PICICA: "Marina vem embalada por um fortíssimo desejo de mudança de que junho
de 2013 foi só somente uma expressão. Marina está atravessada por esse
fenômeno, a tal ponto que a sua simples presença já põe em crise o
sistema político polarizado por PT e PSDB sob fundo pemedebista. Mas
fundo pemedebista não é somente a aliança com o PMDB, o toma-lá-dá-cá, a
“correlação de forças”. É sobretudo um regime comunicacional que
eterniza as mesmas opiniões de sempre, esvaziando debates, anulando
dissensos e descafeinando as disputas. Se Marina quer fazer jus à força
do novo, e diferenciar-se pra valer de Dilma, precisa subtrair-se da
homogeneização conformista provocada pelo opinionato — uma tarefa que
vai da organização à comunicação, muito mais complexa do que apenas
anunciar-se como novidade."
O recuo de Marina e o opinionato
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Foi lamentável o recuo de Marina na questão LGBT. Perdeu a chance de escancarar como o pastor Silas Malafaia não representa o “povo evangélico” e não tem o poder que sua prepotência sugere. Perdeu a chance, também, de colocar-se mais à esquerda de Dilma. Marina meteorizou nas pesquisas na última semana e se tornou assunto discutido pelas demais campanhas, pela mídia corporativa, pelas redes sociais e os blogues de todos os matizes. Era uma boa hora pra firmar uma diferença em relação ao governo Dilma não só nos conteúdos, como também nas posturas.
Um dos maiores erros do governo Dilma foi guiar-se por “trackings”. Tendo se afastado de redes e ruas, o governo está há vários anos refém de sondagens encomendadas por agências de publicidade e interpretações marqueteiras. Essas pesquisam avaliam aquelas opiniões respondidas na lata, quando a pessoa não tem tempo nem interlocução para desenvolver o tema e tende a convergir, pelo próprio método da pesquisa, nas posições mais do senso comum. O governo troca a política pela “gestão de números” e com isso institucionaliza um tipo de “opinionato”. A sombra ameaçadora do opinionato então isenta-o de responsabilidade de tomar decisões sob a desculpa do risco de perder o eleitorado. Mas na verdade não é a maioria que é conservadora: o regime de comunicação que o é.
Marina vem embalada por um fortíssimo desejo de mudança de que junho de 2013 foi só somente uma expressão. Marina está atravessada por esse fenômeno, a tal ponto que a sua simples presença já põe em crise o sistema político polarizado por PT e PSDB sob fundo pemedebista. Mas fundo pemedebista não é somente a aliança com o PMDB, o toma-lá-dá-cá, a “correlação de forças”. É sobretudo um regime comunicacional que eterniza as mesmas opiniões de sempre, esvaziando debates, anulando dissensos e descafeinando as disputas. Se Marina quer fazer jus à força do novo, e diferenciar-se pra valer de Dilma, precisa subtrair-se da homogeneização conformista provocada pelo opinionato — uma tarefa que vai da organização à comunicação, muito mais complexa do que apenas anunciar-se como novidade.
Deleuze falava que, apesar dos idiotas, apesar dos homofóbicos, é preciso acreditar neste mundo. Marina tem uma qualidade que é acreditar neste mundo, onde uma candidata cristã evangélica pode, sim, se posicionar com mais ousadia em temas polêmicos, em vez de achar que a maioria é alienada, moralista e conservadora, refugiando-se em guetos ideológicos. Marina tem a qualidade de quem viveu as coisas do mundo, uma sensibilidade aberta. Estou decepcionado.
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Agradeço interlocução de Cleber, Hugo, entre outros, suas ideias foram usadas em parte.
Recomendo, sobre questões programáticas, o texto balanceado de Eli Vieira, no Amálgama (http://tinyurl.com/pvonjb5).
Fonte: Quadrado dos Loucos
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