dezembro 01, 2008

O derradeiro Desafio antes do Rio-Mar

Foto: Cris - Rogelio Casado e Hiram Reis e Silva - Manaus, nov/2008
Nota do blog: Acompanhe a aventura do Coronel Hiram Reis e Silva pelo Rio-Mar, no site abaixo. Recebi na Pro-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade do Estado do Amazonas um jovem senhor entusiasmado com sua missão: percorrer o Rio-Mar de caiaque. Boa sorte, coronel Hiram!

O derradeiro Desafio antes do Rio-Mar

Por Cel Eng R/1 Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 12 de Novembro de 2008

“A partida para o Alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal. Partirei sem temores; e nada absolutamente me demoverá de tal propósito”. (Euclides da Cunha)

- Treinamento

Há quase dois anos, estamos treinando, exaustivamente, no Guaíba. O Lago Guaíba proporciona reais dificuldades à navegação com seus ventos fortes e largura de até 18 km (entre a Vila Itapoã e a Praia da Faxina) bem superior à do rio Solimões. As diversas rotas que idealizamos, atravessando o canal em navegações contínuas superiores a 2 horas, buscaram ultrapassar as situações que enfrentaremos na Amazônia. Os ventos do quadrante Sul, superiores a 25 nós (45 Km/h), passando entre os morros da Ponta Grossa e a Pedra Redonda, criam um interessante efeito de turbilhonamento. As ondas, de até 1,5 m, surgem de todos os lados sem um padrão definido exigindo muita habilidade e força do canoísta. Até hoje foram 12.590 km incluindo quatros grandes Desafios.

- Rota Desafio 1 - Navegador José Pineda

Teve início às 06:15 horas no dia 10 de dezembro de 2007, no dia mais quente do ano. Foi um desafio de resistência física e psicológica. Chegamos à praia da Faxina às 10:30 h e, às 18:20 h, aportávamos na Raia 1 com um tempo de navegação de 09:25 h.

- Rota Desafio 2 - Cel Altino Berthier Brasil

Esta rota foi em homenagem ao nosso ex-mestre do CMPA, Coronel Berthier, profundo conhecedor das belezas e mistérios da Amazônia Brasileira. Nesta prova, saímos às 05:55 horas e navegamos até a maravilhosa Ilha do Junco, que faz parte do complexo do Parque Itapoã, no dia 18 de dezembro de 2007, retornando às 18:25 h com um tempo de navegação de 09:27 h.

- Rota Desafio 3 - Professora Silvana Pineda

Cruzamos o Farol de Itapoã e superamos os umbrais da Lagoa dos Patos em uma navegação de 80 quilômetros em 11 horas. Uma prova, que se iniciou às quatro horas da madrugada, na mágica noite do dia 07 de fevereiro de 2008, em que as estrelas cadentes e o céu claro, embora sem lua, nos brindaram com sua esfuziante beleza. Chegamos exatamente às 18:00 h, após manter o compassado ritmo dos 4 nós por hora.


- Rota Desafio 4 - Rosa Mística

Partimos rumo à Ilha do Barba Negra às 03:15 h, numa noite clara, sem lua, acariciados pela brisa suave vinda do quadrante sul, como os boletins do tempo haviam anunciado. Depois de remar aproximadamente 45 minutos, o céu foi ficando carregado, na altura da Ponta Grossa, e os ventos de proa começaram a dificultar nossa progressão. Decidimos navegar até a Ilha do Chico Manoel esperando que até lá as coisas melhorassem.

Fizemos uma breve prece esperando que o Grande Arquiteto acalmasse os ventos e desviasse as pesadas nuvens de nossa rota. De repente, pequenas luzes verdes começaram a brilhar sobre as águas. A magia do momento nos embalava e parecia que a abóbada celeste repousava nas águas do imenso Guaíba. Seriam microorganismos? Já havíamos presenciado fenômeno semelhante no litoral gaúcho. Depois de algum tempo conseguimos identificar que aquelas pequenas cintilações eram produzidas por centenas de vaga-lumes que descansavam sobre as águas.

