novembro 28, 2006

Desrespeito e humilhação em frente do Correio Amazonense, ex-jornal de Amazonino Mendes

Jornal Amazonas Em Tempo



















O jornal Correio Amazonense, criado pelo ex-governador Amazonino Mendes, conhecido espirituosamente pelos seus correligionários como "Negão", encerra suas atividades prematuramente, depois de ser vendido para um grupo religioso.

Em tempo: não se dê ao trabalho de enquadrar a informação sobre o apelido do ex-governador como fruto de hábitos de linguagem preconceituosos, caso queira conhecer melhor as práticas discursivas da nossa diversificada fauna linguística.

Desde o início os críticos de Amazonino Mendes apontavam para o caráter eleitoreiro da iniciativa de criar um jornal às vésperas das eleições para governo do estado, onde ele figurava como candidato. Decerto não se corre o risco de uma nova aventura eleitoreira, mas como o ex-governador é um homem persistente, não se iluda, seguramente ele partirá para mais uma empreitada eleitoral, desta vez rumo à cadeira do prefeito Serafim Corrêa.

Eis que, às portas do Natal, todos os funcionários do Correio Amazonense foram impedidos de entrar no jornal sob alegações escusas do novo proprietário: temor de depredação. O ato revela o gesto: direitos trabalhistas seriam descaradamente desrespeitados.

A intimidação, caracterizada pela presença da Polícia Civil no local, foi o recurso extremado de uma mentalidade fantasiosa que soube antever uma revolta imaginária mas não soube antecipar negociações civilizadas, prefirindo demitir sumariamente todo o seu quadro de funcionários.

O desaparecimento do jornal, descontado o caráter eleitoreiro, é um perda para o público e para os jornalistas. Estes porque perdem um instrumento de trabalho, ficam temporariamente fora do mercado, com repercussões de curto prazo na sua vida financeira; àqueles porque desaparece um instrumento de repercussão dos direitos civis e políticos, violados cotidianamente, numa sociedade onde o sol nasce para todos mas a sombra é para poucos.

César Wanderley, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Amazonas, teve sua primeira prova de fogo como líder sindical. Depois de muita negociação, conseguiu evitar o vexame final: o proprietário queria forçar os funcionários da empresa a assinar sua demissão ali onde estavam - na rua.

Recomendo a leitura da Coluna Bom-Dia do jornal Amazonas em Tempo, assinada pelo jornalista Mário Adolfo: é indignação pura. Para ele, a ética da concorrência não permite trazer à luz a história do maior "passa-moleque" vivido pela sua categoria em todos os tempos.

Pelo jeito, ou a academia chama para si essa responsabilidade, ou teremos de esperar a publicação da monumental obra que está sendo escrita pelo jornalista Diocleciano Bentes de Souza, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Amazonas: "Por trás das rotativas". Quem viver verá essas e outras picantes histórias que foram urdidas em nome do jornalismo amazonense.

Com a palavra o Deco, como é conhecido carinhosamente entre seus companheiros. Posted by Picasa

9 comentários:

Anônimo disse...

O caso "Correio Amazonense" é um tipo extremo daquilo em que estão se transformando os grandes veículos de comunicação, particularmente a mídia escrita.
Dificilmente se encontra neles uma "matéria", um texto que procure alinhavar informações diversas sobre um mesmo fato e que permitam ao leitor formar um juízo razoavelmente objetivo. Os jornais são "opinião", e comumente a do dono, da primeira à última página - exceção feita aos textos assinados.
Em época de eleição esse peso da editoria sobre a informação fica mais óbvio. Porém, mesmo quando não está em causa o Poder, somos freqüentemente, leitores, bombardeados por facciosismos de toda espécie.
Dos cadernos de política aos de polícia - às vezes muito próximos -, predomina o trato frouxo da informação, a omissão das questões centrais, dos interesses envolvidos, das versões em jogo etc.
A que se deve isso? Sabe-se que os jornalistas, cada vez dispõem de menos tempo para elaborar suas matérias; sabe-se, também, que, como muitos trabalhadores, desfrutam de relações de trabalho precarizadas.
Enfim, parece-me que o caso "Correio Amazonense", sob muitos aspectos, é revelador do quanto a combinação de poder econômico com a busca por poder político é capaz de instrumentalizar a comunicação.

Anônimo disse...

