outubro 06, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (X)

Foto: Rogelio Casado - Associação Chico Inácio no Dia do Grito dos Excluídos - Manaus-AM, set 2008

Nota do blog: Terminado o primeiro turno das eleições municipais de 2008, só o candidato do PT se manifestou a favor de uma rede de CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) para substituir o modelo de atenção em Saúde Mental baseado no Hospital Psiquiátrico e seus ambulatórios medicalizadores da dor humana. A Associação Chico Inácio - filiada à Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial - está de olho no segundo turno.

Eleições Municipais e Saúde Mental (X)

Só um candidato à Prefeitura de Manaus teria se comprometido, vagamente, com a criação de uma Política Municipal de Saúde Mental. De concreto, mesmo, a criação de um discutível Centro de Recuperação para Usuários de Drogas. É pouco, senhores.

Seria a primeira tentativa a enfrentar a proliferação de iniciativas particulares no campo da drogadicção. Conhecidas eufemisticamente como “comunidades terapêuticas”, vários serviços privados floresceram à falta de políticas públicas para o setor. Pior: todas infringem normas do Ministério da Saúde, que determinam a presença no seu corpo clínico dos seguintes cuidadores: psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Na sua grande maioria, o trabalho “terapêutico” é realizado por ex-aditos. São pessoas experientes, mas não o suficiente para responder integralmente pelos cuidados e pela complexidade dos casos.

Implantar Centros de Recuperação é correto, na medida em que não se recomenda a internação de casos graves em Hospitais Psiquiátricos. Entretanto, faltou ao candidato explicitar na sua política quantos Centros de Atenção Psicossocial para usuários de Álcool e outras Drogas (CAPS-AD) serão criados, posto que eles desempenham um importante papel para os egressos das internações e para os que necessitam de projetos terapêuticos individualizados, sejam de caráter intensivo, não intensivo e semi-intensivo. Sem eles é chover no molhado!

A impressão que se tem é que os candidatos continuam mal assessorados, ou não conseguem sair do discurso denuncista para a prática, típica dos que não desencarnam do papel de oposicionistas, embaraçados em assumir responsabilidades de governo. No passado recente, foram capazes de criticar o quadro em que se dá a atenção em saúde mental em Manaus, mas ficam afônicos quando o assunto é Política de Saúde Mental. Assim sendo, as propostas quando surgem são tão fragmentadas, que geram suspeitas entre os militantes da luta por uma sociedade sem manicômios. Estamos de olho!

Manaus, Setembro de 2008.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, no Caderno Raio-X, que circula às quartas-feiras.

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