Lo cierto que sí, -agrega- es una región del mundo que trabaja al servicio de otra. Sí, es cierto, eso sigue siendo verdad, y que no hay ninguna riqueza inocente: toda riqueza se nutre de alguna pobreza y ahora fíjate con esta crisis mundial el mundo entero está aceptando con bastante pasividad, y hasta con aplausos, estos regalitos que van recibiendo los banqueros, los pobres banqueros que son los culpables de esta catástrofe financiera”, sostiene con ironía.
Luego se explaya sobre el plan de “salvataje” con que Europa y Estados Unidos hicieron de Papa Noel: “Los banqueros son los que reciben la recompensa con que los premian, por lo menos, con 3 millones de millones, que te da una buena cantidad de ceros. A lo larga lo paga eso que llaman ‘tercer mundo’, o sea las naciones sometidas, que venden lo que venden cada vez más barato, pagan deudas externas que son como sogas ahí metidas en el pescuezo con una vuelta de rosca y otra y otra. Por fin se le ocurrió a alguien –Correa, en Ecuador- ver si era legítima o no. Le vamos a pagar la deuda legítima, pero primero vamos a ver qué es esa deuda. Argentina no sabe la deuda qué paga, Uruguay tampoco. Se supone que son deudas que vienen de alguna parte, que tienen un fundamento, pero nunca a nadie se le ocurrió escarbar una por una para decir ‘ésta deuda no la vamos a pagar’”, dice mientras escarba el aire con la mano.
“Chile no tendría que pagar los prestamos que le dieron a Pinochet para que asesinara gente, al igual que otros asesinos de países que contaron con auxilio. La mayor deuda se incrementa en la época de las dictaduras”, recita dando cuenta, una vez más, que ese crisol que es América Latina tiene también, en lo más horroroso de su historia reciente, una historia presente.
Estamos tratando de entender, Galeano mediante, lo inentendible de un sistema que paga lo que no debe, debe lo que no paga, premia lo que debería castigar y castiga lo que debe premiar. Semejante esquizofrenia nos altera y las preguntas se preguntan si hubo un hecho puntual, algún suceso concreto, que impulsó a Eduardo a ponerle palabras a las injusticias, para que sean menos injustas: “Yo nunca sentí que fuera el denunciador de nada. Yo simplemente soy un enamorado de la realidad y trato de contarla, en lo que tiene de horrendo y en lo que tiene de maravilloso. Porque si contara nada más lo que tiene de horrendo, la gente se moriría de aburrimiento, que es lo que pasa con la mayor parte de la literatura bien intencionada, que en lugar de generar indignación genera sueño. No sueños sino sueño, o sea una irresistible necesidad de dormir porque es aburridísima y en efecto estas letanías de dolor incesante no conducen a ninguna parte porque aburren a todos y además, justamente, los dolientes del dolor lo que menos quieren es volver a escuchar el dolor que padecen, encima que lo están padeciendo. Entonces hay que saber cómo tratar de acercarse a estos temas a veces muy espinosos logrando que sean atractivos y que además estén siempre acompañados por una contraparte: a veces una pequeña frase, una pequeña cosita que indique que en medio de ese desierto hay un trébol de cuatro hojas, o de cinco, o de seis hojas”
En criollo, diría la abuela, mezclar una de cal con una de arena. ¿Ejemplos?: “Por ejemplo, en Espejos, hay unas cuantas referencias a la guerra de Irak, claro, lógico, una guerra que nació de una mentira y que mintiendo sigue y que ha matado no se sabe cuánta gente porque se sabe cuántos muertos hay entre los invasores pero no entre los invadidos, de eso no hay la menor idea. Entonces hay unos cuantos textos que se refieren a eso pero también hay uno que dice ‘cuidado con confundirse, querido lector, mucho cuidado. En Irak nació el primer poema de amor de la historia de la humanidad, en ese mismo lugar que es ahora ese escenario de horror incesante, y que se refiere al encuentro de una diosa inmortal y un pastor mortal’. En mi versión sintetizada lo que dice ese poema es que ‘la diosa amó aquella noche como si fuera mortal y el pastor fue inmortal mientras duró esa noche’”.
-¿Como “las mil y una noches”?