Chegamos à Ilha do Chico Manoel às 06:15 h e o tempo continuava fechado. Fizemos um pequeno lanche e descansamos na maravilhosa ilha do Veleiros. O dia estava clareando, os ventos novamente se transformaram em suave brisa, e observamos que na altura do Farol de Itapoã as nuvens eram mais esparsas. Partimos às 06:55 h diretamente para a Ponta da Faxina.

A Península da Faxina, com suas falésias, vegetação nativa e abundancia de pássaros, me impressionou. Decidi navegar mais um pouco e parar na Ilhota da Ponta Escura. A ilhota, com seus canaletes, não me chamou a atenção. Habitada e sem graça, me levou a continuar remando e a planejar um descanso na altura do Morro da Formiga. Tentava, em vão, avistar a Ilha do Barba Negra.

Por volta das 09:30 h, mal tinha ultrapassado a Ilhota, vislumbrei no horizonte algo que mais parecia uma ilha de aguapés. Continuei remando, vigorosamente, por mais 30 minutos e confirmei minhas expectativas de que era a Ilha do Barba Negra. Achei estranho que a ilha que eu guardara na memória, que possuía a orientação norte-sul, se apresentasse transversal ao meu deslocamento. Eu esquecera, ou o cansaço me embotara a mente, de que a ilha possuía dimensões importantes com 3,5 Km de comprimento por 0,6 Km de largura e elevações de 10 metros. Mantenho uma remada forte e chego, por volta das 10:20, ao morro da Formiga, coberto por mata virgem intocada, com seus 108 metros de altura. Pude avistar suas fantásticas praias de límpida areia circundada por rochas formidáveis. Em algumas delas as lontras tomavam, preguiçosamente, banho de sol.

O cansaço começa a tomar conta do meu corpo e fico preocupado com a volta. Já havia remado 06:20 e ainda não tinha alcançado meu objetivo, a Ilha do Barba Negra. Decido aportar na primeira ilhota ou praia do Morro da Formiga que avistar. Ao ultrapassar a Ponta da Formiga avisto uma pequena ilha ao longe e me dirijo a ela ainda mantendo um ritmo forte.

Chego à Ilha exatamente às 11:15, 7 horas após ter saído da Raia 1. É uma pequena e bela ilha para se ver de longe, mas não para se aportar. A Ilha do Veado, como é chamada, só depois é que fiquei sabendo, quando fui confirmar minha rota, é formada apenas por rochas, alguns arbustos e cactus.

Descansei 30 minutos e iniciei minha jornada de retorno decidido a aumentar meu número de paradas para recuperar a energia. Parei na Praia da Formiga, tireis algumas fotos, admirei suas bromélias e vegetação típica. Confirmei, angustiado, a distância que me separava da ilha do Barba Negra e, depois de vinte minutos, rumei para a Ilhota da Ponta Escura.

Há aproximadamente dois quilômetros da Ilhota, avistei um canoísta remando no meio da Lagoa dos Patos e qual não foi minha surpresa ao verificar que se tratava de meu amigo Coronel Teixeira. Houve um pequeno desencontro de informações e, em vez de partirmos juntos, cada um saiu num horário diferente. Cancelamos o pernoite na Ilha do Barba Negra, embora o Teixeira estivesse equipado para tal, e iniciamos o retorno.

Paramos na Ilhota para conversarmos um pouco e, mais adiante, na Ponta da Faxina onde saboreamos alguns coquinhos silvestres antes de atravessar o canal numa extensão de 12,7 Km rumo à Ilha do Chico Manoel. Pela primeira vez, no trajeto, fiz uso do GPS e confirmei a direção a ser seguida. O deslocamento, a partir das 14:00, transcorreu bem impulsionado por suaves vento de popa permitindo aqui e ali surfar nas pequenas ondas.

