julho 02, 2006

Depoimento do Desembargador Domingos Chalub

Foto: Manaus, vista do Teatro Amazonas, anos 60













Pouco mais de 300 mil almas residiam na Manaus dos anos 60.
Um milhão e meio depois, muita história para contar.

Nota: O desembargador Domingos Chalub ocupa o sétimo andar do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. Fez quastão de me entregar pessoalmente um texto que escreveu sobre um louco de rua, sem saber que eu estava recolhendo depoimentos sobre os loucos de rua da nossa infância para publicar no meu blog. O desembargador me honra com a leitura dos artigos que escrevo para a Coluna de Opinião do jornal Amazonas em Tempo. A descrição das suas histórias da infância e adolescência são marcadas pelo bom humor. Que o diga quem teve o prazer de ouvir suas peripécias como brincante do boi Treme Terra e do garrote Mina de Ouro. Se o primeiro foi um folguedo de infância, o segundo fez história no Festival Folclórico do Amazonas.

Depoimento do Desembargador Domingos Chalub

Ser e não ser
(To be and not to be, après Shakespeare)

O dramaturgo inglês, em épocas d’antanhas, já desafiava a filosofia enquanto reflexão que o humano faz de capacidade cognoscitiva em derredor da realidade existente!

Hoje é sábado!

Antevejo da janela donde moro em “fortuna feliz”, na humildade do apartamento de 1º andar, um ser da minha espécie, lá na calçada do outro lado da rua.

O quadro, para nós outros, menos desafortunados (materialmente) é dantesco.

Aquela figura central deste breviário é exatamente um ser vivo da minha, da nossa raça humana.

Restos de alimentação espalhados pelo chão à sua volta!

Cabelos encrispados em decorrência de radical falta de higiene.

Para não ser admoestado pela briosa policia, creio, às vezes, não fica completamente desnudo.

Observo, por horas, que o meu fraterno genético, à conta da pouco provável lendária e fantasiosa teoria do casal “Adão e Eva”, não agride, não corrompe, não perturba, não gesticula e nem se preocupa com os passantes.

É a própria paz e silêncio no seu autismo absoluto!

Nem os columbos, os quais fazem honrarias para a ilustrada presença do nosso ícone se agitam, aliás. Sinto até vontade de participar também da confraria.

Coloco agora um nome para o meu herói, não imaginário, mas, real. Nessa lufa esquizofrênica da vida urbana: Esperanto.

O Esperanto (herói resistente) pode ser considerado pela ciência médica como alienado, ou, doido (mija, caga e se masturba na via pública).

Hoje é sábado!

Não mais o vejo. O Esperanto foi embora. Pra onde não sei!

Pode ter ido para a passargada (dele) lá, quem sabe? Pode ser amigo de um Rei e, não seja molestado pela sociedade, a qual faço parte, esta sim completamente alucinada e sem cura imediata. Quase terminal!

Manaus, Junho de 2006.

Domingos Chalub
(ser humano)
Posted by Picasa

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