-En Irak nació la escritura, y en Irak la princesa Sherezade contó las mil y una noches que es el libro que nos enseñó a todos el arte de contar, porque yo aprendí lo que aprendí en los cafés pero también porque Sherezade me enseñó que si el rey se aburría, le cortaba la cabeza y que por lo tanto está prohibido aburrir. Y me enseñó el arte del suspenso porque siempre dejaba los cuentos sin terminar para que el sultán no la matase. Entonces para saber cómo terminaba la historia tenía que llegar a la noche siguiente. Así te enseña la técnica del tigre en el aire, cómo se puede lograr mantener la tensión del lector. Bueno, eso fue escrito en Bagdad, a partir de una cantidad inmensa de historias que circulaban en la época.
Bagdad era el cruce de todos los caminos, allí se encontraban las cosas y las palabras: las cosas porque era un centro comercial importantísimo y las palabras porque era el centro cultural más importante del mundo, por lejos. Esta misma Bagdad ahora bombardeada, despreciada, triturada por Occidente que, entre otras cosas, aniquila lo que ignora. Qué nivel de ignorancia. Seguramente Bush cree que la escritura fue inventada en Texas, estoy seguro. Qué nivel de brutalidad, qué nivel de patanería que tienen los amos del mundo, es algo que te deja visco.
Nos reímos, está claro, que para no llorar. “Tienen el complejo mesiánico de que son los salvadores del mundo, de blancos, negros, rojos, violetas. Bush hablaba con Dios, nunca aclaró si era por fax, por mail y tampoco qué días se comunicaba, pero él dijo que la orden de invadir Irak se la había dado Dios”, esgrime Eduardo ya sin café que llevarse a la boca.
“Y quién nos salva a nosotros de ellos”, le preguntamos y nos reímos ya sin saber si para es, o no, para evitar las lágrimas. “De ese tema Dios no dio orientaciones”, apunta Galeano, marcado los “olvidos” del Señor. “Lo que quiero decir es que ellos tienen una vieja costumbre, insana costumbre, tóxica para la humanidad, peligrosa para la humanidad, de sentir que tienen que salvarte. Yo no quiero que me salven, qué mierda. Además todos los que vienen a salvarte terminan chupándote hasta la última gota de tu sangre y exprimiéndote hasta la última gota de tu sudor. Estos salvadores…”, dice meneando la cabeza, que también habla, de izquierda a derecha.
“Además fíjense la importancia que tienen en Estados Unidos todas estas sextas evangélicas desde donde irradian esas ideas que insisten con la idea de la salvación. Salvar a los otros en lugar de respetarlos, de escucharlos. En lugar de decir ‘señores, por ahí ustedes tienen algo interesante que decir’, no: el mensaje siempre es al revés. Es unidireccional, del que manda al mandado, del que opina al opinado. ‘Yo te voy a decir cómo son las cosas, te voy a explicar cómo es el mundo, te voy a dar la receta para que te vaya mejor en la vida’”.
-¿Por eso el sistema acepta la caridad, de arriba hacia abajo, y no la solidaridad, que es entre iguales?
-Si, además ahora con los resultados estos podrían, en un acto de sentido común, decir ‘bueno al fin y al cabo esa idolatría del mercado, que hay dejar que el dinero actúe y que el Estado no joda, por lo menos es sospechosa’. El hecho es que hicieron puré el Estado en todo el sur del mundo. Los servicios públicos están desechos. Mirá lo que es Aerolíneas Argentinas. ¿Qué quedó? Un pobre resto humeante. Parece que hubiera sido victima de algún bombardeo: un avión de guerra que fue victima de un bombardeo. Yo viajaba en Aerolíneas Argentinas cuando dirigía la revista Crisis, y era la mejor línea del mundo. Mirá cómo está ahora. Mira cómo está el Correo. Yo estoy harto de mandar cartas de Uruguay a la Argentina que no llegan nunca. Son servicios religiosos: los entregan cuando Dios quiere. (Otra vez risas compartidas. Otra vez, para no llorar).
-Bueno, con YPF nos pasó algo muy parecido
-YPF es otro desastre. Y los trenes. Esa película, “ La Próxima Estación ”, qué gran tarea hizo Pino Solanas con eso. Todas esas situaciones son collares de infamias por todas partes para aniquilar el Estado porque era una molestia, algo que se interponía entre el progreso y el hombre. Y lo pulverizaron y ahora que lo necesitamos, ¿qué hacemos? ¿Cómo no va a funcionar el correo? No puede ser.
