outubro 01, 2012

"Fator idade e a opressão", por Silvana Bárbara G. da Silva

PICICA: "A luta do feminismo também se dá pela emancipação das mulheres idosas. O  movimento feminista acompanhou muitas gerações e foi responsável pelas transformações e direitos conseguidos pelas mulheres através dos tempos. As idosas de hoje foram personagens principais da opressão por gênero, e no presente se encontram na busca pela liberdade que não puderam vivenciar. Foram vítimas e muitas vezes até compartilharam  do machismo, até mesmo por serem determinadas pelo contexto pelo qual passaram."

Fator idade e a opressão


Fator idade e a opressão


No dia 1° de outubro de cada ano, segundo Lei decretada em 2006, é celebrado o Dia Nacional do(a) Idoso(a). Este dia tem como objetivo promover a análise sobre a participação e situação das pessoas idosas na sociedade. Também se procura refletir sobre o aumento do índice de idosos(as) e de sua qualidade de vida. A expectativa de vida aumentou, principalmente, devido aos avanços da tecnologia, melhorias sociais e nas novas oportunidades de realização de atividades físicas e de entretenimento, antes descartadas para pessoas com idade a partir dos 60 anos.

Ação Cidadã para a pessoa idosa

Fonte: Imagem do Flickr de Passarinho/Pref.Olinda (2009), alguns direitos reservados
Como se trata de um dia de reflexão sobre a situação dos(as idosos(as) na sociedade, não se pode deixar de lado um porém: o preconceito com relação às pessoas idosas cresce proporcionalmente ao preconceito com relação a elas. Grandes vítimas de uma época onde cada vez mais as pessoas perdem o respeito pelas outras, as pessoas da chamada “terceira idade” são ridicularizadas, comumente tratadas com palavras e atos grosseiros.
Sobre o desrespeito porque passam os(as) idosos(as), no geral, há muito que se comentar. Mas nestas linhas, pretende-se destacar a discriminação pelas quais as mulheres idosas são vítimas. Felizmente, elas não fazem mais o perfil moldado da avó de chinelos, encolhida no sofá, fazendo seu tricô. Muitos programas governamentais tem como seu público-alvo a “terceira idade”, e nisto se apresentam oportunidades deste público realizar atividades físicas e passeios em grupos. E, nos momentos em que participam de tais atividades, como que uma válvula de escape, deixam de lado por um momento os problemas por que passam em suas casas, com seus familiares.
Ainda há muito o que melhorar na condição destas mulheres, que muitas vezes são oprimidas por seus(uas) filhos(as) e/ou esposos. Boa parte das agora idosas, casaram com homens mais velhos, sendo que, por vezes agora estes mesmos homens, também idosos e com a saúde debilitada, dependem da ajuda prestativa de suas esposas. Muitas se casaram ainda adolescentes, e dedicaram a vida toda à família que construíram. Há casos em que os esposos não as respeitavam, eram violentos ou as deixavam sozinhas em casa com as crianças para poderem aproveitar a noite. E mesmo passando por esta situação, as que são dependentes de seus esposos, ainda se dedicam a eles, como se fosse uma obrigação das mulheres. É comum, também, observar experiências de mães idosas que são humilhadas e até mesmo agredidas pelos(as) filhos(as).
A sociedade também oprime as idosas pela perda do que é considerado belo em sua aparência física. A perda da massa óssea e muscular, comum às mulheres a partir dos 30 anos e que nas idosas encontra-se em seu ápice, faz com que seu corpo não interesse mais à objetivação masculina. E por esta razão, as idosas tornam-se alvo de ironias, pois o senso comum afirma que as mulheres não têm outros atrativos.
Outro ponto importante a se considerar é a vida sexual na “terceira idade”. A opressão com relação à vida sexualmente ativa parece transparecer melhor quando algumas idosas tornam-se viúvas. Neste caso, a sociedade limita o comportamento das mulheres, como se fosse proibida a possibilidade de diversão e até mesmo encontrar um novo companheiro. Para um homem idoso é considerado normal procurar uma mulher (de preferência mais nova) para satisfazer suas necessidades sexuais e para lhe servir nas tarefas domésticas. Mas para as mulheres, há toda uma crítica desfavorável quando elas despertam o interesse em uma nova relação, mostrando que são sexualmente ativas.
Deve-se levar em consideração que boa parte das mulheres hoje idosas, foi reprimida sexualmente na juventude. Desta forma, sentindo esta falta da liberdade sexual, veem no presente (onde as conquistas femininas estão avançando), uma oportunidade de vivenciar o ato sexual de uma forma que elas possam sentir prazer, e não considerá-lo como uma obrigação, apenas para servir aos desejos do parceiro. Também é importante ressaltar sobre os casos de mulheres homo e bissexuais, as quais foram reprimidas por esta condição, e que agora sentem que podem vivenciar seus desejos, mesmo que ainda sejam marcadas pelo preconceito.
A luta do feminismo também se dá pela emancipação das mulheres idosas. O  movimento feminista acompanhou muitas gerações e foi responsável pelas transformações e direitos conseguidos pelas mulheres através dos tempos. As idosas de hoje foram personagens principais da opressão por gênero, e no presente se encontram na busca pela liberdade que não puderam vivenciar. Foram vítimas e muitas vezes até compartilharam  do machismo, até mesmo por serem determinadas pelo contexto pelo qual passaram.

Ação Cidadã para a pessoa idosa
Fonte: Imagem do Flickr de Passarinho/Pref.Olinda (2009), alguns direitos reservados

O dia 1° de outubro fica marcado para analisar estes poréns e seguir forte na luta pela valorização e emancipação das mulheres idosas.


Silvana Bárbara G. da Silva

Designer e pesquisadora. Militante em constante aprendizado pelas causas feministas, raciais e estudantis.

Fonte: Blogueiras Feministas

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