julho 31, 2006

Nem doente mental, nem deficiente mental: movimento social de usuários em busca de uma nova identidade

Foto: Rogelio Casado - Dia das Mães na ACI, 2006












"Seu" Cosme, de blusa com motivos florais, festeja o Dia das Mães
entre seus companheiros, na Associação Chico Inácio.

Reflexões sobre uma nova identidade para a loucura e os loucos

Segundo Antonio Lancetti, "o manicômio, à diferença do que se acredita, não é um usurpador, e sim, um produtor maciço de identidade do doente mental e seus médicos". Porém, segundo Fernanda Nicácio, tal processo não ocorre sem "... aquilo que a psiquiatria sempre fez com a loucura: negar a sua voz, desqualificar a sua mensagem, reduzir e anular seu sujeito".

O Amazonas perdeu o rumo da sua Reforma Psiquiátrica durante mais de 10 longos anos. Com o aparelho formador alheio ao que se passava no resto do país, sobreveio um longo silêncio sobre as práticas de desinstitucionalização tecida em rede por todo o território nacional. Não é de espantar, neste cenário, que a mídia amazonense ficasse com seu vocabulário reduzido. Especialmente, se a referência do modelo de tratamento existente na cidade de Manaus ainda gira em torno do manicômio e seus ambulatórios de consulta.

Por isso, o movimento social de usuários procura reduzir os danos provocados por uma identificação discriminatória, toda vez que são usadas expressões como "doença mental" e "deficiência mental" ao invés de portadores de transtorno mental, ainda que esses termos também sejam problemáticos.

Movimento social de usuários que se preza buscar estabelecer diferenciações conceituais como dispositivo central em suas estratégias políticas.

Comecemos por "deficiência mental", termo que indica um débito congênito de inteligência, também conhecida como oligofrenia, em oposição à queda adquirida de inteligência, como no caso das demências, e à inibição neurótica da inteligência, também chamada de pseudodemência.

Se há algo que o portador de transtorno mental não é, decididamente, é ser um deficiente, pois nele não encontramos a falta de mobilidade mental daquele. Tampouco ele é marcado pela pobreza de representação e conceitos, ou pela incapacidade de formar conceitos abstratos. Não são esses os seres humanos que povoavam os hospitais psiquiátricos brasileiros.

Quanto ao termo "doente mental", é indisfarçável a tentativa de apropriação da loucura pelo discurso médico. Pretenciosamente, esse discurso nunca quis reconhecer que na experiência da loucura o sujeito não é ingênuo sobre a origem e os traços dos seus males, nem ignorante a respeito do que lhe acontece (apud, Quinet).

"Seu" Cosme em seus delírios salvacionistas teria muito mais a nos ensinar sobre como os sujeitos revelam suas verdades, se fôssemos capazes de reconhecê-lo em sua singularidade, o que implicaria numa ruptura histórica e teórica com todas as formas de discriminação para com aqueles que experimentam a loucura no campo da verdade. Mas isso, seria valorizar a experiência de um saber fundado no inconsciente, para o qual não há espaço na sociedade da razão e seu vocabulário descriminador. Posted by Picasa

Contribuição para a imprensa escrita amazonense

Foto: Rogelio Casado - ACI na ALE, 2005












"Seu" Cosme, à direita, com a psicóloga Nivya Valente
e o usuário Márcio Jordelane, respectivamente
Secretária e Vice-Presidente da Associação Chico Inácio,
na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas

Portador de transtorno mental ou doente mental?

Certa vez o poeta Zemaria Pinto escreveu um poema de natal sobre um tema muito caro aos militantes sociais: o banquete dos excluídos. Nele foram convidados os aidéticos e as putas, assim com todas as letras. É inimaginável que o poeta usasse expressões como pessoas portadoras do vírus da aids ou profissionais do sexo; seu poema perderia toda a força poética que essas palavras carregam. Num texto jornalístico, entretanto, o buraco é mais embaixo.

Consultei os manuais do Estadão (1997), da Folha (1993), de A Crítica (1999) e de O Globo (2005). Nenhum deles contém orientação a respeito das palavras doente mental e deficiente mental, que são coisas distintas entre si.

Foi no Manual de Redação e Estilo de O Globo, organizado por Luiz Garcia, que encontrei uma bela orientação sobre o uso abusivo entre nós de um palavrão. Dela me valho para comentar o uso discriminatório da palavra doente mental, a propósito do assasinato do nosso querido Cosme Miranda em alguns veículos da imprensa escrita.

Diz o Manual de O Globo sobre a palavra aidético: "como dado de identificação, a palavra é preconceituosa, tanto quanto canceroso ou leproso".

O raciocínio e a orientação ali contida deve ser estendida à palavra doente mental, que em hipótese alguma pode ser confundida com deficiência mental. Esta última também não deve ser usada como identificadora da condição humana.

Dos outros meios de comunicação, o rádio, ao (re)produzir o seu jornal falado, dependendo da fonte, pode estar prestando um desserviço à luta contra o preconceito. Já na televisão, há uma discreta tentativa de adequar a linguagem à moderna era dos direitos humanos e civis.

Nota: Se nas edições revistas e ampliadas dos manuais os termos em questão foram objeto de orientação para a cidadania, como supounho ocorreu com o manual de O Globo, sinal de bons tempos; este escriba que melhore a qualidade das suas fontes. Posted by Picasa

julho 28, 2006

Direitos Humanos

Foto: Rogelio Casado - "Seu" Cosme, 2005













Em todas as assembléias da Associação Chico Inácio,
"seu" Cosme pedia 15 longos minutos para comunicar
seu projeto salvacionista, que nunca ultrapassavam
5 minutinhos.


Nota: A Associação Chico Inácio, filiada à Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial, enviou ofícios para a Secretaria Municipal de Direitos Humanos, Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas e Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores do Município de Manaus, pedindo que essas entidades acompanhem o inquérito policial sobre a morte do estimado companheiro Cosme Miranda.

ASSOCIAÇÃO CHICO INÁCIO
Praça Santos Dumont, 15 – CEP 69.020-550 – Manaus-AM
www.picica.com.br - chicoinacio2004@yahoo.com.br
Filiada à Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial
FUNDADA EM 18 DE MAIO DE 2004
CNPJ – 06.925.907/0001-48
Manaus - Amazonas

Ofício Nº. 041/2006-AACAPS

Manaus, 26 julho de 2006.


Excelentíssimo senhor,

A Associação Chico Inácio – ONG sem fins lucrativos, que congrega usuários, familiares, técnicos em saúde mental e cidadãos de boa vontade, tem como missão a defesa dos direitos civis e políticos dos portadores de transtorno mental.

Neste sentido, ao tempo que comunicamos o assassinato do nosso associado Cosme de Mendonça Miranda, ocorrido na madrugada do dia 25 de julho – amplamente noticiado pela imprensa, com pelo menos duas versões para o crime -, pedimos que esta Comissão acompanhe o desenrolar do inquérito policial, com o objetivo de assegurar justiça para o caso, que choca a opinião pública por inaceitável violência (reportagens anexas).

Na expectativa de poder contar com seu apoio, nossos sinceros votos de agradecimento e apreço.

Aderildo Ribeiro Guimarães
Presidente da Associação “Chico Inácio”

EXMO. SR.
SECRETÁRIO MUNICIPAL DE DIREITO HUMANOS
PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ALE
PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CMM Posted by Picasa

julho 27, 2006

Memórias inesquecíveis do cidadão Cosme Miranda

Foto: Rogelio Casado - ACI na Assembléia Legislativa do AM, 2005












"Seu" Cosme defende seu "projeto" na Assembléia
Legislativa do Estado do Amazonas

Numa das Sessões Especiais da Assembléia Legislativa para discutir a Saúde Mental no estado do Amazonas - todas por iniciativa do deputado estadual Sinésio Campos - "seu" Cosme esteve presente numa delas.

Experiente professor do ensino público, Sinésio Campos, sensível às demandas produzidas no campo da luta pela inclusão social dos portadores de transtorno mental, acatou um pedido meu para liberar a tribuna e os microfones para que "seu" Cosme pudesse comunicar à sociedade amazonense o seu "projeto".

Através da TV ALE, a cidade de Manaus tomou conhecimento de um projeto salvacionista para a nação brasileira, onde a miséria ia ser banida, o emprego pleno, e os salários mínimos girariam em torno de 16 mil reais por 8 horas de trabalho; os que desejassem apenas meio expediente, receberiam apenas os óbvios 8 mil reais. Nenhum tipo de violência seria suportado, ainda que para isso fosse usada a força.

Ao final, a comunicação mais surpreendente, feita com a devida vênia do deputado Sinésio Campos, que conduzia os trabalhos daquele dia: todos os políticos, inclusive ele, seriam alvos de um "impitche" (empeachement), e o poder passaria para as mãos do próprio Cosme. Tudo com a concordância do "Senhor" com quem Cosme conversava diuturnamente.

Louve-se a generosidade do parlamentar sensível às causa sociais. Louve-se mais ainda a generosidade do "seu" Cosme e seu projeto salvacionista. Reduzir seu discurso ao mero delírio é que o tem feito a psiquiatria carcerária e policialesca. Posted by Picasa

julho 26, 2006

"Seu" Cosme: exemplo de resistência pelo respeito à diferença

Foto: Rogelio Casado - ACI na Câmara dos Vereadores, 2005













"Seu" Cosme, assim chamado pelos companheiros da
Associação Chico Inácio: um exemplo de luta pela
inclusão social.

Uma das preocupações da Associação Chico Inácio tem sido colocar seus associados em contato com a realidade, tanto no seu enfretamento como na sua mudança. "Seu" Cosme deu uma enorme contribuição para seus companheiros.

Quando o vereador Chico Preto, presidente da Câmara dos Vereadores de Manaus, abriu ao público o debate para inclusão de emendas ao Orçamento Municipal de 2006, no último trimestre de 2005, lá foi ele com a Associação Chico Inácio para a pequena galeria onde apinharam-se outros militantes de movimentos sociais, como o do Fórum do Orçamento Público e do Fórum de Políticas Públicas.