Acá es especialmente desastroso pero en Uruguay, fíjense lo que me pasó con Espejos, les cuento una sola de las muchas experiencias que tuve: en Montevideo tengo una casilla de correo, la 751, donde me llegan las cartas, las revistas. Entonces yo le quería mandar el libro a un gran amigo mío que es músico y musicólogo y tiene otra casilla en el mismo lugar, que es el Correo Central de Montevideo. La casilla de él está a un metro y medio de la mía. Entonces yo voy con el libro y le digo a los amigos que atienden ahí, que me conocen de memoria, ‘mirá, ponele este libro en su casilla’. Y me dicen: ‘No, eso no se puede hacer. Tenés que franquearlo, mandar el paquete’ y entonces… recorrer ese metro y medio, demoró un mes”.
La anécdota, por demás gráfica, permite que la charla se entremeta con el deterioro de los servicios públicos en todo el mundo, y en especial en América Latina. Galeano rebalsa en anécdotas personales que ilustran de qué hablamos: un libro perdido rumbo a la Argentina , otro hacia España, paquetes que no llegan. “Esto es horrible de decir pero en la época de Franco se decía que ‘la única carta que no llega es la que no se escribe’. Y era verdad. Y este deterioro de los servicios públicos conspira contra la democracia porque la desprestigia. Pareciera ser que los servicios públicos sólo funcionan bien cuando hay milicos en el poder. Y ese es un flaco favor que le hacemos a la democracia, porque también se supone que es un esfuerzo civil”
-Los medios de comunicación también se mueven como si muchas cosas funcionaran mejor con los milicos en el Poder, por ejemplo con la seguridad, que pareciera acechar como una flaqueza de la democracia.
-Sí, yo a veces escucho TN y me da la impresión de que Buenos Aires debe ser como Irán o Bagdad, y voy a Buenos Aires y no tiene nada que ver con lo que cuentan que es. Además se ha dado un fenómeno, éste también internacional: es impresionante cómo, en la época de la globalización, se repite todo. Qué poca originalidad. Los países tienen menos capacidad de decir lo suyo, de caminar su camino. Entonces se dan esas copias universales: los informativos de la televisión. Empiezan, en casi todos los países, con temas de seguridad pública, crímenes, violaciones, asesinatos. Eso es la mitad o más del informativo, con lo cual la población queda temblando y diciendo ‘estamos en manos de los delitos, de los delincuentes, de los criminales’.
-Tocan las fibras del miedo…
-Miedo que es el peor de los consejeros, porque el miedo, ¿qué es lo que te va a aconsejar?: mano dura. ‘Acá lo que se necesita es mano dura’ y la democracia tiene mano blanda, entonces a la nostalgia de la dictadura militar hay un camino muy chiquito.
Es un tema bárbaro porque hasta ahora la izquierda no ha podido resolver el tema de la inseguridad. Quizá porque la inseguridad no existe, la inseguridad es el resultado de otras cosas, de la injusticia social, de la cultura del consumo.
Las palabras, quizás felices por ser bien tratadas, dan una vuelta en el aire antes de meterse en el grabador, en los oídos, en la boca, en los ojos. Es extraño expresarlo pero hay una sensación de comunión, de común-unión, que parece, también, dar vueltas en el aire.
Es posible, acaso, que nada de eso ocurra y el sólo hecho de coincidir con lo que este escritor está escribiendo con la boca, nos genere tal impresión. El manual dice en ese punto que es el primer error del “periodista ingenuo” que se deja convencer con lo que el entrevistado dice. ¿Será así?
“Antonio Machado, el gran poeta español, decía una frase lindísima: ‘ahora cualquier necio confunde valor y precio’. Y ese es un retrato del mundo de nuestro tiempo. Entonces la cultura del consumo, que es lo que se le inyecta a la gente todos los días sobre todo por los medios, pero también por el sistema educativo, sostiene la idea de que el que no consume, no existe. Y esa cultura se funda en esa confusión del valor y el precio. Entonces vos valés si tenés ropa más cara. Y eso es una incitación al delito porque si vos le metes eso en la cabeza a los chicos de la villa o la gente más desamparada de la población, la idea de que ser es tener, y que sino tenés no sos, es una invitación al delito. Es decirles ‘dale, andá con esa vieja que está ahí al pedo, dale, arrancale la cartera’”.
