PICICA: "No campo da
esquerda, o PSOL cresceu em número de votos, fez um prefeito, uma
campanha importante no Rio e dobrou seu número de vereadores. Aliás, é
possível que seja a primeira vez, desde 2006, que o PSOL saia maior de
um pleito do que quando entrou. Ironicamente, ele só é o décimo-terceiro
partido do Brasil e está bem distante de pautar qualquer coisa. PSTU,
PCB e PCO continuam atrofiados e sem perspectiva. O PT cresceu como faz
em todas as eleições municipais desde que nasceu. O
voto caminhou mais para a esquerda em 2012, embora o clima da política
institucional e partidária tenha se acomodado cada vez mais ao centro e
na contemporização. A oposição que cresceu é a gerencial e pragmática,
não a liberal e ostensiva. São mostras do que vem em 2014, quando um
discurso liberal arcaico tende a perder espaço e há uma demanda clara
pela intensificação de uma agenda de esquerda -- ainda mais em um
momento no qual os pilares do capitalismo estão abalados e a questão
social emerge no Brasil."
Quem Venceu o 1º Turno das Municipais 2012?
O PT. Sim, o PT. Por quê? É muito simples: porque ele teve o maior número de votos
-- e haverá quem coloque alguma ressalva, mas o fato é que ele ganhou
mesmo. Ele não só cresceu como também passou o número de votos do PMDB,
partido mais votado no último pleito municipal. É possível dizer que o
PMDB foi o vitorioso pelo número de prefeituras conquistado, ainda acima
de mil -- uma façanha impressionante -- no entanto, graças a enorme
diferença entre a população dos municípios brasileiros -- que incluem
desde metrópoles gigantescas como São Paulo e Rio a cidadezinhas do
interior -- é fato que "quantidade de prefeituras"
não é o melhor critério para determinar quem venceu, uma vez que não
ilustra quem tem realmente mais força em nível nacional. Na real, o PT
teve 16,8% dos votos, o PMDB 16,2%, enquanto o PSDB teve 13,5% e o PSB
8,6%.
Atrás de
ambos, resta o PSDB, ainda segundo em número em número de prefeituras,
mas terceiro em votos: a maior legenda de oposição, entretanto, viu seu
número de votos válidos e de prefeituras caírem. DEM, depois do racha do
PSD, e PPS não apresentam melhor sorte. Aliás, o conservador PSD,
governista de última hora estreou bem, mas não conseguiu ser a quarta
força nacional como prometia, perdendo em número de votos para o PSB,
embora tenha cravado o quarto maior número de prefeituras -- em geral,
prefeituras interioranas. O PSB tornou-se, sem dúvida, a quarta força
brasileira e foi, inclusive, uma das maiores causas de derrota do PT nas
cidades importantes nas quais rachou com o aliado: Belo Horizonte e
Recife são belos exemplos disso, em São Paulo, por sua vez, eles estão
juntos na chapa de Fernando Haddad. Revés mesmo, ele só tomou em
Curitiba, onde esteve coligado com o PSDB do governador Beto Richa.
No balanço
de forças entre grandes nomes, os governadores que saíram mais
fortalecidos da conversa foram Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Aécio Neves
(PSDB-MG) e, sobretudo, Eduardo Campos (PSB-PE), todos responsáveis pela
eleição, em 1º turno, de seus candidatos nas capitais. O personagem
político, para variar, foi o ex-presidente Lula, diretamente empenhado
no atual pleito e grande responsável pela manutenção do partido na
disputa em Fortaleza, Salvador e São Paulo -- sobretudo no último caso,
onde seu empenho pessoal foi decisivo em uma eleição dramática na qual
ele alçou o jovem Fernando Haddad para o 2º turno. Os maiores derrotados
foram os governadores Beto Richa (PSDB-PR) e, talvez, Geraldo Alckmin
(PSDB-SP) -- sendo que o último sequer conseguiu dar a linha da eleição
na capital de seu estado e, ainda, perdeu uma eleição importante no seu
reduto, o Vale do Paraíba (leste do estado), onde São José dos Campos
passou para o comando petista.
