outubro 11, 2008

A dialética e o dilema de Gabeira

Fernando Gabeira
Nota do blog: Com esta cara de Coringa (arqui-inimigo do Batman), Gabeira seduz à direita, ao centro e à esquerda os eleitores do Rio de Janeiro. Esse voto útil faz sentido. Quanto ao deslumbramento do candidato com o capitalismo trata-se de pura leseira, pelo que se pode perceber no texto do Miguel do Rosário. De todo modo, convém ficar de olho.

Oleo do Diabo

A dialética e o dilema de Gabeira

Sobre o Gabeira, uma reviravolta. Apóio o Gabeira. Tenho razões ideológicas, partidárias, municipais e culturais. Gabeira está ligado às grandes demandas cariocas, ecologia, drogas, a loucura. É forte. Prefeito é um agente político, existe o aspecto universal. O Rio guarda relações profundas com Gabeira. Primeiro, o aspecto ecológico. Há um elo selvagem fundamental entre o carioca e a natureza. Cidade de índios guerreiros, quilombos, abolicionistas, republicanos radicais, o Rio tem vocação para metrópole cosmopolita, artística, vanguarda cultural e política. E por isso também é elitista. No sentido cultural e espontâneo de elite, que é desvinculado diretamente (embora indiretamente, claro, está ligado à questão de classe) do financeiro. Tanto que Gabeira ganhou não só na Zona Sul, mas também Zona Norte, ou seja, mostra que Gabeira invadiu o lado mais intelectual do subúrbio, que é Vila Isabel, Tijuca, Andaraí, Méier, Madureira, etc. A Zona Norte é imensa. Se Gabeira ganhou na Zona Norte, ele rompeu com o estigma de ser elitista.

Oscar Niemayer apóia Gabeira. O governador da Bahia, Jaques Wagner, do PT, torce pelo Gabeira. A juventude carioca torce pelo Gabeira. A mesma lógica que leva PT e PcdoB a apoirem Gabeira é a que os leva a terem representação insignificante no estado. Não compreendem (e diga-se de passagem, se fossem legítimos comunistas, compreenderiam) a dialética local do Rio de Janeiro. Gabeira é um símbolo, e símbolos são essenciais na política, especialmente na política brasileira, que é personalista, não partidária. E daí que Gabeira aliou-se aos tucanos? O PV é um partido não-ideológico. Isso que é importante entender, tanto que o partido compõe a base governista, a nível nacional, com Gilberto Gil, por exemplo, ministro da Cultura até poucas semanas atrás, e ao mesmo tempo alia-se a partidos de oposição em diversos estados.

De qualquer forma, é preciso entender que o candidato é Fernando Gabeira, defensor da liberação das drogas, gays, aborto, e não somente um aliado dos tucanos. No frigir do bife, Gabeira tem muito mais história, tem muito mais a doar, e a perder, do que Eduardo Paes, almofadinha recém-convertido, oportunisticamente, ao lulismo. Vocês sabem que apóio o Lula, mas hoje em dia qualquer safado se pendura, despudoradamente, no cangote de Lula, sem ter o mínimo de bagagem ideológica, política ou moral, e Paes é um deles; melhor, é o rei deles, é o maior de todos os caras-de-pau que se penduram no prestígio do presidente para ganhar votos e apoio político. Por isso voto no Gabeira. Lula – nem o Brasil, e muito menos o Rio - não precisa de mais um puxa-saco corrupto. Não deve criar mais uma cobra para lhe morder depois – já chega o Roberto Jefferson. Isso que Eduardo Paes é: X9, desleal, corrupto. É bobagem jogar Gabeira no colo da direita. A esquerda deve atrair o Gabeira para si; afinal, ele, obviamente, se identifica com as bandeiras da esquerda, no que toca às drogas, aborto, gays. Seu lado privatista, mercadológico, deslumbrado com o capitalismo, é uma ideologia, coitado, que acaba de ser desmoralizada pela crise financeira mundial, que está obrigando governos (leia-se Estado) do mundo inteiro a ampliarem o seu espaço e soberania e poder sobre as economias privadas locais. Gabeira, naturalmente, observará isso. O mundo, o Rio de Janeiro, precisa hoje de bicicletas, preservação da natureza (limpar a baía de guanabara, etc) e cultural. Gabeira pode estar do nosso lado, desde que estejamos do lado dele. É idiotice a esquerda carioca isolar o Gabeira. É isolar-se de si mesma. A esquerda carioca tem que, humildemente, compreender a opinião de seu eleitor, que está votando no Gabeira, sob o risco de desrespeitá-lo e perdê-lo. O apoio oficial e partidário da esquerda à Eduardo Paes e, do outro lado, os votos maciços que ele terá na esquerda, com possível vitória, ou derrota em margem apertada, podem representar um prejuízo político enorme à esquerda fluminense, tendo como causa os mesmos erros que levaram-na à estagnação e decadência dos últimos anos. A esquerda fluminense tem muitos defeitos: é sectária, ingênua, elitista, mal-informada, comercial, fragmentada, radical, intolerante, retrógrada, ignorante, anacrônica. Em todos os outros estados, a esquerda reformou-se. No Rio, não. Ao contrário, os radicalóides todos vieram pra cá, tentar a sorte. Aqui é sede do PSTU, PSOL e onde os brizolistas resistem heroicamente à derrocada do socialismo internacional. Todos votarão em Gabeira. Sua posição crítica ao Lula, e a dignidade com que lida com isso agora, sem a hipocrisia (como fez Alckmin, Kassab, Paes, e tantos outros candidatos) de se pendurar nas costas do Lula, procurando, ele Gabeira, notabilizar-se por suas próprias idéias, por sua trajetória particular, também ganham pontos junto a esquerda, direita, traseira e diagonal norte de todos os cariocas.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Essa análise de GAbeira vencendo o lado intelectual do subúrbio, que é Vila Isabel, Tijuca, Andaraí, Méier, Madureira - é absolutamente ridícula.

Onde se lê Méier, leia-se GRande Méier, isto é, Lins de Vasconcelos e Engenho Novo principalmente devido ao grande número de FA-VE-LAS. Tijuca, Vila Isabel e Madureira a mesma coisa. Muita Favela do Paraíso das Drogas e dos traficantes, já que o discursos de Gabeira é legalizar as drogas e a política de Enfrentamento contra os tráfico de Sérgio Cabral, faz as comunidades dominadas pelos traficantes serem pró-Gabeira.

O exemplo mais clássico é a Ilha do Governador. Nas áreas de favelas e onde a favela é maioria, GAbeira ganhou, já no rico Jardim Guanabara que é o 3° IDH do Rio de Janeiro perdendo apenas para Gávea e Ipanema - GAbeira levou uma surra nas urnas das seções.

Explicação fácil. A classe é alta, mas não fica na Zona Sul e no Jardim Guanabara não existe os favelões da Tijuca, Vila Isabel, Andaraí e de outras localidades da cidade.
Simples assim.

O apoio a Gabeira vinha das Máquinas das poderosas Mídias e seus jornalistas, dos usuários de drogas, traficantes, homossexuais e prostitutas. Esses eram 100% Gabeira. A única resistência contra ele eram os evangélicos e conservadores. O resto dos eleitores votavam tanto em um quanto em outro candidato.