TELEJORNALISMO EM CLOSE (ESPECIAL BRASILIA)
Na sequência das homenagens que este mês decidimos prestar à nossa querida Brasília, que precisa muito de colo e carinho depois de tudo quanto vem passando, segue mais uma crônica apaixonada, dedicada a ela. Viva a Capital do Século XX!
Antes de ser cidade, foi sonho
Paulo José Cunha
Antes de ser cidade, ela foi sonho. O sonho de Dom Bosco, sonho sonhado mais de um século antes que a cruz inaugural, na famosa foto de Fontenelle, que o fotógrafo Milton Gurán considera o símbolo do Brasil moderno, fosse traçada na terra vermelha do cerrado goiano e começasse a epopéia. O sonho iria se tornar a marca da nova cidade, sonhada desde os tempos do império, pelos inconfidentes da antiga Vila Rica das Minas Gerais, e depois por José Bonifácio, o Patriarca da Independência.
E foi assim, de sonho em sonho, que a cidade foi sendo embalada. Até ser sonhada por um certo Nonô, mineirinho simpático, filho de uma professora primária, que ainda na campanha eleitoral à presidência, preocupado com a necessidade da interiorização do desenvolvimento, prometeu realizar o sonho dos inconfidentes, e mudar a capital para o centro do Brasil. Mas não sonhou sozinho: dividiu o sonho com dois outros sonhadores, Lúcio Costa, que inventou aquela cruz plantada no centro do Planalto Central, convertida depois numa espécie de avião, com uma asa apontada para o norte, outra para o sul. E Oscar Niemeyer, que sonhou as formas revolucionárias dos prédios, dos monumentos, dos palácios, das igrejas.
O sonho foi brotando das pranchetas. Mais e mais gente foi sonhando, levas e levas de outros sonhadores começaram a chegar de várias partes do país: do centro-oeste, do sudeste, do norte, sonhadores do sul, sonhadores nordestinos. E pouco a pouco, no ritmo acelerado que depois seria conhecido como o ritmo de Brasília, o sonho foi virando rua, gramado, coluna, parede. E o que era só régua e compasso foi virando ferro, concreto e aço. Tudo cheio de gente. De gente e de delírio.
No dia 21 de abril, data que registra o sonho dos que um dia sonharam com a independência do Brasil, o Brasil lembra o sonho de outro mineiro, que um dia sonhou com o fim da opressão e o início de uma nova era baseada na liberdade e na democracia. Um certo Tancredo, lá de São João del Rei, no coração de Minas, onde nasceu e hoje repousa.
E assim, desde aquele sonho distante de Dom Bosco, Brasília é uma cidade que vem sendo sonhada.
Aos 50 anos, seus habitantes se orgulham de morar numa cidade diferente, patrimônio mundial. Uma cidade tão diferente, que às vezes, reparando bem, parece mesmo... um sonho.
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