Selfies: visibilidade em tempos de solidão

 
Selfie 

Já acostumei… toda hora, na rua, na faculdade, na internet, nas redes sociais, nos protestos(?), no metrô, na paulista…. para todo lado que olho: selfies. Esta prática se tornou parte do meu cotidiano e venho refletindo sobre o assunto há algum tempo…


Por que esta prática cresceu tanto? Claro, temos a tecnologia a nosso favor, mas por que selfies? (Curiosidade: a palavra já se tornou parte do dicionário de Oxford) Self? Ego? Eu? Narcisismo? Talvez seja uma boa pista para analisar melhor a questão. 


Não me arriscaria a dizer que o desejo de olhar e ser olhado é inerente ao ser humano, mas certamente ele faz parte de nosso tempo. As pessoas precisam se mostrar, tornarem pública sua imagem, serem vistas por todos os olhos. O que estamos querendo mostrar? Aprendemos cada vez mais a fazer publicidade de nós mesmos, nos tornamos pavões exibicionistas.


Fugindo ao direito de privacidade, hoje, em tempos de solidão, abandonamos nosso isolamento através da falsa proximidade da tecnologia. A aposta na individualidade não leva em conta a qualidade das relações. A selfie não pensa nos encontros, é uma via de mão única; acredito nisso porque o número de curtidas ou comentários como “linda” não me parecem o bastante para qualificarmos como um troca de experiências.


Queremos o encontro! Mas onde está o contato? Onde está a proximidade? Onde está a vida? Nossa casca podre mostra uma falsa profundidade. Vendemos imagens mortas e sem intensidade! Vivemos do recorte mínimo de alguns pixels do real, e esperamos ansiosamente um joinha. Isso só me lembra de como os autores deste blog ficam felizes quando conseguem um contato real com as pessoa ao invés de apenas ganharem likes.


A vida quer passar, ela pede licença o tempo todo, mas ainda não temos coragem de deixá-la tomar as rédeas da situação, estamos com medo, somos neurotizados, edipianizados, preocupados demais com a Lei, a moral e os bons costumes. Então, para pelo menos não deixar passar em branco, a deixamos fluir pela pequena lente de nossos Iphones: “Passe, vida, flua por aqui, vá para o facebook, é o máximo que eu posso te dar agora“.


A Selfie ainda é o desejo baseado na falta, ainda é a imagem do vazio que desesperadamente procuramos preencher. “Olhem para mim, eu existo!“, mas não, você quase não existe, algo ainda lhe falta: potência, força (alguns chamam de virtude). A vida se faz pelos encontros, não por imagens.

A foto, que é uma expressão artística de extrema potencialidade, foi reterritorializada. Ela podia escapar, tomar caminhos novos, buscar novos horizontes, encontrar novos platôs. Mas não, ela vira-se para nossa imagem vazia e eterniza nossa carcaça antes de irmos para a academia (#partiuacademia) ou depois de sairmos da faculdade (#partiubar). Seguimos como zumbis, apenas agora tiramos fotos…

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