Tucanos por detrás da candidata Marina
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Marina, a neocon verde
Leio que Marina Silva declarou, nos EUA, que "o Irã tem desrespeitado direitos humanos" e criticou a política externa do Brasil, que tem
procurado estabelecer diálogo com o regime dos aiatolás.
Tudo isso é tão emocionante. Marina agora quer o apoio da direita americana. Ela tem razão sobre o Irã, e ao mesmo tempo está profundamente equivocada. Em primeiro lugar porque participa deliberadamente da satanização midiática de um país, cumprindo os interesses da indústria bélica. Em segundo porque eu pensei que os problemas internacionais do Irã tinham a ver com seu desejo de adquirir a tecnologia nuclear, e não com sua política de direitos humanos.
Metade dos países africanos desrespeitam os direitos humanos de forma muito mais grave que o Irã. Aqui em Honduras, já temos seis jornalistas assassinados em poucos meses. Aliás, no Brasil mesmo, a legião de crianças usuárias de crack cresce diariamente. A violência nas cidades atinge níveis espantosos. Falta muito para que o Brasil possa dar lição de moral em direitos humanos para outros países. Sabe qual o índice de criminalidade no Irã? É quase zero. Acho que seria muito mais honesto se Marina Silva falasse dos problemas de seu próprio país, e não desse pitaco sobre o que não sabe. Pior: não participasse desse joguinho nojento da mídia americana (e suas subsidiárias mundo afora) de ir minando a imagem do Irã para preparar a opinião pública para uma outra guerra.
Eu já falei que não gosto do Irã. Mas realmente fico perplexo em ver como Marina Silva está incorporando o figurino do ultra-conservadorismo ecológico. Um pouquinho de verde aqui, outro acolá, e dá-lhe repetir o que publicam os falcões no Washington Post.
O Irã tem problemas graves, sim. Mas qual é? O mundo agora vai tirar uma onda de juiz do Irã? Por que só do Irã? Paquistão, China, Costa do Marfim, Arábia Saudita, também tem presos políticos e também desrespeitam os direitos humanos.
E por falar nisso, observo que o Globo tem feito ofensas ao Irã que ultrapassam sua leviandade costumeira. Para começar, a acusação de fraude. Acho isso um desrespeito terrível. Por acaso o Globo tinha repórteres no Irã para saber se houve fraude de fato? A suposta fraude não foi encontrada pelas autoridades competentes. Elas admitiram problemas, mas nada que pudesse mudar o resultado eleitoral.
Quem acusou a fraude, logo no dia seguinte ao pleito, foi o candidato perdedor. Outra palhaçada. Isso não é democrático. Se o candidato, que não por acaso era apoiado pelos EUA, suspeitava que pudesse ocorrer fraude, deveria ter feito denúncias antes da votação, e chamado observadores internacionais. Numa eleição, há um acordo moral de que ambos os candidatos respeitarão o resultado e confiarão na autoridade eleitoral. Se não houver essa confiança e esse respeito, não existe democracia.
A acusação de fraude tem o objetivo político de desacreditar o Irã. Quase todo o oriente médio é regido por monarquias totalitárias, ditaduras sem nenhuma perspectiva de democracia, e não ouvi Marina Silva ou editorialistas do Estadão fazerem qualquer crítica; e quando vemos, no Irã, o povo escolher democraticamente seus governantes, diz-se que não valeu, que houve fraude. Não creio que essa estratégia incentive a democracia a se disseminar pelo mundo.
Então é assim. O Irã frauda eleições, tem presos políticos, quer produzir mísseis nucleares. São maus. São feios. São bobos. Devemos, portanto, lançar umas bombas atômicas por lá para resolver o problema. Depois Marina Silva planta umas árvores em algum lugar e estará tudo certo.
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