Nos dois primeiros dias fez sucesso entre os presentes com a comunicação do seu "projeto" para eliminar a pobreza e a violência. Várias vezes foi ovacionado quando discorria sobre uma decisão de caráter irrevogável: "vou dar um 'impitche' (impeachment) em todos os políticos brasileiros e fechar o parlamento", que doravante ficaria sob seus cuidados. Pretendia acabar com a miséria, oferecer emprego para todos e aumenta o poder aquisitivo dos trabalhadores.

Passado três dias de infindáveis acordos, "seu" Cosme começou a suspeitar que "estavámos sendo levados no bico", que "estavam enrolando a gente". Como todas as noites conversava com o "Senhor", devidamente autorizado por ele comunicou que faria um pronunciamento sobre a decisão divina, pouco antes de entrar na galeria.

Num dos intermináveis pronunciamentos dos parlamentares, vociferou contra eles o mais duro castigo para os tementes a Deus: o fogo dos infernos. O ambiente ficou tenso. Alguém da galeria pediu para retirá-lo. Fui em sua defesa. Argumentei que os companheiros tinham o direito de questionar a posição de "seu" Cosme, mas não de ameaçá-lo autoritariamente com exclusão de um espaço público. Ato contínuo adverti "seu" Cosme, de que seu gesto poderia levar o presidente da Câmara dos Vereadores a esvaziar a galeria. A tolerância do vereador Chico Preto foi extraordinária. Penso que ele intuiu que buscavámos um acordo que permitisse a continuidade dos trabalhos, que a rigor não foram interrompidos, apesar da perplexidade geral. "Seu" Cosme decidiu sair, já que não havia mais espaço para suas duras advertências. Antes, porém, reiterou o castigo do qual era mensageiro, e saiu revoltado com a demora das decisões políticas.

Para os que permaneceram no plenário, uma lição inesquecível: há que se conviver com o que há de disruptivo nos discursos contrários à passividade nossa de cada dia. Abençoado Cosme, sentiremos sua falta.

Assassinato de Cosme Miranda nas manchetes dos jornais de Manaus

Foto: Rogelio Casado - ACI na Câmara dos Vereadores, 2005











Cosme de Mendonça Miranda, de blusa colorida, entre
o associado Julinho e a secretária da Associação Chico
Inácio Nivya Valente.

O ESTADO DO AMAZONAS

Morte misteriosa no SPA
(primeira página)

O lavador de carros Cosme Mendonça, 50, foi encontrado morto, em condições misteriosas, ontem, no pátio do estacionamento do Serviço de Pronto-Atendimento (SPA) do bairro Alvorada I, Zona Centro-Oeste. A vítima recebeu vários golpes na cabeça, causados por barra de ferro.

Morte Misteriosa no SPA (página Manaus - inclui Polícia - matéria assinada por Rayssa Maia)

Uma versão para o crime seria que Cosme Mendonça teria tentado impedir o roubo do veículo de uma médica e acabou morto

Secretário-adjunto afirma que vítima falava em suicídio (box)

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DIÁRIO DO AMAZONAS

Lavador de carro é morto a pauladas no Alvorada
(primeira página)

Lavador morto a pauladas em frente ao SPA (página de Cidades)

Delegado de Homicídios disse que suspeita de briga por ponto de lavagem de carros no Alvorada

"Eu acrecito que Cosme morreu tentando defender o patrimônio da médica" - Joaquim Alves Neto, secretário executivo de Saúde da capital (box)

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A CRÍTICA

Flanelinha morre espancado no estacionamento do SPA
(primeira página)

Cosme Miranda, portador de deficiência mental, foi encontrado morto com os dois braços quebrados e muitas marcas na cabeça. Havia 35 pessoas no SPA do Alvorada, onde ele vigiava carros há 12 anos, mas ninguém viu nada.

Doente Mental morto no SPA do Alvorada (página de Cidades)

Cosme Mendonça Miranda, 50, foi agredido até a morte no estacionamento da unidade de saúde e ninguém ouviu barulho.

Vítima comia e trabalhava na unidade de saúde - Cosme esra bastante conhecido dos servidores do SPA, onde passava o dia numa rotina que já durava mais de doze anos. (box)

Destaque - No fim da tarde de ontem, investigadores da DEHS informaram que uma equipe continuava na rua trabalhando no caso como suspeita do crime o homem conhecido como Chiquinho, que para eles, continua sendo o principal suspeito.

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AMAZONAS EM TEMPO

Médico suspeito - Doente Mental é espancado até a morte (página de Polícia)

Familiares acusam um médico de ter mandado surrar a vítima que teria riscado o carro dele

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CORREIO AMAZONENSE

Homem é morto em frente ao SPA do Alvorada
(primeira página)

O corpo do lavador de carros Cosme Miranda foi encontrado na manhã de ontem em frente ao Serviço de Pronto Atendimento do Alvorada com sinais de espancamento. Os indícios são de que ele foi morto no local, mas ninguém viu nada.

Homem é encontrado morto no SPA (página de Polícia)

Corpo de Cosme Miranda, com sinais de espancamento, foi encontrado no estacionamento do Serviço de Pronto Atendimento do Alvorada; o lavador de carros pode ter sido morto no local, apesar de ninguém ter visto nada.

Família denuncia colega da vítima - "Um médico do SPA foi visto levando Chiquinho de carro" - familiar de Cosme. (box)

julho 25, 2006

Associação Chico Inácio de luto pelo assassinato de Cosme Miranda

Foto: Michael Dantas - Dia Nacional de Luta Antimanicomial
18/05/2006 - Rogelio Casado e Cosme de Mendonça Miranda













Última foto em vida de Cosme Miranda, no ato público
pelo Dia Nacional de Luta Antimanicomial, em 2006.


Chamou-se em vida Cosme de Mendonça Miranda. Entrou para a Associação Chico Inácio (filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial) no ano de 2005. Nos conhemos nas reuniões das últimas quarta-feiras do mês no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, quando ali compareci algumas vezes pela Coordenação Estadual de Saúde Mental para acompanhar o encontro entre técnicos, familiares e usuários do serviço. Foi amor à primeira vista.

Estou certo de que só na Associação Chico Inácio sentiu-se verdadeiramente acolhido. Falava com Deus. Era seu auxiliar direto na Terra. Sua missão: separar os que iam para o Céu dos que iam para o Inferno. Tinha um programa de salvação para os justos; aos ímpios, o fogo eterno do inferno. Em toda reunião ou assembléia, pedia invariavelmente espaço para uma "breve comunicação de 15 minutos do meu projeto"... que nunca ultrapassa 5 minutos. No delírio salvacionista não havia lugar para a pobreza, e a abundância dos gêneros indispensáveis para as necessidades dos homens e mulheres era o resultado do trabalho coletivo, regiamente remunerado.

Frequentador de uma igreja evangélica, Cosme era um antigo usuário do SUS. Seu tratamento era feito no ambulatório do velho hospital psiquiátrico, mas fôra, há muito, "adotado" pelo SPA do Alvorada, onde costumava prestar pequenos e inestimáveis serviços aos servidores daquela casa de saúde, de quem gozava da estima e da amizade. Vizinho privilegiado do SPA, ali comparecia quase que diariamente. Servia-se do café do SPA para fazer amigos e distribuir um pouco da sua atenção para os que procuravam por atendimento à saúde.

Estou certo de que na Associação Chico Inácio sentiu-se verdadeiramente acolhido. Comparecia às reuniões sempre vestido com camisas coloridas. Sua palavra jamais foi esvaziada pelos seus companheiros. Com eles protagonizou momentos inesquecíveis da trajetória da entidade na construção da cidadania dos portadores de transtornos mentais, ora nas manifestações públicas, ora nas casa dos parlamentares estaduais e municipais.

Na Câmara dos Vereadores de Manaus, por ocasião da discussão do Orçamento de 2006 em cinco longos dias, magnetizou o público com o seu "projeto", e deixou a todos estarrecidos quando, aos berros, invocou aos céus para que fosse lançado fogo nos parlamentares que ousassem manobrar contra os interesses dos companheiros com que a Associação Chico Inácio fizera parceria, no caso o Fórum das Políticas Públicas e o Fórum do Orçamento Público.

Mas, foi na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, numa Sessão Especial sobre Saúde Mental, graças à generosidade do deputado Sinésio Campos, que ele pôde subir à tribuna e comunicar, em rede de televisão, para a sociedade amazonense, o seu "projeto". Sem meias palavras, disse que daria um "impitche" ("impeachment") em todos os parlamentares do país e concentraria o poder em suas mãos; por elas, conduziria os brasileiros para dias prósperos e felizes.

Numa das reuniões da Associação Chico Inácio revelou que estava apaixonado por uma profissional de saúde do SPA do Alvorada. Amor platônico, sem o compromisso da reciprocidade.
Na madrugada de 25 de julho, foi encontrado morto a pauladas perto do carro da sua paixão platônica. Segundo a Assessoria de Comunicação da Secretária de Saúde, havia sinais de tentativa de arrombamento do veículo. Seus pertences não foram levados. Na cabeça e nos braços, fraturados, os sinais de que resistiu ao(s) malfeitor(es).

Perdemos um companheiro no árduo caminho da luta por uma sociedade mais justa e mais fraterna. Não são poucos os que a ele se afeiçoaram. Perda tão dolorosa exige um tributo à sua memória: seus companheiros de ideais haverão de renovar o compromisso pela livre expressão dos loucos e pelo fim da violência da mentalidade manicomial.

Rogelio Casado
Fundador da Associação Chico Inácio

julho 11, 2006

Tragédia no Rio Grande











Tragédia no Rio Grande: 3 adolescentes morrem carbonizadas num hospital psiquiátrico

Quarta-feira, dia 5 de Julho, às 10:50 da noite, três meninas morreram carbonizadas em um quarto do Hospital Psiquiátrico da Santa Casa de Rio Grande (Rio Grande do Sul).

Organizado pelo Conselho Regional de Psicologia, na Sexta-feira, dia 7 de Julho, o local foi visitado por Sandra Fagundes (Ministério da Saúde), Neuza Guareschi (Conselho Regional de Psicologia - CRP/07) e Károl Cabral pelo Fórum (Fórum Gaúcho de Saúde Mental).

