Notícias das lutas da Itália – Parte I
Por Claudia Santiago em 29/12/2010Da Itália, para o PortoGente.
Dezembro de 2010. A temperatura na Itália caiu bastante nos últimos dias de dezembro. A neve enfeitou as cidades, além de trazer alguns transtornos a quem estava nas estradas no dia 17. Uma semana depois a chuva deixou 250 desabrigados na cidade de Padova, no centro do país.
Politicamente, porém, a temperatura anda bastante alta por aqui. Estudantes que foram às ruas protestar contra a reforma na educação tiveram quarenta colegas presos sob a acusação de terrorismo. A reforma, aprovada em definitivo pelo Senado, prevê a privatização dos liceus e a precarização dos professores ligados à pesquisa científica, entre outras maldades. Comentando o fato, uma jornalista afirmou que o Senado está cheio de “cavalos de Calígula”, lembrando o imperador romano que nomeou seu cavalo senador do império.
No dia 26, os telejornais do país noticiaram protestos de operários contra as numerosas mortes e acidentes de trabalho na multinacional alemã Tyssen-Krupp e falaram da expectativa pela decisão do presidente Lula de extraditar ou libertar o militante político italiano preso no Brasil, Cesare Battisti.
Por falar em Brasil, as ruas das cidades italianas, repletas de africanos vendendo mercadorias baratas, enchem de saudade os brasileiros que reconhecem naqueles rostos a de muitos amigos queridos. Mas não são só africanos: os trabalhadores migrantes que circulam pelas ruas da Península e sabe-se de toda a Europa. Bangladesh é um polo exportador de mão de obra para a Itália.
Os olhos amendoados, como dizem os italianos, estão nos restaurantes, hotéis e nas bancas dos mercados. Alguns, menores de idade, circulam pela praça São Marcos em Veneza com um olho a procura do freguês e outro na chegada da polícia que pode prendê-los e deportá-los. Um jovem com que quem conversei chegou em Veneza com 13 anos. Hoje tem 17 e tenta sobreviver. Disse que se conseguir o suficiente para comer a cada dia está bem.
Em Viareggio, na Toscana de Passione, além de africanos e outros imigrantes de Bangladesh há vários romenos, que também aceitam qualquer trabalho para poder sobreviver. Encontrei uma jovem mãe com 25 anos, que com seu trabalho faz viver cinco filhos.
Os jornais falam cada dia de desemprego, que oficialmente está em 8,7%, e em novas demissões fruto do fechamento de novas fábricas. Em Veneza, Il Gazzettino, jornal local, denunciava mais uma onda de demissões de uma das tantas empresas, que incluía trabalhadores com problemas de saúde, que legalmente não poderiam ser demitidos.
Me veio à memória a recente denúncia que circulou na internet e nas redações do Brasil, sobre a demissões de trabalhadores, em meados de novembro, entre os quais havia vários com problemas de saúde. Êta mundo tremendamente parecido!
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(*) Claudia Santiago é jornalista sindical há mais de 20 anos, coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). Autora do livro “Comunicação Sindical: a arte de falar para milhões” e do caderno “Como fazer análise de conjuntura”. É editora do BoletimNPC e do jornal carioca Vozes das Comunidades. E-mail: santiagoclaudia@terra.com.br. Leia outros textos nesta coluna em PortoGente.
Fonte: ConsciênciaNet
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