"Eu não tenho a obrigação de comunicar vocês. Sou o presidente e dono do prédio, porntanto fecho a hora que quiser"! Foi assim que o Sr. Carlos Edson de Oliveira recebeu os funcionários no último dia 27 no portão do jornal Correio Amazonense. Fui repórter e desde o início este rapaz sempre mostrou falta de preparo ou caráter. Há um mês reuniu toda a redação e disse que não precisavámos procurar emprego, pois a empresa não iria fechar! Mas este tipo de ação faz parte do grupo político em que ele está envolvido. Um grupo que está com os dias contados no Estado e cada vez mais decadente!

PICICA disse...

Pior de tudo, Marcelo, é a falta de espaço para veicular comentários críticos como o seu. Uma outra mídia é possível?

PICICA disse...

Meu caro Mario Adolfo Filho, sua indignação, como a do seu pai - meu estimado amigo -, é minha também. Estou certo que também é da opinião pública (seja lá o que isso signifique).

Anônimo disse...

Rogélio, a situação é dramática. Eu me ponho na pele de muitos jornalistas, pelo menos de muitos que conheço, e fico imaginando as pressões que enfrentam, o desencanto que experimentam em não poder exercer a profissão que escolheram com a competência que tem.
A situação é tanto mais difícil quanto há número significativo de profissionais dispostos a se submeter a tudo, ou quase tudo, em troca de salário e, quiçá, um pouco de fama e prestígio.
Como mobilizar e organizar a categoria?
Fora isso, tem o problema estrutural, da concentração da propriedade da mídia empresarial. Como negócio, os cálculos dos donos levam em consideração critérios diferentes das necessidades dos cidadãos-leitores - que para eles são, em primeiro lugar, consumidores.
Fecham-se os espaços para a contestação e quando eles são abertos pela Justiça, começa-se a falar em cerceamento da liberdade de expressão. É quase anedótico: os mesmos que não dão voz a amplos segmentos da sociedade, queixam-se quando são obrigados pela Lei, que procura dar ordenamento jurídico à essa sociedade, de caçar-lhes o direito de livre expressão.
E mais, muitos jornalistas assumem, estranhamente, a posição dos donos dos jornais. Será isso sintoma de incapacidade de divisar interesses ou, simplesmente, uma adesão política e ideológica de quem sonha um dia, talvez, ser também dono?
São muitas questões e problemas e eles precisam ser discutidos com seriedade e tranqüilidade.
Um colega daqui escreveu um trabalho sobre os jornalistas free-lancer, mostrando quanto há de precarização e de ganhos relativos no avanço desse tipo de trabalhador do jornalismo. Suscitou interessante discussão na banca. Ele mostrou como vem se dando a reestruturação produtiva nas redações e os efeitos disso na organização política dos jornalistas.
Enfim, Rogélio, espaços como o do teu Blog são, por enquanto, as melhores saídas para começar o debate, mas creio que os sindicatos e as universidades deveriam se empenhar nele, tentando ampliá-lo ao máximo. ABraço

PICICA disse...

Meu caro Marcelo, estou encaminhando seu comentário para o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Amazonas, César Wanderley, que está empenhado na discussão sobre os papéis da mídia e dos jornalistas na atual conjuntura política. Caso o seu colega queira publicar, via internet, o texto sobre os "frilas", tenho um site de nome PICICA - Observatório dos Sobreviventes que está à disposição: www.picica.com.br . Grande abraço.

Anônimo disse...

Estou estupefato. Que episódio triste e indigno que tomo conhecimento aqui.

Sou um amazonense que mora fora do Estado. Há pouco mais de um mês criei um blog para manter as raízes e matar a saudade. O "Blog do Rogelio" já me serviu de fonte num post (com link e tudo), quando parabenizei o autor pelo trabalho que desenvolve.

Hoje vim fuçar em busca de novidades e me deparei com a informação sobre o Correio Amazonense, o que prova que, ainda que restrita, "uma outra mídia é possível" sim, meu caro Rogelio.

Pretendo de alguma forma demonstrar também minha indignação.

Abraços a todos.

P.S.: Se quiserem conhecer meu trabalho, façam uma visita ao "Amazonas in Sampa". Lá a amazonidade está à flor da pele.

www.amazonasinsampa.blogspot.com

PICICA disse...

Caro Moisés, tenho esperanças de que até o final do ano seremos muitos os indignados. Resta saber se vai dar samba. Abraços.

Anônimo disse...

Não sei, se foi este jornal que veículou notícias a respeito de um suposto - filhote de mapinguari!.Caso tenha sido - confirmar notícia.pela internet não estou conseguindo rever!. Grato pela atenção.