abril 13, 2010

Intervenção já: Brasília merece um futuro melhor

Serra "Alagão" e Arruda "Panetone
[ Amálgama ]

Intervenção federal no DF: Uma necessidade


por Alan Souza – Venho escrevendo no Amálgama alguns textos sobre a campanha presidencial. Peço licença ao coletivo e aos leitores para falar sobre um assunto que ganhou a mídia logo após a deflagração da operação Caixa de Pandora, que expôs o esquema de corrupção e desvio de dinheiro público no DF. Falo do pedido de intervenção federal apresentada pela Procuradoria-Geral da República. E desde já aviso: falo como morador de Brasília e adianto que sou favorável à intervenção, pelos motivos que mencionarei a seguir.
Sou um privilegiado nesta cidade, confesso. Moro no Plano Piloto, mais precisamente na Asa Sul, endereço nobre da capital federal. Se quiser posso ir caminhando pro trabalho. Tudo que preciso (supermercado, escolas, hospitais, livrarias, cinema, academia de ginástica) fica a menos de dez minutos da minha casa. Houve um tempo em que isso seria garantia de conforto e qualidade de vida. E há algum tempo não é mais. Mesmo no coração do Plano Piloto, Brasília patina em inúmeros problemas que derivam da falta de ação do Governo do Distrito Federal.


Quem conheceu Brasília sabe que ela é, ao lado de Goiânia e de Curitiba, uma das três capitais mais arborizadas do Brasil. Os imensos gramados sempre foram um símbolo da capital federal. Pois bem, esses gramados estão virando matagais. A grama não é cortada há meses, e em muitos lugares já passou de dois palmos de altura. Em muitas quadras a grama foi invadida por ervas daninhas – quadras inteiras já não têm mais gramado, só mato. Quando a época das secas chegar, essas plantas vão morrer, ao contrário da grama, que renasce com as primeiras chuvas. Muitos gramados vão virar barrões. Antigamente víamos caminhões do GDF cuidando das quadras, podando árvores, limpando e cortando os gramados. Há algum tempo que tudo isso sumiu. Tivemos algumas chuvas muito fortes nos últimos dois meses, e várias árvores caíram, estavam tomadas por cupins e ervas daninhas.


Você virtualmente não vê polícia nas ruas. O crack invadiu e dominou o Planalto Central. Várias “cracolândias” formaram-se aqui. Todo mundo sabe onde elas funcionam, os viciados fumam crack a qualquer hora, sem preocupação alguma. Não se vê uma ação da polícia pra combater isso. Com liberdade total de ação, os traficantes e consumidores já começam a sentir a liberdade de tomar qualquer área. Moro ao lado do Setor de Autarquias Sul, onde funciona a sede da Polícia Federal. Toda noite a área comercial da nossa quadra é tomada por usuários de crack. Os comerciantes e os síndicos já chamaram a polícia várias vezes. Nada feito.


As famosas ruas do Plano Piloto, largas e asfaltadas, somadas aos poucos semáforos que aqui existiam, sempre foram um convite a flanar de carro aí. Isso mudou. Semáforos foram espalhados, ao invés de se planejar o trânsito crescente. O tráfego emperrou. As ruas estão esburacando, cada dia é possível identificar um buraco novo. Os engarrafamentos dentro do Plano Piloto são diários. Os agentes do Detran, sabemos apenas que existem, mas não se vê em lugar nenhum – exceto nos lugares de maior fluxo de veículos, como as áreas comerciais, e com uma única finalidade: multar carros estacionados em local proibido. O Detran é o órgão com a segunda maior arrecadação do DF, depois da Secretaria da Fazenda. A expressão “indústria de multas” encontrou aqui sua mais prefeita tradução. Você simplesmente não vê nenhum agente do Detran tentando colocar ordem num congestionamento, ajudando os alunos na porta duma escola, ou em qualquer outro local ou função que não seja multando carros estacionados. Eles só fazem isso.


O sistema de transporte público melhorou bastante, comparado com o estado de miséria e bagunça totais em que Roriz o deixou. Mas ainda está longe de ser razoável. O metrô atrasa sempre e vive lotado, não suporta o fluxo de passageiros. Faltam ônibus e linhas novas, com rotas alternativas. Ônibus lotados são absolutamente comuns, quanto mais longe do Plano Piloto você morar maior é a certeza de conviver com um ônibus lotado, sujo e velho.


A questão da saúde é a pior de todas. Uma auditoria da Controladoria-Geral da União mostrou que o GDF deixou 320 milhões de reais dessa área parados no banco, enquanto a população sofria com falta de hospitais, médicos e equipamentos (veja o relatório completo aqui). Pois bem, mesmo depois disso o Governo do DF nada fez. Preferiu rebater o relatório da CGU do que tomar providências para aplicar o dinheiro e sanar os problemas. Se você acessar o site do DF-TV verá inúmeras reportagens sobre o caos na saúde do DF e como isso afeta a população.


Aliás, não é só saúde. Até agora falei do Plano Piloto, onde moro. Os moradores das cidades satélites, notadamente as áreas mais pobres, convivem diariamente com problemas triviais, como falta d’água e esgoto, falta de atendimento médico, falta de atendimento pelos Correios. Tudo que antes funcionava, como o sistema de gestão das escolas, informatizado, agora está sem funcionar, causando transtornos aos estudantes para conseguir a meia-passagem, direito que deveria ser garantido a todos.


O atual governador, Wilson Lima (PR), não tem a menor condição política, técnica ou intelectual de gerir o DF. A todos os problemas levantados os secretários distritais só sabem dizer que “uma licitação já está em curso” para resolver o problema. E de desculpa em desculpa o povo sofre com a falta de Estado.


Enfim, o DF está uma balbúrdia. E não há a menor perspectiva de melhoria, a curto e médio prazo. Só a intervenção federal pode apear os políticos dos cargos em que se encontram e garantir uma gestão técnica para começar a sanear os problemas daqui. Dizer que a crise é apenas política é mentira, é uma crise de gestão. Aliás, é uma crise derivada de má-gestão. Preocupados apenas com a política e com seus próprios interesses, os governantes esqueceram o mínimo: garantir o funcionamento da maquina. Nem pra enrolar o povo os políticos daqui servem.

* Alan Souza, Brasília-DF. Blog: prof.alan.blog.uol.com.br.

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