outubro 11, 2012

"Quem Venceu o 1º Turno das Municipais 2012? ", por Hugo Albuquerque

PICICA: "No campo da esquerda, o PSOL cresceu em número de votos, fez um prefeito, uma campanha importante no Rio e dobrou seu número de vereadores. Aliás, é possível que seja a primeira vez, desde 2006, que o PSOL saia maior de um pleito do que quando entrou. Ironicamente, ele só é o décimo-terceiro partido do Brasil e está bem distante de pautar qualquer coisa. PSTU, PCB e PCO continuam atrofiados e sem perspectiva. O PT cresceu como faz em todas as eleições municipais desde que nasceu. O voto caminhou mais para a esquerda em 2012, embora o clima da política institucional e partidária tenha se acomodado cada vez mais ao centro e na contemporização. A oposição que cresceu é a gerencial e pragmática, não a liberal e ostensiva. São mostras do que vem em 2014, quando um discurso liberal arcaico tende a perder espaço e há uma demanda clara pela intensificação de uma agenda de esquerda -- ainda mais em um momento no qual os pilares do capitalismo estão abalados e a questão social emerge no Brasil."

 

Quem Venceu o 1º Turno das Municipais 2012?

O PT. Sim, o PT. Por quê? É muito simples: porque ele teve o maior número de votos -- e haverá quem coloque alguma ressalva, mas o fato é que ele ganhou mesmo. Ele não só cresceu como também passou o número de votos do PMDB, partido mais votado no último pleito municipal. É possível dizer que o PMDB foi o vitorioso pelo número de prefeituras conquistado, ainda acima de mil -- uma façanha impressionante -- no entanto, graças a enorme diferença entre a população dos municípios brasileiros -- que incluem desde metrópoles gigantescas como São Paulo e Rio a cidadezinhas do interior -- é fato que "quantidade de prefeituras" não é o melhor critério para determinar quem venceu, uma vez que não ilustra quem tem realmente mais força em nível nacional. Na real, o PT teve 16,8% dos votos, o PMDB 16,2%, enquanto o PSDB teve 13,5% e o PSB 8,6%. 

Atrás de ambos, resta o PSDB, ainda segundo em número em número de prefeituras, mas terceiro em votos: a maior legenda de oposição, entretanto, viu seu número de votos válidos e de prefeituras caírem. DEM, depois do racha do PSD, e PPS não apresentam melhor sorte. Aliás, o conservador PSD, governista de última hora estreou bem, mas não conseguiu ser a quarta força nacional como prometia, perdendo em número de votos para o PSB, embora tenha cravado o quarto maior número de prefeituras -- em geral, prefeituras interioranas. O PSB tornou-se, sem dúvida, a quarta força brasileira e foi, inclusive, uma das maiores causas de derrota do PT nas cidades importantes nas quais rachou com o aliado: Belo Horizonte e Recife são belos exemplos disso, em São Paulo, por sua vez, eles estão juntos na chapa de Fernando Haddad. Revés mesmo, ele só tomou em Curitiba, onde esteve coligado com o PSDB do governador Beto Richa.

No balanço de forças entre grandes nomes, os governadores que saíram mais fortalecidos da conversa foram Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Aécio Neves (PSDB-MG) e, sobretudo, Eduardo Campos (PSB-PE), todos responsáveis pela eleição, em 1º turno, de seus candidatos nas capitais. O personagem político, para variar, foi o ex-presidente Lula, diretamente empenhado no atual pleito e grande responsável pela manutenção do partido na disputa em Fortaleza, Salvador e São Paulo -- sobretudo no último caso, onde seu empenho pessoal foi decisivo em uma eleição dramática na qual ele alçou o jovem Fernando Haddad para o 2º turno. Os maiores derrotados foram os governadores Beto Richa (PSDB-PR) e, talvez, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) -- sendo que o último sequer conseguiu dar a linha da eleição na capital de seu estado e, ainda, perdeu uma eleição importante no seu reduto, o Vale do Paraíba (leste do estado), onde São José dos Campos passou para o comando petista.

