[ Amálgama ] |
por Juliana Dacoregio – Um homem e uma mulher, que se encontram em circunstâncias insólitas, atribuídas ao acaso ou ao destino. Se apaixonam e vivem o encantamento de qualquer paixão que se inicia e a relutância dos que já sofreram e sabem que a paixão pode ser traiçoeira. Seria difícil como qualquer relacionamento, mas acontece que esse homem e essa mulher não são exatamente homem e mulher. São Elvis e Madona. Ela, Elvis (interpretada por Simone Spoladore), lésbica: bela, aparência delicada, doces olhos azuis, porém de modos completamente masculinos. Ele, Madona (vivido por Igor Cotrim), gay, travesti: uma “boneca”, como se costuma dizer entre os “entendidos”; seu rosto e suas feições são fortes, não é o tipo de travesti que “nem parece ser homem”. Não, Madona parece sim, ser um homem: o maxilar quadrado, os ombros largos, mas os trejeitos de uma verdadeira lady. Sua aparência e sua história nada têm de doces, mas é apenas mais uma “garota” romântica. Esses são os protagonistas de Elvis & Madona, filme do cineasta Marcelo Laffite e livro homônimo de Luiz Biajoni. A história é inusitada e o caminho que trilhou também. Não é um livro que virou filme, como é de praxe. O filme veio primeiro e Laffite cedeu a Biajoni os personagens para que ele transformasse roteiro em romance. Tive contato primeiro com o livro, depois com o filme. Ambos se completam. O estilo escatológico e a trama policial, tão presentes nas obras de Biajoni, estão mais escancaradas no livro. Mas Elvis & Madona – o livro – não deixa de mostrar a beleza desse relacionamento quase improvável e chega a ser de uma sutileza respeitosa quando narra (ou não narra) os momentos sexuais do casal. Já o filme é mais ousado nesse sentido, mas de uma beleza ímpar. Não é um filme erótico, é um filme de amor. E também um drama, uma comédia, uma viagem por estilos de vida que poucos conhecem. O sofrimento de um homossexual para assumir-se e manter-se, lutar por seus sonhos, mesmo que para isso tenha de recorrer aos métodos comuns a quase todos os travestis: trocar o corpo por dinheiro e fazer de conta que isso não fere a alma, enquanto sonha com uma relação verdadeira de amor e cumplicidade. A menina de família que frustra todas as expectativas da mãe quando revela-se bem menos menina do que se esperaria. Pessoas com sentimentos, desejos, planos e carências que são obrigadas a viver à margem para poderem ser o que são. O filme é leve apesar do tema forte e muito diferente do que se tem feito no cinema brasileiro. Um sucesso, como as premiações e a aceitação em vários festivais têm demonstrado. Trilha sonora divertida, atores que incorporam seus personagens com perfeição, fazendo rir e chorar. O livro deve ser lido, tanto quanto o filme deve ser assistido. Uma história de amor nas telas e no papel, e um exemplo de perseverança e sucesso através da criatividade de Marcelo Laffite e Luiz Biajoni. – Ficha Técnica – titulo original: Elvis & Madona lançamento: 2010 (Brasil) direção: Marcelo Laffitte atores: Simone Spoladore, Ígor Cotrim, Sérgio Bezerra, Maitê Proença, Buza Ferraz, José Wilker – Curiosidades – - Clique aqui para saber como o filme virou livro - Laffite procurou um travesti para interpretar o papel de Madona, mas não encontrou. “Creio que existam vários travestis que são bons atores, só não calhou de encontra-los”, afirma o cineasta. - Uma história semelhante ocorreu na década de 90, em São Paulo, com a baterista de uma banda e um travesti chamado Gabi. “Depois que o roteiro estava pronto, comecei a mostrar para várias pessoas até que me contaram a história desse casal. Foi a prova de que meu filme tem muito a ver com a realidade”, comemora Marcelo Laffite. (fonte: UOL Cinema) Dê sua opinião Leia também: |
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