A figura
chave, para 2014, será, em virtude de tudo isso, Eduardo Campos: o
governador pernambucano cresceu bastante, tornou a política nordestina,
antes bipartida entre as velhas oligarquias aliadas ao projeto
neoliberal (a aliança PSDB-PFL/DEM) e a frente popular (PT-PSB-PC do B),
em um tripé no qual seu partido ocupa o centro e, agora, será o objeto
de disputa para as próximas eleições gerais. A questão é simples: Campos
cresceu muito e o PT terá dificuldades para realoca-lo em uma posição
superior, até porque ele não pode preterir o PMDB; por outro lado, uma
aliança de Campos com o PSDB (possível no caso de Aécio ser o candidato)
faria com que a oposição passasse a ter chances de vitória por "abrir o
nordeste" -- sem isso, Dilma poderá se eleger em 2014 talvez com um pé
nas costas. O PSB, para Dilma, tornou-se algo parecido com o que o PFL
foi para FHC nos anos 90, embora menor e cuja integração à base seja,
paradoxalmente, mais complexa por sua natureza centrista.
No campo da
esquerda, o PSOL cresceu em número de votos, fez um prefeito, uma
campanha importante no Rio e dobrou seu número de vereadores. Aliás, é
possível que seja a primeira vez, desde 2006, que o PSOL saia maior de
um pleito do que quando entrou. Ironicamente, ele só é o décimo-terceiro
partido do Brasil e está bem distante de pautar qualquer coisa. PSTU,
PCB e PCO continuam atrofiados e sem perspectiva. O PT cresceu como faz
em todas as eleições municipais desde que nasceu. O
voto caminhou mais para a esquerda em 2012, embora o clima da política
institucional e partidária tenha se acomodado cada vez mais ao centro e
na contemporização. A oposição que cresceu é a gerencial e pragmática,
não a liberal e ostensiva. São mostras do que vem em 2014, quando um
discurso liberal arcaico tende a perder espaço e há uma demanda clara
pela intensificação de uma agenda de esquerda -- ainda mais em um
momento no qual os pilares do capitalismo estão abalados e a questão
social emerge no Brasil.
A única
oposição que cresceu, em suma, é aquela que está à esquerda do governo
petista, mas o fez justamente onde o PT vai mal ou esteve engessado por
alianças, não raro, em nome da governabilidade nacional. O PSDB, apesar
da campanha calcada no julgamento do Mensalão regrediu em número de
votos, inclusive em importantes redutos eleitorais seus pelo estado de
São Paulo: é fato que existe a possibilidade de reverter o jogo no 2º
turno, mas fora Santos, onde os tucanos registraram uma inédita e boa
vitória, ter conseguido ir, por muita sorte, para o 2º turno em um
reduto como Jundiaí, é horrível -- fora a derrota em 1º turno em São
José dos Campos e não ter conseguido levar a eleição em Sorocaba, mesmo
disputando contra um ex-prefeito de índole duvidosa agora no PMDB.
Em outras palavras, a política nacional, fraturada em três dezenas de partidos, muitos dos quais meramente fisiológicos, segue muito longe de estar resolvida em torno deste ou daquele programa: os principais partidos são apenas e tão somente aqueles que conseguem agenciar mais aliados e capitanear algum campo do espectro político nacional. Portanto, a vitória petista é apenas e tão somente relativa, como é relativa a importância do PMDB. O que não muda a situação de crise do PSDB, que amarga a ilusão de que uma agenda meramente moralista irá mudar suas seguidas quedas nas urnas. A cobertura midiática, por sua vez, peca novamente em assumir-se partidária, ecoar teses antipetistas quando poderia, mesmo tendo sua perspectiva, fazer uma crítica geral ao sistema, este sim, antes de qualquer coisa, a fonte dos demais problemas: em vez de agir como torquemada, poderia catalisar o sentimento favorável uma reforma política, mesmo dentro dos limites de uma visão liberal.
Em outras palavras, a política nacional, fraturada em três dezenas de partidos, muitos dos quais meramente fisiológicos, segue muito longe de estar resolvida em torno deste ou daquele programa: os principais partidos são apenas e tão somente aqueles que conseguem agenciar mais aliados e capitanear algum campo do espectro político nacional. Portanto, a vitória petista é apenas e tão somente relativa, como é relativa a importância do PMDB. O que não muda a situação de crise do PSDB, que amarga a ilusão de que uma agenda meramente moralista irá mudar suas seguidas quedas nas urnas. A cobertura midiática, por sua vez, peca novamente em assumir-se partidária, ecoar teses antipetistas quando poderia, mesmo tendo sua perspectiva, fazer uma crítica geral ao sistema, este sim, antes de qualquer coisa, a fonte dos demais problemas: em vez de agir como torquemada, poderia catalisar o sentimento favorável uma reforma política, mesmo dentro dos limites de uma visão liberal.
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