-Y eso también lleva a que veamos al otro, como describe una frase tuya, “como una amenaza y no como una promesa”
-Exactamente. Y hay una dictadura del miedo en escala universal. Ahí también todo se copia. Hay una vieja leyenda china, que tiene miles de años, de un leñador que pierde el hacha. Entonces el leñador lo mira al vecino, y ve que tiene cara de ladrón, aspecto de ladrón: ‘¿usted no vio un hacha?’, le pregunta. ‘No, no’, contesta el vecino. ‘Me contestó como un ladrón’, piensa el leñador. Le coincidía todo. A las dos o tres horas encuentra el hacha que se le había caído en unos árboles, vuelve a mirar al vecino y piensa: ‘La verdad que no tiene para nada cara de ladrón’. Pero mientras el hacha estaba desaparecida el vecino era el culpable. El tema de la justicia por mano propia proviene de ese equívoco, incide en los linchamientos y castigos de muchos que son inocentes.
Es imposible eludir, a esta altura, los intentos que a ambos lados del Río de la Plata pretenden bajar la edad de imputabilidad de los menores. (¿y qué dirán los manuales al respecto?). Las cejas de Galeano se arquean en forma de herradura. Los ojos se clavan en un más allá que no alcanzamos a ver y las manos levantan vuelo. Todo el cuerpo dice una ironía: “Yo me pregunto, ¿y los bebés? Porque los bebés son bastantes jodidos. Ya Freud lo tenía estudiado a eso, la perversidad del bebé, entonces si el bebé es perverso, bueno, que vaya a la cárcel...”
El manual se enoja pero el humorismo vuelve: “O mejor, que ya desde el embarazo los metan presos con sus madres”.
-Pero no lo repitas porque les das ideas. Van a meter presa a la que tiene el delincuente en la panza.
-Tarde, ¿no fue eso lo que hicieron los militares genocidas?
-Sí, es así. Incluso muchos se han de haber contado el cuento que así los salvaron. Supongo, porque la conciencia culpable siempre necesita alivio, consuelo, aún en el caso de los tipos más jodidos. Probablemente disfrazaron ese robo, el más siniestro de todos, ese botín de niños que hubo sobre todo en la Argentina. Esta idea de que el vencedor, quizá recibiendo el trofeo, se contaba el cuento de que estaba salvando a aquel chico de la corrupción roja.
-Eduardo, vos que sos un escritor que trabaja con las palabras, ¿te han contado ellas el dolor que sienten por el cambio de significado que han tenido? Nombrabas la palabra “mercado” y antes el mercado era otra cosa, proceso era otra cosa al “Proceso”. ¿Se sienten dolidas las palabras?
-Está lindo eso que me decís. Sí, yo creo que sí. Hay una responsabilidad en el ejercicio de las palabras. Aquello que el maestro Onetti me dijo cuando era chico: ‘Las únicas palabras que deben existir son las palabras mejores que el silencio’. Pero cuando vos estás peleando para encontrarlas y aparecen, hay que cuidarlas, regarlas, acariciarlas. Las palabras están muy mentidas, manoseadas, prostituidas. Entonces las cosas no significan lo que son, son lo que significan. Es un desastre, el diccionario parece un basurero. Y claro que a las palabras les duele ser basura. Nacieron para algo mejor, nacieron para ser manos que tocar, brazos que abrazan.
-En tus libros has rescatado que para los guaraníes, la palabra era el alma. ¿Cómo era eso?
-Sí, ñeñé, que significa palabra y alma. Toda la belleza de los mitos de origen guaraníes coincide en que los paraguayos son hijos de la palabra que los llamó. Y que sonó de adentro de un Cedro, un cedro mágico. Ahí sonó la palabra que los llamó. Es muy hermosa la idea de que la uva está hecha de vino.
La frase se materializa, producto de los gestos que acompañan el racimo, en la imagen de la uva. El grabador se apaga pero la conversación no. (En este punto el manual también es confuso sobre los pasos a seguir). La charla sigue por los pasillos del Hotel que, después de largo rato, volvemos a habitar pese a no haber salido físicamente de él. Galeano relata, con lujo de detalles, su experiencia en la frontera entre Brasil y Venezuela, hace ya unos años, donde se infectó la malaria. Nos cuenta la experiencia de dormir en una hamaca paraguaya sobre el río, y ver pasar las serpientes por debajo.