Um dia antes, Quinta-feira, dia 6 de Julho, dirigiram-se ao local representantes dos Ministérios da Saúde e dos Direitos Humanos, a Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde. Deste grupo fizeram parte Flávio Resmini (Assessor do Ministério da Saúde) e profissionais da 3a. Coordenadoria de Saúde da Vigilância Sanitária, da Assistência Hospitalar e da Saúde Mental, bem como da Coordenação de Saúde Mental de Rio Grande do Sul. A visita foi monitorada pelo Coordenador Nacional de Programa de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado.

A imprensa e a tragédia

A tragédia foi veiculada pelos meios de comunicação: Zero Hora virtual e impressa, Rádio Gaúcha e pela imprensa locorregional (Pelotas e Rio Grande).

A ZH tentou esfriar o máximo a questão, remetendo à perícia a tarefa de desvendar a tragédia, sem dar destaque, na manchete, ao hospital psiquiátrico. Entrevistou a Sociedade de Psiquiatria, que não emitiu opinião nem anti-reforma nem pró-reforma, preferindo enfatizar a necessidade de equipes preparadas. Para o diretor administrativo do Hospital Psiquiátrico, o serviço é modelo para o Ministério da Saúde. Sua declaração teve como sustentação a performance do serviço no PNASH (Plano Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar), que obteve 80 pontos em 2003/2004, a mais alta do Rio Grande do Sul.

Se houvesse o cuidado de entrevistar algum representante do movimento social por uma sociedade sem manicômios, certamente o entrevistado diria que a pontuação alta não significa modelo, muito menos isenção de responsabilidade em situações como essas, ou quaisquer outras, que envolvam risco de vida para usuários dos serviços de saúde mental.

Entretanto, o jornal Zero Hora não entrevistou ninguém do movimento social, tampouco qualquer representante do gestor da saúde. Pior, não fez qualquer alusão à inaceitabilidade de mortes violentas como essas. Também não foi dada uma linha sequer à Reforma Psiquiátrica e aos êxitos obtidos com a criação de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico (mais de 800 Centros de Atenção Psicossocial, mais de 2000 leitos psiquiátricos em hospitais gerais), ainda que seja uma experiência marcada pela desigualdade, estando diretamente relacionada com a força do movimento social e com a vontade política dos governantes.

Pedro Gabriel Delgado, Coordenador Nacional de Saúde Mental, ligou para o Zero Hora solicitando direito de resposta.

Os jornais locais deram um tratamento mais humano ao fato.

Ainda na Quinta-feira, dia 6 de Julho, foi aberto inquérito policial e processo no Ministério Público para apurar os fatos.

Na Sexta-Feira, dia 7 de Julho, pela manhã, a deputada Miriam Marroni entrou em campo, emitiu nota para imprensa e agendou visita ao Hospital Psiquiátrico da Santa Casa do Rio Grande.

Fórum Gaúcho de Saúde Mental visita o local da tragédia

Exaustos, confusos, abatidos pela tragédia, assim estavam os responsáveis administrativos pelo serviço de saúde mental do Hospital Psiquiátrico da Santa Casa quando o Fórum Gaúcho de Saúde Mental ali compareceu. Apesar do comportamento defensivo - o que dificultou a conversa -, o houve o reconhecimento do despreparo da instituição e da equipe para atender adolescentes dependentes de drogas. Afinal, não é o trabalho do cotidiano, tampouco a clientela habitual daquele serviço de saúde.

Durante o diálogo, foi citada a tentativa frustrada de salvamento das adolescentes por uma técnica de enfermagem, que entrou no quarto enrolada num cobertor encharcado, mas não conseguiu retirá-las. Ainda chocados com o acidente, ninguém conseguiu falar sobre a evitabilidade do ocorrido.

Entretanto, o administrador do Hospital Psiquiátrico da Santa Casa, bastante alterado, acompanhado pelo médico psiquiatra Márcio Silveira, fez questão de apresentar argumentos de defesa: o serviço é ótimo, tem equipe multiprofissional, foi bem avaliados no PNASH, tem residência em psiquiatria e é referência para o estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (SIC).

Porém, é um outro argumento do administrador que merece reflexão: segundo ele esta tragédia só ocorreu por que o judiciário manda internar de forma compulsória adolescentes dependentes de drogas e eles são obrigados a acatar a ordem do juiz. Mostrou os ofícios enviados pelo judiciário e também as comunicações que a administração e os psiquiatras haviam feito: duas das meninas estavam de alta médica. Ocorre que os juízes de Nonoai e de Cruz Alta ordenaram a permanência no hospital.

Direito de defesa e responsabilidades

Com defesa articulada – direito que assiste ao serviço de saúde – é de se perguntar quem com eles assumirão as responsabilidades pela tragédia. É preciso saber quais os municípios que estão encaminhando adolescentes dependentes de drogas, bem como quais são as comarcas e seus respectivos juízes.

Uma foto aérea do local foi mostrada pelo administrador do Hospital Psiquiátrico da Santa Casa para demonstrar que os bombeiros não tiveram dificuldades de acesso ao local, como estava escrito nos jornais. Depois, assim explicou ocorrido:

"[...] às 10:50 começou o incêndio. A equipe estava completa. A médica de plantão que estava realizando um atendimento foi auxiliar o recepcionista e a técnica de enfermagem, assim como outros profissionais a retirar os pacientes. As gurias que colocaram fogo estavam dentro do quarto, foram convocadas verbalmente, mas não quiseram sair. Os profissionais abriram a porta, mas aí o fogo aumentou e não foi possível o resgate. Uma das técnicas tentou entrar, mas não conseguiu e ainda está com ferimentos de queimadura. Os bombeiros, assim como eu e a Kelly e outros profissionais também chegamos por lá e em 20 minutos o fogo foi debelado, mas as meninas estavam carbonizadas."

A perícia interditou os 4 últimos quartos da enfermaria e os demais já estão sendo habilitados: pintura, arrumações necessárias (o que se constitui em problema para uma fiscalização ou nova avaliação, pois o que o grupo da quinta feira viu, não teria sido visto pelo grupo da sexta, por exemplo).

A equipe deu 12 altas na Sexta-feira, dia 7 de Julho. Não se tem conhecimento de qualquer reflexão feita sobre as decisões tomadas, como as razões que levaram a colocar as meninas no mesmo quarto, e se tomaram os cuidados necessários para evitar o ocorrido.

Providências legais

Sandra Fagundes (Ministério da Saúde) sugeriu a criação de uma comissão para encaminhar as providências legais exigidas pelo ocorrido, bem como para desencadear ações para criação de serviços que atendam às necessidades das crianças e dos adolescentes na cidade e na região. Essa comissão deve ser constituída por representantes do Município, Ministério Público, Universidade, Estado, Ministério da Saúde, Conselho da Criança e Adolescente, Trabalhadores, Fórum Gaúcho de Saúde Mental e do Hospital Psiquiátrico.

Sobre a participação do Hospital Psiquiátrico – que representa o modelo de tratamento superado pelo modelo de serviços substitutivos – há questionamentos e dúvidas sobre sua participação nessa comissão, que deverá ser instalada no dia 11 de Julho, Terça-feira.

Como proposta inicial, cogita-se incluir na discussão o judiciário, inclusive a corregedoria (instância fiscalizadora dos juizes). Afinal, nesta tragédia ninguém pode se eximir das suas responsabilidades.

Posição do Fórum Gaúcho de Saúde Mental

O Fórum Gaúcho de Saúde Mental sustenta a idéia de que as adolescentes não poderiam estar internadas no Hospital Psiquiátrico da Santa Casa, para irritação do administrador daquele serviço de saúde, que insiste em afirmar que ali é atendido gente de todo o Estado e que não pode desacatar a ordem do juiz.

Em visita à Secretaria do Municipal de Saúde, recebidos pela Secretária de Saúde em exercício pela Coordenadora de Saúde Mental, o Fórum sugeriu a organização de uma Comissão com representantes da Secretaria, do Hospital, do Fórum, dos Direitos Humanos, do Ministério e do Judiciário. Também foi discutida a constituição da rede de assistência a criança e ao adolescente, principalmente no que diz respeito ao atendimento de usuários de drogas, demanda social a ser enfrentada pelo município.

Em todos os encontros o Fórum Gaúcho de Saúde Mental – filiado à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial – registrou que houve violação dos direitos humanos e do estatuto da criança e do adolescente. Lembrando Sobral e a condenação do Brasil, o Fórum lembra que a sociedade não é mais indiferente a situações como essa, que colocam em xeque a instituição e o Estado.

Pedro Gabriel Delgado, da Coordenação Nacional de Saúde Mental enfatizou que foi o fato mais violento desse ano e que será pautado no núcleo de combate à violência (parceria entre Ministério da Saúde e o Ministério dos Direitos Humanos) a ser brevemente instalado.

Fala, Károl!

ANA PAULA - 17 anos - natural de Nonoai. Já estava de alta!!
ANA CAROLINA - 15 anos, completados dentro do hospital. Natural de Cruz Alta. Também estava com alta!!
ANA PAULA - 14 anos - Natural de Rio Grande.

Três adolescentes morreram carbonizadas, mas não a história dessa terrível tragédia. Inevitavelmente, deve ser pensado um novo tipo de cuidados para crianças e adolescentes com problemas sociais, com histórico de uso de drogas, todas internadas de forma compulsória em hospitais psiquiátricos pela falta de equipamentos da rede substitutiva e pela falta de informação de alguns setores da sociedade, como o judiciário, por exemplo.

Buenas, talvez eu tenha esquecido algumas coisas, mas é o que pude relatar após esta maratona da sexta, frente a esta tragédia, frente à tristeza de saber da morte destas meninas, de ver trabalhadores detonados e pressionados, enfim... Contamos com todos os parceiros neste momento triste que temos que enfrentar.

Károl

PS: Esta situação exige reflexão imediata, pois em Porto Alegre estamos enfrentando a mesma política de encaminhamentos para a dependência química: INTERNAÇÃO!!

