PICICA: "Manipula ou não manipula? A massa é amorfa ou não é? Essas certamente
foram questões idealizadas ainda na década de 1940 quando os estudos em
Comunicação debatiam a teoria da agulha hipodérmica e os efeitos que os
meios de comunicação de massa exerciam junto aos seus consumidores,
principalmente sob a perspectiva da manipulação do público. A teoria
partia do princípio de que os meios de comunicação eram armas alienantes
dos cidadãos, retirando deles a capacidade crítica e de discernimento.
Com o desenvolvimento dos estudos dos meios de comunicação, o que se
observou foi sua defesa, assim como a dos consumidores. Aprendemos que
nas trocas o processo de manipulação é conflituoso, os indivíduos que
consomem os produtos derivados dos meios de comunicação não são
completamente manipulados, ou seja, possuem a capacidade de decisão,
assim como os meios não são completos abutres que planejam idiotizar os
receptores, transformando-os em massa sem forma ou sem escolha.
Entretanto, esse é um debate que ainda não está clarificado. Em muitos
momentos podemos identificar as características da manipulação da massa
ou do uso indiscriminados dos meios de comunicação em prol das
audiências. Em 2013 vivenciamos um desses momentos, quando um jornalista
maranhense fez uso de sua posição para ridicularizar uma moradora com
evidentes problemas psiquiátricos. O caso tomou tamanha repercussão nas
redes sociais que é lembrado até hoje pelo conteúdo que veiculou."
MÍDIA & PRECONCEITO
Loucura da mídia, não dos loucos
Por Thays Teixeira em 16/09/2014 na edição 816
Manipula ou não manipula? A massa é amorfa ou não é? Essas certamente
foram questões idealizadas ainda na década de 1940 quando os estudos em
Comunicação debatiam a teoria da agulha hipodérmica e os efeitos que os
meios de comunicação de massa exerciam junto aos seus consumidores,
principalmente sob a perspectiva da manipulação do público. A teoria
partia do princípio de que os meios de comunicação eram armas alienantes
dos cidadãos, retirando deles a capacidade crítica e de discernimento.
Com o desenvolvimento dos estudos dos meios de comunicação, o que se observou foi sua defesa, assim como a dos consumidores. Aprendemos que nas trocas o processo de manipulação é conflituoso, os indivíduos que consomem os produtos derivados dos meios de comunicação não são completamente manipulados, ou seja, possuem a capacidade de decisão, assim como os meios não são completos abutres que planejam idiotizar os receptores, transformando-os em massa sem forma ou sem escolha.
Entretanto, esse é um debate que ainda não está clarificado. Em muitos momentos podemos identificar as características da manipulação da massa ou do uso indiscriminados dos meios de comunicação em prol das audiências. Em 2013 vivenciamos um desses momentos, quando um jornalista maranhense fez uso de sua posição para ridicularizar uma moradora com evidentes problemas psiquiátricos. O caso tomou tamanha repercussão nas redes sociais que é lembrado até hoje pelo conteúdo que veiculou.
A teoria da agulha hipodérmica
Uma mulher, com visíveis transtornos psíquicos, afirma ser atriz e que não deseja mais trabalhar em novelas do SBT e da Rede Globo. O vídeo ganha escala nacional e provoca uma ridicularização da senhora. O episódio mostra a exploração da doença mental e tenta humorizar algo que na verdade é um complexo problema de saúde, que historicamente já convive com o preconceito. Mas a loucura não está diretamente vinculada à senhora que tem a sua saúde exposta em um canal de televisão; ela é muito mais evidente no profissional da mídia que ainda vive a lógica da exploração e manipulação dos receptores e fontes. A loucura pelo consumo desenfreado.
O fato absurdo gerou tamanho conflito que o Ministério Público do Maranhão denunciou o jornalista por injúria preconceituosa, sendo condenado a dois anos de reclusão, substituídos por uma pena restritiva de direito a ser determinada pelo juízo de execução penal da comarca de Imperatriz. Uma punição necessária que coloca a função social da mídia em evidência. A mídia tem um papel muito mais social do que efetivamente exploração da audiência e de conteúdos que não favorecem o esclarecimento. Ao contrário, reforçam preconceitos enraizados.
O elemento social tem se perdido em meio a essa loucura que explora o pobre, o menos esclarecido e principalmente aquele que está distante das ferramentas de promoção do esclarecimento. Por ora, a punição do profissional parece ser exemplar no sentido da reflexão da produção de conteúdos de mídia no âmago da contemporaneidade. Chega a ser absurdo imaginar que a teoria da agulha hipodérmica ainda faça sentido na segunda década do século 21, mas o problema é que ela faz e seus efeitos estão evidentes no caso supracitado.
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Com o desenvolvimento dos estudos dos meios de comunicação, o que se observou foi sua defesa, assim como a dos consumidores. Aprendemos que nas trocas o processo de manipulação é conflituoso, os indivíduos que consomem os produtos derivados dos meios de comunicação não são completamente manipulados, ou seja, possuem a capacidade de decisão, assim como os meios não são completos abutres que planejam idiotizar os receptores, transformando-os em massa sem forma ou sem escolha.
Entretanto, esse é um debate que ainda não está clarificado. Em muitos momentos podemos identificar as características da manipulação da massa ou do uso indiscriminados dos meios de comunicação em prol das audiências. Em 2013 vivenciamos um desses momentos, quando um jornalista maranhense fez uso de sua posição para ridicularizar uma moradora com evidentes problemas psiquiátricos. O caso tomou tamanha repercussão nas redes sociais que é lembrado até hoje pelo conteúdo que veiculou.
A teoria da agulha hipodérmica
Uma mulher, com visíveis transtornos psíquicos, afirma ser atriz e que não deseja mais trabalhar em novelas do SBT e da Rede Globo. O vídeo ganha escala nacional e provoca uma ridicularização da senhora. O episódio mostra a exploração da doença mental e tenta humorizar algo que na verdade é um complexo problema de saúde, que historicamente já convive com o preconceito. Mas a loucura não está diretamente vinculada à senhora que tem a sua saúde exposta em um canal de televisão; ela é muito mais evidente no profissional da mídia que ainda vive a lógica da exploração e manipulação dos receptores e fontes. A loucura pelo consumo desenfreado.
O fato absurdo gerou tamanho conflito que o Ministério Público do Maranhão denunciou o jornalista por injúria preconceituosa, sendo condenado a dois anos de reclusão, substituídos por uma pena restritiva de direito a ser determinada pelo juízo de execução penal da comarca de Imperatriz. Uma punição necessária que coloca a função social da mídia em evidência. A mídia tem um papel muito mais social do que efetivamente exploração da audiência e de conteúdos que não favorecem o esclarecimento. Ao contrário, reforçam preconceitos enraizados.
O elemento social tem se perdido em meio a essa loucura que explora o pobre, o menos esclarecido e principalmente aquele que está distante das ferramentas de promoção do esclarecimento. Por ora, a punição do profissional parece ser exemplar no sentido da reflexão da produção de conteúdos de mídia no âmago da contemporaneidade. Chega a ser absurdo imaginar que a teoria da agulha hipodérmica ainda faça sentido na segunda década do século 21, mas o problema é que ela faz e seus efeitos estão evidentes no caso supracitado.
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Thays Teixeira é jornalista e mestre em Comunicação
Fonte: Observatório da Imprensa
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