Hablamos de Luis Sepúlveda y “el viejo que leía poemas de amor”; de aquel negro orgulloso con sus dientes de oro macizo que Eduardo rescata en uno de sus textos; algo de fútbol es inevitable; criticamos en conjunto el mal gusto del hotel, en conjunto criticamos a los críticos por el mal gusto de decirnos cómo se debe mirar, elogiamos un par de sueños de los “Sueños de Kurosawa”; admiramos a Vicent Van Gogh y el texto que, para uno de nosotros, constituye uno de los mejores relatos de los múltiples relatos que constituyen Espejos.
Afuera ha parado de llover pero dentro nuestro hay un diluvio. El saludo se repite una vez más, pero esta vez sí es definitivo.
Se aleja unos pasos, a ese ritmo de ver las cosas, en busca del ascensor que lo trajo a la planta baja. Antes de perderse en él, nos dice sonriendo, en esa voz que no alcanza a ser grito pero que está mucho más elevada del tono medio, que nos entendemos con el tiempo. Ya no hay tiempo de preguntarle porqué.
Es una buena excusa para inventar un nuevo encuentro.
Galeano y la elección de Obama
Algunos son negros por fuera y blancos por dentro
-¿Qué nivel de esperanza puede generar la presidencia de Obama?
-Yo no te voy a repetir ahora porque publiqué un artículo, Ojalá
-“Ojala que no se olvide que la Casa Blanca fue hecha por negros”…
-Que no lo olvide nunca. Y es una cosa que nunca se dice, pero es verdad. La Casa Blanca fue hecha por negros y nunca jamás se dice y esa es la casa que va a ocupar. Por eso yo en el artículo decía, “ojalá no olvide nunca que fue hecha por negros esa casa, que va a ser su casa”. Porque puede ocurrir al revés, la historia que yo conté en Espejos sobre Martí y Fernando Ortiz. Fernando Ortiz fue el más importante antropólogo cubano y el más profundo investigador de la cultura negra en Cuba, el que llegó más hondo en la exploración de las raíces negras de la cultura cubana. Murió hace ya años. Y cuando era chico, un adolescente recién llegado a Cuba desde las Canarias, donde el padre lo había mandado para formarse, ve pasar un señor muy apurado, un flaquito, peladito, chiquito que camina apuradísimo. Le dice: ‘Mucho cuidado con ese porque es blanco por fuera y negro por dentro’. Y ese era José Martí y puede ocurrir al revés, que haya algunos que son negros por fuera y blancos por dentro.
El asunto es que esto, en principio, es una buena noticia porque hay que ver lo es el nivel del racismo en Estados Unidos, un país donde hasta hace quince minutos los negros no podían sentarse en los colectivos, no compartían ni siquiera los colectivos. En el año 1942 el Pentágono prohibió las transfusiones de la sangre negra, que no existe la sangre negra. La idea era que no se hiciera por inyección la mezcla prohibida en la cama. Bueno, eso fue hace quince minutos, así que esta victoria me parece que hay que celebrarla y está bien pero al mismo tiempo
-Sabemos de las limitaciones…
-Claro, no hay que enmascarar las cosas. Rosa Luxemburgo decía que no hay nada más revolucionario que decir lo que uno piensa y a veces lo que uno piensa es una cosa antipática, o que a la gente no le cae bien pero yo la digo igual porque siempre me acuerdo, yo soy rosista pero no de Juan Manuel sino de Rosa Luxemburgo.
Yo escuché todas las polémicas con Mc Cain, completas, me aburrí…: me dormía por la monotonía de dos discursos sospechosamente iguales, lo que no es un buen signo. Los Estados Unidos tienen un problema de Partido único, disfrazado de dos y la verdad que no era muy diferente lo que decía uno que lo que decía otro. Me costaba mucho distinguirlo. Claro, lo distinguía por el aspecto físico: Obama mucho más simpático, joven, atlético, negro. El otro ya muy cascado por los años. Pero los discursos eran demasiados parecidos y algunas amenazas guerreristas de Obama contra Afganistán, Irán, Pakistán yo no sé hasta dónde fueron impuesto que él pagó a un sistema que obliga a mentir para conseguir más votos, o si es de veras lo que opina, lo que no nos anuncia nada bueno.
Y después, otra cosa que decía ahí en el artículo es que yo lo he seguido muchísimo a él tratando de ver las cosas como son y no como uno quieren que sea, y una cosa que a mí me molesta mucho es la insistencia en el “Leadership” (el liderazgo). Es una palabra que usó cada cuatro palabras. No, por favor. ¿Nos van a venir a mandar de nuevo? Ahora nos estaban dejando más o menos tranquilos por un rato y éste anuncia la recuperación del leadership…