Na Ilha do Chico Manoel, paramos uns 40 minutos e recebemos um telefonema da repórter Carla, da Zero hora, agendando uma sessão de fotos. Novamente desfrutei da paradisíaca ilha, tomei um banho reconfortante para afastar os efeitos da canícula. Partimos, às 18:40 h, rumo à Ponta Grossa onde paramos brevemente e depois do por do sol, às 20:30 h nos encaminhamos, novamente orientados pelo GPS, rumo à Raia 1.

Chegamos às 21:30, cansados, mas satisfeitos. Remamos 95 Km durante 13:30 horas. Sabemos que não iremos navegar uma extensão tão grande na Amazônia em apenas um dia. Mas um treinamento árduo certamente nos dá a confiança e a certeza de que estamos preparados para enfrentar os óbices que surgirem na nossa pequena Odisséia.

- Homenagem

Não achamos nenhum amigo que quisesse ser homenageado com uma rota cujo objetivo era alcançar a Ilha do Veado. Brincadeiras à parte, gostaríamos de deixar, entretanto, patente que a homenageada desde início era para ser nossa dileta amiga Rosângela Maria de Vargas Schardosim, de Bagé, que tem conseguido a divulgar nossos artigos em diversos periódicos.

- Despedida

Em meu nome, e de minha equipe Rio-Mar, gostaria de agradecer o apoio dos amigos e irmãos que estão nos apoiando e dizer que graças a este apoio é que estamos conseguindo levar adiante nosso ‘Projeto de Amizade’. Este é o último artigo que escrevemos neste ano. Esperamos continuar contando com a colaboração de nossos editores e com seu carinho, quando retornarmos da Amazônia em Fevereiro de 2009. Até breve, amigos!

A Selva nos une !
A Amazônia nos pertence !
Tudo pela Amazônia !
SELVA !


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Solicito publicação

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Rua Dona Eugênia, 1227
Petrópolis - Porto Alegre - RS
90630 150
Telefone:- (51) 3331 6265
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br/
E-mail: hiramrs@terra.com.br

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As fotos e gravações relativas ao projeto podem ser acessadas pelo link:
http://www.4shared.com/account/dir/10296072/88207b42/sharing.html?rnd=21
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Um comentário:

Hiram Câmara disse...

Sou o Cel Hiram de Freitas Câmara, AMAN62. Um companheiro me solicitou informações sobre o Cel Hiram Reis e Silva, pois como sabia ser seu nome apenas Cel Hiram, imaginou que eu pudesse ser esse fantástico oficial que realiza, atualmente essa extrordinária façanha, fazendo, a remo em canoa, 1300 km no Rio Solimões, vencendo a correnteza do Rio-Mar, chamando a atenção da Brasil e do Mundo para a Soberania do Brasil sobre o território amazônida contido em suas fronteiras. Fiquei vaidoso só com a dúvida do companheiro, pois infelizmente, não me seria possível intentar tal desafio físico. E fiquei feliz de ver que o esforço desse oficial do Exército começa a despertar o interesse de outros.

Eis a minha resposta, que ofereço com muita sinceridade e orgulho, como homenagem ao meu xará, Cel Hiram Reis e Silva.


Estimado amigo................:

Não sou esse Hiram do e-mail.

Mas, neste momento, gostaria de ser esse Coronel do Exército Brasileiro.

No mínimo, afora todas as suas demais qualidades, por seu extraordinário vigor físico, já um Coronel - é verdade que doze turmas depois da nossa, o que não lhe reduz em nada seu valor. Apenas ajuda a justificar um pouco a nós mesmos, da turma de 62.

Justificativa, que, em contrapartida, também não reduz, em nada, o orgulho que sinto por esse militar brasileiro. Tenho acompanhado a demonstração de amor ao Brasil desse meu xará. Após intenso treinamento, partiu, com dois outros navegadores fluviais em canoas, sendo um deles, uma jovem. Estão vencendo a correnteza do Solimões, bem mais rude que no treinamento na Lagoa dos Patos, de Tabatinga a Manaus. Hiram Reis e Silva é metódico, disciplinado, obstinado, perseverante. Estudioso e pesquisador da Amazônia, talvez seja, hoje, o mais bem informado brasileiro sobre a integralidade da Amazônia.

