Mulheres de Olho
28 de setembro, um marco político nas ruas de SP
Posted: 02 Oct 2008 04:25 PM CDT
Estivemos na marcha nacional realizada no centro da capital paulista, na sexta-feira, 26 de setembro, na qual foi anunciada a formação da Frente nacional pelo fim da criminalização das mulheres e pela legalização do aborto.
Participaram do ato organizações da sociedade civil, sindicais e partidárias, com delegações organizadas pelos movimentos de mulheres tanto da capital e do ABC paulista, como de outros estados - Acre, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Para, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e Roraima.
O evento chegou a concentrar em torno de 500 pessoas, após atravessar o Viaduto do Chá e fazer sua primeira parada, em frente ao edifício do Ministério Público Estadual, na Rua Riachuelo. Uma comissão formada por representantes da União Brasileira de Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras, Católicas pelo Direito de Decidir, Marcha Mundial de Mulheres, Liga Brasileiras de Lésbicas e Conlutas, entre outras, entregou o manifesto redigido por mais de 500 organizações de todo o país, denunciando a perseguição policial e judicial contra mulheres que fizeram um aborto (leia e assine o manifesto aqui).
O ato foi animado por quatro grupos de teatro, três de São Paulo - as Atuadoras, Kiwi, e As Mal Amadas - e um de Pernambuco - as Loucas da Pedra Lilás. Na comissão de frente estava a batucada da Marcha Mundial de Mulheres. A concentração começou às 13h, em frente ao Teatro Municipal, onde primeiro falou o deputado federal Jose Genoíno (PT-SP), autor de projeto de lei que descriminaliza o aborto.
Com cobertura do Jornal da Record e da TV Brasil, além de uma equipe alemã de documentaristas e duas rádios espanholas, a caminhada foi encerrada às 17h30, em frente à sede do Tribunal Regional de Justiça, junto à Praça da Sé, onde a mesma comissão foi recebida por Ana Amazonas, em nome da presidência do Tribunal. A grande imprensa escrita não cobriu o evento, que ao longo de quatro horas e meia mudou a rotina do coração da metrópole.
Mulheres de Olho traz aqui alguns depoimentos colhidos ao longo do percurso, como registro de um momento que pretende ser apenas o começo de uma movimentação mais ampla da sociedade civil. Esta mobilização é mais um passo no processo de legalização do aborto no Brasil, considerado irreversível pelas militantes.
“Estamos aqui, nesta avenida e ruas de São Paulo, o movimento feminista, a Articulação de Mulheres Brasileiras, a União Brasileira de Mulheres, a Marcha Mundial das Mulheres, a Rede Feminista de Saúde, suas articulações de base e seus grupos, todas demonstrando para a sociedade brasileira a importância, nesse país, de se legalizar o aborto. A gente não pode mais permitir atos de criminalização das mulheres como o que aconteceu no Mato Grosso do Sul, e que acontecem em todos os estados brasileiros. Estamos nas ruas para discutir com as mulheres e pressionar os órgãos públicos do governo” (Joana Santos/ SOS Corpo e Coordenação Colegiada do Fórum de Mulheres de Pernambuco).
“Desde 1987 nosso partido defende a legalização do aborto, por entender que este não é um debate descolado do contexto da opressão das mulheres. Testemunhamos recentemente países com tradição religiosa ainda mais conservadora que a nossa, como é o caso de Portugal e da Cidade do México, aprovarem a legalização do aborto a partir da luta das mulheres, a partir da luta da esquerda. É esse processo que vamos encaminhar em nosso país também. Os fascistas, os conservadores, a direita, podem esperar porque vamos estar unidas até alcançar nosso objetivo”. (Alessandra Terribili/ Secretaria Nacional de Mulheres do PT)
“Enquanto as mulheres ricas abortam em clínicas seguras, mulheres pobres fazem aborto em casa, em situações ruins, e vão parar nos corredores de hospitais, sangrando, e ainda são humilhadas e maltratadas. Por isso estamos aqui. É uma hipocrisia dizer que polarizar o aborto é defender a vida. Defendemos a legalização do aborto no SUS como uma medida de igualdade social, e de economia para os cofres públicos. Muitos recursos são gastos para tratar de seqüelas de abortos mal feitos, em mulheres da periferia de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e de todo o país. Por que razão nos países ricos o aborto é legalizado, e nos pobres o aborto é clandestino? O Estado precisa assumir seu papel”. (Maria Fernanda/ Marcha Mundial das Mulheres)
“Até que enfim! É importantíssimo estarmos na rua porque não podemos permitir este avanço das forças do retrocesso que querem encarcerar as mulheres quando elas não têm alternativa a não ser fazer um aborto”. (Raquel Moreno/ Observatório da Mulher – São Paulo)
“Estou achando maravilhoso essas mulherada do Brasil inteiro participando, se desdobrando para poder estar aqui e garantir visibilidade para a questão do aborto, o que a cada dia se faz mais necessário”. (Neusa Cardoso de Melo/ Articulação de Mulheres Brasileiras/ AMB e Rede Feminista de Saúde/ Minas Gerais)
“Estou gostando, especialmente, da receptividade por parte da população comum. A gente não teve atos significativos de rejeição à discussão. A quantidade de pessoas que acolhe o folheto e lê, e os prédios com pessoas acenando e dando sinal de aprovação… para mim isto significa que há adesão à causa, e que a democratização da sociedade está avançando. (Silvia Camurça/ Secretária Executiva da AMB – Pernambuco)
