setembro 30, 2010

Dilma e a TV Globo

Lélia Abramo
Aonde foi que Dilma errou?

Nos últimos dias, alguns blogs lulistas têm demonstrado uma grande preocupação com os lances finais dessa campanha eleitoral de 2010, que poderá ter um desfecho inesperado. Sobre os acontecimentos das últimas quatro semanas, muito há o que ser considerado.

1- A manifestação mais eloqüente de que algo não vinha andando bem nos rumos da campanha foi à tensa participação da candidata, no último debate promovido pela Tevê Record, no domingo dia 26. Dois personagens muito caros a Dilma, lamentavelmente ausentes, hoje (a atriz Lélia Abramo * e o jornalista Jorge Batista **), com toda a certeza, dariam a ela nesse momento a palavra certa. Lélia dizia que em política não se pode errar, porque isso pode ser fatal; e a direção da campanha do PT tem cometeu alguns erros imperdoáveis. No caso citado, não orientou a candidata a ser incisiva, em duas questões cruciais. Dilma deveria responder, objetivamente, principalmente sobre a questão de Erenice Guerra e, também, da liberdade de Imprensa:

a) No primeiro caso, quando uma das jornalistas fez a pergunta, carregando nas tintas, ao lembrar outras denúncias de corrupção no governo Lula, Dilma não deveria aceitar o estigma de “corrupção consentida”, no governo do qual ela fez parte. O mais acertado seria Dilma afirmar que, diante de qualquer suspeita de irregularidade, houve medidas cirúrgicas para que uma investigação fosse feita e justiça, idem. Ao mesmo tempo, alertar que não se comprovou até este momento nada que indicasse concordância e/ou aproveitamento de atos ilícitos, por parte do governo; pelo contrário, caso houvesse qualquer ato ilícito, não duvidem que este já teria sofrido processo de impeachment;

b) A segunda questão (sobre a liberdade de imprensa) a mais importante, se considerarmos o momento político atual, quanta falta fez a presença, ao seu lado, do amigo e companheiro de luta estudantil, Jorge Batista. Ao ser chamada para comentar a pergunta feita a Plínio de Arruda, sobre censura à imprensa ou normas de controle ao que pode ser publicado, faltou ser enfática ao afirmar que ela, o PT e o governo Lula são absolutamente FAVORÁVEIS À LIBERDADE DE IMPRENSA, em todos os sentidos, e isso não poderia ser diferente. Lula e o PT sempre estiveram à frente da Sociedade Civil, ao longo de três décadas, como peças fundamentais da democratização do Brasil. Alguém duvida? E, partindo para o ataque, dizer que ainda existem inúmeras questões que necessitam ser resolvida para o aperfeiçoamento democrático. Indagar à jornalista que a escalou para comentar, o que fazer diante da ação danosa de alguns setores da imprensa que misturam prerrogativas garantidas pela Constituição a interesses políticos, partidários? Em qualquer situação que envolva calúnia, pronunciamentos danosos à vida de uma pessoa, inocente, essa mesma Constituição garante à vítima uma indenização material. A questão é, como vamos tratar as questões que envolvam danos eleitorais, irreversíveis, a um candidato ou candidata? Pior, como devemos nos conduzir, diante do uso criminoso dessas prerrogativas constitucionais, como à liberdade de imprensa, e o uso mal intencionado que provoca a mudança no rumo da história? Esta é uma questão que diz respeito a todos nós, e não somente ao PT.

2 - Toda eleição presidencial trás uma novidade, dessa vez trata-se do desenvolvimento da comunicação, virtual, aonde todos os assuntos são dissecados ao limite. Esta discussão que, de fato, já existe e interfere positivamente na escolha do eleitor, por outro lado abre espaço para a prática do crime, sendo que um deles é a calunia e, com toda certeza, a sua assessoria não pensou nisso antes. E se pensou não fez nada, preventivamente. Jorge Batista - jornalista e ex-companheiro de luta mais radical - diria que no processo de mudança, é sempre importante dar o primeiro tiro. Claro que falamos, aqui, de uma luta democrática, justa, e sem armas letais. Dilma precisa reagir, inspirada nesses seus amigos, ausentes, antes que seja tarde, especialmente, hoje, durante o debate na Tevê Globo. Objetividade e o destemor serão o caminho, uma vez que ela estará ali defendendo o sonho e a realização de inúmeros brasileiros e, por isso, não há margem de erros.


(*) Atriz e fundadora do PT falecida em 09/04/2004 (foto acima)

(**) Jornalista e amigo de Dilma desde o Movimento Estudantil em BH - falecido em 24/12/1986
Foi candidato a Constituinte no ano de sua morte.

Nota do blog: Texto enviado por Ana Engelen / Pulsar.

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