Há três anos tentamos sair dos muros do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro para participar do carnaval de rua. Nada melhor do que o relaxamento da censura, do preconceito e da intolerância para manifestar o desejo coletivo de inserção na vida cultural da cidade dos cidadãos em sofrimento mental.
Um momentinho! De que cidadania e de que coletivo estamos falando? Afinal, a cidadania dos portadores de sofrimental está por ser construída, e o coletivo ainda não se formou.
Em verdade, as duas estão em construção, qualquer que seja a resistência que se lhes ofereça. Seja resistência social, que lentamente vem sendo desconstruída em Manaus, com a honrosa participação da Associação Chico Inácio - ONG composta por usuários de saúde mental, familiares, técnicos e cidadãos de boa vontade, que atua no campo da defesa dos direitos dos portadores de sofrimento mental; seja a individual, alienada pelos efeitos perversos da instituição manicomial, desafiando técnicos em saúde mental a assumir suas responsabilidades históricas.
É isso ai! Estamos diante de um desafio que, longe de ser meta de governo, é um desafio civilizatório: a de por fim à sociedade de manicômios.
A tarefa é clara: se quisermos tirar a loucura de sua inscrição no espaço da morte; se quisermos romper a articulação da loucura da sua articulação com o universo da marginalidade social é necessário ir em busca de outra verdade e de uma outra significação para a experiência da loucura.
Uma outra subjetividade começa a se manifestar, como a de Sódia, cidadã usuária, filiada à Associação Chico Inácio, que fez questão de vestir a fantasia premiada no concurso da Manaustur (terceiro lugar): "Assim as pessoas vem conversar com a gente... quem sabe eles perdem o medo", disse ela como manifestação do seu desejo de comunicação. Até de baixo d'água.
Foi o caso. Choveu torrencialmente no Domingo Gordo, dia 26 de fevereiro de 2006, mas a disposição de fazer história não esmoreceu os brincantes que compareceram solidariamente para pular o carnaval no Bloco Unidos do Eduardinho: alunos de psicologia da ULBRA e da UNINilton Lins; familiares, técnicos de saúde mental do Hospital Psiquiátrico; além dos voluntários que atuam no campo da luta antimanicomial. Saíram todos de alma lavada.
Transmito aqui os agradecimentos dos parceiros dessa iniciativa exitosa (Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, Coordenação Estadual de Saúde Mental, Associação Chico Inácio) os agradecimentos ao HEMOAM, que convidou todos a participar do Bloco do Vampirão, para que se pudesse constituir uma primeira experiência. Que venha o carnaval de 2007!
Nenhum comentário:
Postar um comentário