junho 09, 2014

"Junho voltou! [ou, Megaeventos, Meganegócios, Megaprotestos]" (Razão Inadequada)

PICICA: “Nas ruas o desejo transborda, gritando a impossibilidade de manter a impossibilidade do real, grafitando de vida a parede cinza da ordem moribunda. Devemos apostar na rebelião do desejo. Aqueles que se apegarem às velhas formas serão enterrados com elas” – Mauro Luis Iasi, Cidades Rebeldes


Junho voltou! [ou, Megaeventos, Meganegócios, Megaprotestos]


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- Por Rafael Trindade e Vinícius Lopes
“Nas ruas o desejo transborda, gritando a impossibilidade de manter a impossibilidade do real, grafitando de vida a parede cinza da ordem moribunda. Devemos apostar na rebelião do desejo. Aqueles que se apegarem às velhas formas serão enterrados com elas” – Mauro Luis Iasi, Cidades Rebeldes
O começo de junho passado foi marcado pelas manifestações da MPL-SP contra o aumento das tarifas em São Paulo. Fui às manifestações desde o terceiro ato e vi o crescimento exponencial desde a fatídica quinta-feira, dia 13 (“amanhã vai ser maior”), até as manifestações/comemorações no dia 19. Vi também o apartidarismo se tornando antipartidarismo. As pessoas invadiram as ruas lenvando todo tipo de pautas, direita, esquerda, ditadura, anarquia, e mais mil coisas. As manifestações cresceram e se multiplicaram, como Deus mandou. Acredito que vivemos um período de ebulição em nosso país e mais especificamente em nossa cidade. Com meus modestos 25 anos, nunca vi nada parecido acontecer.
“Aqueles que são alijados do poder de decisão sobre seu destio tomam esse destino com seu próprio corpo, por meio da ação direta” – Raquel Rolnik, Cidades Rebeldes
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O dia 17 de junho de 2013 presenciou a maior manifestação já vista no país. Claro, claro, isto é confuso, estranho, misturado, plural. Mas quer palavra mais bonita para descrever este movimento? Essa pluralidade usa a cidade como arma para sua própria retomada. Somos uma juventude que está começando a tomar as ruas; tanto faz se isso acontece aos tropeços, nos tornamos cada vez mais politizados dia após dia. Obviamente temos ideias que competem e se contradizem, temos skinheads batendo em punks e “apartidários” quebrando bandeiras de partido. Temos que lidar com isso, melhor assim do que as ruas vazias e todos vendo novela das 8.
“O cotidiano é o campo dos mecanismos de adaptação, e a luta não é a regra” – Mauro Lins Iasi, Cidades Rebeldes
Sendo assim, podemos dizer que são tempos de exceção: junho está voltando. Praticamente todos os dias da semana temos uma manifestação acontecendo (elas mais que dobraram): trabalhadores exigindo seus direitos, reivindicando melhores condições de trabalho, moradia, transporte, salários, enfim, vida! Não é mais uma questão de lei, é maior que isso! Nosso modelo representativo está gasto? Claro! As manifestações dificilmente dão em alguma coisa? Talvez! Mas estamos nos movendo, agindo, e refletindo sobre nossos atos! A cidade está fervilhando de ideias! Temos que aproveitá-las.
“Os protestos globais devem servir de lembrança ao fato de que temos a obrigação de pensar em alternativas” – Slavoj Zizek, Cidades Rebeldes
O MTST está ocupando prédios, exigindo melhores condições de moradia. Guilherme Boulos, representante do movimento, deu entrevistas em grande emissoras e se reuniu com Dilma Rousseff. O MPL-SP já está planejando novos atos na capital, buscando melhorar as condições do nosso transporte. O movimento contra Copa está nas ruas semanalmente (sendo atacado pelas costas ou não), manifestando sua indignação por um evento que não traz benefícios para o povo que a sustenta. Professores saem às ruas. Motoristas, cobradores e metroviários cruzam os braços e desafiam o sindicato que parece não os representar. Policiais civis ameaçam entrar em greve na copa. É um bom momento para pensar e fazer política.

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O que os manifestantes nos dizem? As pautas são claríssimas, mas mesmo que não fossem, nossos tempos deixam claro a enorme tensão social pela qual passamos. Nossa cidade é dividida em mil camadas (ou seriam mil platôs?), a segregação nos atinge por todos os lados. Somos a espécie de animal que mais aprendeu a abaixar a cabeça! Tomar as ruas é um grito de reconhecimento (à la Hegel). Mas a pluralidade das indignações é a expressão pura de uma cidade que está cansada de se encaixar em formas pré-estabelecidas que a impedem de experimentar vidas novas.

Todo dia, todo santo dia, faça chuva ou faça sol: acorda cansado, café-da-manhã corrido, condução lotada, ônibus lotado, metrô lotado, trabalho de merda, almoço caro de merda, trabalho com tédio e fadiga, café requentado, ônibus lotado, metrô lotado, lotação obviamente lotada, andar com medo de ser assaltado, chegar em casa e ver o Datena pra ficar assustado ou William Bonner mentindo na canal ao lado. Não, não mais…
“E se os problemas de funcionamento do capitalismo, em vez de distúrbios acidentais, forem estruturalmente necessários? Muito se falou da violência por parte dos manifestantes.  Mas o que é essa violência quando comparada àquela necessária para sustentar o sistema capitalista global funcionando ‘normalmente’?” – Slavoj Zizek, Cidades Rebeldes
É a primeira Copa do mundo que vejo onde as ruas não estão pintadas, onde as bandeiras não estão penduradas nas janelas, onde as camisetas verde/amarelo estão encalhadas nos estoques. Esta copa será diferente! Mesmo que os comerciais de TV insistam em colocar uma bola de futebol em tudo (“E amarra o amor na chuteira”), nós sabemos que nosso país está passando por um momento histórico que vai muito além da Copa do Mundo. Junho voltou, confesso que estou ansioso, não pela bola rolando, mas pelos protestos gritando.


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Manifesto

Aquilo que se apresenta. Aquilo que está na consciência. Aquilo que desenha em outras tintas, o que estava Latente, subentendido, camuflado.

ManifestAção

Ação de tornar tudo manifesto. Vazar em poros aquilo que estava entalado em gargantas de pus.

MAN-i-FESTA

Desocupados adoradores de balburdia. Micareteiros de rua. Seguidores da moda do protesto. Não sabe o que está fazendo mas está fazendo e mostrando que está fazendo e logo faz o que todos estão… fazendo.

MAN-infestaDOR

Qualquer cidadão insatis-feito que precisa gritar, mesmo que não seja ouvido, as dores que tentam ser camufladas em seu cotidiano. Qualquer espécie de ser vivo que briga por alimento, sem ter que sujar os cotovelos em lama mijada pelos poderosos.

Man – in – festança

Plim Plim.

Pro-testar

Testar inúmeras outras vias que não a via já entupida.

Sinônimo: bater a testa inúmeras vezes, até não ter testa. Nem vezes.

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