Creio que haja uma simbologia própria, não sei se proposital, no fato dessa idéia haver nascido no mais afastado dos Estados em relação à Amazônia. O alcance nacional é vitalizado pelo brasileiro que sai de seus pagos para colocar a atenção do Brasil, dos vizinhos e do restante do mundo, sobre a Amazônia. Assim, Sua "pequena bandeira" foi organizada no Rio Grande Sul e vivida no Norte do País.

O ambiente em que o sonho gestou guarda, também guarda um simbolismo intuído: na energia de jovens -dos melhores do País-, que estudam no Colégio Militar de Porto Alegre. Foram trabalhos em grupo e individuais, exposições, apresentações, palestras e concursos, os instrumentos que contagiaram o educandário.
A preparação foi muito suada. Quem quiser saber como ocorreu, basta visitar o site do Colégio Militar de Porto Alegre.

Na mídia nacional, afora a gaúcha, nada se falou sobre a missão voluntária, o que, certamente se explica pelo custo excessivo do marketing. Mas alegrou-me saber que o Professor e Dr Marcos Coimbra, de quem sou admirador, procurou, por um amigo militar, saber sobre Hiram Reis e Silva. Mas vou descobrindo não ser necessário. E assim, por confusão de nomes , você chegou a mim.
Mas assim é quando o universo conspira a favor: sem conhecê-lo pessoalmente, tenho vibrado com ele, a cada remada.

Pois o que dele sei é o que tenho lido no site dele e naqueles aos quais sou conduzido.

Nascido de semente boa, o assunto vai chgando ao conhecimento dos brasileiros, boca a boca, e-mail a -mail.

É que a realidade do dia a dia da missão, tem concretizado o que ela significa. No silêncio de suas remadas no Solimões, mesmo que não fosse essa a intenção, ele está despertando a atenção de multiplicadores brasileiros e do mundo, para o fato de que ao remar, ele reafirma que cada metro percorrido com a força de seus braços representa o esforço de quantos braços fizeram a Amazônia. E de quantas vidas ficaram na imensidão da Hiléia, para legar a esta geração, o território que recebemos. Uma geração que parece decidida a demonstrar ao mundo um raro exemplo ao inverso daquele de Reis e Silva:o da ingratidão histórica com aqueles civis e militares capazes - de desde a consolidação de suas fronteiras - manter o Brasil a salvo de ambiçõesque não são imaginadas, mas provadas, de Nações mais poderosas, .

Cada gota de suor que corre pelo corpo desse brasileiro raro, representa uma gota de sangue daqueles a quem a Pátria Brasileira deve seu território, ampliado além de Tordesilhas, no quadro de moralidade jurídica que lhes foi concedida pela União das Coroas Ibéricas, e confirmada pela lucidez, equilíbrio e maturidade da diplomacia conduzida por um português nascido no Brasil - Alexandre de Gusmão -, no Brasil Colônia, e os Rio Branco, no Brasil Independente.

Esse Cáceres da primeira década do século XXI, impulsionou o próprio espírito e levou o próprio corpo ao esforço hercúleo de mais de 1000 kms a remo. Nenhum comando, nenhuma ordem recebeu senão de seu espírito de brasilidade , intenso, forjado na Academia Militar das Agulhas Negras, e nas que a antecederam, desde 1811, e desenvolvido e revelado, em seu espírito, no desafio a que se impôs, de ser exemplo a seus jovens alunos.


Amigo........., embora eu tenha servido na Amazônia, com o mesmo sentimento, e haver comandado um Colégio Militar, faltar-me-ia, como fato essencial,no mínimo, o vigor físico, para ser esse Hiram

Com meu abraço, Hiram ( o de Freitas Câmara).

Para saber mais sobre o assunto:

Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Rua Dona Eugênia, 1227
Petrópolis - Porto Alegre - RS
90630 150
Telefone: (51) 3331 6265
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br


Nome
Cel Eng R/1 Hiram Reis e Silva