janeiro 14, 2007

Jair Alves mata a cobra e mostra o pau














Jair Alves
CAETANO VELOSO, CHICO BUARQUE E MARIA BETHÂNIA SERÃO PATROCINADOS PELA LEI ROUANET.
PODE???


Neste inicio de ano foi protocolado, no Ministério da Cultura, vários projetos para a realização de shows, na cidade de Brasília, em junho próximo, com a participação dos artistas citados acima, além de outros, como Zeca Baleiro, Luciana da Mata, Paulinho da Viola, etc. A pergunta que se faz é se esse tipo de programação artística deve ser patrocinado, com dinheiro público, uma vez que ainda corre o Brasil um desses shows (Chico Buarque), com ingressos no valor de R$ 100,00 (mínimo), e com lotação esgotada, diga-se. Não há, portanto, muita diferença entre esses projetos, ainda em fase de análise, e o discutível patrocínio do Circo de Soleil, pela mesma Lei Rouanet.

Esta é uma questão ética que deve ser discutida à luz, não da ideologia, mas, sobretudo, da coerência. De um lado, um Estado deficitário, no cumprimento de suas funções básicas; de outro, a ostentação de certos empreendimentos artísticos. No momento em que se fala tanto em desenvolvimento econômico, é preciso olhar para a possibilidade das artes e da cultura subverterem o atraso centenário em que vive o país. É preciso discutir aonde e como promover a cultura contemporânea, e sua relação com a história que se faz nos dias de hoje.

Esse tipo de empreendimento que mencionei não parece atender a nenhuma das prerrogativas da Lei em questão. A entrada dos empresários da indústria cultural, na roda da fortuna, pode ser a grande oportunidade para se discutir o que está correto no investimento público, no campo das artes. Há poucas semanas, quando se discutia abertamente o hipotético conflito de interesses entre os esportistas e os artistas, alguns veículos de imprensa demonstraram desconhecer, efetivamente, aonde residem falhas mais gritantes da chamada renúncia fiscal. Um repórter, de um grande jornal, chegou a dar ênfase ao fato de a Hortência ter posado nua, num passado não remoto, para uma revista de consumo predominantemente masculino. É preciso correr atrás das informações, de forma serena, e informar à população; do contrário será este eterno "apagar incêndios" de denúncias de escândalos. É preciso, antes de tudo, prevenir para não crucificar inocentes.

Sem medo de errar, afirmo com segurança que nenhum dos artistas acima citados sabem que seus nomes estão sendo usados, para subtrair dinheiro do Estado, facilitando a vida de quem os promove. Quem, na verdade, está sendo patrocinado neste caso? Os artistas? Com certeza, não. Também é possível dizer que, além de desconhecer, eles não precisam desse tipo de apoio financeiro do Estado. Havendo ou não patrocínio, seu trabalho será remunerado pelos contratos, provavelmente já assinados. A quem, então, o Estado brasileiro estaria patrocinando? No caso, uma obscura empresa de eventos, por nome 'VM Produção e Comunicação Ltda', sediada no Distrito Federal - CNPJ 370806030001-50.

Mas, essa e todas as demais Leis de Incentivo à cultura não foram criadas para enriquecer ou facilitar a vida de empresários. É preciso também colocar na roda (de discussão, não da fortuna) a questão de que nem todo entretenimento é cultura. Se os artistas em questão nada sabem, imaginem a grande maioria da população.

A CONFERIR: Este procedimento não é o primeiro, é comum encontrar no site do Ministério da Cultura - MINC, projetos de shows para animar rodeios, feiras e inaugurações, em sua grande maioria com artistas da música (sertaneja).

INFORMAÇÕES BÁSICAS:
Os projetos encaminhados visam a realização de shows de Chico Buarque, Caetano Veloso e Maria Bethânia, em junho de 2007, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília/DF.
Os projetos receberam os seguintes números (PRONAC): 070131, 070135, 070136, 070155, 070188. Conferir no site do MINC.

(13 de janeiro/2007)
CooJornal no 511

Jair Alves é dramaturgo
SP
jair.alves@apace.speedycorp.com.br Posted by Picasa

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