NOTA: Texto estabelecido a partir da narrativa de Károl Cabral, do Fórum Gaúcho de Saúde Mental Posted by Picasa

julho 10, 2006

Estilos da Clínica: Revista sobre Infância com Problemas



















"ESTILOS DA CLÍNICA - Revista sobre a Infância com Problemas" - Editada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

INSTITUTO DE PSICOLOGIA - USP
Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida

São Paulo, junho de 2006.

Prezados Senhores: (as)

Em dezembro de 1996, iniciamos a publicação semestral de ESTILOS DA CLÍNICA - Revista sobre a Infância com Problemas, com o selo editorial da Pré-Escola Terapêutica “Lugar de Vida”, vinculada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Desde o início procuramos sustentar um espaço editorial de natureza interdisciplinar em torno do eixo da psicanálise, voltado à discussão de questões relativas aos problemas do desenvolvimento infantil. Assim sendo, ESTILOS apresenta textos sobre diferentes temáticas vinculadas à infância, tais como: o tratamento psicanalítico de crianças, a clínica e a escolarização na psicose e autismo infantil, o campo da psicopedagogia, a abordagem clínica de questões lingüísticas, a discussão de experiências institucionais, bem como as implicações teórico-clínicas próprias do desdobramento das conexões da psicanálise com outros campos do conhecimento.

Cada número da ESTILOS é composto de um dossiê temático, artigos variados, relatos de experiências institucionais, uma seção intitulada Fundamentos, resenhas bibliográficas, bem como informações sobre as atividades acadêmicas promovidas pelo Lugar de Vida. Os autores atuam no meio clínico e /ou educacional e desenvolvem atividades acadêmicas em universidades do Brasil e exterior.

Já publicamos 19 (dezenove) números cujos sumários podem ser visualizados em nosso site http://www.ip.usp.br. Informamos que o lançamento da revista nº 20 (vinte), cujo dossiê será “10 anos de Estilos da Clínica”, será em meados de julho de 2006.

Os editores da ESTILOS gostariam de convidá-lo a assinar nossa revista que recebeu avaliação Nacional A pelo CAPES/ANPEPP no período 2004-2005.

Nossa representante, Bia Albano - tel.(11)3091-4386/3091 /3091-4918 / 7640-4092 - poderá acrescentar os esclarecimentos que se fizerem necessários.

Esperando contar com sua atenção, subscrevemo-nos,

Conselho Editorial da Revista Estilos da Clínica
M. Cristina M. Kupfer
Editora Instituto de Psicologia USP

Leandro Lajonquière
Rinaldo Voltolini
Editores Faculdade de Educação USP

Telefones para contato: ( 11) 3091-4386/3091-4918/7640-4092 com Bia Albano
Endereço eletrônico: http://www.ip.usp.br
E-mail: lugvida@edu.usp.br ou bialv@usp.br Posted by Picasa

Acompanhamento terapêutico















INSTITUTO DE PSICOLOGIA - USP
Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida


Curso de Atualização 2º Semestre de 2006

"Acompanhamento Terapêutico: Interfaces entre Psicanálise, Educação e Tratamento"

Objetivos: Este curso partirá da retrospectiva histórica sobre a loucura, as instituições e o Acompanhamento Terapêutico, a partir de eixos teóricos da psicanálise sobre a constituição do sujeito, o tratamento, a escolarização e as práticas do atendimento terapêutico em andamento nos serviços de saúde e de educação de São Paulo.

Público alvo: Profissionais graduados nas áreas de saúde e educação.
Horário: 2ªs feiras das 18h às 20h

Seminários Mensais: 2ªs feiras das 18h às 20h - minitrados pela Profª Drª. Maria Cristina Machado Kupfer

Carga horária: 40 horas

Duração: 07/08/2006 a 04/12/2006

Taxa de Inscrição: R$ 55,00 / 04 Parcelas de: R$ 150,00

Período de Inscrição: de 03/07/2006 a 03/08/2006

Documentos para inscrição: Xerox do RG, CPF, título de eleitor, diploma e curriculum vitae

Vagas limitadas

Informações e Inscrições:

Instituto de Psicologia da USP
Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida
Av. Profº Lúcio Martins Rodrigues, 399 - Trav. 4 - Bloco 17 (em frente à ECA)

De 2ª a 6ª feira das 9h às 16h
Telefones: (11) 3091- 4918 / 3091- 4386 c/ Marli Prado
E-mail: lugvida@edu.usp.br Posted by Picasa

Indisciplina, fracasso escolar e inclusão: contribuições da psicanálise



















Curso: Contribuições da Psicanálise

LUGAR DE VIDA S/S
Oferece Curso de 09/08/2006 a 13/12/2006

“CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE PARA O ENTENDIMENTO DA RELAÇÃO ENTRE O PROFESSOR E O ALUNO: A INDISCIPLINA, O FRACASSO ESCOLAR E A INCLUSÃO”

OBJETIVOS: A proposta do curso é discutir, por meio de uma leitura psicanalítica e educacional, as dificuldades que surgem na relação professor - aluno. Os conceitos serão desenvolvidos com o intuito de auxiliar os educadores no cotidiano escolar e na reflexão das questões da escolarização de crianças com transtornos globais do desenvolvimento (TGD).

PROGRAMA

*Psicanálise e Educação
*Inclusão Escolar e o Direito
*A Lei e a Inclusão
*Mal-estar na Educação: a indisciplina e o fracasso escolar
*A Indisciplina na Escola
*Psicanálise, Filosofia e inclusão: o estrangeiro na escola
* Uma experiência de escola inclusiva: reflexões sobre a inclusão na escola pública
* Supervisão de casos dos alunos
*A experiência da Escola da Ponte (Portugal): dimensão política
*Por que ensinar a quem não aprende? A escolarização de crianças com TGD
*A repercussão do diagnóstico médico no campo da educação
*Adaptação curricular
*Apresentação de casos acompanhados pelo Grupo Ponte/Lugar de Vida

PROFESSORES

*Fernando Colli (Lugar de Vida)
*Profª. Dra. Maria Cristina M. Kupfer (Lugar de Vida)
*Maria Eugenia Toledo (Lugar de Vida)
*Marise Bastos(Lugar de Vida)
*Monica Nezan (Lugar de Vida)
*Valéria Amâncio (Lugar de Vida)
*Equipe da EMEF Amorim Lima
*Profº. Dr. Yves de La Taille (IPUSP)
*Profº. Dr. Rinaldo Voltolini (FEUSP)
*Profº. Dr. Francisco Assumpção (IPUSP)
*Profª. Dra. Caterina Koltai (PUC/SP)
*Dra. Eugênia Fávero (Procuradora da República)
*Profº José Pacheco (Escola da Ponte – Portugal)

LOCAL: Auditório do Colégio Santa Cruz
ENDEREÇO: Av. Arruda Botelho, 255 – Alto de Pinheiros
HORÁRIO: 4ª feiras - das 19h00 às 21h00
CARGA HORÁRIA: 30 horas
PÚBLICO ALVO: Professores, pedagogos, psicólogos e outros profissionais e estudantes da área da saúde e educação
INSCRIÇÕES: R$ 50,00 + 04 parcelas de R$ 110,00 (professores da rede pública com um mínimo de 20 hs./semanais com apresentação de holerith)
ou 04 parcelas de R$ 150,00 (outros profissionais).

VAGAS LIMITADAS
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES
: c/ Marli Prado – cel.: (11) 9225-8718 Posted by Picasa

Revista Imaginário


















Convite - "Revista Imaginário" - Editada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

São Paulo, julho de 2006

Prezados Senhores: (as)

A Revista Imaginário é uma publicação anual do Núcleo Interdisciplinar do Imaginário e Memória - NIME e do Laboratório de Estudos do Imaginário - LABI, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Em outubro de 1993, iniciamos a publicação anual da revista Imaginário, e em 2005 passamos as publicações semestral. Cada número da Revista Imaginário tem uma temática com artigos interdisciplinares, resenhas bibliográficas, bem como informações sobre as atividades acadêmicas promovidas pelo LABI-NIME.

Já publicamos 12 (doze) números cujos sumários podem ser visualizados em nosso site http://www.imaginario.com.br. Informamos que o lançamento da revista nº 13 (treze), cujo dossiê será “Imaginário e deslocamentos”, será em meados de dezembro de 2006.

Com esta nova edição a Revista Imaginário pretende se firmar ainda mais como um importante veículo na difusão do conhecimento em relação às questões interdisciplinares.

Com a revista Imaginário o LABI propõe-se ampliar, aprofundar e difundir o conhecimento em relação à diversidade cultural, junto ao público em geral, às instituições acadêmicas e em particular às organizações governamentais e não governamentais.

Os editores da Revista Imaginário gostariam de convidá-lo a assinar nossa revista.
Nossa representante, Bia Albano – tel 55(11)3091-4386/3091-4918/7640-4092, poderá acrescentar os esclarecimentos que se fizerem necessários.

Esperando contar com sua atenção, subscrevemo-nos,

Maria de Lourdes Beldi de Alcântara
Maria Luisa Sandoval Schmidt
Editora
Instituto de Psicologia da USP

Telefones: 55 (11) 3091-4386 R.22 ou 7640-4092 c/ Bia Albano
Fax: 55 (11) 3091-4475
Endereço eletrônico: http://www.imaginario.com.br
E-mail: labi@usp.br ou bialv@usp.br Posted by Picasa

julho 07, 2006

Carta Aberta aos professores (e alunos) da disciplina Psicopatologia




















_ Psicopatologia de quem, cara pálida?!!!... Bleeeeaaaaaaaaaargh!

Nota: No artigo A fábrica dos loucos, de José Ribamar Bessa Freire, há uma referência ao ensino acadêmico, que, por indução ou omissão, tem ajudado a institucionalizar a loucura. A Carta Aberta aos professores (e alunos) da disciplina de Psicopatologia, publicada no site do Conselho Federal de Psicologia, merece uma cuidadosa leitura. Vale a pena ler de novo.

