julho 26, 2006

"Seu" Cosme: exemplo de resistência pelo respeito à diferença

Foto: Rogelio Casado - ACI na Câmara dos Vereadores, 2005













"Seu" Cosme, assim chamado pelos companheiros da
Associação Chico Inácio: um exemplo de luta pela
inclusão social.

Uma das preocupações da Associação Chico Inácio tem sido colocar seus associados em contato com a realidade, tanto no seu enfretamento como na sua mudança. "Seu" Cosme deu uma enorme contribuição para seus companheiros.

Quando o vereador Chico Preto, presidente da Câmara dos Vereadores de Manaus, abriu ao público o debate para inclusão de emendas ao Orçamento Municipal de 2006, no último trimestre de 2005, lá foi ele com a Associação Chico Inácio para a pequena galeria onde apinharam-se outros militantes de movimentos sociais, como o do Fórum do Orçamento Público e do Fórum de Políticas Públicas.

Nos dois primeiros dias fez sucesso entre os presentes com a comunicação do seu "projeto" para eliminar a pobreza e a violência. Várias vezes foi ovacionado quando discorria sobre uma decisão de caráter irrevogável: "vou dar um 'impitche' (impeachment) em todos os políticos brasileiros e fechar o parlamento", que doravante ficaria sob seus cuidados. Pretendia acabar com a miséria, oferecer emprego para todos e aumenta o poder aquisitivo dos trabalhadores.

Passado três dias de infindáveis acordos, "seu" Cosme começou a suspeitar que "estavámos sendo levados no bico", que "estavam enrolando a gente". Como todas as noites conversava com o "Senhor", devidamente autorizado por ele comunicou que faria um pronunciamento sobre a decisão divina, pouco antes de entrar na galeria.

Num dos intermináveis pronunciamentos dos parlamentares, vociferou contra eles o mais duro castigo para os tementes a Deus: o fogo dos infernos. O ambiente ficou tenso. Alguém da galeria pediu para retirá-lo. Fui em sua defesa. Argumentei que os companheiros tinham o direito de questionar a posição de "seu" Cosme, mas não de ameaçá-lo autoritariamente com exclusão de um espaço público. Ato contínuo adverti "seu" Cosme, de que seu gesto poderia levar o presidente da Câmara dos Vereadores a esvaziar a galeria. A tolerância do vereador Chico Preto foi extraordinária. Penso que ele intuiu que buscavámos um acordo que permitisse a continuidade dos trabalhos, que a rigor não foram interrompidos, apesar da perplexidade geral. "Seu" Cosme decidiu sair, já que não havia mais espaço para suas duras advertências. Antes, porém, reiterou o castigo do qual era mensageiro, e saiu revoltado com a demora das decisões políticas.

Para os que permaneceram no plenário, uma lição inesquecível: há que se conviver com o que há de disruptivo nos discursos contrários à passividade nossa de cada dia. Abençoado Cosme, sentiremos sua falta.

Nenhum comentário: