CAPS Castelo - Pelotas/RS
Nota: Os companheiros do CAPS Castelo, Pelotas-RS, enviaram matéria publicada no Diário Popular sobre o lamentável abandono do imóvel depois que a Vigilância Sanitária, em setembro deste ano, exigiu a saída do Caps do local por causa dos problemas estruturais do prédio.
Ressalte-se o empenho da comunidade em assegurar que usuários, familiares e técnicos possam voltar para o imóvel, desde que ele seja devidamente reformado. Entre os apoiadores da causa estão o vereador Paulo Oppa e radialistas como Otavio Soares e equipe da Radio Com. Eles não estão sozinhos. Tem muita gente nessa luta.
"Cidade: Bem diferente dos áureos tempos"
Álvaro Guimarães
Abandonado. Assim está o castelo Simões Lopes, na zona sul da cidade. Desde que o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro foi removido dali, em setembro, o local se transformou em ponto de encontrode adolescentes e moradores de rua, que dia e noite depredam o prédio e espalham medo entre os moradores da vizinhança.
Construído em 1922 por Augusto Simões Lopes, o castelolo calizado na avenida Brasil nº 824, foi desapropriado pela prefeitura em 1990. Desde então serviu de sede para a Guarda Municipal e entidades culturais como oInstituto Geográfico e Histórico Pelotense (IGHPel) e a 26ª Região Tradicionalista, entre outras, até 2000, quando passou às mãos da Secretaria de Saúde para sediar o primeiro Caps montado em Pelotas. Em setembro deste ano a Vigilância Sanitária exigiu a saída doCaps do local por causa dos problemas estruturais do prédio. A ordem foi cumprida antes do final daquele mês. De lá para cá, o castelo ficou completamente abandonado.
"Todos os dias corro algum vândalo daqui de dentro",confirmou a professora aposentada, Rosa Sacramento, de52 anos, vizinha do castelo. Ao tomar para si aresponsabilidade de manter a salvo o patrimônio público, Rosa chegou a ser ameaçada de morte. "Dia desses me disseram que se eu me metesse ali iriam me matar e esconder meu corpo lá dentro, pois ninguém iria achar", contou. Outros moradores das redondezas confirmam que ameaças de incendiar o castelo ou contra a integridade física dos vizinhos também já foram feitas pelos invasores.
DO LUXO AO LIXO
O luxo que marcou os primeiros tempos do castelo pelo qual passaram dois presidentes da República,Washington Luís (1927-1930) e Getúlio Vargas(1930-1945/1951-1954), ficou no passado. Hoje, as principais marcas do prédio são os vidros quebrados, portas e janelas arrombadas e paredes rabiscadas de carvão com desenhos e dizeres pornográficos, palavrões e inusitadas declarações.
Os poucos móveis deixados pela equipe do Caps no prédio já foram quebrados ou revirados e o material neles guardados pode ser encontrado por todos os cantos. Lá também ficou o busto em bronze de Giuseppe Garibaldi, que pertencia ao IGHPel. Garrafas debebidas, embalagens plásticas, peças de roupas, latas queimadas, pedaços de papelão e dezenas de pedras espalhadas pelas 30 peças dos dois andares do prédio são alguns dos vestígios dos vândalos. "É uma pena ver um patrimônio destes ser destruído tão rapidamente", disse Paulo Villar, 76 anos, filho do engenheiro responsável pela obra.
MEDO DO ABANDONO
O medo dos moradores das redondezas do castelo Simões Lopes está além da destruição de um patrimônio dacomunidade. A falta de energia elétrica e a inexistência de alarmes ou vigilantes fazem da propriedade um esconderijo perfeito para assaltantes e ladrões. "Daqui é possível avistar e controlar o movimento de todas as casas da rua, além de ser um lugar perfeito para assaltar ou violentar alguém", justifica o eletricista Eduardo Villar, 40 anos. Diante do problema os vizinhos do castelo se viram obrigados a formar uma espécie de "guarda sem farda", que permanece vigilante à movimentação no gigantesco imóvel e sempre pronta para acionar a Guarda Municipal e a Brigada Militar ao sinal de movimentos suspeitos. Mas nem sempre são respondidos. "A BM nunca vem, pois dizem que a responsabilidade é da prefeitura; a Guarda vem, mas durante a noite não entra", reclama Rosa. Assim, nos últimos meses as noites e finais de semana, antes dedicados ao descanso, acabaram invadidos por preocupações capazes de tirar o sono de qualquer um.
Secretaria de Saúde aguarda verba federal
O secretário de Saúde, Ramón Gorgot informou ontem que a Secretaria pretende reformar o castelo Simões Lopes e devolvê-lo ao Caps do bairro. Para isso, no entanto, espera que o Ministério da Saúde repasse os R$ 150 milnecessários para a reforma através do programa Reforço à Reorganização da Saúde (Reforsus). "Vamos tentar que esta verba seja liberada para o orçamento de 2007, pois este ano já não há mais recursos", disse. Para minimizar os problemas atuais do castelo, o secretário pretende solicitar à Guarda Municipal que instale um posto de vigilância fixo no prédio. O pedido de Gorgot, todavia, pode não ser atendido. "Hoje temos 96 guardas lotados em prédios públicos e uma demanda para aproximadamente 200, mas não temos efetivo para atender a todos", adiantou o chefe da Guarda Municipal, Paulo Ricardo Bartollo. A existência de um sistema de alarme no prédio é a principal justificativa do chefe da Guarda Municipal para manter o atual serviço de vigilância através de rondas esporádicas. "Não podemos manter dois sistemas de segurança no mesmo local", disse. O detalhe, desconhecido nesse caso, é que o prédio não está mais coberto pelo sistema de alarme. "Desde que o Caps foi embora a luz e o telefone foram cortados e os alarmes desativados. Não fazemos mais o monitoramento daquele prédio", revelou Paulo Benemann, diretor da empresa de vigilância eletrônica responsável pelo castelo.
Caps ainda sonha com o castelo
Ao sair do castelo, o Caps do bairro Simões Lopes foi realojado em uma casa de dez peças na rua Nereu Ramos. Embora a construção seja nova, o espaço é considerado pequeno para atender às 50 pessoas que diariamente passam pelo local. Além disso, atendimentos como o de educação física e atividade ao ar livre deixaram de ser realizadas, prejudicando a qualidade dos serviços oferecidos aos 165 pacientes da instituição. "Avigilância sanitária nos mandou sair por causa de infiltrações e problemas na rede elétrica, mas dava para recuperar os problemas com o nosso pessoal lá dentro", comentou Nilson Antunes, coordenador do centro. Diariamente notícias sobre a destruição do antigo prédio chegam através de moradores do bairro e abatem ainda mais o ânimo da equipe. "O que todos queríamos era ver o castelo reformado", lamentou.
A construção
Construído entre 1920 e 1922 o castelo Simões Lopes foi desenhado pelo arquiteto alemão Fernando Rullman, que o projetou na forma de uma vila, semelhante a um chalé suíço, mas que ganhou torres e ameias de um castelo desenhadas pelo proprietário. O cimento usado foi trazido da Europa. Ao todo são 30 peças e porão habitável. Foi a primeira casa da cidade a ter calefação através de um sistema importado da Suíça e cujos radiadores ainda estão em todas as peças. Forada casa havia as garagens, quarto de brinquedos, lavanderia e um orquidário.
[www.diariopopular.com.br - 09/11/2006]
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