PICICA: "(...) com a oposição partidária praticamente
destroçada (ao ponto de se acusar abertamente a mídia como única
oposição), o PT segue para completar 16 anos de poder caso vença essas
eleições. Entre avanços em alguns campos socioeconômicos e retrocessos
de Dilma nas pautas progressistas da esquerda e mesmo do lulismo, um
efeito evidente: a devastação ideológica e prática no campo da esquerda e
a redução dos militantes ditos de esquerda a meros "defensores de
governos", propagandistas eleitorais e acomodados políticos. Salvem-se
as exceções."
A quem interessar, sobretudo aos amigos petistas muito queridos, militantes ou que simplesmente vão votar em Dilma.
Não sou anti-pt, como sabem, mesmo que não vote no PT (não voto). Acho que os governos do PT representaram sim uma política preocupada em gastar com quem mais precisa e com a redução da desigualdade no país, redução essa que passa por programas como o Bolsa-Família e também pela ampliação das universidades, do acesso a elas e da qualificação técnica e tal. Sabemos que quando se investe em Educação, combate-se a desigualdade racial, a desigualdade por gênero, a desigualdade da renda etc.
Por outro lado, com a oposição partidária praticamente destroçada (ao ponto de se acusar abertamente a mídia como única oposição), o PT segue para completar 16 anos de poder caso vença essas eleições. Entre avanços em alguns campos socioeconômicos e retrocessos de Dilma nas pautas progressistas da esquerda e mesmo do lulismo, um efeito evidente: a devastação ideológica e prática no campo da esquerda e a redução dos militantes ditos de esquerda a meros "defensores de governos", propagandistas eleitorais e acomodados políticos. Salvem-se as exceções.
Uma reflexão pontual, mas reveladora: o Bolsa-Família - programa fundamental, apresentado pelo governo como um dos mais bem sucedidos projetos de distribuição de renda do mundo, mas que se mantém no plano eleitoral visto que não se tornou Lei - já completou 10 anos e beneficia 50 milhões de pessoas (1 em cada 4 brasileiros), mas representa apenas 2,72% do orçamento da União disponível para investimentos. Já a dívida pública consome quase a metade do orçamento federal, exatos 42%, grana que vai para bancos e agentes financeiros para amortizar juros de uma dívida que só cresce! Para o Governo (e vários setores do poder financeiro e seus tentáculos, como a própria mídia corporativa) a dívida é dogma, imexível. A Educação, por exemplo, teve menos de 3% do orçamento convertido em investimentos (não incluídos aí gastos, mas somente investimentos), o mesmo patamar de investimentos no Bolsa-Família. O investimento em educação, repito, é de menos de 3% do orçamento (e também não faço da educação uma panaceia, ainda mais se ela é instrumentalizada unicamente como plantel do mercado). Para mim, uma política economicista tal como a realiza Dilma - ainda que, nessa visão, o Brasil realmente precise de PACs e petróleo, energia e devastações ambientais e indígenas para se desenvolver - nos conduz a um horizonte quimérico e perigoso se outros campos da política são ignorados ou submetidos, sujeitados sem apelação, à "razão" economicista, claro, capitalista, sob a égide dos bancos e do sistema financeiro, seja sob um governo altivo ou borocoxô - sujeição é sujeição.
Claro que a devastação ideológica da esquerda que mencionei reflete no quadro institucional e partidário: não temos alternativas concretas à esquerda nessas eleições. Cada um pondera em quem votar segundo seus princípios, seus interesses, seus sonhos, seus delírios, suas ilusões, e é chamado a se posicionar perante os quadros existentes, reais, cujas campanhas milionárias são todas financiadas com dinheiro público e também com doações milionárias de consórcios empresariais. Admiro quem se posiciona. Mas peraí: é preciso superar o afã emocional que reduz os ímpetos políticos ao objetivo único de vencer eleições a cada dois anos. Depois o ímpeto murcha, e quando surge algum ruído ao longo de um ano ou dois, lá vem eleições de novo, e é preciso fazer propaganda! O PT governamental, representado pelas lideranças de cúpula, acaba ficando numa situação muito confortável no poder em relação às bases de esquerda, enquanto as bases do partido são instrumentalizadas por Joãos Santanas e similares, que a cada eleição recebem milhões para teatralizar a política, contando com o apoio e a ação irrestritos e acríticos da ampla base de militantes petistas para reproduzir as frases feitas publicitárias, sem qualquer reflexão e fora do papel de qualquer criatura do universo que se diga de esquerda (eu uso o termo esquerda de propósito, sou de esquerda dentro do nosso contexto político disseminado).
Em suma, há razões sociológicas, de ciência política, visões estratégicas e de filosofias diversas para se justificar o voto no partido do poder ou contra ele. Mas como não entendo nada disso (por desinteresse meu mesmo), guio-me pelo cotidiano, pela prática inevitável da política no devir revolucionário individual do dia-a-dia, seja em conversas ou em atos, em ocupações ou nas redes, em iniciativas ou em votos, ou fazendo um filme.
