Foto: Cafi
Mulheres de OlhoCampanha sobre câncer de mama em cor-de-rosa
Posted: 29 Oct 2008 03:04 PM CDT
No início deste mês a Femama (Federação Brasileira de Instituição Filantrópica de Apoio à Saúde da Mama) lançou a campanha Não Aceite a Informação Pela Metade. Também conhecida como Outubro Rosa, esta campanha iluminou monumentos e pontos turísticos de capitais como São Paulo (edifício do Museu de Arte Moderna e Pinacoteca do Estado), Curitiba (Teatro da Ópera de Arame), Brasília (monumento a JK), Porto Alegre (Usina do Gasômetro e Palácio do Piratini) e Salvador (Farol da Barra). Ontem o lançamento foi no Rio de Janeiro, e ao anoitecer o Cristo Redentor e a Igreja da Penha já refletiam o tom da campanha.
O Outubro Rosa tem percorrido o mundo conscientizando mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce através da mamografia, e do tratamento de qualidade para possibilitar a cura do câncer de mama. A iluminação passou pela Torre Eiffel e Arco do Triunfo em Paris, pelo Teatro Scala de Milão e Torre de Pisa na Itália, pelo edifício Empire State e Centro Rockefeller em Nova Iorque e pela loja de departamentos Harrods em Londres.
No Brasil a campanha adotou um plano de mídia nacional veiculando anúncios em jornais, revistas, televisões e rádios. Nas capitais privilegiadas com a presença da campanha, por causa da alta incidência da doença, uma van especial (’Rosamóvel’) circulou pelos arredores dos monumentos em questão, conversando com o público, ofertando brindes e fotos tiradas na hora.
A Femama foi fundada em 2006 e agrega 27 instituições, com representantes em 15 Estados brasileiros. O Outubro Rosa tem o apoio de um pool de empresas. (mais informações aqui)
Realidade brasileira
Ontem o JB Online alertou para o fato de que um terço das mulheres desconhece a mamografia, em um país como o Brasil onde o câncer de mama atinge mais de 49 mil mulheres, e causa 10 mil mortes ao ano. Diz a reportagem, de Cecilia Minner:
“O mal, que atinge 1 milhão de pessoas anualmente no mundo, é considerado oPorque recomendar o auto-exame é informar pela metade
segundo tipo de câncer mais freqüente na população mundial, e o primeiro entre
as mulheres, segundo as estimativas do Instituto Nacional do Câncer. No Brasil,
134 novos casos são diagnosticados por dia – 69% deles descobertos em estágios
avançados”.
O principal alerta desta campanha é que o auto-exame de mama, embora importante, não garante detectar um nódulo em seu estágio inicial de desenvolvimento. O estágio inicial é a fase ideal para iniciar o tratamento no caso de diagnóstico de câncer, o que aumenta a probabilidade de cura. A recomendação é que a mamografia seja feita anualmente a partir dos 40 anos, ou a partir dos 30 quando há casos da doença em parentes próximas.
Entretanto, na nossa realidade faltam mamógrafos, há carência de profissionais qualificados para operá-los, e falta agilidade para iniciar o tratamento. A regra, para a maior parte das mulheres que são as que dependem do Sistema Único de Saúde, é aguardar em filas. E de nada vale o diagnóstico precoce sem a garantia do tratamento adequado.
Mulheres de Olho conversou com técnicos da área de saúde da mulher da Secretaria de Saúde do Município do Rio de Janeiro sobre a capacidade de absorção da demanda por mamografias, gerada através da campanha. Fomos informadas de que há três anos houve melhorias, quando se passou de um para três prestadores privados desses serviços, e que hoje os exames podem ser agendados por qualquer profissional de ginecologia. Preferindo não ser identificados, esses técnicos afirmaram, entretanto, que a melhor forma de abordar a questão não é através de campanha, mas de ações mais sustentáveis. Um deles afirmou:
“Cada vez que o Fantástico faz uma matéria acontece um impacto que dura uma
semana, mas depois a demanda arrefece. São mais convenientes as campanhas que
proporcionam impacto de mais longo prazo, traduzindo-se em ações como a doação
de mamógrafos. São mais efetivas”.
Por coincidência ou não, amanhã (30/10) será realizada uma reunião no Rio de Janeiro para discutir o assunto, da qual participam dirigentes dos serviços nas esferas municipal, estadual e federal.
Tese analisou dados nacionais
A médica Ana Maria Costa concluiu em 2004 tese para doutoramento no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da UnB, intitulada “Atenção Integral à Saúde das Mulheres: QUO VADIS? Uma Avaliação da Integralidade na Atenção à Saúde das Mulheres no Brasil”. Neste trabalho foram analisadas as respostas de gestores de saúde em 5.507 municípios, a um questionário que permitiu detectar as prioridades, que se refletem na qualidade da atenção oferecida e na cobertura estimada de cada uma das ações de saúde.
Com relação ao controle do câncer de mama, 81% dos municípios declararam não realizar essa modalidade de atendimento, com mais incidência de não-atendimento no Centro-Oeste (87,4%), no Norte (94,8%) e no Nordeste (82,8%) em relação ao Sudeste (77,4%) e ao Sul (75,2%). Apenas 8% dos municípios afirmaram atender acima de 75% da demanda por tratamento desta doença. Mas isto foi há quatro anos.
Hoje a situação está mudada, como afirmou a própria Ana Costa ao Mulheres de Olho:
“Cresceu a disponibilidade de mamógrafos, com uma política forte de incentivo à
aquisição dos equipamentos, ramificando-se pelas capitais fora do Sul e Sudeste.
Mas é preciso verificar se o ritmo de capacitação de operadores cresceu na mesma
proporção”.
Está muito bem que a campanha promova uma pressão pelo aumento da demanda por mamografias. Mas é preciso pressionar também por políticas que fixem as mulheres nos serviços com acompanhamentos permanentes, acesso periódico a exames feitos por profissionais devidamente capacitados, e garantia do tratamento, caso necessário, no tempo adequado.
Angela Freitas/ Instituto Patrícia Galvão
Leia também:
Resultados de Pesquisa Datafolha feita para a Femama
Blogs que falam sobre a Campanha
Fonte: Mulheres de Olho (confira nos links deste blog)
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