Carta Aberta aos professores (e alunos) da disciplina Psicopatologia

Senhores professores,
Senhores alunos,

Supondo que o móvel daqueles que ensinam e dos que querem aprender, no ambiente de uma universidade, esteja calcado numa relação sincera e ética para com este objetivo, entendemos adequado e oportuno dirigirmos a vocês as nossas interpelações sobre as práticas adotadas no ensino da disciplina de Psicopatologia, que tem como modalidade a apresentação do enfermo, ou a chamada entrevista psicopatológica, a qual pressupõe a utilização dos pacientes selecionados entre internos em hospitais psiquiátricos, que são submetidos ao escrutínio do professor, diante de um grupo de aprendizes, para o assinalamento dos sintomas e dos quadros psicopatológicos.

Não faz mal lembrar a todos que hoje se encontra sobejamente documentada e disponível a todos uma vigorosa produção bibliográfica de natureza histórica, profundamente reveladora das opressivas condições sociais possibilitadoras da produção dos saberes e práticas médico-psicológicas acerca da loucura. De tal produção fica patente, sem pretender julgar moralmente o passado, que estes saberes e práticas, ainda que produzidos por motivações supostamente humanitárias, foram constituídos num regime de poder e opressão, segregador e silenciador da loucura, com forte compromisso com a ordem social, em detrimento ao respeito aos direitos e à dignidade dos supostos beneficiários do seu desenvolvimento. Marcada pelo signo da violência, que converteu uma parcela da humanidade em meros objetos de interesse científico, desqualificando sistematicamente todas as palavras e atos deste grupo, a produção do discurso psicopatológico como a verdade positiva sobre a sua experiência é tributária das condições institucionais do seu encarceramento manicomial, sempre justificado como necessário à boa ordem social e ao bom desenvolvimento da ciência.

Cumpre assinalar que a condenável prática de apresentação do enfermo está a priori baseada numa relação desrespeitosa com a dignidade dos sujeitos. Nesta circunstância, estes são expostos à mera curiosidade acadêmica, numa desigual e assimétrica relação de poder social, sem considerar os seus direitos à intimidade e à privacidade, servindo a interesses que não lhe beneficiam pessoalmente de qualquer modo, já que tais apresentações não se inserem em nenhuma de suas necessidades terapêuticas.

A formação que tem sido possibilitada por meio deste tipo de prática, além de questionável desde o ponto de vista ético e igualmente pedagógico - por insuficiente e infrutífera para a aprendizagem dos estudantes - encontra-se na contra-mão da política oficial da Saúde Mental do país, não respondendo às exigências da formação de recursos humanos adequados às necessidades da Reforma Psiquiátrica Brasileira.

E, neste contexto, o que é mais grave: a sua manutenção atenta frontalmente contra vários dispositivos legais, tais como o Artigo 5°, incisos III e X da Constituição Federal; o Artigo 2°, incisos II , III e VIII, e o Artigo 11° da Lei Federal 10216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos dos portadores de transtornos mentais , além de agredir também a vários aspectos do que está disposto nos Princípios para a Proteção de Pessoas Acometidas de Transtorno Mental, da Organização das Nações Unidas - ONU, de 1991, e a vários dos princípios consignados na Carta de Direitos dos Usuários e Familiares de Serviços de Saúde Mental, de dezembro de 1993, além de contrariar também os aspectos previstos nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos estabelecidas pela Portaria n° 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.

A utilização do espaço dos anacrônicos hospitais psiquiátricos como campo de prática para a formação de profissionais de Saúde Mental não mais se justifica. Frutos do empenho de vários setores da sociedade brasileira, já existem hoje no Brasil mais de 600 unidades públicas oficiais que oferecem atendimento psicossocial aos portadores de transtorno mental. Estes estabelecimentos, que têm como pilar fundamental o dever de promover a cidadania dos seus usuários, a ampliação de sua autonomia e o compromisso de contribuir decisivamente para a sua inserção social, colocam-se como o espaço privilegiado para as práticas docentes assistenciais.
Nestes serviços substitutivos, CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), Hospitais-dia, Moradias-protegidas, Centros de Convivência, são amplas as possibilidades de práticas de ensino e produção de conhecimento sobre as dinâmicas subjetivas dos sujeitos ali atendidos, inclusive acerca dos aspectos vinculados às suas expressões sintomáticas. Entretanto, o acesso a tais expressões fica condicionado a que as mesmas não sejam tomadas como meras expressões bizarras do funcionamento psíquico do usuário, mas sim como uma ponte para a produção dos sentidos e significados organizadores de sua experiência vivida.

Nestes ambientes, certamente não serão tolerados os modos ligeiros dos contactos superficiais, utilitários e descompromissados com os sujeitos, tal como se caracteriza a prática de apresentação do enfermo que ocorre nos manicômios atualmente. Em compensação, os vínculos estabelecidos pelos professores e estudantes, com os serviços e suas clientelas excederão em muito na qualidade, o entendimento e a compreensão da dinâmica da experiência destes sujeitos em seus variados modos de expressão.

Aos estudantes, conclamamos que se rebelem contra o comodismo conservador dos mestres que insistem nesta tradição decadente e oferecem apenas uma versão caricata, institucionalmente deformada, das experiências do sofrimento humano de pessoas assim reduzidas à condição de meras cobaias para uma aprendizagem acadêmica. Rebelem-se! Não aceitem que, por injunções burocráticas, o ensino da Psicopatologia possa estar descolado das demais aprendizagens fundamentais que possibilitam a convivência e o manejo adequado das relações terapêuticas em beneficio dos sujeitos atendidos. Não aceitem o afrouxamento da Ética em prol do pragmatismo burocrático daqueles que têm a responsabilidade de organizar as condições dignas do ensino-aprendizagem. Estimamos que vocês, na condição de profissionais futuros, mobilizem-se e reivindiquem das suas Faculdades e dos seus professores o urgente estabelecimento das condições adequadas para a qualidade de um verdadeiro processo de formação.

Núcleo de Estudos pela Superação dos Manicômios/Bahia
Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia
Conselho Federal de Psicologia

Nota: Carta publicada no site do Conselho Federal de Psicologia
http://www.pol.org.br/noticias/materia.cfm?id=451&materia=729 Posted by Picasa

julho 06, 2006

A fábrica de loucos

Foto: Manaus vista do bairro de São Raimundo, anos 50-60
Cartão Postal - A Favorita













A cidade de Manaus é banhada pelo rio Negro, que a 18 quilometros
vai encontrar-se com o rio Solimões, num notável encontro de águas
doces: uma escura e outra barrenta. Aqui se vê o bairro de São Raimundo,
o bairro de N. S. Aparecida, o igarapé de São Raimundo, a ilha de São Vicente,
o cais flutuante e a baía do rio Negro.

Nota: O manauara José Ribamar Freire Bessa, meu cumpadre e amigo, resolveu se radicar no Rio de Janeiro. Eita lonjura paid'égua! Pior para Manaus que ficou privada do contato diário com um dos jornalistas mais queridos da cidade. Nos anos 1980, criou a imortal coluna Taquiprati, uma verdadeira instituição que costuma fazer mal para o fígado de maus políticos, aqueles chegados numa bandalheira. Atualmente sua Coluna é publicada no jornal Diário do Amazonas. No site PICICA - Observatório dos Sobreviventes (www.picica.com.br), que está a serviço da Associação Chico Inácio - ong filiada à Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial, tem um link para o site do Taquiprati; visite e leia seus artigos com sabor de pupunha, tucumã e bacuri. Bessa continua brindando as domingueiras manauras, combatendo a estupidez com a lucidez de sempre. Quando ele escreveu o artigo abaixo, há 11 anos atrás, estavamos no sétimo dos 12 anos de luta por uma lei de Saúde Mental que revogasse a Lei de 1932, que só interessava para uma curríola que mantinha mais de 80 mil leitos privados nos país. Vale a pena ler de novo. Tudo a ver com os depoimentos sobre loucos de rua da nossa infância publicados neste blog.

TAQUI PRA TI

A fábrica de loucos
(Crônica enviada de Freibourg, Alemanha, e publicada em A Crítica, em 09/06/1995)


De Freiburg, Alemanha (via Fax) - Onde estão os nossos doidos, que transitavam livremente pelas ruas de Manaus? Cadê a Carmen, a mais lúcida e atrevida de todos, com o seu eterno saco de arroz, botando a molecada pra correr? Cadê o Bombalá, o mais alegre, desfilando, orgulhoso, nas paradas escolares de Sete de Setembro, à frente do Colégio Estadual do Amazonas? O que aconteceu com o Bonitão, o matemático, sempre taciturno e solitário, que escrevia complicadas equações com um canivete, riscando os benjaminzeiros da rua Xavier de Mendonça? O que nós fizemos com o Professor - o Guilherme Doido - para ele despedir-se da vida, assim, enforcando-se numa árvore no Plano Inclinado? Quantos dos nossos loucos anônimos apodreceram no hospício de Flores?

Curiosamente, pensei em todos eles, durante o Colóquio Internacional, aberto nesta terça-feira, pelo cônsul-geral de Berlim, Sérgio Rouanet, no auditório da Universidade de Freibourg, na Alemanha, para onde vim convidado para falar sobre a história dos índios da Amazônia. E isso porque entre outros temas como literatura e história, o colóquio está discutindo também as políticas públicas de saúde, incluindo a saúde mental.

Um palestrante informa que a Organização Mundial de Saúde (OMS), sediada em Genebra, criou recentemente um grupo de trabalho internacional para avaliar e propor mudanças na legislação psiquiátrica, com recomendações para o mundo inteiro. A Divisão de Saúde Mental da OMS pinta um quadro trágico sobre a forma, cruel e burra, como a loucura vem sendo tradicionalmente tratada na maioria dos países.

Como regra geral, o louco é excluído da sociedade, segregado e coagido a permanecer enclausurado no manicômio, onde é submetido a diferentes formas de violência institucional. Resultado: ele se distancia ainda mais da realidade, o que é interpretado pela instituição como agravamento dos sintomas da loucura.

Desta forma, o hospital psiquiátrico, em vez de curar a doença, passou a ser uma fábrica de loucos, da mesma maneira que a penitenciária, longe de recuperar os marginais, tornou-se uma escola do crime.

