dezembro 22, 2010

O abismo narrativo de Hilda Hilst, segundo Bruno Cava

pedroncabron | 17 de abril de 2008 |
Vídeo dança inspirado nessa obra, concepção e direção artística de Marisa Lambert, criação e interpretação de Érica Tessarolo, trilha sonora de Daniel Dias e câmera e montagem de Pedro Jorge.

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Tu Não Te Moves de Ti, Hilda Hilst, 1980.


Publicado em 1980, Tu Não Te Moves de Ti de Hilda Hilst, novela inclassificável, além e aquém do fluxo de consciência, além e aquém do narrador-cavalo, lugar de alegria e terror, do riso e da agonia, inquietação radical a toda prosa inconsolada e irresignada, refoge de todos os lugares-comuns imagináveis, de todos os pontos de apoio e expectativas literárias, para embrenhar-se no esquisito abismo de sua narrativa.

Trecho inicial do livro Tu Não Te Moves de Ti:

"Porque um enorme fervor se aguça em mim, eu Tadeu, de joelhos te peço que OUVE, Rute, que me escutes: como se um rio grosso encharcasse os juncos e eles mergulhassem no espírito das águas, como se tudo, luta repouso dentro de mim se entranhasse, como se a pedra fosse minha própria alma viva, assim minha vida, olho espiralado olhando o mundo, volúpia de estar vivo, ouve Rute o que se passa quando os meus olhos se abrem na manhã do gozo, (de desgosto, se repenso o mundo) muito bem, Rute, esse olho me olhando agora é bem o teu, já sei, te preocupas se fiz bem o discurso, claro, me saí como sempre, as palavras estufadas, continuo no meu alto posto se é isso o que te importa, oligopólio-impacto-dinamizado, até comedores de excedentes eu usei, a água mineral perlada à minha frente Tadeu, a empresa é um corpo que precisa de um dirigente, vão notar a estria vermelha no teu olho, mandaste o Balanço para os jornais? falavas na manhã Na sôfrega manhã de mim, no sol de minha hora, solda minha manhã, Vida, que esse fio de aço nunca estilhace, liga-me ao teu nervo, OUVE (...)"

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