ADComDanon — 14 de setembro de 2006 — Em 2002, quando candidato a Presidência da República, José Serra é pego totalmente de surpresa ao ser questionado pelo jornalista Alberto M. Danon sobre a nota que daria ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. REPAREM NA EXPRESSÃO DE JÔ SOARES E DO ENTREVISTADO! No dia seguinte, foi manchete em inúmeros jornais de todo o Brasil!!
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Serra aceita o papel de líder conservador
O discurso de José Serra, neste sábado, no evento onde sagrou-se candidato da oposição ao governo Lula, foi, como era de se esperar, uma xaropada conservadora. Incorporou integralmente o texto da direita. Referindo-se ao operário morto em Cuba, o governador mandou essa: "Democracias não têm operários morrendo por greve de fome quando discordam do regime."
Não, senhor Serra, nas democracias miseráveis da América Latina, os trabalhadores não precisam fazer greve para morrer de fome... Pior que isso, a maioria dos países latinos sequer conseguiu constituir uma democracia, em função de interferências externas e violência de suas elites, como o senhor mesmo testemunhou. Querer lançar sobre as costas da pequena e frágil Cuba a culpa pelo espírito antidemocrático que devastou o continente por mais de cinquenta anos, não é justo. É aceitar esse americanismo fácil, inconsequente, esse conservadorismo hipócrita, golpista e brutal travestido agora em seu contrário. O golpismo antidemocrático americano agora se traveste em discurso pró-democracia. E assim invadiu o Iraque e matou mais de um milhão de pessoas, e continua desestabilizando governos latinos, como ocorreu na Venezuela em 2002, em Honduras no ano passado, e o tempo inteiro em Cuba. Não, Cuba não é uma democracia. Mas de quem é a culpa? Quem matou a fé na democracia em Cuba e em toda América?
Outra característica notoriamente conservadora de Serra é camuflar a luta de classes. O PSDB está ao lado dos ricos, mas como não pode afirmar isso, então diz que não tem lado, que estará ao lado de todos. Não é assim, Serra. Os ricos não precisam de apoio governamental. Quem precisa são os pobres. Isso demarca quem está ao lado da maioria do povo brasileiro, que é ainda muito pobre, e quem não está.
A história de que não será um governo que divide e sim que agrega, é outra balela. A gestão Serra se caracterizou justamente pelo contrário disso: promoveu a dissídia em toda parte. Assistimos policiais militares brigando contra policiais civis. Assistimos o governo negar-se a dialogar com categorias inteiras de funcionários públicos. Além disso, o serrismo midiático se notabilizou como um trator impiedoso de qualquer um encarado como adversário, sem escrúpulo algum em relação à dignidade humana. Políticos, juízes, sindicalistas foram tratados pela mídia sempre como inimigos. O PSDB não se mostrou, em momento algum, um partido disposto ao diálogo.
(...) De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos. (...)
(...) Às provocações, vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.(...)
(...)O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma 'boquinha'; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida.(...)
(...) Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. (...)
Mas é no discurso de FHC, cuja participação na abertura sequer estava planejada inicialmente, que encontrei os argumentos mais estarrecedores (não fossem risíveis).
(...) O Brasil cansou de certa arrogância, de autoconfiança. O Brasil quer lei, quer respeito e, como diz José Serra, quer ver o malandro que roubou na cadeia", afirmou. (...)
Em primeiro lugar, espanta-me alguém dizer uma idiotice tão grande como "o Brasil cansou de autoconfiança". Os tucanos têm ódio da recente autoconfiança do brasileiro, porque sabem que ela vem sobretudo das camadas baixas e que, inevitavelmente, causam e causarão mudanças culturais profundas na sociedade. Eles têm medo dessas mudanças, a primeira das quais é que o discurso antinacionalista será cada vez mais rechaçado, e com eles os partidos de direita, como DEM, PPS e, se não mudar, também o PSDB.
Quanto à frase sobre o malandro na cadeia, trata-se de uma grosseria inominável, um vocabulário chulo, que dá um tom policialesco ao discurso político. Em seu governo, FHC deixou a Polícia Federal à míngua, sem recursos humanos ou físicos que permitissem combater a corrupção no país. E agora vem com esse papinho de "botar malandro na cadeia"?
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E Lula deu a melhor resposta ao discurso de Serra de que o "Brasil pode mais". Ela disse que o Brasil já está fazendo mais, e fará mais. Há uma diferença tão grande entre a promessa e a prática!
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