“Acho que nossa caminhada comunicou pela diversidade e representatividade, e não pela quantidade. Há mulheres de muitos estados, há parceiros importantes que vieram demonstrar seu apoio, como o deputado José Genoino e o médico Cristião Rosas (Febrasgo). O colorido, a música, o som das mulheres, fizeram parar a cidade. Atingimos o objetivo, com apenas dois meses de preparação e construção do Manifesto. Juntamos movimentos que antes não tinham se unido em retorno dessa luta, numa primeira atividade desta Frente, que pretende fazer principalmente mobilização social. (Gilberta Soares/ Cunhã Coletivo Feminista, Paraíba/ Coordenação Política das Jornadas pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro)
“Estamos tratando de um tema difícil, numa situação de muito conservadorismo na sociedade. Acho que o ato, como resposta das mulheres, mostra que podemos reverter esta situação. Foi interessante a receptividade da população, todo mundo aplaudindo. Esta receptividade é diferente do que está na cabeça das autoridades”. (Nalu Faria/ Marcha Mundial das Mulheres)
“Esse é um marco. Um ato representativo do movimento de mulheres, do movimento de lésbicas, das trabalhadoras, exigindo o direito das mulheres decidirem sobre seu corpo, sua sexualidade e sua vida. É maravilhoso. (Lurdinha Rodrigues/ Liga Brasileira de Lésbicas)
Tem uma primeira reação forte. Mas durante a passeata conversei com homens, homens de fé, de religião, de forma muito tranqüila. Acho que esse e nosso diferencial: a disposição para dialogar e mostrar o que estamos querendo falar, sem imposição. (Natalia Mori/ Cfemea, Brasília).
“Somos a ala libertaria desse país. A verdadeira democracia passa pela legalização do aborto. E estamos gritando com alegria, com muita energia, a nossa liberdade”. (Regine Bandler/ Loucas de Pedras Lilás, Pernambuco)
“As ações são contra toda descriminação e uma das frentes de luta é a descriminalização do aborto. Vim com a Frente Mineira pela Legalização do Aborto” (Vander/ Grupo em Defesa da Diversidade Sexual, Minas Gerais)
“Esta passeata está mostrando a resistência das mulheres nas ruas, e isso tem chamado atenção da opinião publica, o que é importante para mostrar que as mulheres não estão passivas frente à criminalização de outras mulheres. (Latóia/ Articulação Brasileira de Jovens Feministas).
“A passeata bota as mulheres na rua para denunciar o absurdo que esta acontecendo com as mulheres nesse pais, com a criminalização do aborto. (Sueli Valongueiro/ Fórum de Mulheres de Pernambuco/ Grupo Curumim, Pernambuco).
“Estou achando excelente, mas tenho certeza de que as mulheres não comparecem mais por medo. As que passam, olham, ate gostariam de estar aqui, mas ainda têm medo de assumir a luta. Estou vindo de São Bernardo, sou promotora legal popular. Não vou ter mais filhos, e todos que eu tive foi porque quis, mas sou a favor de que, quando tiver que fazer, que seja de uma forma legal, com todo acompanhamento, uma coisa decidida, sem ser caso policia e nem pra igreja se meter”. (Maria Regina de Souza/ São Bernardo do Campo, São Paulo)
“Importantíssimo este ato, que tem caráter nacional, com a reunião de vários estados que conseguiram se deslocar para São Paulo. A gente sabe o quanto essa questão encontra resistência na sociedade e acho que vir para a rua e uma forma de dar visibilidade a ela. A gente, no Intervozes, luta pela democratização dos meios de comunicação, e sabe como a mídia omite essa questão, e omite essa luta das mulheres. Mas estamos na rua dialogar com a sociedade, e mostrar que essa não e uma luta isolada, mas sim de muitas mulheres, pois são mais de 500 organizações assinando o manifesto. Acho que isso só fortalece nossa bandeira, e mostra também o tamanho do desafio que temos pela frente. Acho que e importante esta união, e a criação da Frente e fundamental neste sentido, porque essa e uma luta que tem que ser de todas, e de todos também”. (Bia Barbosa/ Intervozes, São Paulo)
Veja fotos, matérias online e artigos publicados:
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Angela Freitas/Instituto Patrícia Galvão
2 comentários:
Nossa sociedade não possui uma boa educação ambiental vind a de casa e nem nas escolas, então o aborto legal pode gerar um grande problema: meninas adolescentes e mulheres irresponsáveis que podm utilizar o aborto como um método anticoncepcional.
Hoje, muitas garotas utilizam a chamada "pílula do dia seguinte" como um anticoncepcional, como se ele fosse o único método contraceptivo.
Não sou contra a legalização do aborto, apenas acredito que em nosso país, PRIMEIRO, precisa haver uma "reforma cultural" e o acréscimo da educação ambiental como disciplina escolar.
Nossa sociedade não possui uma boa educação ambiental vind a de casa e nem nas escolas, então o aborto legal pode gerar um grande problema: meninas adolescentes e mulheres irresponsáveis que podm utilizar o aborto como um método anticoncepcional.
Hoje, muitas garotas utilizam a chamada "pílula do dia seguinte" como um anticoncepcional, como se ele fosse o único método contraceptivo.
Não sou contra a legalização do aborto, apenas acredito que em nosso país, PRIMEIRO, precisa haver uma "reforma cultural" e o acréscimo da educação ambiental como disciplina escolar.
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