A figura chave, para 2014, será, em virtude de tudo isso, Eduardo Campos: o governador pernambucano cresceu bastante, tornou a política nordestina, antes bipartida entre as velhas  oligarquias aliadas ao projeto neoliberal (a aliança PSDB-PFL/DEM) e a frente popular (PT-PSB-PC do B), em um tripé no qual seu partido ocupa o centro e, agora, será o objeto de disputa para as próximas eleições gerais. A questão é simples: Campos cresceu muito e o PT terá dificuldades para realoca-lo em uma posição superior, até porque ele não pode preterir o PMDB; por outro lado, uma aliança de Campos com o PSDB (possível no caso de Aécio ser o candidato) faria com que a oposição passasse a ter chances de vitória por "abrir o nordeste" -- sem isso, Dilma poderá se eleger em 2014 talvez com um pé nas costas. O PSB, para Dilma, tornou-se algo parecido com o que o PFL foi para FHC nos anos 90, embora menor e cuja integração à base seja, paradoxalmente, mais complexa por sua natureza centrista.

No campo da esquerda, o PSOL cresceu em número de votos, fez um prefeito, uma campanha importante no Rio e dobrou seu número de vereadores. Aliás, é possível que seja a primeira vez, desde 2006, que o PSOL saia maior de um pleito do que quando entrou. Ironicamente, ele só é o décimo-terceiro partido do Brasil e está bem distante de pautar qualquer coisa. PSTU, PCB e PCO continuam atrofiados e sem perspectiva. O PT cresceu como faz em todas as eleições municipais desde que nasceu. O voto caminhou mais para a esquerda em 2012, embora o clima da política institucional e partidária tenha se acomodado cada vez mais ao centro e na contemporização. A oposição que cresceu é a gerencial e pragmática, não a liberal e ostensiva. São mostras do que vem em 2014, quando um discurso liberal arcaico tende a perder espaço e há uma demanda clara pela intensificação de uma agenda de esquerda -- ainda mais em um momento no qual os pilares do capitalismo estão abalados e a questão social emerge no Brasil. 

A única oposição que cresceu, em suma, é aquela que está à esquerda do governo petista, mas o fez justamente onde o PT vai mal ou esteve engessado por alianças, não raro, em nome da governabilidade nacional. O PSDB, apesar da campanha calcada no julgamento do Mensalão regrediu em número de votos, inclusive em importantes redutos eleitorais seus pelo estado de São Paulo: é fato que existe a possibilidade de reverter o jogo no 2º turno, mas fora Santos, onde os tucanos registraram uma inédita e boa vitória, ter conseguido ir, por muita sorte, para o 2º turno em um reduto como Jundiaí, é horrível -- fora a derrota em 1º turno em São José dos Campos e não ter conseguido levar a eleição em Sorocaba, mesmo  disputando contra um ex-prefeito de índole duvidosa agora no PMDB.

Em outras palavras, a política nacional, fraturada em três dezenas de partidos, muitos dos quais meramente fisiológicos, segue muito longe de estar resolvida em torno deste ou daquele programa: os principais partidos são apenas e tão somente aqueles que conseguem agenciar mais aliados e capitanear algum campo do espectro político nacional. Portanto, a vitória petista é apenas e tão somente relativa, como é relativa a importância do PMDB. O que não muda a situação de crise do PSDB, que amarga a ilusão de que uma agenda meramente moralista irá mudar suas seguidas quedas nas urnas. A cobertura midiática, por sua vez, peca novamente em assumir-se partidária, ecoar teses antipetistas quando poderia, mesmo tendo sua perspectiva, fazer uma crítica geral ao sistema, este sim, antes de qualquer coisa, a fonte dos demais problemas: em vez de agir como torquemada, poderia catalisar o sentimento favorável uma reforma política, mesmo dentro dos limites de uma visão liberal.

Fonte: O Descurvo

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