No Brasil existe um projeto já aprovado na Câmara, com votação no Senado prevista para esta semana, que pretende acabar de uma vez por todas com o manicômio. Seu autor é o deputado Paulo Delgado, do PT de Minas Gerais.

O projeto proíbe a construção de novos hospícios públicos, não permitindo também o financiamento, pelo Governo, de novos leitos, naqueles hospitais psiquiátricos já existentes.

A alternativa apresentada é a criação de centros de convivência e de atenção, lares protegidos, hospitais-dia, hospitais-noite e unidades psiquiátricas em hospital geral, para dar ao louco um tratamento digno e eficaz, o que já vem sendo realizado experimentalmente com relativo sucesso.

Todas estas alternativas obedecem a um princípio comum: o tratamento deve ser feito com o apoio dos familiares e da comunidade, mantendo o doente integrado à sociedade. Desta forma, assumindo a responsabilidade coletiva e solidária, talvez comecem a ser derrubados os preconceitos sobre a loucura, alguns deles gerados pelos próprios currículos ultrapassados dos cursos de Medicina.

Essa idéia central do projeto de Paulo Delgado não é nova. Vem sendo defendida há mais de vinte anos, em Manaus, pelos médicos Manuel Dias Galvão e Rogelio Casado. A novidade é que agora vai virar lei. Vai ser legal. Carmen Doida, que muitas vezes enganou o seu Urbano, diretor do hospício de Flores, fugindo do manicômio, certamente comemoraria gritando: "Vai roubar galinha, ladrão!".

Nota: Para ler outros artigos do Bessa, acesse www.taquiprati.com.br Posted by Picasa

Nega-Maluca

Foto: Alfândega de Manaus-AM, anos 50-60













A cidade acolhedora dos anos 40-50-60 deu lugar a competições
homicidas e camaradagens hipócritas, exceções de praxe.


Nota: Por indicação de Emilia Castro, que já deu aqui seu depoimento sobre os loucos de rua da nossa infância, reproduzo uma das crônicas do "Velho" Aristófanes Castro, extraído do livro "Cuspir é preciso", Editora Valer / Caixa de Assistência dos Advogados - OAB, Manaus-AM, 2002.

Nega-Maluca

_ Nega-Maluca!

Ela pára. Põe a trouxa de roupa no chão, ou o paneiro cheio de cacarecos, folheando seu dicionário de nomes feios e bonitos... Enquanto a assistência se divertia, ela sofria com aquele apelido que feria o coração e lhe deixava um travo amargo n’alma. Nega-Maluca! Por quê? Exemplo de mãe que se não encontra entre muitas mães da alta grã-finagem. Amou o seu negro em noites escuras, com a pele de seu corpo, ouvindo a cantiga tristonha de suas canções dolentes ou a sinfonia do vento frio atravessando as frestas do barraco de ouricuri, no arrabalde distante. Amou-o com fervor e daquele aconchego, sem cristais, sem lustres, sem colchão-de-mola macio, gerou nas entranhas o filho que é toda a sua razão de ser: Charuto! Não se desprega dele!

Aonde ele for, o acompanha, resumindo nele toda a felicidade, toda a sua vida, percorrendo ruas em todas as direções, ralhando-o ao fazer peraltices ou obrigando-o a calçar sapatos velhos não mais usados pelos filhos dos ricos, jogados nas latas de lixo, retirados de lá como se fossem da prateleira de qualquer sapataria... Nega-Maluca não viu pecado no amor, nem maldade na união honesta sem indissolubilidade. Não sentiu vergonha de ser mãe, demonstrando trazer, no coração, o verdadeiro amor maternal, na simplicidade de sua vida miserável, vivendo das sobras dos outros e dessas sobras sustentando o filho, sangue de seu sangue, e vida de sua vida.

Charuto não sente o amargor do existir, é muito criança. Não sabe ler. Ninguém olha para ele, a não ser quando passa pelas ruas atrás da Nega-Maluca, sempre a sorrir, empinando a curica de papel de embrulho, ensejando a molecada a chamá-lo pelo apelido: Charuto! Charuto! Charuto!, obrigando Nega-Maluca sair em defesa dele, como se fora leoa bravia...

Charuto faz parte da grande maioria das crianças abandonadas deste país imenso que abre verbas colossais no orçamento para gastos militares e, para a educação e saúde, orça as despesas em nonadas... Charuto faz parte da grande legião de desassistidos, criada ao deus-dará, cuja escola é o vício do crime. Charuto é uma esperança a mais que se perde entre as promessas demagógicas dos salvadores de araque...

Ao terminar de reler esta crônica escrita e dada à estampa em “O Jornal”, nos idos de 1959, fiquei a perguntar-me a mim mesmo por onde andará Charuto? Terá seguido a trilha do crime, respondendo a processo e preso, ou despejado feito presunto no Rio Negro ou em terreno baldio?

Este seria o destino de Charuto, por não ter colarinho branco, nem verde ou zebrado, faltando-lhe o diploma de ladrão de casasa com o salvo-conduto congressional de deputado ou senador da República, ou no desfrute de altos postos administrativos dos Três Poderes...
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julho 04, 2006

II Fórum Amazônico de Saúde Mental

Foto: Barco típico da Amazônia ocidental















GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
DIRETORIA DE ATENÇÃO À SAUDE
COORDENAÇÃO DE AÇÕES E PROGRAMAS ESTRATÉGICOS

OFÍCIO CIRCULAR/DAS/CAPE/SESAU/nº 037 Palmas, 03 de julho de 2006

Para: Coordenadores Estaduais e Municipais de Saúde Mental da Região Amazônica;
Coordenadores Estaduais e Municipais de Atenção Básica

Assunto: CONVITE II FÓRUM AMAZÔNICO DE SAÚDE MENTAL

Prezado(a) Sr(a) Coordenador(a),


A Coordenação de Saúde Mental do Estado do Tocantins vem oficializar convite a VSª para participar do II Fórum Amazônico de Saúde Mental, a realizar-se no período de 02 a 04 de Agosto de 2006 na cidade de Palmas – Tocantins.
Neste Fórum serão discutidos os rumos da política de Saúde Mental para a Região Amazônica tornando imprescindível a participação de representantes de todos os Estados desta região.
Dirige-se aos Coordenadores Estaduais e Municipais de Saúde Mental e Atenção Básica, e demais profissionais de saúde, sobretudo os que compõem a rede de cuidados em Saúde Mental, Instituições de Ensino Superior, representantes de usuários e familiares.
Este evento é uma realização do Ministério da Saúde (MS) e Secretaria Estadual de Saúde do Tocantins (SESAU) com o apoio do Município de Palmas (SEMUS). A passagem, hospedagem e alimentação dos Coordenadores Estaduais e Municipais são de responsabilidade dos Estados e Municípios da região Amazônica.
Em anexo, programação prévia do Evento. Informações pelos telefones: (63) 3218-1754/6238/1796; email:
s.mental@saude.to.gov.br.

Na certeza de contarmos com sua participação agradecemos.

Atenciosamente,

ARLENE DE MACEDO ANTUNES
Área Técnica de Saúde Mental
CAPE/DAS/SESAU

PROGRAMAÇÃO PRÉVIA

II Fórum Amazônico de Saúde Mental
02 a 04 de agosto de 2006
Palmas - Tocantins
02/08 - Quarta-feira
Pré - Fórum: *
14:00 h - Reunião com os coordenadores estaduais e municipais de saúde mental
Tema: Saúde Mental na população indígena

*Evento restrito aos coordenadores estaduais e municipais da região amazônica.
17:00 h - Encerramento

02/08 - Quarta-feira
19:00 h - Inscrições e entrega de material
20:00h - Mesa de Abertura
Tema: Política de Saúde Mental para a região Amazônica: Rumos e Financiamentos
José Agenor - Ministro da Saúde
Pedro Gabriel - Coordenação Nacional de Saúde Mental
21:30h - Coquetel

03/08 - Quinta-feira
08:00 h - Mesa Redonda
Tema: Recursos humanos na Saúde Mental – Realidade Amazônica
*Residência médica em psiquiatria
Debatedores:
Célia Regina Pierantoni - Diretora do DGES/MS
Alan Kardec Barbieri - Reitor da UFT-TO
*Capacitação Multiprofissional
Debatedor:
Ana Pitta Fernandes - Consultora do MS
09:30h - Discussão

10:00 h - Coffee-break

10:30 h - Mesa Redonda
Tema: Saúde Mental na interface com a justiça
Debatedores
Roseli de Almeida Peri - Promotora de Justiça e Cidadania
Francisco Cordeiro -Técnico do MS
11:30h - Discussão

12:00 h - Almoço

14:00 h - Mesa Redonda
Tema: Atenção Básica e a interface com a Saúde Mental: Mitos e Avanços
Debatedores:
Técnico do MS
Relato da Experiência de São Luiz - MA
Lisieux Carvalho Campos - Coordenação Municipal de Saúde de Saúde
15:30h - Discussão

16:00 h - Coffee-break

16:30h–Mesa Redonda
Tema: Trabalho e renda – Uma nova perspectiva para a reinserção social
* A experiência de Praia Vermelha / Acre-AC
Debatedores
Rita Martins - Técnica do MS
Tereza Monnerat - Coordenação Municipal de Saúde Mental - RJ

04/08 - Sexta-feira
08:00 h - Oficinas
10:00h - Coffee-break
10:30h - Oficinas

12:00h - Almoço

14:00h - Apresentação dos resultados das discussões das oficinas
15:30h- Coffee-break
17:00h - Apresentação da II Carta Amazônica
17:30h - Encerramento Posted by Picasa

julho 03, 2006

Diga não à legalização da tortura

















"A LÓGICA DO MAL MENOR: a legalização da tortura hoje"

A proibição da tortura, um dos princípios basilares da legislação internacional de direitos humanos, pode estar com os dias contados. Com a justificativa de que os episódios de 11/09 lançaram em um outro patamar as ameaças que pairam sobre a humanidade, jornalistas, políticos e intelectuais reabriram o debate sobre o emprego da tortura, propondo-se a analisá-lo "com lucidez e sem preconceitos".