Queridos amigos que compartilham esse devir, ainda que nossas individualidades nos façam, legitimamente, a votar de forma divergente: continuaremos convergindo as energias nessa luta existencial que, em várias esferas da vida, nos exige e, às vezes, nos une. Abraço forte a todos que lerem. É meu último comentário sobre essas eleições por aqui, mas o devir revolucionário é inevitável - um devir individual, mas não egoísta nem tampouco solitário, espero...
Não sou anti-pt, como sabem, mesmo que não vote no PT (não voto). Acho que os governos do PT representaram sim uma política preocupada em gastar com quem mais precisa e com a redução da desigualdade no país, redução essa que passa por programas como o Bolsa-Família e também pela ampliação das universidades, do acesso a elas e da qualificação técnica e tal. Sabemos que quando se investe em Educação, combate-se a desigualdade racial, a desigualdade por gênero, a desigualdade da renda etc.
Por outro lado, com a oposição partidária praticamente destroçada (ao ponto de se acusar abertamente a mídia como única oposição), o PT segue para completar 16 anos de poder caso vença essas eleições. Entre avanços em alguns campos socioeconômicos e retrocessos de Dilma nas pautas progressistas da esquerda e mesmo do lulismo, um efeito evidente: a devastação ideológica e prática no campo da esquerda e a redução dos militantes ditos de esquerda a meros "defensores de governos", propagandistas eleitorais e acomodados políticos. Salvem-se as exceções.
Uma reflexão pontual, mas reveladora: o Bolsa-Família - programa fundamental, apresentado pelo governo como um dos mais bem sucedidos projetos de distribuição de renda do mundo, mas que se mantém no plano eleitoral visto que não se tornou Lei - já completou 10 anos e beneficia 50 milhões de pessoas (1 em cada 4 brasileiros), mas representa apenas 2,72% do orçamento da União disponível para investimentos. Já a dívida pública consome quase a metade do orçamento federal, exatos 42%, grana que vai para bancos e agentes financeiros para amortizar juros de uma dívida que só cresce! Para o Governo (e vários setores do poder financeiro e seus tentáculos, como a própria mídia corporativa) a dívida é dogma, imexível. A Educação, por exemplo, teve menos de 3% do orçamento convertido em investimentos (não incluídos aí gastos, mas somente investimentos), o mesmo patamar de investimentos no Bolsa-Família. O investimento em educação, repito, é de menos de 3% do orçamento (e também não faço da educação uma panaceia, ainda mais se ela é instrumentalizada unicamente como plantel do mercado). Para mim, uma política economicista tal como a realiza Dilma - ainda que, nessa visão, o Brasil realmente precise de PACs e petróleo, energia e devastações ambientais e indígenas para se desenvolver - nos conduz a um horizonte quimérico e perigoso se outros campos da política são ignorados ou submetidos, sujeitados sem apelação, à "razão" economicista, claro, capitalista, sob a égide dos bancos e do sistema financeiro, seja sob um governo altivo ou borocoxô - sujeição é sujeição.
Claro que a devastação ideológica da esquerda que mencionei reflete no quadro institucional e partidário: não temos alternativas concretas à esquerda nessas eleições. Cada um pondera em quem votar segundo seus princípios, seus interesses, seus sonhos, seus delírios, suas ilusões, e é chamado a se posicionar perante os quadros existentes, reais, cujas campanhas milionárias são todas financiadas com dinheiro público e também com doações milionárias de consórcios empresariais. Admiro quem se posiciona. Mas peraí: é preciso superar o afã emocional que reduz os ímpetos políticos ao objetivo único de vencer eleições a cada dois anos. Depois o ímpeto murcha, e quando surge algum ruído ao longo de um ano ou dois, lá vem eleições de novo, e é preciso fazer propaganda! O PT governamental, representado pelas lideranças de cúpula, acaba ficando numa situação muito confortável no poder em relação às bases de esquerda, enquanto as bases do partido são instrumentalizadas por Joãos Santanas e similares, que a cada eleição recebem milhões para teatralizar a política, contando com o apoio e a ação irrestritos e acríticos da ampla base de militantes petistas para reproduzir as frases feitas publicitárias, sem qualquer reflexão e fora do papel de qualquer criatura do universo que se diga de esquerda (eu uso o termo esquerda de propósito, sou de esquerda dentro do nosso contexto político disseminado).
Em suma, há razões sociológicas, de ciência política, visões estratégicas e de filosofias diversas para se justificar o voto no partido do poder ou contra ele. Mas como não entendo nada disso (por desinteresse meu mesmo), guio-me pelo cotidiano, pela prática inevitável da política no devir revolucionário individual do dia-a-dia, seja em conversas ou em atos, em ocupações ou nas redes, em iniciativas ou em votos, ou fazendo um filme.
Queridos amigos que compartilham esse devir, ainda que nossas individualidades nos façam, legitimamente, a votar de forma divergente: continuaremos convergindo as energias nessa luta existencial que, em várias esferas da vida, nos exige e, às vezes, nos une. Abraço forte a todos que lerem. É meu último comentário sobre essas eleições por aqui, mas o devir revolucionário é inevitável - um devir individual, mas não egoísta nem tampouco solitário, espero...
Fonte: Fabricio Undr
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