dezembro 11, 2008

Conexão França-Brasil: em defesa dos povos indígenas

Caro Rogelio, Caro Egydio,

Graças a internet conseguimos emergir debates, análises que a grande mídia brasileira aborda às vezes de modo superficial ou imparcial. Os blogs estão abrindo um espaço formidável de educação popular e de socialização de temáticas sobre assuntos societais importantes. Eu que vivo há 30 anos na França, graças à vocês viajo pelo espaço virtual brasileiro e realimento meu intelecto ao cruzar e comparar as analises diversas com abordagens pluridisciplinares. Além de usufruir daquela saudade presente de vocês e de nossos embates ai na Amazônia. Como dizia Mario Quintana: O tempo não pára. Só a saudade que faz as coisas pararem no tempo.

Rogelio querido, anote abaixo, minha reação no teu blog, pois estou sem poder acessá-lo nesse momento.


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Anteriormente os índios brasileiros eram considerados deficientes pela constituição brasileira. O reconhecimento, pela Constituição Federal, das organizações sociais dos índios, foi feito de modo muito lento e até hoje causa polêmicas. Este fato é demonstrativo da discriminação alojada no consciente e subconsciente da sociedade brasileira. Romper com a perspectiva integracionista e assimilacionista da legislação brasileira representa até hoje um embate entre duas correntes, que infelizmente, em pleno século XXI ainda persiste. Uma que considera os índios como uma categoria étnica e social transitória, condenada ao desaparecimento e que pensam que os índios atrapalham o progresso, além de por em perigo a segurança das fronteiras! O pior é que dentro dessa corrente, existe um setor da esquerda brasileira que pensa também, que a presença indígena é um estorvo ao desenvolvimento econômico. Outra corrente vem abrindo há muitas décadas, um espaço de debate nacional junta a sociedade brasileira sobre questões que ficaram muitos anos invisíveis ou que não despertavam interesses, ou, simplesmente eram ignorados, por falta de informações ou educação sobre os direitos humanos. Essa corrente lutou contra a ditadura, muitos se exilaram outros viraram clandestinos e resistentes e participaram ativamente na emergência de uma nova sociedade civil que conseguiu depois de muita luta, colocar na pauta política a questão ambiental, a questão racial, sexual e o direito dos povos indígenas ao usufruto das riquezas nacionais do solo e a posse permanente de suas terras. Esse reconhecimento significa também o direito dos povos indígenas terem participação ativa nos espaços onde são tomadas decisões que lhes dizem respeito.

Eu e muitos companheiros e companheiras da Amazônia nos sentimos orgulho(a) s de fazer parte desta corrente, como bem disse o companheiro Egydio Schwade integramos e apoiamos a rede de apoio aos oprimidos, que deu origem ao PT e outros partidos de esquerda no Brasil. Torna-se difícil de imaginar que o Partido dos Trabalhadores, abrigue em suas fileiras, um senador que defenda tudo que é incompatível com os fundamentos que deram origem ao partido. Parabéns Egydio pelo resgate dessa história de embates e combates. Essa luta continuará desde que qualquer direito conquistado seja ameaçado! Os herdeiros de Ajuricaba e dos cabanos são os melhores defensores das riquezas naturais da Amazônia, de sua biodiversidade e da preservação de suas fronteiras, afinal eles continuam sendo os guardiões naturais desse espaço de resistência e esperança!

Marilza de Melo Foucher
Especialista em desenvolvimento territorial integrado e sustentável
Dra. em economia
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