Referindo-se à tortura como um "mal menor", se comparada aos danos causados por terroristas, esses novos defensores da tortura apóiam o uso de "pressão física moderada" nos interrogatórios, sugerem limitar a definição de tortura apenas "aos atos mais extremos de dor ou sofrimento físico e mental" e propõem que estas práticas passem a estar sujeitas a uma regulamentação precisa e a um estrito controle judicial.

Para discutir esse tema, no próximo dia 03 de julho, segunda-feira, às 18:00 h, o Grupo Tortura Nunca Mais RJ irá realizar uma mesa-redonda com João Ricardo Dornelles (Núcleo de Direitos Humanos da PUC), Fernando Delgado (Justiça Global) e Vera Malagutti Batista (Instituto Carioca de Criminologia). Haverá, também, uma exposição de trabalhos de pessoas atingidas pela violência do Estado.

A atividade, que acontecerá na Av. Pasteur, nº 458, Auditório Paulo Freire, UNIRIO, Praia Vermelha, tem como motivo marcar a passagem do Dia Internacional de Luta Contra a Tortura, que é lembrado todo dia 26/ 06 em 97 países.

Temos o prazer de convidá-lo(a) para estar presente neste dia, bem como solicitamos sua ajuda na divulgação.

Saudações fraternas da Diretoria e de todos os companheiros do Grupo Tortura Nunca Mais / RJ

Pela Vida, pela Paz, Tortura Nunca Mais ! Posted by Picasa

julho 02, 2006

Depoimento do Desembargador Domingos Chalub

Foto: Manaus, vista do Teatro Amazonas, anos 60













Pouco mais de 300 mil almas residiam na Manaus dos anos 60.
Um milhão e meio depois, muita história para contar.

Nota: O desembargador Domingos Chalub ocupa o sétimo andar do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. Fez quastão de me entregar pessoalmente um texto que escreveu sobre um louco de rua, sem saber que eu estava recolhendo depoimentos sobre os loucos de rua da nossa infância para publicar no meu blog. O desembargador me honra com a leitura dos artigos que escrevo para a Coluna de Opinião do jornal Amazonas em Tempo. A descrição das suas histórias da infância e adolescência são marcadas pelo bom humor. Que o diga quem teve o prazer de ouvir suas peripécias como brincante do boi Treme Terra e do garrote Mina de Ouro. Se o primeiro foi um folguedo de infância, o segundo fez história no Festival Folclórico do Amazonas.

Depoimento do Desembargador Domingos Chalub

Ser e não ser
(To be and not to be, après Shakespeare)

O dramaturgo inglês, em épocas d’antanhas, já desafiava a filosofia enquanto reflexão que o humano faz de capacidade cognoscitiva em derredor da realidade existente!

Hoje é sábado!

Antevejo da janela donde moro em “fortuna feliz”, na humildade do apartamento de 1º andar, um ser da minha espécie, lá na calçada do outro lado da rua.

O quadro, para nós outros, menos desafortunados (materialmente) é dantesco.

Aquela figura central deste breviário é exatamente um ser vivo da minha, da nossa raça humana.

Restos de alimentação espalhados pelo chão à sua volta!

Cabelos encrispados em decorrência de radical falta de higiene.

Para não ser admoestado pela briosa policia, creio, às vezes, não fica completamente desnudo.

Observo, por horas, que o meu fraterno genético, à conta da pouco provável lendária e fantasiosa teoria do casal “Adão e Eva”, não agride, não corrompe, não perturba, não gesticula e nem se preocupa com os passantes.

É a própria paz e silêncio no seu autismo absoluto!

Nem os columbos, os quais fazem honrarias para a ilustrada presença do nosso ícone se agitam, aliás. Sinto até vontade de participar também da confraria.

Coloco agora um nome para o meu herói, não imaginário, mas, real. Nessa lufa esquizofrênica da vida urbana: Esperanto.

O Esperanto (herói resistente) pode ser considerado pela ciência médica como alienado, ou, doido (mija, caga e se masturba na via pública).

Hoje é sábado!

Não mais o vejo. O Esperanto foi embora. Pra onde não sei!

Pode ter ido para a passargada (dele) lá, quem sabe? Pode ser amigo de um Rei e, não seja molestado pela sociedade, a qual faço parte, esta sim completamente alucinada e sem cura imediata. Quase terminal!

Manaus, Junho de 2006.

Domingos Chalub
(ser humano)
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Depoimento de Ivânia Vieira

Foto: Manaus/AM, periferia urbana, 2005.
















Desafios da municipalidade: impedir
a degradação do solo, o assoreamento dos
igarapés e as invasões de terra no município
de Manaus.

Nota: Ivânia Vieira é jornalista. Professora na Universidade Federal do Amazonas, é respeitada dentro e fora da sua categoria. Leia seu depoimento sobre os loucos de rua da nossa infância, enviado por e-mail.

Depoimento de Ivânia Vieira

Olá, Rogelio

Repasso-lhe algumas recordações, mas não tenho outros dados importantes para complementá-los. O faço para seu conhecimento e para dizer que é muito interessante esse seu trabalho. Êxito.

Quando adolescente e jovem tinha medo dos loucos. Aprendi que eles, por serem loucos, poderiam fazer qualquer coisa. Lembro que os adultos, pais e mães, usam algumas dessas figuras para garantir obediência. Era como um castigo. "Se não fizer isso, vou lhe entregar para o Bombalá", ou "para a Carmem Doida". Tem a Gaivota.

Essas pessoas ocupam meu imaginário.

O jornalismo me fez aprender a olhar com um outro olhar o drama que existe nessa história. Conheci você e outros, o movimento de luta antimanicomial...

Vou passar sua mensagem para outras pessoas.

Abraços,

Ivânia
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Depoimento de Marcelo Seráfico

Foto: Ponte Benjamin Constant, 3a. ponte - Manaus/Am











A degradação da cidade de Manaus, após a criação da Zona
Franca no final dos anos 60, não poupa os igarapés, por onde
se estendeu a favelização, como na ponte Benjamin Constant,
outrora cartão postal da cidade sorriso.


Nota: Marcelo Seráfico é manauara, sociólogo formado pela UFAM. Atualmente está em Porto Alegre, onde segue estudando sociologia na UFRGS.

Depoimento de Marcelo Seráfico

LOUCOS DE MANAUS: UM DEPOIMENTO


Três loucos das ruas de Manaus tiveram presença freqüente, algo mágica e certamente trágica, em minha vida, particularmente até os 24 anos.

Nasci em 1970 e até meados da década de 1990 os lugares pelos quais mais transitava eram as regiões do conjunto Cidade Jardim, na Avenida Constantino Nery, do Edifício Cidade de Manaus, na esquina da Avenida Eduardo Ribeiro com a 24 de maio, e a rua Simon Bolívar, na Praça da Saudade.

Da época do Cidade Jardim, entre 1974 e 1978, lembro-me vagamente de um personagem que, mais tarde, se tornaria uma referência quase diária. Era o Astronauta. Ele era alto – pelo menos era assim que eu o via -, com barba longa, de capacete, botas e trajando várias camadas de roupa. Nossos caminhos se cruzaram diversas vezes entre meus 08 e 17 anos de idade.

Com os pais trabalhando, sempre passava as tardes e parte das noites com meus avós. Em 1980, eles se mudaram do Cidade Jardim para o Ed. Cidade de Manaus, onde havia uma loja da Lanchonete Ziza´s. Do outro lado da Av. Eduardo Ribeiro havia a Confeitaria Avenida e, mais acima, na R. 24 de Maio, a Padaria Mimi. Por que menciono esses lugares? Porque era nas idas e vindas do apartamento de meus avós para eles que eu reencontrava o Astronauta. Ele foi o responsável por desfazer a identificação entre loucura e silêncio que eu, não sei por que, alimentava; não balbuciava nem pregava peças nos transeuntes. Pelo menos não me lembro de nenhuma situação assim. Ao contrário, ele se manifestava publicamente, discursava. Não guardo o que dizia. Não sei se eram queixumes e impropério ou denúncias e posicionamentos políticos. O fato é que sua figura sempre me pareceu, física e intelectualmente, pública. Não me recordo de sentir medo dele.

O astronauta transitava, para mim, entre o cômico e o trágico. As roupas e o modo como discursava, somados, lembravam um palhaço; mas o fato de andar maltrapilho e de muitos o provocarem para se divertir, me causavam desconforto. Não sei de onde ele veio nem para onde foi. Apenas tenho a impressão de ter ouvido de meu pai que conhecia a família do Astronauta.

Entre meados dos anos 80 e 90, na mesma área do Centro e na Constantino Nery, circulava uma moça que sempre estava nua e catando o desperdício dos outros para se alimentar. Também não sei o destino dela e tampouco sobre seu passado. Estará viva? Terá morrido para a loucura?

Digo moça, mas me dou conta de que nunca imaginei que idade poderia ter. Aliás, apesar de já ter me preocupado em imaginar o passado de um louco, especulando sobre o que o teria levado àquele estado, nunca me detive em pensar mais concretamente na idade que tenha. Não sei, mas me ocorre agora que sempre olhei pros loucos com os quais convivi como se eles fossem trans-históricos, quase abstratos, personagens a-temporais da cidade. O Astronauta e a moça, por exemplo, sempre me pareceram ter a mesma idade, não importando o passar dos anos. Ele, talvez, na casa dos 50, e ala na dos 30.

Por fim, havia o Cristo. Maltrapilho e barbado, ganhou o apelido de um gesto que repetia diuturnamente e todos os dias, no muro de uma clínica à esquina das ruas Simon Bolívar e Ferreira Pena. Não sei se esse é um apelido corrente ou apenas o modo como eu e meu irmão o identificávamos. Mas o gesto era o seguinte: de braços abertos, como se estivesse pregado a uma cruz, lançava o corpo contra o muro seguidas vezes. As repetições eram tantas que no muro já estava marcada a área atingida por seu corpo, como se fosse uma sombra ou, quem sabe, uma assinatura.

