PICICA: "A luta do feminismo também se dá pela
emancipação das mulheres idosas. O movimento feminista acompanhou
muitas gerações e foi responsável pelas transformações e direitos
conseguidos pelas mulheres através dos tempos. As idosas de hoje foram
personagens principais da opressão por gênero, e no presente se
encontram na busca pela liberdade que não puderam vivenciar. Foram
vítimas e muitas vezes até compartilharam do machismo, até mesmo por
serem determinadas pelo contexto pelo qual passaram."
Fator idade e a opressão
Fator idade e a opressão
No dia 1° de outubro de cada ano, segundo Lei decretada em 2006, é celebrado o Dia Nacional do(a) Idoso(a).
Este dia tem como objetivo promover a análise sobre a participação e
situação das pessoas idosas na sociedade. Também se procura refletir
sobre o aumento do índice de idosos(as) e de sua qualidade de vida. A
expectativa de vida aumentou, principalmente, devido aos avanços da
tecnologia, melhorias sociais e nas novas oportunidades de realização de
atividades físicas e de entretenimento, antes descartadas para pessoas
com idade a partir dos 60 anos.
Como se trata de um dia de reflexão sobre a
situação dos(as idosos(as) na sociedade, não se pode deixar de lado um
porém: o preconceito com relação às pessoas idosas cresce
proporcionalmente ao preconceito com relação a elas. Grandes vítimas de
uma época onde cada vez mais as pessoas perdem o respeito pelas outras,
as pessoas da chamada “terceira idade” são ridicularizadas, comumente
tratadas com palavras e atos grosseiros.
Sobre o desrespeito porque passam os(as)
idosos(as), no geral, há muito que se comentar. Mas nestas linhas,
pretende-se destacar a discriminação pelas quais as mulheres idosas são
vítimas. Felizmente, elas não fazem mais o perfil moldado da avó de
chinelos, encolhida no sofá, fazendo seu tricô. Muitos programas
governamentais tem como seu público-alvo a “terceira idade”, e nisto se
apresentam oportunidades deste público realizar atividades físicas e
passeios em grupos. E, nos momentos em que participam de tais
atividades, como que uma válvula de escape, deixam de lado por um
momento os problemas por que passam em suas casas, com seus familiares.
Ainda há muito o que melhorar na condição
destas mulheres, que muitas vezes são oprimidas por seus(uas) filhos(as)
e/ou esposos. Boa parte das agora idosas, casaram com homens mais
velhos, sendo que, por vezes agora estes mesmos homens, também idosos e
com a saúde debilitada, dependem da ajuda prestativa de suas esposas.
Muitas se casaram ainda adolescentes, e dedicaram a vida toda à família
que construíram. Há casos em que os esposos não as respeitavam, eram
violentos ou as deixavam sozinhas em casa com as crianças para poderem
aproveitar a noite. E mesmo passando por esta situação, as que são
dependentes de seus esposos, ainda se dedicam a eles, como se fosse uma
obrigação das mulheres. É comum, também, observar experiências de mães
idosas que são humilhadas e até mesmo agredidas pelos(as) filhos(as).
A sociedade também oprime as idosas pela
perda do que é considerado belo em sua aparência física. A perda da
massa óssea e muscular, comum às mulheres a partir dos 30 anos e que nas
idosas encontra-se em seu ápice, faz com que seu corpo não interesse
mais à objetivação masculina. E por esta razão, as idosas tornam-se alvo
de ironias, pois o senso comum afirma que as mulheres não têm outros
atrativos.
Outro ponto importante a se considerar é a
vida sexual na “terceira idade”. A opressão com relação à vida
sexualmente ativa parece transparecer melhor quando algumas idosas
tornam-se viúvas. Neste caso, a sociedade limita o comportamento das
mulheres, como se fosse proibida a possibilidade de diversão e até mesmo
encontrar um novo companheiro. Para um homem idoso é considerado normal
procurar uma mulher (de preferência mais nova) para satisfazer suas
necessidades sexuais e para lhe servir nas tarefas domésticas. Mas para
as mulheres, há toda uma crítica desfavorável quando elas despertam o
interesse em uma nova relação, mostrando que são sexualmente ativas.
Deve-se levar em consideração que boa parte
das mulheres hoje idosas, foi reprimida sexualmente na juventude. Desta
forma, sentindo esta falta da liberdade sexual, veem no presente (onde
as conquistas femininas estão avançando), uma oportunidade de vivenciar o
ato sexual de uma forma que elas possam sentir prazer, e não
considerá-lo como uma obrigação, apenas para servir aos desejos do
parceiro. Também é importante ressaltar sobre os casos de mulheres homo e
bissexuais, as quais foram reprimidas por esta condição, e que agora
sentem que podem vivenciar seus desejos, mesmo que ainda sejam marcadas
pelo preconceito.
A luta do feminismo também se dá pela
emancipação das mulheres idosas. O movimento feminista acompanhou
muitas gerações e foi responsável pelas transformações e direitos
conseguidos pelas mulheres através dos tempos. As idosas de hoje foram
personagens principais da opressão por gênero, e no presente se
encontram na busca pela liberdade que não puderam vivenciar. Foram
vítimas e muitas vezes até compartilharam do machismo, até mesmo por
serem determinadas pelo contexto pelo qual passaram.
O dia 1° de outubro fica marcado para analisar estes poréns e seguir forte na luta pela valorização e emancipação das mulheres idosas.
Silvana Bárbara G. da Silva
Designer e pesquisadora. Militante em constante aprendizado pelas causas feministas, raciais e estudantis.Fonte: Blogueiras Feministas
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