dezembro 04, 2008

Memórias do hospício (IV)

Foto: Marquinhos - Abraço simbólico - Manaus-AM, 16.05.2003

Da esq. para a dir.: Ray Gomes, Carla Braga, Rogelio Casado e Sinésio Campos
Nota do blog: Ontem o companheiro Sinésio Campos, deputado estadual do PT, natural de Santarém-PA, recebeu o título de cidadão amazonense em cerimônia marcada pela emoção na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas. Consta do seu currículo 1 mandato como vereador e 3 como deputado estadual. Como parlamentar notabiliza-se, entre outras coisas, pelo apoio aos movimentos sociais. A Associação Chico Inácio - filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial - tem por Sinésio Campos um carinho especial. Foi ele o primeiro parlamentar a apoiar publicamente a luta por uma sociedade sem manicômios. Duas audiências públicas, por ele propostas, foram decisivas na caminhada da aprovação da Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas. Grande Sinésio!

Memórias do hospício (IV)

No Amazonas, por enquanto, é baixa a repercussão da versão da Federação Brasileira de Hospitais sobre a Saúde Mental no Brasil. Salvo quem acessa a internet, os demais cidadãos desconhecem a cobertura sensacionalista da grande mídia (O Globo, Folha de São Paulo, Zero Hora etc.) sobre as vicissitudes dos nossos serviços públicos.

Vacine-se! Leia a versão oficial do Ministério da Saúde (Saúde Mental em Dados 5 - publicação virtual da Área Técnica de Saúde Mental do MS) no site www.saude.gov.br/bvs/saudemental.

Esta última é mais fidedigna. Falta-nos, porém, a versão dos movimentos sociais.

Se a leitura da Federação está comprometida com o capital, a do Ministério deixa de lado a visão do movimento social por uma sociedade sem manicômios. Justamente a de quem deu sustentação política para tudo que está aí. Sintomaticamente, ela não vem sendo ouvida.
Certamente, esqueceram de que é o movimento social - no frigir dos ovos - quem vai à luta ocupando os espaços públicos no enfrentamento ideológico contra aqueles que insistem em capturar e excluir a loucura do espaço político da cidadania.

Um poeta da nossa cidade - Aldísio Filgueiras - costuma dizer que, não raro, alguns militantes ao ocupar cargos públicos "emancipam-se" e esquecem suas origens e seus compromissos. Por essa e por outras, torna-se cada vez mais urgente a realização da IV Conferência Nacional de Saúde Mental se quisermos deter o assanhamento dos contrários a uma nova habitação para a loucura.

E pensar que no Amazonas reformistas de araque, sob o silêncio obsequioso de instâncias incapazes de julgar com justiça a natureza das relações e dos conflitos no campo da saúde mental, colocam sob risco as conquistas recentes. Os responsáveis pela moção de repúdio à Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas estão, também, por trás das manobras para por fim à Residência Médica em Psiquiatria: para o ano não haverá edital de concurso, quando passaríamos para oito médicos em formação. A quem interessa essa trapalhada?

Manaus, Dezembro de 2008.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com
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Um comentário:

Alexandre Silva disse...

Acompanho, desde longe, sua atuação, brilhante, na condução, em nosso estado, do processo de um tratamento psiquiátrico sem internação hospitalar. Só resta a nós outros agradecermos a tão clarividente companheiro e estudioso da matéria que é você Dr. Rogélio Casado. Continue assim como você tem sido até hoje, guardando-nos dos incompetentes, dos que só visam interesses próprios, danosos para a saúde pública.
Um absurdo alguém desejar terminar com a Residência Médica em Saúde Mental, aonde, realmente, estão os loucos?
Um abraço, do amigo de sempre
Dr. Alexandre de Souza Cruz Silva