Ali na Simon Bolívar moram, num prédio, ainda hoje, meus avós. Por eles sabíamos que o Cristo era alimentado por outro habitante da rua. As crianças, muitas, que batiam e batem sua bolinha no vale criado pelo pronunciado relevo da rua do libertador, pareciam ter um certo respeito por ele. O mesmo, porém, não pode ser dito de alguns dos motoristas de táxi que fazem ponto por ali. Cheguei a ver alguns provocando-o, mas ele nunca revidou. Talvez tenha dado a outra face.

Não sei a origem nem o destino desse profano Cristo. Mas lembro-me de conversas com meus familiares em que especulávamos sobre que pecados quereria ele purgar com aquele gesto.

Enfim, como diria meu tio Altamir, com o tempo a memória da gente tende a melhorar tanto que começamos a lembrar até mesmo de fatos que nunca aconteceram. É o risco do depoimento e, com essa ponderação, aí vai o meu. Posted by Picasa

Os loucos de rua da minha cidade

Foto: Rogelio Casado, Maria da Taqueirinha, Manaus-AM, 2006



















Maria mora há mais de 10 anos na rua
Taqueirinha, atrás da Assembléia Legislativa
do Estado do Amazonas; no primeiro plano
estão seus pertences e sua casa; aos fundos,
à esq., está a Assembléia Legislativa.


Nota: Já são 13 os depoimentos que recebi de antigos e novos amigos e companheiros, de Manaus e de fora do estado do Amazonas, depois que solicitei um relato de memória sobre os loucos de rua da nossa infância. Lucia Antony, vereadora no município de Manaus, foi quem deu a deixa. Entretanto, até agora, ela não compareceu. Ô, Lucinha, ajoelhou tem que rezar. Aguardo novos depoimentos. Agradeço aos que estão a prestar inestimável contribuição na luta por uma sociedade sem manicômios. Leia artigo publicado no Portal da Amazônia, do qual sou seu mais novo colunista.

Os loucos de rua da minha cidade

Por
Rogelio Casado*
em 27/06/2006

“Quem não tem uma história sobre algum louco de rua para contar? Quem não passou por uma experiência qualquer de apreensão, medo, curiosidade ou brincadeira? Quem nunca sentiu este interesse, este fascínio? Qual a cidade que não tem os seus loucos célebres?”

Estas perguntas foram feitas pelo psicólogo e psicanalista Flávio Carvalho Ferraz. As respostas foram sistematizadas no livro de sua autoria Andarilhos da Imaginação, editada em 2002 pela Editora Casa do Psicólogo, São Paulo. Nesta editora, Flávio é diretor da coleção de livros Clínica Psicanalítica, voltada para temas de psicopatologia.

Data dos seus 12 anos “a primeira tentativa de descobrir os mistérios que envolviam os loucos de rua de Cambuí” (cidade do interior de Minas Gerais, onde nasceu o autor de Andarilhos da Imaginação - um estudo sobre loucos de rua). Munido de um caderno de anotações, coletou tudo o que ouviu a respeito dos loucos de rua, “tentando dar corpo às histórias fantásticas que corriam de boca em boca sobre tão célebres figuras”. Acreditava que pudesse desvendar o segredo e os mistérios daqueles loucos. Foi então que se deparou com o mais incrível dessa empreitada: “as peças do quebra-cabeça jamais se encaixariam com exatidão...”.

Essa iniciativa, mais tarde resultou numa bela obra da maturidade, desta vez com uma certeza: os loucos de rua ocupam um papel importante na imaginação popular. “Algo, a eles inerentes, parecia excitar a imaginação das pessoas, tornando fecunda a sua criatividade, produzindo lendas inventivas”.

Para Flávio Carvalho Ferraz, “a experiência da loucura do louco de rua representa uma espécie de “ilha” trágica, cercada pela concepção crítica de todos os lados. Nosso louco de rua – pela forma como vive a experiência de sua loucura e pelas modalidades de relacionamento que estabelece coma a cidade – guarda algo remanescente de outras eras, que se confronta com uma mentalidade popular já profundamente impregnada pelas concepções próprias da psiquiatria. Neste sentido, ele é um exemplar que escapou da institucionalização, foi salvo da apreensão médico-policial da psiquiatria. Vive em um mundo ambíguo que lhe dá o direito de experimentar seu desatino em estado de relativa liberdade, faz concessões à sua loucura por alguns instantes, mas tem olhos críticos e, quando julga necessário, apela para seu aprisionamento ou exclusão”.

Foi de um desses loucos de rua, institucionalizado por uma desastrada decisão médico-policial, durante anos mantido sob medicamentos antipsicóticos, ao fazer um vínculo terapêutico, tido como impossível, que me confiou uma lembrança da sua infância, saindo do mutismo institucional que fora imposto; tratava-se de uma canção que aprendeu com sua professora: “Se essa rua, se essa rua fosse minha...”. Se a provisão de cuidados não fosse tão desigual, com o Estado se desobrigando de suas responsabilidades, deixando o ônus para as famílias dos portadores de sofrimento psíquico, qual teria sido o destino desses seres humanos se tivessem assegurados os direitos de cidadania que foram perdendo progressivamente a partir do século XIX?

O depoimento generoso de antigos e novos amigos sobre os loucos de rua da cidade de Manaus dos anos 50/60, publicado no meu blog, é uma pequena mostra da forte relação entre o imaginário da comunidade e seus loucos.

O desafio é civilizatório: é tempo de incluir os loucos na cultura dos nossos tempos.

* Rogelio Casado, psicoterapeuta, especialista em Saúde Mental

E-mail: rogeliocasado@uol.com.br
Blog: www.rogeliocasado.blogspot.com
Site: www.picica.com.br
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julho 01, 2006

Dia Internacional do Cooperativismo

Foto: Associação Chico Inácio na Feira Municipal, Manaus-AM, 2005













A Associação Chico Inácio, aos poucos, vai se
incorporando na paisagem da cidade de Manaus.
Onde houver uma Feira Municipal, lá esta ela
na rua vendendo o seu artesanato.

Como hoje é Dia Internacional do Cooperativismo, publicamos notícia divulgada no site do Partido dos Trabalhadores sobre a Economia Solidária: uma esperança para a inclusão dos portadores de sofrimento psíquico na cultura dos nossos tempos.


27/06/2006

Economia solidária é a vanguarda da luta contra exclusão, diz Singer

A abertura do primeiro encontro entre sociedade e governo federal sobre as políticas de economia solidária foi marcada pelo debate sobre como tornar o conceito uma estratégia de desenvolvimento para o país.

Um dos principais incentivadores do tema, o secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, afirmou que a tendência de reunir associações e cooperativas se tornou a vanguarda da luta contra a exclusão.

"Digo isso com muito orgulho. A economia solidária hoje está na vanguarda da luta contra a exclusão social", disse na conferência nacional em Brasília.

Singer disse que a economia solidária pode formar cooperativas com egressos de manicômios, por exemplo, e ampliar a luta anti-manicomial no país.

"Há mais de 30 associações de cooperativas de produção e muitas outras centenas vão surgir aproximamente", disse. A relação entre os dois temas já é explorada no país há algum tempo. Em maio, por exemplo, foi realizada no Rio Grande do Sul a 1ª Feira de Economia Solidária Antimanicomial para apresentar iniciativas de articulação dos dois movimentos.

Na abertura da 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária, Singer também citou a idéia de levar o conceito para dentro dos presídios para que, junto a educação e saúde, a crise da segurança pública possa ser resolvida "de uma forma positiva e humana".

Concentração no Nordeste

Dos cerca de 15 mil empreendimentos da economia solidária existentes no país, a maior parte deles está localizada na região Nordeste, com 44%. Os restantes, 56%, estão distribuídos nas demais regiões do país: 13% na região Norte, 14% na região Sudeste, 12% na região Centro-Oeste e 17% na região Sul. As informações são do Atlas da Economia Solidária no Brasil, uma iniciativa pioneira coordenada pelo Ministério do Trabalho, em parceria com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), lançada este ano. Só no Nordeste, segundo o documento, existem 6.549 empreendimentos.

Conforme revela o Atlas, os três principais motivos que levam à criação desse tipo de empreendimento são: alternativa ao desemprego, complemento de renda dos sócios e obtenção de maiores ganhos. Dois outros motivos também merecem ser destacados: possibilidade da gestão coletiva da atividade e condição para acesso a crédito. Essa situação, no entanto, modifica-se de acordo com as regiões brasileiras.

O motivo "alternativa ao desemprego" é o mais citado nas regiões Sudeste (58%) e na região Nordeste (47%). Por sua vez, na região Sul, o motivo mais citado é a possibilidade de "obter maiores ganhos". Já nas regiões Norte e Centro Oeste, como destaca o documento, o principal motivo citado é o "complemento de renda" (45% e 53% respectivamente).

Hoje, no Brasil, 1,25 milhão de pessoas fazem parte dos empreendimentos econômicos solidários. A participação dos homens nessa atividade é bem superior à das mulheres: 64% contra 36%, respectivamente. Conforme revela o mapa, na região Sul, a participação relativa dos homens na atividade é superior à média nacional, chegando a 71%, enquanto que na região Centro Oeste, a participação das mulheres é superior à média nacional (41%).

O Atlas da Economia Solidária no Brasil, divulgado este ano, também revela que metade dos empreendimentos econômicos solidários está na área rural, 33% na área urbana, e 17% têm atuação tanto na área rural como na área urbana. Os produtos e serviços que mais lideram as atividades voltadas à economia solidária no Brasil são os relativos à agropecuária, extrativismo e pesca, com 42%. Logo depois, aparecem os alimentos e as bebidas (18,3%) e, em seguida, os produtos artesanais (13,9%).

Os produtos e serviços dos empreendimentos econômicos solidários destinam-se predominantemente, conforme revela o Atlas, aos espaços locais. Do total, 56% vendem ou trocam seus produtos e serviços no comércio local comunitário e 50% nos comércios municipais. Apenas 7% do total de empreendimentos destinam seus produtos ao território nacional e 2%, realizam transações com outros países.

http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=43762 Posted by Picasa